29.5.15

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 31 de Maio de 2015





Pela Estrada Fora — O Rolo Original, de Jack Kerouac
Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski
A Arte da Guerra, de Sun Tzu
Folhas de Erva, Walt Whitman

As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (ed. brochada)

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 30 de Maio de 2015




Contos, de Clarice Lispector
Anna Karénina (ed. brochada), de Lev Tolstói
Musicofilia, de Oliver Sacks
Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa

As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain

Sessão de autógrafos com António Barreto




António Barreto estará sábado, 30 de Maio, às 17h00, na Feira do Livro de Lisboa, nos pavilhões da Relógio D’Água, para autografar Douro, Anos Difíceis; Fotografias, e outras obras.

Na Feira do Livro de Lisboa e a chegar às livrarias: Poderes da Pintura, de José Gil






«Estamos longe da tendência para “sair da tela” ou de a tela reproduzir a vida. Quando se dizia, classicamente, de um pintor que ele conseguia que o espectador “entrasse” nos seus quadros (como Kandinsky, nas suas memórias, descrevendo o seu sentimento, na infância, de ter uma impressão tão profunda da cena pintada que lhe parecia penetrar e percorrer as ruas do quadro como se fossem reais), evocava-se tanto o poder de ser afectado do espectador como o de afectar do pintor. E supunha-se que o quadro se reduzia à imagem finita, contida dentro de limites geométricos precisos, na superfície bidimensional da tela. Raramente se considerava o “sair da tela” das forças do quadro que se desdobravam no espaço para além da área pintada. O quadro consistia naquela superfície; tudo o que a ultrapassava era da ordem da ilusão, da alucinação.

(…) Porque não existe um espaço pictural plano, porque a pintura projecta imediatamente as linhas e figuras no ar, para cá e para lá da tela — uma cor cria logo um volume que sai do fundo branco —, Ângelo (de Sousa) foi levado a construir um plano flutuante, próprio do desenho, que foge à superfície bidimensional.»

Sobre Tratado sobre a Tolerância, de Voltaire





«Neste Tratado sobre a Tolerância, o alvo a combater era a intolerância religiosa, leia-se o obscurantismo da Igreja católica. A guerra que a intolerância engendra, como ela se propaga e adensa e arrebata mais e mais a cada passagem. Este ponto de um fanatismo viral que o autor anuncia é mais actual hoje do que no tempo do autor e de Barthes. E é muito interessante segui-lo. Com espírito e brilhantismo, sobrepondo porém religião e espiritualidade, numa tonalidade irónica, deliciosa, por vezes hilariante, quase panfletária, Voltaire percorre vários momentos da História, aponta para várias geografias, condenando sempre a religião católica.

O tempo de Voltaire, o declínio do Ancien Régime, estava de feição, estava do lado da História: “A maneira mais eficaz de diminuir o número de maníacos, caso ainda exista, é entregar essa doença do espírito ao regime da razão que lenta, mas infalivelmente, esclarece os homens.” A concepção de razão do autor é universal, atravessa continentes, mantendo a imobilidade. Olhando hoje à volta, melancolicamente esboçaríamos um sorriso.»

[Maria da Conceição Caleiro, Público, ípsilon, 29-05-2015]

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 29 de Maio de 2015



 

O Feiticeiro de Oz, de L. Frank Baum

Laços de Família, de Clarice Lispector

Em Busca do Tempo Perdido, vol. I, de Marcel Proust

A Poesia do Pensamento, de George Steiner

Fausto, de Goethe

28.5.15

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 28 de Maio de 2015




 
 

As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (ed. brochada)

A Estrada, de Cormac McCarthy

A Sonata de Kreutzer, de Lev Tolstói

A Viagem do Beagle, de Charles Darwin

As Flores do Mal, de Charles Baudelaire

26.5.15

Rui Nunes vence Prémio Autores 2015



 

Nocturno Europeu, de Rui Nunes, publicado pela Relógio D’Água no final de 2014, foi considerado o Melhor Livro de Ficção Narrativa na categoria de Literatura. O prémio é atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores / RTP.

O júri foi constituído por Annabela Rita, Manuel Frias Martins e Natividade Pires.

20.5.15

A chegar às livrarias: Contos de Guerra, de Lev Tolstói (trad. de Nina Guerra e Filipe Guerra)




«Na verdade, Tolstoi está mais próximo de Homero em obras menos complexas, em Cossacos, nos Contos do Cáucaso, nos esboços sobre a Guerra da Crimeia e na seca sobriedade de A Morte de Ivan Iliitch

[George Steiner, Tolstoi ou Dostoievski]

19.5.15

Sobre Tratado sobre a Tolerância, de Voltaire





«Voltaire tem, por outro lado, a originalidade ainda hoje moderna de chamar em favor da tolerância argumentos práticos, económicos e de ordem pública – para além dos impulsos generosos do seu espírito. (…) O Tratado é uma brilhante peça literária, escrito na língua límpida e clássica que Voltaire manejava com mestria e se lê como se fosse escrito hoje – cobrindo com o manto diáfano do seu estilo lapidar a má-fé que o polemista não desdenhava usar nos seus argumentos.»

[Miguel Freitas da Costa, Observador, 03-05-2015]


18.5.15

Sobre Mirleos, de João Miguel Fernandes Jorge




«Não se trata da voz, do lugar único do poeta, mas de uma anima, de um estudo conhecedor, que se serve da erudição para capturar as coisas sem as trair na sua desatenção de si mesmas. JMFJ não se cansa de viver, leva o instrumento afinado e vai aqui por um antigo fórum romano em Coimbra onde se construiu uma igreja séculos mais tarde, e outra séculos depois, ruínas sobre ruínas, admiráveis. Sem a vantagem desta sensível e educadíssima consciência, não veríamos ali tão comoventes sinais. Esplendoroso guia.» [Diogo Vaz Pinto, i, Abril de 2015]

15.5.15

Sobre Um Diário de Preces, de Flannery O’Connor



 

«Não é possível ler um diário de preces sem sentirmos a necessidade de descalçar as nossas sandálias. Este Um Diário de Preces, escrito por Flannery O’Connor (1925-1964) aos vinte anos de idade e traduzido agora para português pela Relógio d’Água, acompanhado de um fac-símile do caderno original, é em muitos momentos difícil de compreender, não só por culpa das várias páginas rasgadas pela escritora, mas essencialmente por ser uma conversa entre ela e Deus, uma conversa em que entramos forçosa e violentamente a meio; uma conversa para a qual, aliás, não fomos sequer convidados. (...)
Mas o interesse deste diário e das súplicas da jovem O’Connor encontra-se essencialmente no que estes permitem antecipar daquilo que viria a ser a obra da escritora.» [João Pedro Vala, Forma de Vida, 19-03-2015]

14.5.15

Sobre A Última Palavra, de Hanif Kureishi





«Kureishi nunca deixou de filmar, e de escrever teatro, mas nos últimos vinte e cinco anos publicou sete romances e duas colectâneas de contos que o creditam como um dos autores mais consistentes da ficção de língua inglesa. A Última Palavra é a história de um escritor famoso que contrata outro mais novo para escrever a sua biografia.»

[Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica sua publicada na revista Sábado de 14-05-2015]

A chegar às livrarias: Opiniões Fortes, de Vladimir Nabokov (trad. de Carlos Leite)






«Do mesmo modo, ao examinar os resultados de entrevistas tal como aparecem na página impressa, ignoro o cenário flutuante e guardo apenas a substância de base. Os meus arquivos contêm os resultados dumas quarenta entrevistas em várias línguas. Neste livro, incluíram-se apenas algumas das americanas e das britânicas. Destas, umas poucas tiveram de ser postas de lado porque, devido a uma espécie de horrível alquimia, e não meramente devido a uma boa sacudidela, a minha resposta autêntica estava tão misturada com a cor artificial do interesse humano, acrescentada pelo fabricante, que era impossível separá-la. Noutros casos não tive problemas em deixar de fora os pequenos retoques bem-intencionados (assim como as invenções jornalísticas mais mirabolantes), eliminando assim gradualmente todos os elementos de espontaneidade, toda a semelhança com uma verdadeira conversa. O produto foi transvasado por fim num ensaio de parágrafos mais ou menos bem acabados, e esta é a forma ideal que deve ter uma entrevista escrita.» [Do Prefácio]

12.5.15

Hélia Correia vence Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco






Vinte Degraus e Outros Contos, de Hélia Correia, publicado pela Relógio D’Água em 2014, acaba de vencer o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, atribuído pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e a Associação Portuguesa de Escritores.

Vinte Degraus e Outros Contos reúne onze contos de Hélia Correia. Alguns deles, como explica a autora em nota, têm referências reconhecíveis. «Seroda» é outra história de Mariana Cruz, de Amor de Perdição, e «Captura», «um outro ponto de vista para “A Imitação da Rosa” de Clarice Lispector». «Uma Noite em Luddenden» evoca Branwell Brontë. «Hélder e Djalme» são nomes retirados de pessoas reais. «A Dama Singular» é dedicado a uma mulher determinante na literatura portuguesa.

11.5.15

Expresso apresenta Karl Ove Knausgård como o início da literatura do século XXI





O escritor norueguês Karl Ove Knausgård, autor da extensa autobiografia A Minha Luta, de que a Relógio D’Água publicou já o primeiro volume, A Morte do Pai, é capa da revista E [9-5-2015]. A jornalista Cristina Margato, que o entrevistou na Suécia, escreve:
«Com ele tenho dado voltas num carrossel, oscilado entre reflexões sobre a arte, a procura desesperada de uma identidade, o sentido da vida, a inaceitabilidade da morte, o amor e as constatações mesquinhas e inconfessáveis que, em nossa defesa, seria melhor nem as articular. Karl Ove Knausgård é o homem que não guarda segredos. O escritor que renuncia à possibilidade de ter uma vida dupla para se colocar a contas com a infância, o pai alcoólico, a mulher bipolar, as quatro crianças pequenas. A família de onde vem. A família que está a construir. É aquele também que está pronto a desafiar a norma social que nos sugere discrição e que não dá qualquer crédito à vergonha.»

A Relógio D’Água editará em breve o segundo volume de A Minha Luta, Um Homem Apaixonado

A chegar às livrarias: O Mendel dos Livros e A Viagem ao Passado, de Stefan Zweig





Escrito em 1929, O Mendel dos Livros narra a história de um espantoso alfarrabista que passa os dias sentado na mesma mesa de um dos cafés de Viena.
Com a sua memória enciclopédica e a generosa disponibilidade, este judeu russo é admirado pelo dono do café Gluck e pela clientela culta que recorre aos seus serviços.
No entanto, em 1915, em plena Primeira Guerra Mundial, quando o Império Austro-Húngaro e a Rússia se encontravam em campos opostos, Jakob Mendel é enviado para um campo de prisioneiros, injustamente acusado de colaborar com os inimigos da Áustria.

A Viagem ao Passado mostra-nos como uma relação amorosa pode ser interrompida e até desfeita pelas contingências da guerra, um tema que Zweig abordou sob diversas formas. 

Sobre Cidades da Planície, de Cormac McCarthy




«Menos romântico e contemplativo que os livros anteriores, Cidades da Planície mantém a secura dos diálogos e uma escrita consica, tensa, árida como as planícies que lhe dão nome. Um livro falado, conduzido quase exclusivamente pelos diálogos — começou por ser um guião para um filme — Cidades da Planície conta-nos uma história de amor condenada à partida, mas brilha sobretudo como testemunho da amizade entre dois homens.
A tradução de Paulo Faria — irrepreensível — é essencial para manter a naturalidade do estilo de McCarthy. Está na calha uma adaptação para o cinema, por Andrew Dominik, com James Franco, mas este é o tipo de informação que está na última linha da página da Wikipedia sobre o livro.» [Luís Leal Miranda, Time Out Lisboa, 06-05-2015]

8.5.15

Sobre Presa Comum, de Frederico Pedreira


 

«Em poemas de consumado apuro formal, de uma contenção que se assinala com apreço (tanto maior quanto se nota o contraste com as circunstâncias tantas vezes extremas que descrevem), Frederico Pedreira assina uma poesia capaz de revolver os interstícios da convivialidade, de sujar as mãos, mas deixando o poema limpo como um bisturi pronto a usar.» [Hugo Pinto Santos, Público, ípsilon, 8-5-2015]

Nas livrarias: As Ondas, de Virginia Woolf




As Ondas é considerado o mais radical romance de Virginia Woolf — um desses raros escritores que nasceu no «instante em que uma estrela se pôs a pensar».
Marguerite Yourcenar, sua tradutora francesa, descreveu-o assim:
«As Ondas é um livro com seis personagens, ou melhor, seis instrumentos musicais, pois consiste unicamente em monólogos interiores, cujas curvas se sucedem e entrecruzam com uma segurança que lembra a Arte da Fuga de Bach. Nesta narrativa musical, os breves pensamentos de infância, as rápidas reflexões sobre os momentos de juventude e de confiante camaradagem desempenham o mesmo papel dos allegri nas sinfonias de Mozart, abrindo espaço para os lentos andantes dos imensos solilóquios sobre a experiência, a solidão e a maturidade.

Tanto como uma meditação sobre a vida, As Ondas é um ensaio sobre a solidão. Trata-se de seis crianças, três raparigas, Rhoda, Jinny e Susan; e de três rapazes, Louis, Neville e Bernard, que vemos crescer, diferenciarem-se e envelhecer. Uma sétima criança, que nunca toma a palavra e que só conhecemos através das outras, é o centro do livro, ou melhor, o seu coração.»

7.5.15

Sobre Mirleos, de João Miguel Fernandes Jorge





«A poética de Fernandes Jorge mostra um trabalho fino e preciso sobre as palavras, pois como o alemão Novalis ele sabe que cada palavra é uma espécie “de cavalo de Tróia”: lá dentro estão muitas outras palavras, imagens, conceitos, que é preciso desvendar. Por isso, os seus livros são também lugares onde se deve voltar muitas vezes para resgatar todos os muitos significados que os habitam.» [Joana Emídio Marques, «Observador», 06-05-2015]

A chegar às livrarias: Tolstoi ou Dostoievski, de George Steiner (trad. Jorge Vaz de Carvalho)





«Tolstoi ou Dostoievski procura mostrar que a estatura destes dois romancistas é inseparável do seu compromisso teológico. Se Anna Karénina é, como Henry James viu, uma “coisa tão maior” até mesmo que Madame Bovary, se Os Irmãos Karamázov supera tão formidavelmente Balzac ou Dickens, a razão é a centralidade para Tolstoi e Dostoievski da questão de Deus. Por sua vez, o que faz legitimar as afinidades de Tolstoi com Homero e as de Dostoievski com Shakespeare é uma comunicação partilhada das realidades, individuais e colectivas, físicas e históricas, além do alcance do empírico. Para ambos os mestres russos, como para Pasternak e para Soljenítsin depois deles, o pressuposto de D. H. Lawrence de que, para ser um escritor ou artista maior, há que enfrentar “nu os fogos de Deus” (ou o não-ser de Deus) era por si mesmo evidente. O constante recurso de Tolstoi ao mistério da ressurreição, as figurações de Dostoievski de um niilismo apocalíptico, são simultaneamente actos incomparáveis de realização narrativa-dramática e de pensamento religioso. Este livro invoca as afinidades profundas que se encontram entre a realização russa e a do cenário teológico em Hawthorne e Melville.» [Do Prefácio]

6.5.15

A chegar às livrarias: Negro e Prata, de Paolo Giordano (trad. Inês Dias)





Esta é a história de um amor jovem, da vida de um casal inexperiente e por vezes feliz, espantado por descobrir dia após dia as variadas formas de solidão e de abandono.
Quando a senhora A. entra em sua casa para se ocupar das tarefas domésticas, torna-se a garantia da relação, a bússola capaz de orientar o casal que espera um filho em tempos de bonança e tempestade. Torna-se a única testemunha dos laços que unem o casal. É por isso que, quando uma doença a atinge e depois a leva, Nora e o seu marido sentem a relação em perigo e têm de procurar na senhora A. a inspiração para continuarem.

Há muitos modos de contar uma história de amor. Paolo Giordano escolheu uma das mais originais, registando como um sismógrafo o desgaste do quotidiano, os arrebatamentos e as dores, as incertezas e os desejos e os sinais de um primeiro naufrágio.

5.5.15

Sobre Carta a Um Refém, de Antoine de Saint-Exupéry





«Mais do que uma epístola em sentido estrito, a Carta a Um Refém é um manifesto épico do autor, no qual se defende o primado do “respeito pelo homem”, uma “chama espiritual” pronta a iluminar o resgate dos “quarenta milhões de reféns” franceses, fechados “nas caves da opressão” nazi. Evocando os vários silêncios do deserto, por ele experimentados no Sara, Saint-Exupéry procura uma definição para a “substância” do que é ser-se humano. Encontra-a, primordialmente, no “desejo cego de um certo calor”, que permite ao homem prosseguir “de erro em erro”, no “caminho que conduz ao fogo”. O autor começa por recordar a sua passagem por Lisboa – “paraíso luminoso e triste” – em dezembro de 1940, onde entreviu refugiados ricos arrastando-se no Casino Estoril como fantasmas.» [José Mário Silva, Expresso, E, 2-5-2015]

4.5.15

Sobre Mirleos, de João Miguel Fernandes Jorge





«Mas não é apenas no interior da obra de João Miguel Fernandes Jorge que encontramos boas razões para erguer este livro a um nível superior. Na verdade ele faz-nos ver os efeitos fecundos de uma enorme liberdade discursiva, algo em que a poesia portuguesa actual — medida por este padrão— não é muito pródiga. Aqui, parece não haver nenhum dos constrangimentos a que obrigam os puritanismos que se manifestam sob as formas crispadas das várias “ideias” de poesia: não há reduções e unicidades temáticas, há divagação sem fronteiras; não há uma exposição da primeira pessoa, o Eu apaga-se e é exclusivamente a imagem que fala, se aceitarmos como válida a ideia de que estes poemas têm origem no processo que consiste em submeter o visível ao regime do dizível; e não há arrebatamentos ou lugares de tensão concentrada, nem fogos-de-artifício de qualquer espécie, porque a música é contínua, subtil, em baixo tom, mas não monótona. É, aliás, sob o signo da subtileza, da discreta arte de compor “cenas”, onde o narrativo e o descritivo se conjugam para alcançar um superior nível de elaboração, que devemos colocar esta poesia.» [António Guerreiro, Público, ípsilon, 1-5-2015]

JL dedica dossier a Elogio da Intolerância





 
 

O último número do JL dedica o seu dossier à edição de Tratado sobre a Tolerância, de Voltaire, recentemente editado pela Relógio D’Água.

O dossier integra textos de Diogo Pires Aurélio, que considera que, «tal como há 250 anos, a ideia de tolerância continua a ser o último recurso para uma coexistência pacífica, tanto dos cidadãos como das comunidades com que eles se identificam».

José Gil afirma: «Uma democracia intolerante é uma contradição nos termos. Ora, só se exerce a tolerância relativamente a um poder – que abdica de parte de si próprio para o partilhar. A tolerância não seria, no entanto, apenas uma “cedência”, mas o reconhecimento do direito do tolerado ao poder, desenvolvendo-se na direção da igualdade: tal religião (digamos, de Estado) admite a prática de outras religiões, com os mesmos direitos, no seu território. A tolerância visa – assimptoticamente – a igualdade, quer dizer, o seu próprio desapareciemnto enquanto poder de tolerar. Como pensar a concretização exequível de um tal processo? Será necessário acrescentar ao princípio de tolerância enunciado um outro princípio pragmático: o exercício da tolerância deve comportar uma margem de indeterminação, isto é, de tolerância de ambas as partes, do lado do tolerante e do lado do tolerado.»

João Maria André diz que a tolerância se baseia «no reconhecimento humano de que os seres humanos não são perfeitos, são limitados».

Finalmente, Alessandra Silveira, directora do CEDU da Universidade do Minho, situa a obra, considerando que «a tolerância, no contexto descrito por Voltaire, corresponderia a um estado “pré-jurídico” de aceitação e reconhecimento do outro”». [JL, 29-04-2015]