O romance Adoecer de Hélia Correia e o livro de poesia Necrophilia de Jaime Rocha vão ser lançados em Março próximo.
No prefácio escrito para Necrophilia, João Barrento insere esta obra de Jaime Rocha na Tetralogia da Assombração de que ela faz parte, a saber:
«Do Extermínio (que) seria, assim, o livro da Anunciação, Os Que Vão Morrer (2000) o livro do Combate, Zona de Caça (2002) o livro da Perseguição, Lacrimatória (2005) o livro da Perda e do Luto e Necrophilia (escrito em 2009) o livro da Culpa e do Lamento.»
«Das grandes forças que sustentam o mundo, e nele actuam como choque, o Mal será uma das fortes e mais presentes – e também necessárias (Baudelaire, e depois dele Musil ou Kafka, sabiam disso).» – considera o prefaciador. «Ora, o Mal, em todo o amplo espectro das suas significações e manifestações (…) atravessa quase toda a obra de Jaime Rocha.»
O novo romance de Hélia Correia, impregnado pelo ambiente dos pré-rafaelitas, inicia-se com uma visita ao túmulo da família Rossetti, no cemitério de Highgate: «À cripta dos Rossetti não se acede de modo confortável. Eu não sei se o teixo que a ensombra é ainda o mesmo que foi plantado para o primeiro enterro. Os teixos são longevos, isso é certo. As inscrições nas lápides mantêm os nomes dos seus mortos bem legíveis. A humidade inglesa não foi tão implacável como é do seu costume. As chuvas deslizaram pelas pedras como se as respeitassem. Com excepção da que assinala Lizzie. O texto que o buril afundou nela ganhou alguma qualidade orgânica. Águas e águas se depositaram, chamando os musgos para a reprodução. Está deitada na terra, a sua laje, muito verde, marcando uma diferença na família que nunca foi a sua. Apesar de italianos, os Rossetti podiam dar lições de frieza aos londrinos em especial no modo de tratar noras indesejadas. O único Rossetti que a amou, e, ainda assim, de singular maneira, foi sepultado longe, junto ao mar. Não quis que o enterrassem junto dela. Tinha a certeza de que não se morre e não era a certeza dos cristãos.»