31.10.18

A chegar às livrarias: A Saga de Selma Lagerlöf, de Cristina Carvalho




«Este romance biográfico foi escrito a horas imprecisas do dia ou da noite; não obedeceu a nenhuma rotina disciplinada. Como em todos os actos de paixão, fui sobrevivendo em equilíbrios improváveis.
Conheci regiões que jamais imaginei conhecer, reconheci a vida desta pessoa, imaginei-a com a possível intimidade.
Julguei, muitas vezes, ouvi-la.

O conhecimento dessa vida foi como o silvo das auroras boreais ou como o zurzir do relâmpago na noite profunda.»

Sobre Pais e Filhos, de Ivan Turguéniev (trad. António Pescada)




«Pais e Filhos não só é o melhor romance de Turguéniev, mas também um dos maiores romances do século XIX. Turguéniev conseguiu fazer aquilo a que se propôs: criar um personagem masculino, um jovem russo, que afirmasse a sua — do personagem — ausência de introspecção e que, ao mesmo tempo, não fosse uma marioneta nas mãos de um repórter social. Bazárov é um homem forte, sem dúvida — e muito possivelmente, tivesse ele vivido além dos vinte anos (acaba de sair do liceu quando o conhecemos), ter-se-ia tornado um grande pensador social, um médico famoso ou um revolucionário activo, para lá dos limites do romance.» [Do Posfácio de Vladimir Nabokov]

30.10.18

Hélia Correia entrevistada por Maria Leonor Nunes, no JL, a propósito do seu último romance, Um Bailarino na Batalha





«É a sobrevivência do humano que atravessa o seu último livro, Um Bailarino na Batalha, edição Relógio D’Água. Sem tempo, nem geografia, é uma ficção poética, “coreográfica”, em que perpassa o que está a acontecer no mundo contemporâneo, as migrações, os refugiados, os que fogem das guerras, das secas, da fome, os que a Europa não quer. Uma travessia do deserto e uma demanda da Humanidade, hoje como noutros tempos. 
(…)
— Do romance?
— Sim. Senti que queria escrever um poema sobre o que anda a acontecer.

— Porquê um poema?
— Porque só na linguagem poética consigo dar eco ao que me preocupa. E pensei que iria escrever e dar o nome Um Bailarino na Batalha a esse livro.

— E sentiu que o título se ajustava ao poema?
— Adaptava-se. O nome vem de Nietzsche e tenho uma imagem muito forte da aflição dos cavalos na batalha. E dos homens, por contaminação, do mesmo pânico, da mesma incompreensão. Mas não usei este livro apenas para resolver o problema. Desde o início, pensei que o ia amar. Com essa espécie de luz comecei a escrever um texto poético, embora tenha narrativa e personagens.

— Em toda a sua ficção há uma linguagem poética.
— Sim, na minha prosa, a frase obedece também à música e a esse motor poético. De resto, este é um livro muito coreográfico. A dança é sempre muito forte no meu imaginário.

— A começar pela capa…
— Foi o João Barrento que traduziu a epígrafe para mim. E a capa é uma felicidade. Queria muito que fosse esta, com um bailarino de quem gosto muito,. Akram Khan.

— A sua companhia vem de novo a Portugal, em breve…
— Com In the Mind of Igor, não com a coreografia que aparece na capa do meu livro, da última vez que esteve em palco. Estreou na Grécia e chama-se Xenos, Xenofobia. Não é sobre estes problemas dos nossos estrangeiros, mas inspirado em problemas coloniais na Índia, porque ele é do Bangladeshe. Mas esse é o nome da dança e o espírito do livro. E Akram Khan é absolutamente um bailarino na batalha.» [JL, 24/10/2018]

Sobre Sonhos Elétricos, de Philip K. Dick




«Resumindo: um conjunto de histórias em que PKD agrupa diversas das suas temáticas, aplicando uma técnica narrativa sagaz que permite a leitores menos atentos fruírem de uma história de aventuras, com as características da Ficção Científica sempre em primeiro plano. Contudo, quem se detenha com um pouco mais de acuidade e aprofunde a simbologia e a metaforização das circunstâncias, rapidamente se depara com relatos de grande rigor antropológico, inseridos numa lógica civilizacional que privilegia a crítica e a denúncia.» [João Morales, no blogue BranMorrighan, texto completo aqui.]

29.10.18

Ana Margarida de Carvalho vence Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco





Pequenos Delírios Domésticos, de Ana Margarida de Carvalho, venceu, por unanimidade o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.
O júri foi constituído por Cândido Oliveira Martins, Fernando Batista e Isabel Cristina Mateus, que declarou: «Trata-se de um conjunto de contos que surpreende o leitor pela invulgar actualidade temática e sociológica (dos incêndios que devastaram o país, em 2017, aos dramas íntimos de portugueses convertidos ao estado islâmico, de refugiados sírios num lar de velhos ou de uma mulher tunisina que dá à luz num barco apinhado de gente durante a travessia do Mediterrâneo, entre outros), aliadas a um notável trabalho de precisão e depuramento da palavra e, acima de tudo, a um olhar atento aos dramas humanos, independentemente do lugar mais ou menos doméstico que lhes serve de palco.»

O prémio tem o valor de 7500 euros e será entregue em data a anunciar.

Sobre Confabulações, de John Berger




«O derradeiro testemunho do autor inglês, escrito contra o “estado de esquecimento” a que a civilização contemporânea está submetida hoje em dia, por via do aparente triunfo de “uma espécie de amnésia cívica e histórica”, começa pelo poder da linguagem: “Uma língua falada é um corpo, uma criatura viva (…), e o lugar onde esta criatura reside é tanto o que não se diz quando o que se diz.” Segundo ele, vivemos num mundo onde impera o “‘comércio de palavras’ mortas”, que é preciso contrariar, dando lugar à 2confabulação de palavras”, deixando que elas se unam por nexos ainda desconhecidos, escutando o “regresso do pré-verbal”. Ver e escutar são assim instrumentos de aferição da realidade não ofuscada “pela tirania global do capitalismo financeiro”, acolitada pela mediática indústria do entretém. A arte é uma porta de entrada para o mundo não contaminado pela vulgaridade, contrariando desse modo a “solidão histórica” do tempo presente.» [José Guardado Moreira, Expresso, E, 20/10/2018]


De John Berger, a Relógio D’Água editou também Para o Casamento.

Sobre Cândido ou o Otimismo, de Voltaire




Cândido ou o Otimismo é um conto filosófico de Voltaire, publicado pela primeira vez em Genebra em janeiro de 1759. A par de Zadig e Micromégas, é um dos escritos mais famosos de Voltaire, tendo sido reeditado vinte vezes em vida do autor.
O livro é pretensamente traduzido de uma obra alemã do Dr. Ralph, pseudónimo utilizado por Voltaire para evitar a censura.
No essencial, trata-se de uma crítica às teses do filósofo alemão Leibniz, convencido da excelência da criação divina, através dos princípios da «razão suficiente» e da «harmonia preestabelecida». Voltaire faz essa crítica através das aventuras de Cândido, um jovem alemão possuidor de um espírito simples e reto, nascido como filho ilegítimo no seio da nobreza e adotado pelo barão de Thunder-ten-tronckh. É no castelo deste que vai ser educado por Pangloss, partidário, como Leibniz, de que «tudo está o melhor possível».

Depressa se torna evidente para os leitores o sarcasmo com que Voltaire trata não apenas as teses de Leibniz mas também o conservadorismo social e a nobreza arrogante.

Sobre José Cardoso Pires




«Basta folhear ao acaso os volumes para ter uma resposta inequívoca, que tanto dá para leitores como para escritores. É sempre urgente ler Cardoso Pires, pela qualidade da sua escrita sem ganga e por uma humanidade escrita com rigor, alcançado depois de muitas tentativas e erros múltiplos. Lembre-se, a propósito, neste instante evocativo, que não escreveu nada com a pluma da leviandade.» [Nuno Costa Santos, a propósito do aniversário da morte de José Cardoso Pires, Observador, 20/10/18. Texto completo aqui.]

De José Cardoso Pires, a Relógio D’Água editou Balada da Praia dos Cães, O Anjo Ancorado, Alexandra Alpha, O Delfim, De Profundis, Valsa Lenta e Celeste & Làlinha.

26.10.18

Sobre Joaquim Manuel Magalhães




«Seria difícil imaginar um poeta português de quem se aguardasse com tanta expectativa um novo livro de poemas como Joaquim Manuel Magalhães. Representa, na poesia portuguesa, algo diferente de um ponto de ruptura. A sua poesia constitui uma realidade muito menos unívoca. E, por isso, incomparavelmente aliciante. Nunca à sua escrita interessou o grito excessivo, fosse ele a declaração inflamada, ou a recusa “moderna” de uma prosódia próxima do falar, do discurso, da vida. Se usou e usa metros tradicionais, também subverte a unidade do verso, com processos que variamente boicotam o que é apenas a aparência plácida da tradição.
Contrariando um entranhado viés cultural, o do “francesismo” (de que já Eça se sentia culpado), aproximou-se da tradição anglo-saxónica. Poetas norte-americanos tão diferentes como e. e. cummings, Wallace Stevens ou Frank O’Hara, mas também ingleses, como Philip Larkin, Thom Gunn, Ian Hamilton, ou Michael Hofmann, poderão ter criado afinidades, mas nunca continuidades ou seguidismos, na poesia de Joaquim Manuel Magalhães. Intersectava-os uma recusa muito heterogénea da grandiloquência, a expressão sóbria e desafectada, um apego indesmentível ao fugitivo “real”. Esse mesmo que viria a ser, entre nós, motivo de tantos desentendimentos, logros e mal-entendidos, num certo mundinho por vezes crismado de “meio”. É ainda possível ler, em Para Comigo: “Apenas o real.” Talvez não por acaso, dois livros de Joaquim Manuel Magalhães se chamaram Consequência do Lugar, um título autónomo e uma reunião de parte da sua poesia.
(…)
Posso perguntar alguma coisa sobre esse “muito que tem pronto”?
Pode. Escrevi nestes anos imensa coisa. Não consigo escrever, mesmo pequenas notas, sem as minhas canetas de tinta permanente, os objetos que mais adoro e de que preciso em uníssono com os bicos muito grossos e os papéis por onde a tinta corre com prazer acrescentado. Dependo completamente delas para escrever seja o que for, nem as listas do que trazer do supermercado consigo fazer sem elas.
Tudo aquilo que escrevi foi passado a fotocópias e desordenei por completo a própria ordem arbitrária. Depois guardei. Era uma montanha de fotocópias, mais de cinco mil, bastante mais.
Saí do país com aquilo. Fui para a Grécia, Atenas. Durante três anos, mais de um mês cada ano, arranjaram um hotel com duas mesas no quarto de que eu não saía, a ver o que fazer com aquilo. Claro que saía, mas sempre no continente. Quem andava pelas ilhas era o Pratsinis e a mulher e o João. Sempre me dei mal com o mar e não era por se chamar Egeu ou Jónico que me punha a querer andar por ele.
Esse trabalho resultou em imensos grupos de um poema só, talvez demasiado longos, ainda não sei. Grupo atrás de grupo vou eu começar a escrever agora, sem me lembrar de outra coisa senão a pequena vibração que lhes senti. Vamos a ver o que acontecerá. Se um livro, se dois. Isso ainda não sei. Até pode ser que resultem três. Por isso usei a palavra muito, é a que eu ouço de mim para mim.»

[Joaquim Manuel Magalhães entrevistado no ípsilon por Hugo Pinto Santos, a propósito da edição de Para Comigo, que chegará em breve às livrarias.  26/10/2018. Entrevista completa em: https://www.publico.pt/2018/10/26/culturaipsilon/noticia/magalhaes-1848390 

António Pescada vence Grande Prémio de Tradução Literária e Tiago Nabais recebe menção honrosa




A Associação Portuguesa de Tradutores acaba de atribuir os prémios de tradução referentes a 2017.
A APT atribuiu o primeiro prémio a António Pescada pelas traduções de O Duplo, de Fiódor Dostoievski, publicado pela Relógio D’Água, e por O Arquipélago Gulag, de Aleksandr Soljenítsin, saído na Sextante.



Uma das três menções honrosas foi atribuída a Tiago Nabais, que traduziu a partir do original a obra Crónica de Um Vendedor de Sangue, do escritor chinês Yu Hua.

Mataram a Cotovia é o livro preferido dos norte-americanos




Mataram a Cotovia, de Harper Lee, foi escolhido por milhões de norte-americanos como o seu livro preferido, de entre uma pré-selecção de 100 obras.
Foi o resultado de um inquérito organizado pela PBS que contou com a participação de mais de quatro milhões de votos. Entre os dez livros mais votados encontram-se obras como Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, ou O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien.

[Mais informações em https://www.theguardian.com/books/2018/oct/24/to-kill-a-mockingbird-voted-top-great-american-read-in-us-poll ]

25.10.18

Lembrando José Cardoso Pires




A 26 de Outubro passam 20 anos da morte do escritor José Cardoso Pires. Estão em curso diversas iniciativas para recordar a obra do autor de O Delfim e de Balada da Praia dos Cães.
Entre elas destaca-se uma exposição na Biblioteca Palácio Galveias, a 8 de Novembro, às 18:00, onde estarão fotografias de Eduardo Gageiro sobre José Cardoso Pires. A iniciativa é da Relógio D’Água, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e das Bibliotecas Municipais de Lisboa.
No dia 16 de Novembro, às 18:30, haverá o lançamento do livro LisboaLivro de Bordo, na Biblioteca Palácio Galveias. Maria do Céu Guerra, Luís Lucas e Carmen Santos irão ler excertos do livro editado pela Relógio D’Água, que tem publicado a obra do autor.
Entretanto, amanhã, dia 26 de Outubro, o NEIIA (Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos) e o CHAM — Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa organizam uma Jornada de Homenagem ao escritor intitulada “José Cardoso Pires, 20 anos depois: Diálogos Ibéricos e Ibero-Americanos”.

Será uma ocasião para celebrar a importância deste autor na literatura portuguesa e europeia, duas décadas após o seu falecimento. A iniciativa contará com a presença de Elena Losada, José Carlos de Vasconcelos, Clara Ferreira Alves, Inês Pedrosa, Bruno Vieira Amaral, Teresa Cerdeira e António-Pedro Vasconcelos, entre outros, e terá lugar no edifício I&D, junto à FCSH, durante todo o dia. Mais informação aqui: http://www.cham.fcsh.unl.pt/ac_actividade.aspx?ActId=811 

Prémios PEN para filósofa Maria Filomena Molder e romancista Alexandre Andrade






Com o romance Descrição Guerreira e Amorosa da Cidade de Lisboa, Alexandre Andrade venceu o Prémio PEN Clube de narrativa 2017, que na categoria de ensaio foi atribuído à filósofa Maria Filomena Molder, por Dia Alegre, Dia Pensante, Dias Fatais.
Ambas as obras foram editadas pela Relógio D’Água.
António Cabrita vence o Prémio na categoria de poesia com Anatomia Comparada dos Animais Selvagens.
Os vencedores foram anunciados esta quinta-feira pelo PEN Clube português.
O júri na área de narrativa foi integrado por composto por Maria João Cantinho, Fernando Pinto do Amaral e Pedro Eiras, tendo sido atribuído a Descrição Guerreira e Amorosa da Cidade de Lisboa por unanimidade.
Dia Alegre, Dia Pensante, Dias Fatais foi escolhido por Teresa Salema, Teresa Martins Marques e Rui Miguel Mesquita.
O PEN Clube atribui ainda um prémio a uma primeira obra, que este ano recaiu sobre um livro de ensaio publicado no ano passado.
Trata-se de Uma Biblioteca contra o Inferno, de João Oliveira Duarte, publicado pela Ego Editora.
Para escolher a primeira obra vencedora, o júri foi composto pelo júri do Prémio de Ensaio e pelos presidentes dos três júris.
A sessão de entrega dos prémios terá lugar no dia 29 de Novembro, na Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).
Na lista dos finalistas para os prémios PEN estavam nomes como Helder G. Cancela, Rui Nunes, Gonçalo M. Tavares e Ana Margarida de Carvalho, estes na categoria da narrativa, com os romances As pessoas do drama, Baixo contínuo, A Mulher-sem-cabeça e o Homem-do-mau-olhado e Pequenos delírios domésticos, respectivamente.
Os candidatos ao prémio para a poesia eram os livros Ausência, de Eduardo Quina, Rua antes do céu, de José Luiz Tavares, Invius, de Diogo da Costa Ferreira, e Casa alta, da autoria de Paulo José Costa.
No que respeita à categoria de ensaio, Ana Luísa Amaral estava na corrida ao prémio com Arder a Palavra e Outros Incêndios, assim como Marcello Duarte Mathias, com Caminhos e Destinos, Rita Basílio, com Manuel António Pina, uma pedagogia do literário, e Sérgio Campos Matos, com Iberismos. Nação e Transnação, Portugal e Espanha (c.1807 -- c.1931).
Os Prémios PEN para as obras publicadas em 2017 são uma iniciativa que conta com o apoio da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB).
Portugal faz parte do PEN Club International desde 1979, sendo o Clube de Poetas, Ensaístas e Novelistas (PEN) a maior e mais antiga organização de escritores, a nível mundial — numa iniciativa datada de 1921 —, levada a cabo por autores ingleses. [Texto baseado na notícia da LUSA, em https://www.publico.pt/2018/10/25/culturaipsilon/noticia/premios-pen-romancista-alexandre-andrade-poeta-antonio-cabrita-1848830 ]

Sobre O Quarto de Marte, de Rachel Kushner





«Apesar da dureza de algumas partes, este livro é também caracterizado pelo humor, doseados com uma maestria que me agradou sobremaneira, mostrando que Rachel Kushner é, de facto, uma grande escritora. O Quarto de Marte dá-nos a conhecer uma perspectiva de um ambiente do qual, a maioria de nós, pouco sabe, mas que não deixa de ser riquíssimo, impressionante e devastador. Recomendo vivamente.» [Texto completo em: https://maismulheresporfavor.blogs.sapo.pt/livros-o-quarto-de-marte-19205]

24.10.18

A chegar às livrarias: Ressurreição, de Lev Tolstoi (trad. António Pescada)





«Em Ressurreição, além disso, o regresso à terra, como o correlativo físico do renascimento da alma, é belamente expresso. Antes de ir atrás de Máslova até à Sibéria, Nekhliúdov resolve visitar os seus domínios e vender a propriedade aos camponeses. Os seus sentidos fatigados brotam para a vida; vê­‑se a si mesmo uma vez mais como era antes da “queda”. O sol brilha no rio, o potro focinha e a cena pastoril impõe a Nekhliúdov a plena compreensão de que a moralidade da vida urbana é fundada sobre a injustiça. Porque, no dialecto de Tolstoi, a vida rural cura o espírito do homem, não apenas através das suas belezas tranquilas, mas também no facto de abrir os seus olhos para a frivolidade e explorações inerentes a uma sociedade de classes. (…)

Em Ressurreição, tudo se baseia num puro golpe de acaso — o reconhecimento de Máslova por Nekhliúdov e a sua nomeação para o júri que lida com o caso dela. O facto de isto poder ter acontecido na “vida real” — o caso foi relatado a Tolstoi por A. F. Koni, um funcionário de São Petersburgo, no Outono de 1877, e a desafortunada heroína tinha o nome de Rosalie Oni — não altera a sua qualidade improvável e melodramática.» [George Steiner em «Tolstoi ou Dostoievski»]

A chegar às livrarias: VALIS, de Philip K. Dick





O que é VALIS? É esta a pergunta central do romance de Philip K. Dick.
Quando um raio cor-de-rosa começa a causar a Horselover Fat visões esquizofrénicas de uma Terra paralela onde o Império Romano ainda prospera, ele tem de decidir se enlouqueceu ou se uma entidade divina lhe está a mostrar a verdadeira natureza do mundo.
VALIS é, além de um romance de leitura obrigatória para qualquer fã de Philip K. Dick, o livro que Robert Bolaño considerou «mais inquietante do que qualquer romance Carson McCullers». No final, o leitor fica a pensar no que é real ou ficção, e no preço da inspiração divina. 

«K. Dick narra uma história inquietante sobre a perceção da realidade, um pesadelo do qual nunca temos a certeza de conseguir acordar.» [Lev Grossman, «Time»]


«Philip K. Dick é um dos dez melhores escritores americanos do século XX, uma espécie de Kafka mergulhado em LSD e raiva.» [Roberto Bolaño]

23.10.18

Sobre Ternos Guerreiros, de Agustina Bessa-Luís




No âmbito da iniciativa Ano Agustina, mensalmente, ao longo de 2018, a Comunidade Cultura e Arte publicará uma crítica a um dos livros de Agustina Bessa-Luís, do catálogo reeditado pela Relógio D’Água.
No dia 3 de Outubro, foi publicado o texto de Catarina Fernandes sobre «Ternos Guerreiros»:

«Os ternos guerreiros somos todos nós: o homem que mente; o homem que busca o amor; o pintor que procura o reconhecimento da sua arte; as mulheres que lutam pelo direito de serem senhoras dos seus destinos; o assassino sem consciência que procura a redenção e a liberdade pela morte daquilo que ama; “sou como vós e nenhum de vós”.
Agustina sempre audaz e, mais do que isso, eficaz, mostra-nos como, independente da época, os medos e as lutas que travamos dentro de nós e entre nós são sempre os mesmos, e têm sempre na sua génese essa eterna expectativa do amor.»

[Catarina Fernandes, Comunidade Cultura e Arte, 03/10/2018. Texto completo aqui.]

22.10.18

Vasco Pulido Valente recomenda leitura de Elena Ferrante





«Vasco Pulido Valente: (…) Basta ler a Elena Ferrante, tem uma tetralogia que eu li toda, extraordinária. 
Público: Gostou da tetralogia de Elena Ferrante?
Vasco Pulido Valente: Claro que gostei! Devia ser uma leitura obrigatória para todos os europeístas. A União Europeia hoje é um veneno e vai acabar.»

[Vasco Pulido Valente entrevistado por Ana Sá Lopes e Manuel Carvalho, Público, 21/10/2018.]

Sobre A Terra de Naumãn, de H. G. Cancela




«O quinto romance de H. G. Cancela — nome literário de Helder Gomes Cancela — passa-se numa fronteira de civilizações e é uma fantasia pré-apocalíptica muito diferente do livro anterior. Em As Pessoas do Drama (Relógio d’Água, 2017), livro vencedor da mais recente edição do Grande Prémio de Romance e Novela da APE, o escritor partia da obsessão de um homem por uma actriz. Agora, em A Terra de Naumãn, explora um momento da vida do planeta há mais ou menos 65 milhões de anos, quando se deu “a quinta extinção em massa da história da Terra”, e confirma — se dúvidas ainda havia — Cancela como um dos mais sólidos escritores contemporâneos. Apesar da proximidade com a ficção científica, o livro apresentado na contracapa como um “conto juvenil” ou uma “fábula”, não descola totalmente do que tem sido o território ficcional deste escritor; antes o consolida. Estão lá o explorar dos limites do humano — no caso, de uma espécie ancestral —, a solidão, a violência, a moral, os paradoxos entre precariedade e permanência, aspereza e fragilidade, a identidade e uma ideia de mundo original que parte da linguagem, mais precisamente de eficaz um encadear de palavras capazes de conferir um pouco de verosimilhança ao mais inverosímil. A acção situa-se no Planalto de Naumãn onde vive um povo que venera o fogo e o futuro.» [Isabel Lucas, Público, ípsilon, 19/10/2018. Texto completo aqui.]

19.10.18

No Adeus a Arto Paasilinna





O escritor finlandês Arto Paasilinna morreu nesta segunda-feira, 15 de Outubro, na cidade de Espoo. Tinha 76 anos.
Paasilinna é autor de 35 romances e várias obras de não ficção, foi traduzido em mais de 40 idiomas e tornou-se um dos escritores finlandeses mais populares da história, conhecido pelo seu humor negro e ácido.
Entre os seus romances de maior sucesso estão “A Lebre de Vatanen” (1975),
“Ulvova mylläri” (1981), “Hirtettyjen kettujen metsä” (1983) e “Um Aprazível Suicídio em Grupo” (1990), todas eles adaptados ao cinema.
Com um estilo leve, cómico e às vezes surrealista, as suas histórias abordam temas da idiossincrasia finlandesa, com uma subtil sátira ao progresso e à modernidade.
Paasilinna nasceu na cidade de Kittilä em 1942 e durante a juventude dedicou-se ao jornalismo, actividade que acumulou com a literatura a partir de 1972.

Na Relógio D’Água tem editados A Lebre de Vatanen e As Dez Mulheres do Industrial Rauno Rämekorpi e Um Aprazível Suicídio em Grupo.

A chegar às livrarias: Suíte e Fúria, de Rui Nunes





«e as palavras surgem,
peças minúsculas, umas ao lado das outras,
coesas até à imprecação.
Como escrevia Heraclito? onde? nas margens de que rio? nas praias de que mar? no alpendre de que casa? na sombra de que parreira? de que pinheiro? ou não escrevia? falava ao ouvido do adolescente sentado na caruma, enquanto lhe passava a mão pelo cabelo e as formigas lhe subiam pelo branco da túnica? 
Por momentos, Heraclito calava­‑se.   
Hoje, perguntamo­-nos o que é, o que era, esse silêncio.
E enchemo­-lo de palavras.

O adolescente, porém, só ouvia o zumbido das vespas e o movimento da mão a afugentar uma mosca.»

18.10.18

Lembrando José Cardoso Pires




A 26 de Outubro passam 20 anos da morte do escritor José Cardoso Pires. Estão em curso diversas iniciativas para recordar a obra do autor de O Delfim e de Balada da Praia dos Cães.
Entre elas destaca-se uma exposição na Biblioteca Palácio Galveias, a 8 de Novembro, às 18:00, onde estarão fotografias de Eduardo Gageiro sobre José Cardoso Pires. A iniciativa é da Relógio D’Água, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e das Bibliotecas Municipais de Lisboa.
No dia 16 de Novembro , às 18:30, haverá o lançamento do livro LisboaLivro de Bordo, na Biblioteca Palácio Galveias. Maria do Céu Guerra, Luís Lucas e Carmen Santos irão ler excertos do livro editado pela Relógio D’Água, que tem publicado a obra do autor.
Entretanto, no próximo dia 26 de Outubro, o NEIIA (Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos) e o CHAM — Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa organizam uma Jornada de Homenagem ao escritor intitulada “José Cardoso Pires, 20 anos depois: Diálogos Ibéricos e Ibero-Americanos”.

Será uma ocasião para celebrar a importância deste autor na literatura portuguesa e europeia, duas décadas após o seu falecimento. A iniciativa contará com a presença de Elena Losada, José Carlos de Vasconcelos, Clara Ferreira Alves, Inês Pedrosa, Bruno Vieira Amaral, Teresa Cerdeira e António-Pedro Vasconcelos, entre outros, e terá lugar no edifício I&D, junto à FCSH, durante todo o dia. Mais informação aqui: http://www.cham.fcsh.unl.pt/ac_actividade.aspx?ActId=811 

A chegar às livrarias: Cartas a Milena, de Franz Kafka (trad. e prefácio de António Sousa Ribeiro)





Esta é a primeira edição integral das cartas de Kafka a Milena.

«“A ti, por sua causa e tua, uma pessoa pode dizer a verdade como a mais ninguém, mais até, pode saber a sua verdade directamente de ti.” Talvez como mais nenhum outro, este passo da carta escrita por Franz Kafka em 25 de Setembro de 1920 a Milena Pollak dá testemunho não apenas da intensidade da relação entre ambos — provavelmente, a relação amorosa mais profunda da vida de Kafka —, mas também do extremo de exposição pessoal a que o autor d’O Processo estava disposto no âmbito dessa relação. Poucos dias antes, a 22 de Setembro, esse extremo expressara-se numa imagem de inultrapassável violência — “o amor é seres para mim a faca com que remexo as minhas entranhas” (…).» [Do Prefácio]

Franz Kafka conheceu Milena como tradutora para o checo das suas primeiras prosas breves. Ele tinha trinta e sete anos, ela vinte e três. A sua relação transformou-se numa ligação apaixonada.
As cartas testemunham um romance de amor, de desespero, de felicidade e de humilhação voluntária. Mas a ligação entre Kafka e Milena permaneceu, apesar dos seus raros encontros, essencialmente epistolar, como as de Werther ou de Kierkegaard.
Milena morreu vinte anos depois de Kafka, no campo de concentração de Ravensbrück.

17.10.18

Karen, de Ana Teresa Pereira, adaptado ao cinema




A 3 Tabela Filmes contratou recentemente a adaptação cinematográfica do romance Karen, vencedor do Prémio Oceanos 2017 e poderá também adaptar a obra a série televisiva.
A 3 Tabela Filmes, uma produtora independente brasileira de cinema e televisão, realizou já filmes a partir de dois contos de Hilda Hilst. Foi formada pelo realizador Eduardo Nunes, pelas argumentistas e produtoras Ana Pacheco, Izabella Faya, e pela produtora Fernanda Reznik. Produziu as curtas-metragens “Terra!” “Rota de Colisão”, “Truques, Xaropes e outros artigos de confiança”, “Tropel”, “Asfixia”, exibidos e premiados em diversos festivais nacionais e internacionais, incluindo Brasília, Gramado, Berlim e a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, e longas como “Sudoeste”, de Eduardo Nunes, vencedor de mais de 30 prémios nacionais e internacionais, dentre eles três no Festival do Rio 2011. A 3 Tabela Filmes obteve a distinção de Melhor obra-prima em Havana e Prémio Tarkovsky, na Rússia e “Corda Bamba”, que circulou pelas salas de cinema do país. Isto entre outros documentários, séries e produções juvenis.



Ana Teresa Pereira vai também ser editada na Grã-Bretanha. “Fugue States” é o título lançado este ano pela Vanguard Editions, numa edição limitada que apresentará, traduzida pela própria, uma selecção de contos da autora.
Fugue States desafia os leitores britânicos a imaginarem Rebecca, de Daphne du Maurier, dirigida pelo realizador de cinema David Lynch. O livro será apresentado no dia 18 de Outubro, no restaurante The Peckham Pelikan, 92 Peckham Road, Londres SE15 5PY. 


[Texto baseado em artigo de Luís Rocha no site Funchal Notícias]

Lançamento de Nunca Dancei num Coreto, de Maria Filomena Mónica, no Museu da Farmácia



Sobre O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë




«Poucas obras tiveram tempo de concepção tão prolongado como Wuthering Heights que, na verdade, deve ter nascido no dia em que nasceu Emily Brontë. Nunca entre um livro e o seu autor aconteceu maior intimidade, no sentido de um crescimento em pura simbiose.» [Hélia Correia]

«É como se Emily Brontë desfizesse tudo aquilo que conhecemos dos seres humanos e preenchesse essas transparências irreconhecíveis com um sopro de vida que faz com que elas transcendam a realidade.» [Virginia Woolf]


«Um livro diabólico — um monstro incrível… A ação tem lugar no inferno — mas parece que os lugares e as pessoas têm nomes ingleses.» [Dante Gabriel Rossetti]

A chegar às livrarias: O Livro por Vir, de Maurice Blanchot (trad. Maria Regina Louro)





A literatura ocupa o centro das pesquisas de Blanchot. E é a luz do seu mistério que o autor de “O Livro por Vir” e “O Espaço Literário” se esforça por circunscrever. 
Neste livro, Blanchot fala-nos com um saber apaixonado de Proust, Artaud, Musil, Broch e Henry James e até daquele que será um dia o último escritor. Mas, através dos autores e dos livros, interessa sobretudo a Blanchot o movimento que os cria.

16.10.18

Apresentação de Caos e Ritmo, na Escola das Artes, no Porto





A obra Caos e Ritmo de José Gil foi apresentada no Bar das Artes, da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, no passado dia 11 de Outubro.

José Gil esteve presente para uma conversa com Nuno Crespo e Nuno Faria. Depois da conversa, foi inaugurada a exposição “Sombra Luminosa”, de Mariana Caló e Francisco Queimadela, com curadoria de Nuno Faria.

«Num final de tarde de meteorologia incerta, o ensaísta e filósofo dissertou sobre o caos como origem das certezas, a partir dos fragmentos de ideias que “possam entrar numa continuidade consistente”.

“Se olharmos para a Arte, para a Cultura, para a Ciência, para os princípios morais, encontramos constantemente fragmentos, a que nos referimos como um caos”, explica José Gil, dizendo que é nesse caos fragmentado que devemos procurar as explicações para o que nos rodeia, rejeitando muita da lógica que até agora considerámos válida.


“Temos de conseguir unir o que é heterogéneo”, acrescenta o pensador, numa evidente referência às atuais questões da inclusão e dos riscos da manipulação. “As fake news são um aspeto não completado do estilhaçamento do real”, diz José Gil.» [Lusa, Observador, texto completo aqui: https://observador.pt/2018/10/11/filosofo-jose-gil-diz-que-tudo-o-que-resulta-das-velhas-verdades-falhou/ ]