31.3.21

Sobre A União do Céu e do Inferno, de William Blake

 



«Cristo ensinou que o homem se salva pela fé e pela ética; Swedenborg acrescentou a inteligência; Blake impõe-nos três caminhos de salvação: o moral, o intelectual e o estético. Afirmou que o terceiro havia sido pregado por Cristo, pois cada parábola é um poema.

Como Buda, cuja doutrina, de facto, era ignorada, condenou o ascetismo. Nos seus Provérbios do Inferno, lemos: “O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria” (…)

Blake nunca saiu de Inglaterra, mas percorreu, como Swedenborg, os reinos dos mortos e dos anjos. Percorreu as planícies de areia ardente, os montes de fogo compacto, as árvores do mal e o país dos labirintos tecidos. No verão de 1827, morreu cantando.» [J. L. Borges]


A União do Céu e do Inferno (trad. João Ferreira Duarte) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/a-uniao-do-ceu-e-do-inferno-2/

Sobre Almanaque do Céu e da Terra, de Cristina Carvalho

 



Cristina Carvalho foi a convidada semanal do programa À Volta dos Livros, a propósito da edição de Almanaque do Céu e da Terra. O programa de 14 de Janeiro de 2021 pode ser ouvido aqui: https://www.rtp.pt/play/p312/e515841/a-volta-dos-livros


“E sabemos a alegria que é passear à noite, no Verão, sob um céu estrelado. Gritamos com as estrelas-cadentes, esperamos todos os anos, lá para Agosto, pela chuva de São Lourenço, e as auroras boreais são o deslumbramento total. Desejamos, então, que nem um só farrapo de nuvem nos tolde a visão, para apreciarmos uma estrela a deslizar velozmente ou a rodopiar no mais alto firmamento.”


Esta e outras obras de Cristina Carvalho estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/cristina-carvalho/


Sobre Jane Eyre, de Charlotte Brontë

 



Jane Eyre, criança órfã, cresceu em casa da tia, onde a solidão e a crueldade imperavam, e ainda numa escola de caridade com um regime severo. Esta infância fortaleceu, no entanto, o seu espírito de independência, que se revela crucial quando ocupa o lugar de preceptora em Thornfield Hall. Porém, quando se apaixona por Mr. Rochester, o seu patrão, um homem de grande ironia e cinismo, a descoberta de um dos seus segredos força-a a uma opção. Deverá ficar com ele e viver com as consequências disso, ou seguir as suas convicções, mesmo que para tal tenha de abandonar o homem que ama?

Publicado em 1847, Jane Eyre chocou inúmeros leitores com a sua apaixonada e intensa descrição da busca de uma mulher pela igualdade e a liberdade.


«A obra-prima de um grande génio.» [William Makepeace Thackeray]


Jane Eyre (trad. Mécia e João Gaspar Simões) e uma selecção de poemas de Charlotte Brontë estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/charlotte-bronte/


Sobre Louvor da Terra e Do Desaparecimento dos Rituais, de Byung-Chul Han

 



Carlos Vasconcelos falou com Luís Caetano sobre Louvor da Terra e Do Desaparecimento dos Rituais, de Byung-Chul Han. O programa Última Edição de 24 de Março pode ser ouvido aqui.


Estas e outras obras de Byung-Chul Han estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/byung-chul-han/

Do autor, a Relógio D’Água editará em breve Rostos da Morte.


De Poemas, de John Donne

 



«O ANIVERSÁRIO


Todos os reis e seus favoritos,

toda a glória, honrarias, beleza e talentos,

o próprio sol que marca as horas, conforme elas passam

envelhecem um ano, agora mais do que era

quando tu e eu nos vimos pela primeira vez:

todas as outras coisas se aproximam da destruição,

só o nosso amor não declina;

este não tem amanhã nem ontem,

correndo, nunca foge de nós

e conserva o seu primeiro, último e eterno dia. […]» [p. 17]


Poemas de John Donne (tradução de Maria de Lourdes Guimarães e Fernando Guimarães) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/poemas-3/


Sobre A Íris Selvagem, de Louise Glück

 



«Louise Glück era uma ilustre desconhecida dos leitores portugueses quando, no passado mês de outubro, foi anunciado o Prémio Nobel de Literatura 2020. Porém, a poeta já havia já recebido o Prémio Pulitzer, o National Book Award e o National Book Critics Circle Award, entre outros. A Íris Selvagem é o seu [segundo] livro de poesia editado em Portugal. A questão de “deus” surge com o tema central desta extraordinária obra. Nalguns poemas, a autora interpela diretamente o criador sobre o seu silêncio, a sua ausência, sobre o “vazio do céu” (“Pai inacessível”, “Deixei de me perguntar onde estás”, “Nesta tua longa e prolongada ausência”). Noutros, “deus” assume a voz e contempla, ora com desdém, ora com compaixão, a sua criação (“Minha pobre e inspirada / criação, não passais / de distracção, de meros / epígonos: sois afinal / demasiado diferentes de mim / para me agradar”). Neste contexto, Glück canta o “terror dos filhos de deus”, o desespero da existência (“ser algo é ser quase nada”), a trágica consciência da finitude (“é árduo ser o animal descartável”), o sofrimento de viver neste mundo “exilado do céu”. Contudo, uma luminosa metáfora percorre o livro; o jardim. A paz momentânea através da comunhão com a natureza: árvores, flores, vegetais que se plantam na terra. Talvez a humanidade, como aponta um destes poemas, gaste “demasiado tempo / a olhar adiante” e o exemplo possa estar na flor que pode, simplesmente “florir, sem esperança de viver depois”.»

[Luís Almeida D’Eça, «Sete livros para abraça a primavera», Agenda Cultural de Lisboa, Março 2021.]


A Íris Selvagem e outras obras de Louise Glück estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/louise-gluck/

30.3.21

De O Sermão do Fogo, de Agustina Bessa-Luís

 



«Uma pequena bouça de pinheiros, dum verde cheio dessas cãs dos pinheiros como vassouras amolecidas pelo uso, estendia‑se ao sul; tratava‑se de árvores adultas, cascudas, ligeiramente flectidas pelo vento durante o crescimento. Alguns cogumelos cresciam nos troncos e anunciavam a sua decrepitude, apesar dos fogosos ramos e do toucado de pinhas que a chuva apodrecera um pouco e que começavam a cair. O solo era arenoso, um céspede brilhante e líquido brotava entre as raízes do tojo, e nada mais comovente para Amélia do que o ruído dos passos que pisavam a agulha seca, a gorda folhagem da chorina, a açucarada contextura da areia pálida e húmida. Ela marchava devagar, com o seu ligeiro pisar, próprio das pessoas a quem o movimento assusta e que vivem sedentariamente; era a segunda vez que andava sozinha no pinhal circundado por esteios de pedra onde se prendia velho arame farpado; e, como acontece com as mulheres caprichosas, gostava de contemplar‑se no seu retrato bucólico e triste, guardando, porém, no fundo do coração, a certeza duma breve comédia e dum desfrute da natureza sem qualquer convicção. Quando se extrai uma surpresa duma insignificância, isso equivale a receber uma lição gratuita aparentemente, mas em cujo acaso não se acredita. Tal é a alma do homem — duvida sempre da simplicidade dos factos sucedidos no âmbito do seu próprio ser; o natural não acontece senão no reino bruto, a razão não nos incita ao que é natural, mas ao que é possível.» [p. 11]


Esta e outras obras de Agustina Bessa-Luís estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/agustina-bessa-luis/

Sobre Lupin

 



«Arsène Lupin, Gentleman Ladrão é o título da edição da Relógio d'Água, que recupera a colectânea de nove contos, inicialmente publicados na revista Je Sais Tout em Julho de 1905, como uma alternativa às narrativas policiais de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle.» [Público]


Arsène Lupin, Gentleman Ladrão está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/arsene-lupin-gentleman-ladrao/


Em breve a Relógio D’Água publicará também o segundo e terceiro volume da série.



Sobre Diários, de Virginia Woolf

 



A propósito dos 80 anos da morte de Virginia Woolf, Francisco Vale falou com Luís Caetano sobre Diários, editado pela Relógio D’Água em 2018, com tradução de Jorge Vaz de Carvalho.

O programa Última Edição (26/3/21) pode ser ouvido aqui: https://www.rtp.pt/play/p303/e533591/ultima-edicao


Diários (selecção, tradução,  prefácio e notas de Jorge Vaz de Carvalho) e outras obras de Virginia Woolf estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/virginia-woolf/


De Poemas, de Mário de Sá-Carneiro

 



«INTER‐SONHO


Numa incerta melodia

Toda a minh’alma se esconde

Reminiscências de Aonde

Perturbam‐me em nostalgia…


Manhã d’armas! Manhã d’armas!

Romaria! Romaria!


…………………………………………………


Tacteio... dobro... resvalo…


…………………………………………………


Princesas de fantasia

Desencantam‐se das flores…


………………………………………………..


Que pesadelo tão bom…


………………………………………………..


Pressinto um grande intervalo,

Deliro todas as cores,

Vivo em roxo e morro em som...


                                                    Paris 1913 — Maio 6» [p. 17]


Poemas e outras obras de Mário de Sá-Carneiro estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/mario-de-sa-carneiro/

Sobre As Confissões da Carne, de Michel Foucault

 



As Confissões da Carne é o quarto e último volume da História da Sexualidade, obra em que Michel Foucault se propôs a estudar a sexualidade humana desde a Antiguidade clássica até aos primeiros séculos do cristianismo. 

A elaboração definitiva de As Confissões da Carne, de acordo com Frédéric Gros, responsável pela edição, pode situar-se em 1981 e 1982. O livro foi editado em 2018, quando os herdeiros de Foucault consideraram reunidas as condições para a publicação do inédito, que concluía a análise de A Vontade de Saber, O Uso dos Prazeres e O Cuidado de Si.

O livro tem três partes. A primeira aborda os temas “Criação, procriação”, “O baptismo laborioso”, “A segunda penitência” e “A arte das artes”; a segunda, a “Virgindade e continência”, “Das artes da virgindade” e “Virgindade e conhecimento de si”; e a terceira, “O dever dos esposos”, “O bem e os bens do casamento” e “A libidinização do sexo”.


Este e os outros volumes de História da Sexualidade estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/michel-foucault/

29.3.21

Sobre Cair de Amores, de Donna Leon

 



Em A Morte no La Fenice, primeiro romance desta série, Donna Leon levou os leitores ao glamoroso mundo da ópera e de Flavia Petrelli, uma das mais prestigiadas sopranos de Itália. Agora, Flavia regressa a Veneza como voz principal da ópera Tosca. Uma noite, depois de uma récita, Flavia encontra o seu camarim repleto de rosas amarelas. Demasiadas rosas… Um admirador anónimo tem-lhe oferecido prendas em Londres, São Petersburgo, Amesterdão, e agora em Veneza.

Ao mesmo tempo que confessa a Brunetti que se sente preocupada com as excessivas demonstrações de apreço, uma colega de profissão de Flavia é gravemente atacada, o que faz com que Brunetti se aperceba de que os receios de Flavia são afinal justificados. O comissário tem de se pôr no papel do admirador obsessivo antes que aconteça algo a Flávia, ou a qualquer outra pessoa em seu redor.


Cair de Amores (trad. Maria Eduarda Cardoso) e outras obras de Donna Leon estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/donna-leon/

Sobre Cadernos de Um Caçador, de Ivan Turguénev

 



«Frank O’Connor pôs os Cadernos de Um Caçador (1852) acima de qualquer outra recolha de contos. Um século e meio depois da sua composição, Cadernos de Um Caçador mantém toda a sua novidade, apesar de o tema “de actualidade” que lhe é subjacente, a necessidade de emancipar os servos, se ter desvanecido depois de todos os desastres da história russa. Os contos de Turguénev são de uma beleza estranha e inquietadora, e, no seu conjunto, são a melhor resposta para a pergunta “Porquê ler?” que conheço (sempre exceptuando Shakespeare). Turguénev, que amava Shakespeare e Cervantes, dividia os seres humanos (empenhados numa demanda) em Hamlets e Dom Quixotes. Poderia ter acrescentado os Falstaffs e os Sancho Panças, visto que estes formam, com os outros dois, um paradigma quádruplo para tantos outros seres fictícios.» [Como Ler e Porquê?, Harold Bloom]


Cadernos de Um Caçador (trad. Nina Guerra e Filipe Guerra) outras obras de Ivan Turguénev estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/ivan-turguenev/


Sobre O Príncipe, de Nicolau Maquiavel

 



«A Relógio D’Água reeditou um clássico, por isso é que o trago aqui, é tão importante nos dias de hoje: O Príncipe, de Maquiavel.» [Francisco Louçã, Tabu, Sic Notícias, 26/3/2021: https://tinyurl.com/a6wv3ppc]


O Príncipe, de Nicolau Maquiavel (Trad. José Lima), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-principe/

Sobre O Problema dos Três Corpos, de Liu Cixin

 



«O resumo do enredo pode levar a crer que estamos perante mais uma história clássica em que alienígenas invadem a Terra e esta tenta defender-se a todo o custo. Estamos e não estamos. Neste primeiro volume, a invasão anuncia-se, mas não chega a cumprir-se. Apesar disso, não é de um conflito entre nós e os outros que se trata, pelo menos nessa acepção narrativa cujo imaginário remete para naves espaciais, figuras antropomórficas de tom esverdeado e longas viagens pelas auto-estradas do cosmos. O que se joga nestas mais de 300 páginas são vários conflitos, sobretudo entre nós e nós próprios, mas também uma série de dúvidas intemporais, da possibilidade de vivermos em sociedade de forma harmoniosa ao equilíbrio entre a espécie humana e as outras espécies. […]

À semelhança de autores como Ursula Le Guin ou Philip K. Dick, Liu Cixin trabalha com vários códigos associados ao género que se definiu como ficção científica, e é imediato o reconhecimento das temáticas e das abordagens características desse género, mas a sua escrita é tão ampla, apontada ao universal e devedora do intemporal que se torna difícil encerrá-la entre fronteiras mais restritas. Claro que dizer isto parece pressupor que a ficção científica será um género que menoriza os textos que aí se arrumam, o que está longe de ser verdade.» [Sara Figueiredo Costa, Parágrafo, 64, Março 2021. Texto completo em https://paragrafopontofinal.wordpress.com/2021/03/26/alguem-nos-escuta-para-la-das-estrelas/ ]


O Problema dos Três Corpos, de Liu Cixin (trad. Telma Carvalho), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-problema-dos-tres-corpos/

Sobre Tu Sabes que Queres, de Kristen Roupenian

 



“Amante de Gatos”, de Kristen Roupenian, foi em 2017 um dos dois contos mais lidos de sempre, tanto online como em papel, na The New Yorker. Tal sucesso deve-se, segundo o Washington Post, ao facto de o conto dar voz não ao leitor comum da publicação, mas a uma geração mais jovem.

Segundo a The Atlantic, o conto capta o medo das jovens mulheres a viver em 2017, o que, entre outras coisas, implica uma desesperante necessidade de ser boa e simpática a todo o custo.

Tu Sabes que Queres é uma coletânea que inclui esse e outros contos, onde Roupenian explora as conexões complexas e por vezes sombrias de género, sexo e poder.


“É, a par de Brokeback Mountain, o conto mais falado de sempre (...). Já suscitou inúmeras interpretações.”   [The Guardian]


“A autora domina a linguagem, as personagens e a história. Roupenian possui uma habilidade única de narrar histórias que temos a sensação de já ter ouvido, mas de um modo despretensioso e acessível, o que faz com que acreditemos que são verdade.”   [New York Times Book Review]


Tu Sabes que Queres: “Amante de Gatos” e Outros Contos, de Kristen Roupenian (tradução de Alda Rodrigues), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/tu-sabes-que-queres/

28.3.21

Obras de Virginia Woolf publicadas pela Relógio D’Água

 




Obras de Virginia Woolf publicadas pela Relógio D’Água e disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/virginia-woolf/:


A Casa Assombrada

As Ondas

Os Anos

Orlando

Contos

Mrs. Dalloway

Londres

Um Quarto só para Si

A Viúva e o Papagaio

Rumo ao Farol

Flush — Uma Biografia

Entre os Actos

Noite e Dia

Ensaios Escolhidos

Obras Escolhidas I

Obras Escolhidas II

Diários

Viagens

A Casa Assombrada e Outros Contos

A Cortina da Senhora Lugton

Virginia Woolf: 80 Anos depois

 






Virginia Woolf nasceu em Hyde Park Gate em 1882, num final de século vitoriano. O seu pai era o crítico literário Sir Leslie Stephen. Virginia teve a sua primeira crise depressiva em 1904, aquando da morte do pai. Mudou-se, em seguida, para a casa do irmão Thoby e da irmã, a pintora Vanessa Bell, em Bloomsbury, onde estes se reuniam com outros escritores e artistas, incluindo Lytton Strachey, J. Maynard Keynes e Roger Fry. Essa foi a origem do célebre Bloomsbury Group. Entre os seus participantes estava também Leonard Woolf, com quem Virginia se casou em 1912. Cinco anos mais tarde, o casal fundou a Hogarth Press, que viria a publicar, além da própria Virginia Woolf, obras de T. S. Eliot, E. M. Forster e Katherine Mansfield, bem como traduções de Freud. 

O primeiro romance de Virginia Woolf, A Viagem, foi editado em 1915, mas seria O Quarto de Jacob (1922) a suscitar o seu reconhecimento como uma escritora inovadora. Essa evolução seria confirmada em Mrs. Dalloway, onde a sua escrita captou a evanescente matéria da vida e as fugidias experiências de Clarissa, através de um tempo psicológico e reversível.

«Insubstancio, até certo ponto intencionalmente, não confiando na realidade — no que tem de reles», escreveu no seu diário em Junho de 1923, quando trabalhava em Mrs. Dalloway.

A sua abordagem modernista, caracterizada pelo uso da corrente de consciência e com ênfase na personagem e não no enredo, foi desenvolvida em Rumo ao Farol, nos monólogos de As Ondas, em Entre os Actos e em vários dos seus contos.

Virginia Woolf suicidou-se no rio Ouse a 28 de Março de 1941, em plena II Guerra Mundial. 

Tinha então quase sessenta anos, publicara nove romances, sete volumes de ensaios, duas biografias e vários contos.

Antes escrevera ao seu marido: «Tenho a certeza de que vou enlouquecer outra vez. E sinto-me incapaz de enfrentar de novo um desses terríveis períodos. Começo a ouvir vozes e não consigo concentrar-me (…). Se alguém pudesse salvar-me serias tu (…). Não posso destruir a tua vida por mais tempo.»

E, finalmente, uma frase inesperada, que retoma a que Terence diz a Rachel morta, em A Viagem, seu primeiro romance:

«Não creio que dois seres pudessem ser mais felizes do que nós o fomos.»

FV


27.3.21

Sobre Uma Conspiração de Estúpidos, de John Kennedy Toole

 



O protagonista deste romance é uma das personagens mais memoráveis da literatura norte-americana.

Aos 30 anos, Ignatius J. Reilly vive com a mãe, ocupado a escrever uma demolidora denúncia do século XX, uma perturbante alegação contra uma sociedade perturbada. Devido a uma inesperada necessidade de dinheiro, vê-se catapultado para a febre da existência contemporânea, febre que, por sua vez, contribui para aumentar em alguns graus.


«Um romance extremamente divertido. É um daqueles livros de onde sempre iremos fazer citações.» [Anthony Burgess]


«Um romance disparatado e burlesco, rabelaisiano e surpreendente, que rompe com os hábitos da narrativa norte-americana atual. Uma tragicomédia cósmica, cuja leitura faz com que se alterne entre a gargalhada e a angústia.» [El País]


Esta obra está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/uma-conspiracao-de-estupidos/

Sobre O Duelo, de Anton Tchékhov

 



O Duelo, de Anton Tchékhov, é uma novela narrada a partir do ponto de vista de diversas personagens reunidas no mesmo objectivo: esquecer os dias que perderam e aproveitar da melhor forma os que ainda têm para viver.

Tchékhov coloca em confronto, numa pequena cidade do Cáucaso, um funcionário e a sua jovem mulher, um médico militar, um zoólogo de ideias radicais e um diácono dado ao riso. A história é contada através dos olhos de cada protagonista, conseguindo o leitor entender que qualquer um deles, independentemente da sua relação com os outros, procura apenas uma forma de escapar ao rotineiro dia-a-dia.

É nesse ambiente que o ódio crescente entre o zoólogo e o funcionário culmina num duelo e este numa espécie de redenção. E quando o zoólogo deixa a cidade, as oscilações do seu barco são transformadas por Tchékhov numa metáfora da vida.


«Quando os padrinhos propõem que se façam as pazes, normalmente não lhes dão ouvidos, encarando isso como mera formalidade. Amor-próprio e tal, pronto. Mas peço-lhe encarecidamente que preste atenção ao estado em que se encontra Ivan Andréitch. Ele hoje não está no seu estado normal, por assim dizer, não está no seu perfeito juízo, está num estado miserável. Aconteceu-lhe uma desgraça. Detesto mexericos… — Chechkóvski corou e olhou para trás —, mas, como se trata de um duelo, acho necessário comunicar-lhe…»


Esta e outras obras de Anton Tchékhov estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/anton-tcheckhov/

Sobre Um Eléctrico Chamado Desejo e Outras Peças, de Tennessee Williams

 



Este livro reúne quatro das principais peças de Tennessee Williams, a saber: «Gata em Telhado de Zinco Quente», «Subitamente, no Verão Passado», «Verão e Fumo» e «Um Eléctrico Chamado Desejo».


«Eu quero continuar a falar convosco sobre aquilo por que vivemos e morremos. E quero fazê-lo sem reservas, intimamente, como se vos conhecesse melhor do que qualquer outra pessoa.» [Do Prefácio a «Gata em Telhado de Zinco Quente»]


Este livro e Doce Pássaro da Juventude e Outras Peças estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/tennessee-williams/


26.3.21

Sobre A Poesia como Arte Insurgente, de Lawrence Ferlinghetti

 



«A poesia é o que gritaríamos se nos encontrássemos numa selva escura, no meio do caminho da nossa vida.


Os poemas são arcos ardentes, os poemas são flechas de desejo, a poesia dá palavras ao coração.


A poesia é a verdade que revela todas as mentiras, o rosto sem maquilhagem.


O que é a poesia? O vento agita as ervas, uiva nos desfiladeiros.


Voz perdida e sonhadora, porta que pairou sobre o horizonte.


Ó flauta embriagada, ó boca de ouro, beijem‑se, beijem‑se em alcovas de pedra.


O que é a poesia? Um palhaço ri, um palhaço chora, deixando cair a sua máscara.


A poesia é o Hóspede Desconhecido na casa.


A poesia é a Grande Memória, cada palavra uma metáfora viva.


Poesia, o olho do coração, o coração do espírito.


As palavras esperam para renascer à sombra do candeeiro da poesia.


Com a primeira luz, um pássaro negro afasta‑se a voar — é um poema.» [De «O que é a poesia?»]


A Poesia como Arte Insurgente (tradução de Inês Dias) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/a-poesia-como-arte-insurgente/


Sobre 50 Poemas, de Tomas Tranströmer

 



«AS RECORDAÇÕES OLHAM PARA MIM


Uma manhã de junho, quando ainda é cedo para acordar

mas demasiado tarde para voltar a pegar no sono.


Embrenho-me pelo arvoredo repleto de recordações

e elas seguem-me com os seus olhares.


Autênticos camaleões, elas não se mostram,

diluem-se literalmente no cenário.


E embora o gorjeio dos pássaros seja ensurdecedor,

estão tão perto de mim que ouço como respiram.» [p. 13]


50 Poemas, de Tomas Tranströmer, está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/50-poemas-de-t-transtromer/

Sobre Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector

 



«— E o que anda a ler Francisco Geraldes?

— É engraçado, porque diria que 99% das vezes nós escolhemos os livros que lemos, mas há aquela mínima percentagem de 1% em que acabamos de ler um livro e achamos que o livro nos escolheu.

Eu acabei de ler um livro há pouco tempo que é “Perto do Coração Selvagem” [ed. Relógio d’Água], de Clarice Lispector, que acho que entra nesta ínfima percentagem de 1%. Acho que é o livro que mais me marcou.» [Francisco Geraldes, em entrevista a Maria João Costa, Rádio Renascença, 26/3/2021; disponível em https://tinyurl.com/hkvajfh3 ]


Perto do Coração Selvagem e outras obras de Clarice Lispector estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/clarice-lispector/


De Folhas de Erva, de Walt Whitman

 



«CANTO AQUELE QUE EXISTE EM SI MESMO


Canto aquele que existe em si mesmo, uma pessoa simples e independente,

Pronuncio, todavia, a palavra Democrático, a palavra En-Masse.


Canto o próprio organismo da cabeça aos pés,

Nem só a fisiognomonia nem apenas o cérebro são dignos da Musa, afirmo que a Forma completa é muito mais digna,

Eu canto tanto a Mulher como o Homem.


A Vida imensa em paixão, vitalidade e força,

Com alegria, para que mais livre seja o impulso formado sob as leis divinas,

Eu canto o Homem Moderno.»


[trad. Maria de Lourdes Guimarães]


Folhas de Erva está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/folhas-de-erva/


Sobre O Cometa na Terra dos Mumins, de Tove Jansson

 



Um pressentimento acerca de uma estrela com cauda leva o Mumintroll e o seu amigo Sniff a um observatório no cimo de uma montanha. Mas a verdadeira aventura começa quando descobrem que um cometa se encaminha em direção à Terra.


«Um tesouro perdido, agora redescoberto… Uma obra-prima.» [Neil Gaiman]


«Jansson era um génio de um modo subtil. Estas histórias simples estão repletas de emoções únicas profundas e complexas, como jamais se viram em literatura para crianças ou adultos.» [Philip Pullman]


«Tove Jansson é, sem dúvida, uma das maiores escritoras de livros para crianças.» [Sir Terry Pratchett]


Esta e outras obras de Tove Jansson estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/tove-jansson/


Sobre Viagem ao Centro da Terra, de Jules Verne

 



Numa casa do velho bairro de Hamburgo, Axel, um jovem tímido, trabalha com o seu tio, o irascível professor Lidenbrock, geólogo e mineralogista. A sua vida é tranquila apesar da paixão que sente pela encantadora Graüben, a pupila do seu mestre.

Mas a situação altera-se quando, num velho manuscrito, Lidenbrock encontra um criptograma.

Arne Saknussemm, um famoso sábio islandês do século xvi, revela nesse manuscrito que através da cratera de um vulcão extinto da Islândia, o Sneffels, penetrou outrora até ao centro da Terra.

Entusiasmado, Lidenbrock decide partir imediatamente com Axel para a Islândia, onde, acompanhados pelo guia Hans, tão fleumático como Lidenbrock é agitado, penetra nas misteriosas profundezas do vulcão.


Viagem ao Centro da Terra (trad. Maria Matta Antunes) e outras obras de Jules Verne estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/jules-verne/


25.3.21

Sobre Arsène Lupin, Gentleman Ladrão, de Maurice Leblanc

 



Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Arsène Lupin, Gentleman Ladrão, de Maurice Leblanc 


Arsène Lupin, Gentleman Ladrão é uma colectânea de nove contos, inicialmente publicados na revista Je sais tout em Julho de 1905. Esta colaboração resultara de um convite do editor da revista, que procurava uma alternativa às narrativas policiais de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle.

A obra conheceu um enorme sucesso com a criação de um protagonista dotado de imaginação fértil, agilidade física e mental, sentido de humor, elegância e com uma falta de escrúpulos associada a um código de honra que o levava a proteger sempre os mais frágeis.

Neste primeiro livro, Arsène Lupin demonstra a sua capacidade para esconder jóias de um modo original, escapar à prisão, assaltar cofres, descobrir jóias falsas, mostrando ainda como desde rapaz se revelara o seu talento de assaltante.


«Vinte vezes vi Arsène Lupin e vinte vezes foi um ser diferente que me apareceu, melhor, o mesmo ser de que vinte espelhos me enviassem outras tantas imagens deformadas, cada uma com olhos diferentes, uma forma especial de figura, um gesto próprio, a sua silhueta e o seu carácter próprios.»



Maurice Leblanc nasceu a 11 de Dezembro de 1864, na cidade francesa de Rouen. A mãe era filha de ricos tintureiros, e o pai, proprietário de navios mercantes.

Quando tinha seis anos, foi enviado para a Escócia, devido à Guerra Franco-Prussiana. Estudou depois no pensionato Patry e fez os estudos secundários no Liceu Corneille, onde foi demasiado bom aluno, como reconheceria mais tarde com arrependimento.

Conheceu cedo a obra literária de Flaubert e Guy de Maupassant, normandos como ele (o autor de Bel-Ami haveria de o apoiar nas primeiras tentativas literárias). Teve possibilidade de estudar em França, na Alemanha ou em Itália, mas interrompeu o curso de Direito para se tornar jornalista e escritor, depois de uma curta experiência de trabalho na empresa familiar.

Estabeleceu-se como repórter policial do jornal L’Écho de Paris. Publicou Une femme, um romance psicológico, aos vinte e três anos, que foi bem acolhido pela crítica, mas ignorado pelos leitores. O mesmo aconteceu com as suas obras seguintes. Conheceu Émile Zola e Mallarmé.

A personagem que o tornaria famoso, Arsène Lupin, surgiu de um convite do editor da revista Je sais tout para publicar histórias de um detective que pudesse ser uma alternativa às de Sherlock Holmes, então muito populares. Mas, ao contrário do detective de Baker Street, Arsène Lupin, que possui também grande capacidade de dedução, é alegre, glamoroso, desenvolto e tem um código de honra muito próprio. A personagem de Lupin ter-se-á baseado no anarquista francês conhecido como Marius Jacob, julgado em Março de 1905, considerado um ladrão inteligente, com sentido de humor e generosidade. Mas a sua obra tinha também raízes em autores como Octave Mirbeau, entre outros.

Embora se tenha dedicado, a partir de 1907, sobretudo à personagem de Arsène Lupin, Leblanc escreveu ainda dois romances de ficção científica, Os Três Olhos (1919), no qual um cientista estabelece contacto com Vénus, e O Fantástico Acontecimento (1920), em que um terramoto faz surgir uma massa de terra entre Inglaterra e França. Apesar de ser um socialista radical, foi agraciado com a Ordem Nacional da Legião da Honra.

Faleceu de pneumonia em 1941, em Perpignan, para onde se retirara em 1939, depois da invasão alemã. Após uma passagem pelo Cemitério de Saint-Martin, foi trasladado para o de Montparnasse, em Paris.

Vários dos seus vinte e quatro romances policiais foram adaptados ao cinema e ao teatro. Certo dia, confessou a Georges Charensol: «Pergunto a mim mesmo, com espanto, como pude desse modo, sem esforço, divertindo-me loucamente, inventar tantas peripécias.»