29.6.18

Raul Brandão celebrado pela Associação Portuguesa de Escritores





O ciclo de iniciativas que comemora a obra de Raul Brandão teve início no passado dia 18 de Junho e prolonga-se até 10 de Julho. A 3 de Julho, na Cinemateca Portuguesa, serão abordadas as várias adaptações feitas de obras de Raul Brandão ao cinema.
No dia 10 de Julho, Teatro Nacional D. Maria II, alguns atores lerão excertos do III Acto de “O Gebo e a Sombra” e vão fazer a leitura completa da farsa “O Doido e a Morte”.

De Raul Brandão a Relógio D’Água tem editadas as obras Memórias (em três tomos), A Farsa, História dum Palhaço e A Morte do Palhaço, El-Rei Junot, Vida e Morte de Gomes Freire, Os Pescadores, Húmus e Memórias (num único volume).

28.6.18

Hélia Correia e Alexandre Andrade lêem contos na Livraria Ferin




No âmbito do 15.º Congresso Internacional do Conto em Inglês, Hélia Correia e Alexandre Andrade estarão amanhã na Livraria Ferin, em Lisboa, para uma leitura de contos.

Sobre O Falecido Mattia Pascal, de Luigi Pirandello




Escrito em 1904, O Falecido Mattia Pascal é um romance em que, com apreciável dose de humor negro, Luigi Pirandello explora os mistérios de identidade. Nele se conta a história de um homem que, cansado da sua vida de arquivista e de marido, decide viajar até Monte Carlo, onde a sorte lhe permite obter no casino uma enorme fortuna.
É no regresso a casa que toma conhecimento de que, por engano, foi considerado morto.
Decide começar uma nova vida com fortuna e outro nome, pensando assim libertar-se de compromissos e obrigações. Mas depois de viajar algum tempo sem estabelecer ligações de amor ou amizade, sente que o anonimato não o torna livre nem feliz.
Decide fixar-se numa pensão em Roma, onde se apaixona e tudo se complica.


De Luigi Pirandello a Relógio D’Água editou também Contos, A Bilha e Henrique IV — Seis Personagens em busca de Autor.

27.6.18

Sobre O Meu Amor Absoluto, de Gabriel Tallent




«O primeiro romance de Gabriel Tallent, jovem autor norte-americano, recebeu encómios da crítica e a preferência do público. Uma história de abuso, pressão psicológica e sexual, e de um amor sem freios e sem limites.» [Revista LER, Primavera 2018]


26.6.18

Sobre Com Esta Chuva, de Annemarie Schwarzenbach




«A curta e aventurosa vida da suíça Annemarie Schwarzenbach merecia várias reconstituições — como viajante, escritora, arqueóloga e personagem de romance (que foi). Durante a Segunda Guerra viajou por todo o mundo. Os seus contos aqui reunidos são também belas narrativas de viagem.» [LER, Primavera 2018]

De Annemarie Schwarzenbach a Relógio D’Água publicou também Todos os Caminhos Estão Abertos e Inverno no Próximo Oriente.

Sobre As Rotas da Seda, de Peter Frankopan




«O mapa das “Rotas da Seda” é uma encruzilhada de todas as grandes religiões, das grandes economias da Antiguidade até hoje, dos grandes exércitos e das “línguas gerais” da Humanidade. O retrato só podia ser complexo e multicolorido. Um belo livro.» [LER, Primavera 2018]

25.6.18

Sobre O Meu Inimigo Mortal, de Willa Cather




«Publicada em 1926, esta novela pertence à categoria dos livros que conseguem fazer da brevidade uma virtude. Noutras mãos, a história de Myra Henshawe — uma mulher que prescinde da herança familiar para viver o amor da sua vida: exemplo de coragem extrema, embora incapaz de resistir à usura do tempo — poderia estender-se por centenas de páginas. Cather, ao invés, transforma-a num lapidar estudo sobre a falibilidade dos destinos humanos, narrado com austera contenção, em prosa límpida mas que convoca os materiais estritamente necessários. Bellie Birdseye, a narradora, trinta anos mais nova do que Myra, começa por evocar a época em que a conheceu, primeiro na sua terra natal, e depois em Nova Iorque, durante uma visita natalícia.» [José Mário Silva, Expresso, E, 2018]


De Willa Cather a Relógio D’Água publicou também Uma Mulher Perdida e Minha Ántonia.

Sobre O Meu Amor Absoluto, de Gabriel Tallent




«Gabriel Tallent serve-nos este prato com mestria inspirada nas obras e nos universos crus de alguém como Cormac McCarthy, e, correndo o risco de utilizar trocadilhos fáceis, é inegável que possui talento para a escrita. Tal é por demais evidente quando nos vemos a braços com as suas descrições da natureza, por exemplo, onde se evidencia um autor que tem certamente, com o mundo selvagem, uma estreita relação, e esta torna-se parte da obra em momentos que servem, muitas vezes, como pausas no fulgor agitado da narrativa, um tempo de descanso para apreciação do que há de belo na relação entre flora e fauna, na qual, claro, se inclui o Homem.» [Miguel Fernandes Duarte, Comunidade Cultura e Arte, 23/4/2018. O texto completo pode ser lido aqui: https://www.comunidadeculturaearte.com/gabriel-tallent-traz-nos-a-crua-dureza-do-abuso-em-o-meu-amor-absoluto/ ]

22.6.18

Sobre O Manto, de Agustina Bessa-Luís




No âmbito da iniciativa Ano Agustina, mensalmente, ao longo de 2018, a Comunidade Cultura e Arte publicará uma crítica a um dos livros de Agustina Bessa-Luís, do catálogo reeditado pela Relógio D’Água.
No dia 27 de Maio foi publicado o texto de Tiago Vieira da Silva sobre «O Manto»:

«Na obra O Manto, de Agustina Bessa-Luís, o que lhe dá o título enovela as várias personagens do Porto de finais dos anos cinquenta do século XX, em simultâneo com a família de Job, entrecruzando-as e às suas experiências num ensaio visionário sobre a natureza humana – donde irrompem tanto as paixões como, também, a perversidade que já vários apontaram a Agustina, e que ela refuta, no entanto, sublinhando a diferença entre o saber-se o que é a perversidade, e sê-lo, de facto.
O urbano e o rural confluem na representação de uma sociedade e das referências provincianas nos seus costumes e hábitos, ilustrando um retrato social que nos é revelado nas intermitências do «desenho nítido das paisagens», como referiu Teixeira de Pascoaes na carta que enviou a Agustina a propósito de Mundo Fechado (1948), a primeira obra publicada pela autora – um desenho que ele louvou pela veemência com que o feriu «a figura esboçada do personagem principal». Em O Manto, contudo, não há apenas um personagem principal, mas vários, que Agustina mergulha na melancolia, na inquietude, na incerteza, processo do qual é extraída a força propulsora da história, ou, melhor dizendo, das várias histórias que se encadeiam na narrativa.» [Texto completo em: https://www.comunidadeculturaearte.com/ano-agustina-o-manto-ou-as-historias-que-ficam-por-contar/ ]

21.6.18

A chegar às livrarias: Filosofia do Budismo Zen, de Byung-Chul Han (trad. Miguel Serras Pereira)





O budismo zen é uma forma de budismo originário da China e tem uma orientação meditativa. Caracteriza-se por uma atitude cética em relação à linguagem e ao pensamento conceptual.
Neste breve ensaio, Byung-Chul Han propõe-se refletir de modo filosófico sobre um objeto que não implica nenhuma filosofia em sentido estrito. Por isso procura fazer uma abordagem linguística a propósito do uso do silêncio e da linguagem enigmática.

Este ensaio é um filosofar sobre e com o budismo zen para captar a força filosófica que lhe é inerente. Como afirma Byung-Chul Han, “desenvolve-se através de comparações” da filosofia de Platão, Leibniz, Fichte, Hegel, Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger “com os pontos de vista filosóficos do budismo zen”.

15.º Congresso Internacional do Conto em Inglês na FLUL em Junho





Está confirmada a participação de mais de cem escritores de tudo o mundo, incluindo vários autores portugueses, como Hélia Correia, Maria Teresa Horta, Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes, Ana Luísa Amaral, Gonçalo M. Tavares, Mário de Carvalho, Alexandre Andrade, Jacinto Lucas Pires, Onésimo Almeida e Rui Zink. Dos escritores estrangeiros marcará presença, entre outros, Robert Olen Butler (Pulitzer Prize), Clark Blaise (Lifetime Achievement Award da Academia Americana de Artes e Letras), Ge Liang (Unitas Fiction Writer’s Prize of Taiwan), os luso-americanos Katherine Vaz e Darrell Kastin, ou da lusodescendente Minoli Salgado do Sri Lanka.

Nestes dias haverá palestras, painéis temáticos, sessões de leitura pelos próprios autores, bem como oportunidades diversas de diálogo e discussão entre escritores, académicos e público em geral. Estão programados vários workshops de escrita criativa, sendo necessária uma inscrição prévia.


O Congresso assinala o 30.º aniversário da Society for the Study of the Short Story, a segunda vez que Lisboa é escolhida como cidade anfitriã, sendo este evento uma organização conjunta entre esta sociedade internacional e o Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa (CEAUL)/ FLUL.

Sobre Obra Completa, de Arthur Rimbaud




Carlos Vaz Marques falou sobre Obra Completa, de Arthur Rimbaud, no programa Livro do Dia, da TSF, no dia 15 de Junho. O programa pode ser ouvido aqui.

20.6.18

Sobre Alguma Coisa Tem de Chover, de Karl Ove Knausgård




«[E]sta é uma obra para os que querem mais uma oportunidade de imergir na mente de um escritor que, para o bem e para o mal, conseguiu criar um lugar único para si. E se o dramatismo austero e a devassa da vida privada podem ser a causa da chegada de uma pessoa a esta obra, o que faz ficar é a forma como o autor, por entre tudo isso, nos traz aquilo que há de mais importante para si: o quotidiano.» [Miguel Fernandes Duarte, Comunidade Cultura e Arte, 25/6/18]

Enrique Vila-Matas compara personagem de Gonçalo M. Tavares às de Kafka




No suplemento Babelia do El País de 28 de Maio de 2018, Enrique Vila-Matas aborda a “questão da percepção em Kafka”.
A propósito da “situação de brutal impossibilidade do indivíduo perante a máquina devastadora do poder”, o escritor espanhol invoca a personagem Theodor Buschbeck no romance Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares:

“ese médico obsesionado con encontrar una fórmula matemática capaz de percibir los futuros crímenes de la humanidad. Nada extraño que hayamos desembocado en Tavares, porque, justo cuando ha llegado ya de verdad el futuro, es uno de los contemporáneos que con mayor ingenio profundiza en las percepciones de Kafka.” [Texto completo em https://elpais.com/cultura/2018/05/28/actualidad/1527514491_376003.html]


Fotografia de Gonçalo Rosa da Silva.

19.6.18

A chegar às livrarias: Breves Notas sobre Literatura-Bloom, de Gonçalo M. Tavares (posfácio de Borja Bagunyà)





«Há infinitas maneiras (definitivas) de fazer literatura. Este é um Dicionário da Literatura‑Bloom. Podemos ser definitivos numa direcção uma vez e, depois, na vez seguinte, ser definitivos, completamente, entusiasmadamente, mas noutra direcção. Noutros lados, claro, sigo por vezes percursos inimigos e velocidades diferentes.
Dois livros‑Bloom:

A Perna Esquerda de Paris seguido de Roland Barthes e Robert Musil (e talvez ainda Biblioteca)
e
Uma Viagem à Índia

Sendo que Uma Viagem à Índia é muitos híbridos; e A Perna Esquerda… talvez também não seja, em definitivo, um puro literatura‑Bloom.
De facto, talvez nem mesmo este dicionário seja um Bloom‑puro. E assim parece‑me que está bem.» [Da Nota Inicial]

18.6.18

Lincoln no Bardo, de George Saunders, finalista do Golden Man Booker Prize




Foram anunciados no passado dia 26 de Maio os finalistas do Golden Man Booker Prize, um prémio que, no 50.º aniversário do Man Booker Prize pretende comemorar a melhor ficção das últimas cinco décadas. 
Um júri de cinco especialistas (Robert McCrum, Lemn Sissay, Kamila Shamsie, Simon Mayo e Hollie McNish) leu todos os livros premiados e seleccionou cinco finalistas. Além de Lincoln no Bardo, de George Saunders, foram escolhidos In a Free State de V. S. Naipaul; Moon Tiger de Penelope Lively; The English Patient de Michael Ondaatje e Wolf Hall de Hilary Mantel.
O vencedor será anunciado no próximo dia 8 de Julho.

Lincoln no Bardo é o primeiro romance de George Saunders. Nestas páginas, o autor revela-nos o seu trabalho mais original, transcendente e comovedor. A ação desenrola-se num cemitério e, durante apenas uma noite, a história é-nos narrada por um coro de vozes, que fazem deste livro uma experiência ímpar que apenas George Saunders nos conseguiria dar.

Ousado na estrutura, generoso e profundamente interessado nos sentimentos, Lincoln no Bardo é uma prova de que a ficção pode falar sobre as coisas que realmente nos interessam. Saunders inventou uma nova forma narrativa, caleidoscópica e teatral, entoada ao som de diferentes vozes, para nos fazer uma pergunta profunda e intemporal: como podemos viver e amar sabendo que tudo o que amamos tem um fim?

8.6.18

Sessões de Autógrafos na Feira do Livro de Lisboa — 10 de Junho de 2018





Domingo, 10 de Junho, às 18:00, Hélia Correia, Gonçalo M. Tavares, José Gil e Ana Margarida de Carvalho estarão nos pavilhões da Relógio D’Água na Feira do Livro de Lisboa para uma sessão de autógrafos (se não chover).




Sessões de Autógrafos na Feira do Livro de Lisboa — 9 de Junho de 2018





Sábado, 9 de Junho, às 16:00, Gonçalo M. Tavares estará nos pavilhões da Relógio D’Água na Feira do Livro de Lisboa para autografar O Senhor Brecht e o Sucesso, O Senhor Walser e a Floresta, Animalescos, 1, Breves Notas sobre Música e outras obras (se não chover).




Sábado, 9 de Junho, às 18:00, António Barreto estará nos pavilhões da Relógio D’Água na Feira do Livro de Lisboa para autografar Tempo de Escolha; De Portugal para a Europa; Anos Difíceis; Fotografias; e outras obras (se não chover).

Sobre O Quarto de Marte, de Rachel Kushner




Rachel Kushner em entrevista a Isabel Lucas, a propósito da edição do romance Quarto de Marte

«Entrou em prisões como voluntária, falou com reclusas, guardas, advogados. Queria que a sua vida os incluísse. Como se vive com o “para sempre” de uma pena perpétua numa prisão de mulheres da Califórnia? Um mergulho no íntimo mais negro, com humor para sobreviver: O Quarto de Marte, edição simultânea em Portugal e nos EUA. (…)
“Sempre me perturbou o facto de as pessoas ficarem numa prisão para toda a vida. É uma coisa muito americana, e uma ideia bizarra de punição; resulta de uma decisão estruturalmente arbitrária. Nunca se sabe quanto tempo uma pessoa irá viver. Podem ser quatro ou 40 anos, mas é como se com a vida pudessem reparar os danos que causaram. É muito estranho”, diz a partir de Londres, onde está a promover este romance com edição simultânea em língua inglesa e em Portugal e que tem sido classificado como o mais político dos seus livros. Será? Se assim for, é também o mais negro e o mais divertido, o mais livre de um enredo, mas o mais comprometido com uma personagem a partir da qual tudo se estrutura: Romy, a rapariga educada no silêncio de uma mãe que lhe deu o nome de uma mulher trágica. “A minha mãe deu-me o nome de uma actriz alemã que disse a um assaltante de bancos, num programa de televisão, que gostava muito dele.” Nessa frase parece traçado um destino de sombra.
ideia do romance terá surgido em 2012, quando Rachel terminou Os Lança-Chamas, romance situado nos anos 1970, com os movimentos políticos radicais na Europa a contaminarem o imaginário americano. Isso feito, era tempo de entender o seu tempo e a sua geografia com um foco preciso: o sistema prisional da Califórnia nos anos da Administração Bush.
“Sabia que queria escrever um romance contemporâneo, e isso mudava muita coisa, já que ao fazê-lo se pede ao escritor que sintetize algum tipo de significado do que observa no seu próprio tempo. Eu queria escrever um livro sobre o mundo em que vivia e as mudanças que aconteceram desde os anos 1970”, sintetiza. Referindo em particular a Califórnia e São Francisco, não tem dúvidas, “as mudanças são de vulto”, com um factor a condicionar os outros: “A transição de uma economia industrial para um capitalismo financeiro excluiu muita gente.”
Romy pertence aos excluídos. Rachel nem por isso, apesar de terem partilhado — ficção e realidade — o mesmo bairro em São Francisco. Natural de Oregon, onde nasceu em 1968, filha de dois cientistas beatnick, mudou-se para “Frisno” (diminutivo da cidade) com dez anos e fez lá toda a escola.

“Talvez por isso quisesse, finalmente, entender como é que a sociedade se estruturou ali, no lugar de onde sou, onde vivo.”» [Isabel Lucas, ípsilon, Público, 8/6/18]

Sobre Diários, de Virginia Woolf




«O que é que fica da leitura deste Diário? Admiração, compaixão, perplexidade, dúvidas, revolta, a descoberta dos passos de um processo criativo, a intimidade com alguém cuja genialidade se impõe, naturalmente. Como sombras, acompanhamos Virginia no seu mundo, tanto interior como exterior. Conhecemos as suas casas, o percurso dos seus passeios, a sua fé em Leonard, a cumplicidade com a irmã, Vanessa; as amizades literárias com Tom (T.S. Eliot) e Morgan (E. M. Forster), a intimidade com  Lytton Strachey — com quem pensou casar , apesar de ele ser homossexual — e com o cunhado, Clive Bell, o objecto de um flirt que desencadeou uma tempestade entre as duas irmãs; a rivalidade/inimizade /amizade com Katherine Mansfield, quase o seu alter ego; a paixão física por Vita que admirava pelos seus modos , as suas pernas de gazela, o à vontade aristocrático, embora não se coibisse de notar a sua fraca inteligência e mediocridade literária; o desprezo (e inveja) em relação a Joyce que ela não quis publicar na Hogarth Press; a sua feroz ironia  e o exercício da “má língua”, característica dos membros do Bloomsbury Group; as suas convicções socialistas, apoiadas por Leonard, em permanente confronto com o seu elitismo intelectual; a sua energia maníaca — a trabalhar na editora, a escrever sem parar, a proferir conferências, a viajar, a receber amigos — e as suas crises de depressão que a isolavam do mundo; a sua necessidade de se destacar e a sua paralisante timidez; o seu desejo de simplicidade e a atracção pelo fausto e pelos poderosos.
Este Diário é uma obra-prima que rivaliza com o de Samuel Pepys — que, na Inglaterra da Restauração, descreveu minuciosamente as convulsões sociais em larga escala e os detalhes comezinhos da sua vida doméstica — e com os de Rousseau, Chateaubriand, Stendhal, Thomas Hardy e Ruskin, que Virginia particularmente apreciava. Woolf revela-se, aqui, íntima e profundamente, ao longo dos anos, desde mulher ainda jovem — embora comece cedo a dizer-se velha — até esses fatídicos dias em que a sua mente perdeu amarras e desistiu de lutar... e de escrever.» [Helena Vasconcelos, ípsilon, Público, 8/6/18]

Sobre China em Dez Palavras, de Yu Hua




«Os imponentes museus da História da China e da Revolução Chinesa, erguidos em 1959 no lado oriental da Praça Tiananmen, o centro físico e político de Pequim, fundiram-se há 15 anos numa nova instituição, chamada Museu Nacional da China. Não, a revolução não passou à história. A China tornou-se a segunda economia mundial, ultrapassando a Alemanha e o Japão, mas “por trás deste milagre económico está um forte par de mãos, que se chama revolução”, diz o romancista Yu Hua no livro “China em Dez Palavras”. TRata-se do único título de não-ficção do autor e, tal como “Crónica de Um Vendedor de Sangue”, o seu primeiro romance publicado em Portugal, em 2017, foi traduzido diretamente do chinês.
“Revolução” é uma das dez palavras destacadas por Yu Hua para descrever o seu país: “as mobilizações revolucionárias do tipo do Grande Salto em Frente, assim como a violência revolucionária ao estilo da Revolução Cultural, são elementos fundamentais do nosso milagre económico”. A Revolução — explica o autor — “leva a vida para terrenos desconhecidos, e o destino de uma pessoa pode transformar‑se por completo […]. Os laços entre as pessoas tornam‑se igualmente instáveis, pois os que hoje são companheiros de luta amanhã podem transformar‑se em inimigos de classe”.» [António Caeiro, E, Expresso, 2/6/2018]

Sobre Ensaios — Antologia, de Michel de Montaigne




Um dos Livros do Dia de hoje nos pavilhões da Relógio D'Água na Feira do Livro de Lisboa.


«Na coleção Clássicos para Leitores de Hoje, a Relógio D’Água reúne alguns dos textos essenciais daquele que é considerado o criador do ensaio enquanto género literário. A amplitude dos temas corresponde à ilimitada curiosidade intelectual do homem que se fechou numa torre para melhor ver o mundo, escrevendo tanto sobre a liberdade de consciência e a vaidade como sobre coches e a “inconstância das nossas ações”.» [Expresso, 2/7/16]

A chegar às livrarias e à Feira do Livro de Lisboa: O Senhor Walser e a Floresta, de Gonçalo M. Tavares (posfácio de Alberto Manguel)




O senhor Walser constrói a sua nova casa no meio da floresta. Está à espera de alguém e, felizmente, a campainha toca.


«Como o senhor Walser está contente! No meio de arbustos, ervas selvagens e outras manifestações da natureza ainda em pleno e imprevisível trajecto de vida, eis que foi possível construir — por via de um sentido técnico especializado de que só a grande civilização é capaz — a casa simples, sem nada de luxuoso ou ostensivo, uma mera casa para viver, a de Walser, homem que se encontra, por enquanto, sozinho no mundo, mas que vê naquela construção finalmente terminada — quantos anos demorou?! tantos! — uma oportunidade para no fundo, sejamos sinceros, encontrar companhia.»

Conflito Interno vence Women’s Prize for Fiction





Kamila Shamsie acaba de vencer o Women’s Prize for Fiction com o romance Conflito Interno (Home Fire), editado pela Relógio D’Água.
Já antes o romance fora nomeado para o Man Booker Prize e para o Costa Book Award. O Women’s Prize for Fiction é o mais prestigiado galardão anual atribuído a uma escritora no Reino Unido.
A presidente do júri, Sarah Sands, afirmou terem escolhido uma obra que “fala dos nossos tempos”, um livro “notável que recomendamos veementemente”. Conflito Interno retoma o tema da tragédia grega Antígona, de Sófocles, para nos contar a história de uma família muçulmana britânica. É um livro sobre conflito de lealdades, amor e  política.
As outras escritoras nomeadas eram Elif Batuman, Imogen Hermes Gowar, Jessie Greengrass, Meena Kandasamy e Jesmyn Ward.
Kamila Shamsie será uma das autoras homenageadas na Noite da Literatura Europeia, a 9 de Junho, que em Lisboa acontece entre a Rua do Século e a Calçada do Combro.

Isma está livre. Criou os seus irmãos gémeos após a morte da mãe e agora pode regressar ao sonho que há muito interrompera — estudar na América. Mas não consegue deixar de se preocupar com Aneeka, a bela e obstinada irmã que vive em Londres. Ou com Parvaiz, o irmão que desapareceu em busca do próprio sonho — provar a si mesmo que é herdeiro do legado jihadista do pai que nunca conheceu.
Depois Eamonn entra na vida das irmãs. Bem-parecido e privilegiado, vive em Londres, num mundo diferente. Filho de um poderoso político muçulmano britânico, Eamonn tem um legado a defender — ou a desafiar.
O destino das duas famílias está inextricavelmente ligado.
Conflito Interno é uma história sobre lealdades que não resistem à colisão entre amor e política e confirma Kamila Shamsie como uma grande escritora dos nossos tempos.

7.6.18

A chegar às livrarias e à Feira do Livro de Lisboa: O Senhor Brecht e o Sucesso, de Gonçalo M. Tavares (posfácio de Alberto Manguel)




O senhor Brecht é um contador de histórias, histórias por vezes políticas e com um certo humor negro. Tem sucesso e isso é um problema.

«O desempregado com filhos

Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão.
Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.
Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego.
Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a mão que te resta.
Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.
Mais tarde foi despedido e de novo procurou emprego.
Disseram-lhe: só te oferecemos emprego se te cortarmos a cabeça.
Ele estava desempregado há muito tempo; tinha filhos, aceitou.»

Sobre A Sibila, de Agustina Bessa-Luís




Sugestão de Eduardo Pitta para a Feira do Livro de Lisboa (na revista Sábado de 24 de Maio de 2018)

Conflito Interno vence Women’s Prize for Fiction




Kamila Shamsie acaba de vencer o Women’s Prize for Fiction com o romance Conflito Interno, editado pela Relógio D’Água.
A presidente do júri, Sarah Sands, afirmou terem escolhido uma obra que “fala dos nossos tempos”, um livro “notável que recomendamos veementemente”.
As outras escritoras nomeadas eram Elif Batuman, Imogen Hermes Gowar, Jessie Greengrass, Meena Kandasamy e Jesmyn Ward.
Kamila Shamsie será uma das autoras homenageadas na Noite da Literatura Europeia, a 9 de Junho, que em Lisboa acontece entre a Rua do Século e a Calçada do Combro.

Isma está livre. Criou os seus irmãos gémeos após a morte da mãe e agora pode regressar ao sonho que há muito interrompera — estudar na América. Mas não consegue deixar de se preocupar com Aneeka, a bela e obstinada irmã que vive em Londres. Ou com Parvaiz, o irmão que desapareceu em busca do próprio sonho — provar a si mesmo que é herdeiro do legado jihadista do pai que nunca conheceu.
Depois Eamonn entra na vida das irmãs. Bem-parecido e privilegiado, vive em Londres, num mundo diferente. Filho de um poderoso político muçulmano britânico, Eamonn tem um legado a defender — ou a desafiar.
O destino das duas famílias está inextricavelmente ligado.

Conflito Interno é uma história sobre lealdades que não resistem à colisão entre amor e política e confirma Kamila Shamsie como uma grande escritora dos nossos tempos.

Sobre Estranha Guerra de Uso Comum, de Paulo Faria




Um dos Livros do Dia de hoje nos pavilhões da Relógio D'Água na Feira do Livro de Lisboa.

«Chamo-me Carlos. Nasci em 1967. O meu pai foi para a guerra quando eu tinha dez meses. Não me lembro de o ver partir. O meu pai voltou da guerra quando eu estava prestes a fazer três anos. Não me lembro de o ver chegar. A guerra do meu pai, a Guerra Colonial, aconteceu antes de a minha memória se apropriar das coisas. Quando o meu pai morreu, já velho, fui em busca da guerra dele, e também da minha.

Falei com dez homens que estiveram com o meu pai na guerra. Escrevi dez cartas ao pai.»

A chegar às livrarias e à Feira do Livro de Lisboa: Caos e Ritmo, de José Gil





O que é pensar? O que é agir? O que é pensar e agir para criar? Em todos os casos, não basta evocar o “destino” ou o “inconsciente” para designar os factores que intervêm, é necessário descrever os mecanismos exactos e as forças que os movem. No tratamento psicanalítico de uma criança, no comportamento homicida de Macbeth, na criatividade “delirante” de Artaud, interferem forças poderosas que se afastam da racionalidade lógica e pragmática habitual. Descobrem-se os nexos claros da magia. Como é que estes processos irracionais podem culminar num objecto com sentido? Inversamente, a exploração do que se esconde sob o rigor da razão mais pura (como a que comanda o trabalho de um Espinosa) abre um mundo novo ao pensamento. O discurso filosófico, a invenção matemática, a criação poética, as sequências de movimento de um bailado, as posturas do ioga, a arte contemporânea ou a retórica do populismo mais desvairado obedecem a regras precisas, não formuladas pela razão. Regras que nascem do caos e que marcam o ritmo.
O que é o caos e o que é o ritmo? De Hesíodo a Paul Klee e à teoria física do caos, de Platão a Olivier Messiaen, colhem-se ideias que ajudam a compreender como as forças do caos podem passar para o outro lado, ritmando a ordem — ou podem falhar, fracassar e vir a destruir perversamente. O que se joga na construção do “eu” ilustra bem essa alternativa. Forças de vida ou de morte, que voltam para o caos. E hoje mesmo, perante a possibilidade real de uma catástrofe planetária, não é o caos destrutivo que nos ameaça?
Caos e Ritmo procura pensar o que nos acontece, ao nível mais concreto do inconsciente, do sensível e do corpo, bem como ao nível mais abstracto do pensamento e da visão. É um livro sobre a criação, sobre os seus poderes e os seus impasses.

6.6.18

Sobre O Desejo de Ser Inútil, de Hugo Pratt




Um dos Livros do Dia de hoje nos pavilhões da Relógio D'Água na Feira do Livro de Lisboa.

Hugo Pratt, o homem que criou a lenda de Corto Maltese, tornou-se ele próprio uma lenda. Este livro, profusamente ilustrado e publicado poucos anos antes da sua morte, explora os mistérios da sua vida.
Descendente de uma mistura de franco-ingleses, judeus espanhóis e turcos, Hugo Pratt nasceu em Junho de 1927, nos arredores de Rimini, Itália, e passou a maior parte da infância em Veneza. Despertou para a sua vocação na Etiópia, onde descobriu o amor, aprendeu a desenhar e a detestar o colonialismo. Mergulhou na Veneza libertada do fascismo, embarcou para Buenos Aires, partilhou o tempo entre a BD, as viagens e os amigos.
Perito na cabala, iniciado no vodu, conhecedor de várias línguas e coleccionador de milhares de livros, Hugo Pratt surge-nos neste álbum como uma personagem inesperada.
Hugo Pratt morreu a 20 de Agosto de 1995, na sua casa da Suíça, com vista para o lago Léman, tendo por companhia Patrizia Zanotti e a sua biblioteca. O serviço religioso foi acompanhado por temas de jazz do seu amigo Dizzy Gillespie e o padre leu passagens de “O Desejo de Ser Inútil”.
“A minha vida começou bem antes de vir ao mundo, e imagino que prosseguirá sem mim por muito tempo”, escreveu ele.

Sobre Escombros, de Elena Ferrante




«La frantumaglia apresenta-se como encenação do diálogo entre o autor e o leitor, implícito na ficção, mas também é a mise en abyme das fronteiras que os separam. Nela, o leitor é literalmente inserido na trama. É por meio deste livro que a obra de Ferrante se revela participante do jogo-sério da literatura, malabarismo virtuosístico de identidades. Este estranho volume, parte confissão, parte arquivo cheio de material “inédito”, é um “olhar fendido” para um ateliê da escrita onde o mundo se dissolve e torna a surgir literatura.» [Jorge Uribe, Forma de Vida, 9/5/2018]


Texto completo em https://formadevida.org/recensoes/148-elena-ferrante-2016-escombros-jorge-uribe

5.6.18

Yu Hua na Livraria Ferin




Hoje, às 18:30, Yu Hua estará na Livraria Ferin para conversar sobre "Mudança, Memória e Escrita na China Contemporânea”.
A conversa contará também com a participação de Tiago Nabais, tradutor das obras do autor já editadas em Portugal pela Relógio D’Água.




Hélia Correia entre os 20 autores europeus na Cimeira dos Autores Europeus em Berlim





A escritora portuguesa Hélia Correia é um dos 20 autores que participam este ano na Cimeira dos Autores Europeus em Berlim, a ter lugar no dia 21 de junho, anunciou hoje a Embaixada de Portugal na Alemanha - Camões Berlim.
Trata-se de uma iniciativa da Fundação Bertelsmann, com as Embaixadas de 20 países europeus e os seus respetivos institutos culturais, em parceria com o canal ZDF da televisão pública e o programa de rádio Deutschlandfunk Kultur.
A cimeira decorre no contexto do Ano Europeu do Património Cultural (Europäischer Kulturerbejahr), tendo cinco temas dominantes: "Europa: zonas de fronteira e encontro", "Europa: intercâmbio e circulação", "A cidade europeia", "Europa: recordação e abertura" e "Europa: património vivo".
Cada sessão é composta por uma apresentação inicial do autor e da sua obra por um moderador, a que se segue uma leitura e, depois, uma conversa.
No contexto da sua deslocação à Alemanha, Hélia Correia visitará Hamburgo e Leipzig, onde apresentará também a edição alemã de "Vinte Degraus e Outros Contos", publicada como resultado da sua participação na edição de 2016 da Feira do Livro de Leipzig. [DN, 1/6/2018]