29.5.15

Sobre Tratado sobre a Tolerância, de Voltaire





«Neste Tratado sobre a Tolerância, o alvo a combater era a intolerância religiosa, leia-se o obscurantismo da Igreja católica. A guerra que a intolerância engendra, como ela se propaga e adensa e arrebata mais e mais a cada passagem. Este ponto de um fanatismo viral que o autor anuncia é mais actual hoje do que no tempo do autor e de Barthes. E é muito interessante segui-lo. Com espírito e brilhantismo, sobrepondo porém religião e espiritualidade, numa tonalidade irónica, deliciosa, por vezes hilariante, quase panfletária, Voltaire percorre vários momentos da História, aponta para várias geografias, condenando sempre a religião católica.

O tempo de Voltaire, o declínio do Ancien Régime, estava de feição, estava do lado da História: “A maneira mais eficaz de diminuir o número de maníacos, caso ainda exista, é entregar essa doença do espírito ao regime da razão que lenta, mas infalivelmente, esclarece os homens.” A concepção de razão do autor é universal, atravessa continentes, mantendo a imobilidade. Olhando hoje à volta, melancolicamente esboçaríamos um sorriso.»

[Maria da Conceição Caleiro, Público, ípsilon, 29-05-2015]

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