«Neste Tratado sobre a Tolerância, o alvo a combater era a intolerância religiosa,
leia-se o obscurantismo da Igreja católica. A guerra que a intolerância
engendra, como ela se propaga e adensa e arrebata mais e mais a cada passagem.
Este ponto de um fanatismo viral que o autor anuncia é mais actual hoje do que
no tempo do autor e de Barthes. E é muito interessante segui-lo. Com espírito e
brilhantismo, sobrepondo porém religião e espiritualidade, numa tonalidade
irónica, deliciosa, por vezes hilariante, quase panfletária, Voltaire percorre
vários momentos da História, aponta para várias geografias, condenando sempre a
religião católica.
O tempo de Voltaire, o
declínio do Ancien
Régime, estava de feição,
estava do lado da História: “A maneira mais eficaz de diminuir o número de
maníacos, caso ainda exista, é entregar essa doença do espírito ao regime da
razão que lenta, mas infalivelmente, esclarece os homens.” A concepção de razão
do autor é universal, atravessa continentes, mantendo a imobilidade. Olhando
hoje à volta, melancolicamente esboçaríamos um sorriso.»
[Maria da Conceição Caleiro, Público, ípsilon,
29-05-2015]
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