30.9.13

A chegar às livrarias: Ode Marítima (Poema de Álvaro de Campos) de Fernando Pessoa




 


«Na Ode Marítima, exterior e interior são separados pela mesma “Distância” que vai do poeta no cais deserto ao navio que ele vê ao longe. É a distância entre a sensação e a coisa, entre a sensação como realidade interior e o paquete como realidade exterior. Ora, esta distância liga-se a uma sensação “primitiva”, como diz Pessoa, sensação que desempenha um papel essencial em toda a sua poesia: a sensação de mistério. Na Ode Marítima, o mistério é significado por toda a distância, tudo o que se separa, todo o movimento que cria uma separação. Se analisar sensações consiste, assim, em extrair delas o que contêm, exteriorizando-o,tornando-o significável por palavras — então, analisar a sensação de mistério equivale a reduzir essa distância que suscita o mistério. E, com efeito, todo o poema pode ser encarado nesta perspectiva: como vencer a Distância, ou seja, todas as distâncias de todas as naturezas que surgem, uma após outra (entre o paquete e o cais, entre eu-agora e eu-outrora, entre um cais e O Cais, etc.); mas também, e porque é esse o verdadeiro fundamento de toda a distância — como fazer desaparecer a oposição entre os dois pólos da sensação, o interior e o exterior.» [Do Posfácio de José Gil]

Sobre animalescos, de Gonçalo M. Tavares






«O interesse do livro não reside tanto na ínfima, quando não inexistente, estrutura narrativa dos textos, porém no modo primitivista, visceral, de reflectir sobre o ser humano, o que contrasta com a sintaxe límpida e com a forma clássica de narrar que mais rapidamente consideramos marcas estilísticas do autor. É por isso que tanto animalescos como Canções Mexicanas são inesperados (…).»
[Pedro Meneses, jornal «i», 16-09-2013; texto completo aqui]

27.9.13

Sobre Fausto, de Johann W. Goethe





João Céu e Silva fala sobre Fausto, de Johann W. Goethe, com tradução de João Barrento.

26.9.13

Sobre O Ano em Que Sonhámos Perigosamente, de Slavoj Žižek





Este livro de Slavoj Žižek surge na continuação de Viver no Fim dos Tempos e procede a uma análise crítica de 2011, «o ano em que sonhámos perigosamente».
Recorrendo a uma expressão persa — «matar uma pessoa, enterrar o corpo e plantar flores sobre a cova para a esconder» — para descrever o processo de neutralização das mobilizações populares que nesse ano se verificaram, o filósofo esloveno procura pensar a conjuntura atual numa perspetiva inovadora.
Os dois textos iniciais analisam o capitalismo atual à luz de uma teoria global dos impasses da representação ideológico-política. Os quatro ensaios seguintes concentram-se na análise dos diversos movimentos sociais que marcaram 2011, das estações do ano que se sucederam em alguns países árabes até ao movimento Occupy Wall Street.

25.9.13

Sobre Ana Teresa Pereira




No Atual de 14 de Setembro foi publicada uma caricatura de Ana Teresa Pereira por Cristiano Salgado.
Esse foi o pretexto para a crónica que na Revista do Expresso de 21 de Setembro publicou José Tolentino Mendonça, oriundo da Madeira, tal como a autora de O Verão Selvagem dos Teus Olhos.

 


«É um equívoco do país cultural. Mais de trinta livros depois, uma das nossas mais extraordinárias escritoras continua a ser uma perfeita desconhecida. (…) Ana Teresa Pereira vive na Madeira, há anos que não vem a Lisboa (pediu, por exemplo, para receber o prémio da APE por correio), não tem círculos de pertença, não se move entre festivais, é completamente incapaz de escrever uma dedicatória que não seja um monossílabo contrariado, tem horror às familiaridades e condescendências de salão. Mesmo no Funchal, está como se realmente não pertencesse àquele lugar. Desce de transportes públicos até ao centro para comprar pão e laranjas ou verificar a sua caixa postal; demora-se um pouco em um ou dois cafés, que não os da intelligentsia local; toma notas, lê ou fica simplesmente em silêncio. Nem sempre encontra gente com quem falar, embora seja capaz de o fazer de um modo marcante, vivo, quase convivial. Depois regressa a casa para estar com os seus cães, os filmes e os livros que, quando pode, manda vir de todo o lado. Quem a vê atravessar a cidade, vê apenas uma mulher com qualquer coisa de irreal. Não suspeita que aquele vulto sonâmbulo fala a língua das árvores. (…) E desse trabalho desmedido que a escrita é, dessa prova áspera nunca a ouvi queixar-se. Vive-o, com total entrega, com uma inusitada inteligência e sem concessões.»

Em louvor de Juan Luis Panero (Madrid, 1942 - Torroella de Montgrí, 2013)




 

Noite tropical

 
Imagem de juventude e aparente felicidade
ou, pelo menos, de irresponsável alegria,
que regressa tenaz à memória,
mesmo ao recordar que quase tudo foi mentira.
Nem velhos, nem jovens, mas sabíamos
que enganar-nos, que repetir a farsa, era o único,
o mais digno que restava de nós mesmos.
Vodka transparente, os teus olhos escuros,
entreabertos, enquanto te despia,
o ranger da cama e o copo a quebrar-se.
Depois, meio adormecido, recordo-te a sair
nua, debaixo da trémula lâmpada,
luz verde, escassa, sobre as árvores e a piscina,
sombra na sombra e um baque na água.
Estrondo de palmeiras e pássaros estridentes
enquanto beijo nos teus lábios gotas cálidas,
o teu cabelo húmido, a carícia dos teus dedos.
Os nossos dois corpos juntos, os que chegam agora,
actores sem trabalho, estandartes inúteis,
derrotada ficção na guerra do tempo.

23.9.13

António Ramos Rosa (Faro, 17-10-1924 / Lisboa, 23-09-2013)




 

Não tenho lágrimas
estou mais baixo
junto à cal


Vejo o solo extinto
Não oiço ninguém
e não regresso


Adormecer talvez
junto a uma estaca
com uma pequena pedra
sobre as pálpebras

 

A Intacta Ferida, Relógio D’Água, 1991

Sobre O Talentoso Mr. Ripley, de Patricia Highsmith





«O Talentoso Mr. Ripley e companhia deveriam estar pelo menos entre os romances mais perversamente entretenientes do nosso tempo.» [Michael Dirda, The New York Review of Books, 2-7-2009]

20.9.13

Pablo Neruda comemorado na Fundação José Saramago





No dia 23 de Setembro de 2013, quando passam 40 anos sobre a morte do poeta Pablo Neruda, ao longo de todo o dia, na Casa dos Bicos, será ouvido o CD 20 poemas de mesa y una castaña en el suelo (una antología caprichosa) e serão oferecidos poemas de Pablo Neruda aos visitantes.
Às 16h00, será exibido um filme relacionado com Pablo Neruda, seguindo-se, às 18h30, uma sessão de leitura de poemas, em espanhol e português.


De Pablo Neruda, a Relógio D’Água publicou Antologia e Residência na Terra (trad. José Bento) e Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada (trad. José Miguel Silva).

19.9.13

Conversas com Woody Allen, de Eric Lax






Do autor da célebre biografia Woody Allen — as conversas mais elucidativas, reveladoras e divertidas dos seus trinta e seis anos de entrevistas com o aclamado cineasta e comediante
Em conversas que começaram em 1971 e continuaram até 2007, Woody Allen discorre sobre cada aspecto da realização a partir dos seus próprios filmes e do trabalho de realizadores que admira. Ao fazê-lo, desvenda a evolução de um artista ao longo da sua carreira até à data.
Conversas com Woody Allen é uma obra de leitura obrigatória para quem se interessa pela arte da realização cinematográfica e para todos aqueles que apreciaram os filmes de Woody Allen.

17.9.13

Ler com novo grafismo fala de livreiros e livros




A entrevista principal na Ler de Setembro, com novo grafismo de Rui Leitão, é ao livreiro José Pinho, fundador da Ler Devagar, e que está a transformar Óbidos na vila dos livros.
 

 

Hugo Pinto Santos escreve sobre Seamus Heaney, por ocasião da morte do autor de «uma poesia com uma notória atenção à musicalidade do verso, aliada À dignidade de uma imagética de poderosos recursos e a um invulgar conhecimento das coisas, dos lugares e dos seres», e cita a propósito um poema de Da Terra à Luz (trad. Rui Carvalho Homem, Relógio D’Água, 1997).




José Mário Silva escreve sobre o último livro de Gonçalo M. Tavares, animalescos, publicado pela Relógio D’Água: «A verdade é que ninguém escreve, hoje, com esta brutalidade, esta desmesura, este desassombro. O que Tavares nos dá é a “quarta pessoa do singular” a que se refere a epígrafe de Deleuze. Uma voz que talvez já esteja para lá do que pode ser dito, mas ainda assim diz.»





Hugo Pinto Santos escreve sobre o regresso a Shakespeare, informando que «a Relógio D’Água lança uma colecção que reunirá toda a dramaturgia shakespeariana – os primeiros títulos são Romeu e Julieta e as duas partes de Henrique IV».




Na rubrica Livros na Estante, há ainda referência a Amada Vida, de Alice Munro, e a Trabalhos de Casa, de Rogério Casanova, apresentado como «um dos nossos melhores leitores e críticos».

Em «A Voz do Brasil», Eduardo Coelho saúda o lançamento no Brasil de Clarice Lispector– Pintura, de Carlos Mendes de Sousa, pela editora Rocco.

Tradução de Alice no País das Maravilhas recomendada por José Mário Silva



 

Na Revista do Expresso de 14 de Setembro, José Mário Silva recomenda, na sua proposta de revisitação dos clássicos neste Verão, Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. O crítico do Expresso refere que o livro está disponível «numa edição Relógio D’Água, em primorosa tradução de Margarida Vale de Gato».

16.9.13

Soren Kierkegaard na Biblioteca Nacional


 

 
 
Na próxima quinta-feira, dia 19 de Setembro, será inaugurada a exposição «Um Dinamarquês Universal: Soren Kierkegaard», por ocasião do bicentenário do nascimento do filósofo.
A inauguração acontece pelas 18 horas na Biblioteca Nacional, em Lisboa, e conta com as intervenções de Eduardo Lourenço e Guilherme d’Oliveira Martins.
A exposição pode ser visitada até dia 30 de Outubro de 2013.


De Soren Kierkegaard, a Relógio D’Água publicou Ou—Ou, Um Fragmento de Vida, Primeira Parte, Temor e Tremor (trad. de Elisabete de Sousa), A Repetição e Migalhas Filosóficas (trad. de José Miranda Justo).

Jaime Rocha e Miguel-Manso em Vila Velha de Ródão





Em Vila Velha de Ródão, entre 19 e 21 de Setembro, celebra-se a poesia com o evento «Poesia, um dia». É uma iniciativa da Biblioteca Municipal José Baptista Martins que pretende «viver Ródão como território poético».

A poesia será celebrada com leituras em passeios de barco no rio, conversas, palestras, performances, uma feira do livro de poesia, oficinas e espectáculos, em que participarão, entre outros poetas, Jaime Rocha, Miguel-Manso ou Margarida Vale de Gato.


13.9.13

Sobre Elizabeth Bishop





«Para quem não sabe, Elizabeth Bishop é uma das poetas mais importantes da língua inglesa, tendo recebido todos os prémios que havia para receber, incluindo o Pulitzer e o National Book Critics Circle.»

[Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito da recente estreia no Brasil do filme Flores Raras, com realização de Bruno Barreto, que conta a história da relação da poeta americana com a arquitecta Lota de Macedo Soares, que conheceu quando viveu no Brasil]

12.9.13

Sobre A Dominação Masculina, de Pierre Bourdieu





«A sociedade cabila, na Argélia, foi o palco das primeiras pesquisas do sociólogo francês Pierre Félix Bourdieu (1930-2002). O seu primeiro livro, Sociologia da Argélia (1958), discute a organização social da sociedade cabila, e em particular, como o sistema colonial interferiu nessa sociedade tradicional, nas suas estruturas e desculturação.

A dominação masculina está de tal modo inserida no nosso inconsciente que deixámos de nos aperceber dela. A descrição etnográfica da sociedade cabila, expressão cristalizada do inconsciente mediterrâneo, fornece um instrumento poderoso para pôr em causa as evidências e analisar as estruturas simbólicas desse androcentrismo que persiste nos homens e mesmo nas mulheres dos nossos dias.» [Do sítio da Agenda Cultural de Lisboa]

 

11.9.13

Canções Mexicanas editado no Brasil




 
Canções Mexicanas, de Gonçalo M. Tavares, editado pela Relógio D’Água em 2011, foi agora editado no Brasil, pela Casa da Palavra.

«É possível ler Canções mexicanas como parece que Gonçalo leu a Cidade do México: sem tentar porquês, ou encaixar em modelos. Viva o delírio, a falta de ordem e observe o presente de cada imagem. Depois da ressaca de mezcal ou de ideias (ou dos dois), pense sobre O QUE aconteceu. Mas não pense em explicar O QUE ERA aquilo que aconteceu.» [Reginaldo Pujol Filho, O Globo, 31-08-2013]



10.9.13

Sobre William Shakespeare




Francisco Vale e Manuel Gomes da Torre falam ao Ler +, Ler Melhor sobre a edição da obra dramática de William Shakespeare na Relógio D'água. O programa pode ser visto aqui.

A Relógio D’Água já editou Romeu e Julieta, com tradução de Filomena Vasconcelos, e Henrique IV (Parte I e Parte II), com tradução de Gualter Cunha. Brevemente sairá Bem Está O Que Bem Acaba, com tradução de Manuel Gomes da Torre.

 

Sobre A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nabokov





«A Verdadeira Vida de Sebastian Knight ilustra a impossibilidade de descrever a “verdadeira” vida de Knight ou se seja quem for. É um romance sofisticado e melancólico, mais esperançado na literatura do que na empatia.» [Pedro Mexia, Expresso, Atual, 31-08-2013]

9.9.13

Sobre Rui Nunes





«Como a “sombra que uma criança persegue com a vela”, na sua escrita Rui Nunes atingiu o limite do horror, iluminando o seu mecanismo de absurdos.» No jornal i de 31 de Agosto, Diogo Vaz Pinto entrevista o «autor, que, ao reclamar a vulnerabilidade da pobreza como condição para o homem estreitar a sua relação com a realidade, encerra a sua obra como um dos exemplos mais notáveis de uma literatura actuante. (…) Rui Nunes (Lisboa, 1947) começou a publicar em 1968 e, com mais de 20 títulos de um género inclassificável editados, hoje admite que não escreverá mais, não apenas porque a progressiva cegueira que o afecta há vários anos já não o deixa, mas também por sentir que alcançou um momento final. Referência de um público minoritário, na sua clandestinidade esta obra alcançou um prestígio enorme. Armadilha e Uma Viagem no Outono saíram recentemente na Relógio D'Água - o último, numa edição limitada a 150 exemplares, só pode ser adquirido por encomenda directa à editora.» [Diogo Vaz Pinto, i, 31-08-2013]

6.9.13

Sobre animalescos, de Gonçalo M. Tavares





Na Time Out de 28 de Agosto, Ana Dias Ferreira escreve sobre animalescos, de Gonçalo M. Tavares: «animalescos é o novo título da série “Canções”, da qual faz parte o óptimo título Canções Mexicanas e, tal como esse livro, é um conjunto de histórias curtas que surgem como alucinações, sem parágrafos, sem paragens, como uma torrente de palavras que ao mesmo tempo que nos atropelam, nos engolem. (…) Porque se havia uma distinção entre o narrador de Canções Mexicanas e a cidade na qual ele tentava sobreviver sem ser degolado, aqui não há diferenças: dos urubus que comem cães aos cães que comem doentes, passando pelos médicos que deixaram esses doentes para morrer, todos são “animalescos”, e os homens regressam a um estado primário em nome da maldade, da loucura, ou de uma necessidade de sobrevivência.»

5.9.13

Sobre Amada Vida, de Alice Munro





«Na página 213, depois de dez histórias que voltam a revelar, em todo o seu esplendor, a mestria narrativa de Alice Munro, o leitor de Amada Vida depara com a seguinte nota: “Os últimos quatro trabalhos deste livro são são propriamente contos. Formam um conjunto à parte, autobiográfico no sentimento, embora nem sempre no que concerne aos factos. Penso que são as primeiras e últimas — e mais íntimas — coisas que tenho a dizer sobre a minha vida.” O que mais surpreende nestes fragmentos biográficos, construídos a partir das memórias de infância, é a afinidade evidente com os temas, situações e personagens da sua escrita ficcional, por muito que a autora procure estabelecer uma barreira entre os dois domínios. (…) As casas de Amada Vida — talvez o derradeiro, e belíssimo, livro da escritora canadiana (n. 1931) — são inesgotáveis.» [José Mário Silva, Expresso, Atual, 31-08-2013]

4.9.13

Sobre Anna Karénina, de Lev Tolstoi



 

Na Revista do Expresso de 31 de Agosto, José Mário Silva sugere revisitas aos clássicos no Verão e escreve sobre Anna Karénina, de Lev Tolstoi: «Sobre Anna Karénina — a obra-prima de Lev Tolstoi que uma sondagem da revista Time (junto de vários escritores) considerou, em 2007, o melhor romance de todos os tempos — toda a gente sabe pelo menos duas coisas. Que abre com uma das mais célebres primeiras frases da literatura (“Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”) e que a protagonista, no fim, se suicida, atirando-se para a linha férrea quando passa um comboio. (…) E não é por conhecermos o desenlace que a descida aos infernos de Karénina se torna menos comovente.»

3.9.13

Sobre O Jogo Sério, de Hjalmar Söderberg





«Foi no ano passado que a Relógio D’Água traduziu O Doutor Glas, pequena obra-prima que provocou grande escândalo no momento da sua publicação, em 1905. A mesma editora regressou há pouco ao escritor sueco, com O Jogo Sério, mais um exemplo de mestria narrativa, ambiguidade existencial e análise psicológica atenta.»

[Ana Cristina Leonardo, Expresso, Atual, 24-08-2013]

Vanda Anastácio sobre Uma Antologia Improvável




Vanda Anastácio falou ao Ler +, Ler Melhor sobre Uma Antologia Improvável. O programa pode ser visto aqui.

2.9.13

Paulo Faria em terras de Cormac McCarthy




No ípsilon de 30 de agosto, é publicada a reportagem que Paulo Faria e o fotógrafo Peter Josyph fizeram em terras ligadas a Cormac McCarthy. Mais precisamente na região do Texas, que tem sido o cenário dos seus livros desde Meridiano de Sangue.

«Em 1979, Cormac McCarthy publicou Suttree, encerrando com brilho ímpar a primeira fase da sua obra, a dos Apalaches, e mudou-se para o Texas, onde encetou uma segunda etapa criativa, cujo primeiro fruto foi o fragoroso Meridiano de Sangue, de 1985, a que se seguiu Belos Cavalos, menos sanguinolento porque seria impossível sê-lo mais. Em 2012, em Knoxville, no Tennessee, perguntei a Jim Long, amigo de infância e juventude de Cormac McCarthy, dos tempos em que este ainda se chamava Charlie, se Cormac alguma vez manifestara o género de desinteresse apaixonado pelo Sudoeste americano que justificasse uma mudança tão súbita e tão radical na sua vida e na sua obra. E Jim, já visivelmente enfraquecido pela doença que o viria a ceifar poucos meses depois, quebrou o silêncio que era a sua marca, o silêncio arredio dos que só falam do que sabem e respeitam muito o valor das palavras, para me dizer que não, nunca ouvira Cormac ansiar pelo Oeste Americano. E depois rematou: “Acho que foi a escrita dele que o levou até lá.”
Nesta resposta clarividente vi o farol que deveria guiar-me numa visita ao Texas, em demanda da matriz, da ossatura que Cormac McCarthy terá reconhecido de imediato como sua, instalando-se aqui como quem regressa a casa.»

 

No mesmo número do ípsilon, António Guerreiro escreve sobre Armadilha, de Rui Nunes, e Helena Vasconcelos sobre A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nabokov.



A propósito do último texto publicado de Rui Nunes, António Guerreiro afirma: «Na obra de Rui Nunes, que já conta com mais de 20 livros, Armadilha é um texto-limite, um ponto extremo a que só chega a fúria da escrita quando o seu obsessivo foco de atracção é a parte maldita. É certo que, se os bons senitmentos não produzem boa literatura, a aproximação ao mal e à morte comporta riscos simétricos e é sempre uma aposta demasiado elevada. Mas a escrita de Rui Nunes está à altura do desafio com que se confronta.» [ípsilon, 30 de Agosto 2013]



Sobre A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, primeiro romance em língua inglesa de Vladimir Nabokov, Helena Vasconcelos escreve: «É caso para perguntar: onde quer chegar Nabokov com esta intensa e labiríntica narrativa? É óbvio que não se limita a contar uma história e avança para a arquitectura de todo um edifício de teoria literária, num desafio arrojado à sua própria capacidade de pensar, sentir e levar a cabo os seus complicados exercícios mentais numa língua que não era a sua, mostrando o jogo e colocando as cartas na mesa num tom desafiador e mordaz: irmãos, duplos, comboios, vagabundagens, mulheres misteriosas de pele translúcida, veias a palpitar eroticamente, heróis byronianos, burgueses entediantes, histórias dentro de histórias, são algumas das ferramentas que usará — e das quais abusará — no seu ofício, culminando nessa obra-prima que é Lolita.» [ípsilon, 30 de Agosto 2013]