«Na Ode Marítima, exterior e
interior são separados pela mesma “Distância” que vai do poeta no cais deserto
ao navio que ele vê ao longe. É a distância entre a sensação e a coisa, entre a
sensação como realidade interior e o paquete como realidade exterior. Ora, esta
distância liga-se a uma sensação “primitiva”, como diz Pessoa, sensação que
desempenha um papel essencial em toda a sua poesia: a sensação de mistério. Na Ode
Marítima, o mistério é significado por toda a distância, tudo o que se
separa, todo o movimento que cria uma separação. Se analisar sensações
consiste, assim, em extrair delas o que contêm, exteriorizando-o,tornando-o significável
por palavras — então, analisar a sensação de mistério equivale a reduzir essa
distância que suscita o mistério. E, com efeito, todo o poema pode ser encarado
nesta perspectiva: como vencer a Distância, ou seja, todas as distâncias de
todas as naturezas que surgem, uma após outra (entre o paquete e o cais, entre
eu-agora e eu-outrora, entre um cais e O Cais, etc.);
mas também, e porque é esse o verdadeiro fundamento de toda a distância — como
fazer desaparecer a oposição entre os dois pólos da sensação, o interior e o
exterior.» [Do Posfácio de José Gil]
30.9.13
Sobre animalescos, de Gonçalo M. Tavares
«O interesse
do livro não reside tanto na ínfima, quando não inexistente, estrutura
narrativa dos textos, porém no modo primitivista, visceral, de reflectir sobre
o ser humano, o que contrasta com a sintaxe límpida e com a forma clássica de
narrar que mais rapidamente consideramos marcas estilísticas do autor. É por
isso que tanto animalescos como Canções Mexicanas são inesperados (…).»
[Pedro Meneses, jornal «i»,
16-09-2013; texto completo aqui]27.9.13
26.9.13
Sobre O Ano em Que Sonhámos Perigosamente, de Slavoj Žižek
Este livro de Slavoj Žižek surge na continuação de Viver no Fim dos Tempos e procede a uma
análise crítica de 2011, «o ano em que sonhámos perigosamente».
Recorrendo a uma expressão persa — «matar uma pessoa,
enterrar o corpo e plantar flores sobre a cova para a esconder» — para
descrever o processo de neutralização das mobilizações populares que nesse ano
se verificaram, o filósofo esloveno procura pensar a conjuntura atual numa
perspetiva inovadora.
Os dois textos iniciais analisam o capitalismo atual à luz
de uma teoria global dos impasses da representação ideológico-política. Os
quatro ensaios seguintes concentram-se na análise dos diversos movimentos
sociais que marcaram 2011, das estações do ano que se sucederam em alguns
países árabes até ao movimento Occupy Wall Street.
25.9.13
Sobre Ana Teresa Pereira
No Atual de 14 de Setembro foi
publicada uma caricatura de Ana Teresa Pereira por Cristiano Salgado.
Esse foi o pretexto para a crónica
que na Revista do Expresso de 21 de Setembro publicou José Tolentino Mendonça,
oriundo da Madeira, tal como a autora de O Verão Selvagem dos Teus Olhos.
«É um equívoco do país cultural. Mais
de trinta livros depois, uma das nossas mais extraordinárias escritoras
continua a ser uma perfeita desconhecida. (…) Ana Teresa Pereira vive na
Madeira, há anos que não vem a Lisboa (pediu, por exemplo, para receber o
prémio da APE por correio), não tem círculos de pertença, não se move entre
festivais, é completamente incapaz de escrever uma dedicatória que não seja um
monossílabo contrariado, tem horror às familiaridades e condescendências de
salão. Mesmo no Funchal, está como se realmente não pertencesse àquele lugar.
Desce de transportes públicos até ao centro para comprar pão e laranjas ou
verificar a sua caixa postal; demora-se um pouco em um ou dois cafés, que não
os da intelligentsia local; toma notas, lê ou fica simplesmente em
silêncio. Nem sempre encontra gente com quem falar, embora seja capaz de o
fazer de um modo marcante, vivo, quase convivial. Depois regressa a casa para
estar com os seus cães, os filmes e os livros que, quando pode, manda vir de
todo o lado. Quem a vê atravessar a cidade, vê apenas uma mulher com qualquer
coisa de irreal. Não suspeita que aquele vulto sonâmbulo fala a língua das
árvores. (…) E desse trabalho desmedido que a escrita é, dessa prova áspera nunca
a ouvi queixar-se. Vive-o, com total entrega, com uma inusitada inteligência e
sem concessões.»
Em louvor de Juan Luis Panero (Madrid, 1942 - Torroella de Montgrí, 2013)
Noite
tropical
Imagem de juventude e aparente
felicidade
ou, pelo
menos, de irresponsável alegria,
que regressa tenaz à memória,
mesmo ao recordar que quase tudo foi
mentira.
Nem velhos, nem jovens, mas sabíamos
que enganar-nos, que repetir a farsa,
era o único,
o mais digno que restava de nós
mesmos.
Vodka transparente, os teus olhos
escuros,
entreabertos, enquanto te despia,
o ranger da cama e o copo a
quebrar-se.
Depois, meio adormecido, recordo-te a
sair
nua, debaixo da trémula lâmpada,
luz verde, escassa, sobre as árvores
e a piscina,
sombra na sombra e um baque na água.
Estrondo de palmeiras e pássaros
estridentes
enquanto beijo nos teus lábios gotas
cálidas,
o teu cabelo húmido, a carícia dos
teus dedos.
Os nossos dois corpos juntos, os que
chegam agora,
actores sem trabalho, estandartes
inúteis,
derrotada
ficção na guerra do tempo.
23.9.13
António Ramos Rosa (Faro, 17-10-1924 / Lisboa, 23-09-2013)
Não tenho
lágrimas
estou mais
baixo
junto à cal
Vejo o solo
extinto
Não oiço
ninguém
e não
regresso
Adormecer
talvez
junto a uma
estaca
com uma
pequena pedra
sobre as
pálpebras
A Intacta
Ferida, Relógio
D’Água, 1991
Sobre O Talentoso Mr. Ripley, de Patricia Highsmith
«O
Talentoso Mr. Ripley e companhia deveriam estar pelo menos entre os
romances mais perversamente entretenientes do nosso tempo.» [Michael Dirda, The
New York Review of Books, 2-7-2009]
20.9.13
Pablo Neruda comemorado na Fundação José Saramago
No dia 23 de
Setembro de 2013, quando passam 40 anos sobre a morte do poeta Pablo Neruda, ao
longo de todo o dia, na Casa dos Bicos, será ouvido o CD 20 poemas de mesa y
una castaña en el suelo (una antología caprichosa) e serão oferecidos
poemas de Pablo Neruda aos visitantes.
Às 16h00,
será exibido um filme relacionado com Pablo Neruda, seguindo-se, às 18h30, uma
sessão de leitura de poemas, em espanhol e português.
De Pablo
Neruda, a Relógio D’Água publicou Antologia e Residência na Terra
(trad. José Bento) e Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada
(trad. José Miguel Silva).
19.9.13
Conversas com Woody Allen, de Eric Lax
Do autor da célebre biografia Woody Allen — as conversas mais elucidativas, reveladoras e
divertidas dos seus trinta e seis anos de entrevistas com o aclamado cineasta e
comediante
Em conversas que começaram em 1971 e continuaram até 2007,
Woody Allen discorre sobre cada aspecto da realização a partir dos seus
próprios filmes e do trabalho de realizadores que admira. Ao fazê-lo, desvenda
a evolução de um artista ao longo da sua carreira até à data.
Conversas
com Woody Allen é uma obra de leitura obrigatória para quem se
interessa pela arte da realização cinematográfica e para todos aqueles que
apreciaram os filmes de Woody Allen.
17.9.13
Ler com novo grafismo fala de livreiros e livros
A entrevista
principal na Ler de Setembro, com novo grafismo de Rui Leitão, é ao
livreiro José Pinho, fundador da Ler Devagar, e que está a transformar Óbidos
na vila dos livros.
Hugo Pinto
Santos escreve sobre Seamus Heaney, por ocasião da morte do autor de «uma
poesia com uma notória atenção à musicalidade do verso, aliada À dignidade de
uma imagética de poderosos recursos e a um invulgar conhecimento das coisas,
dos lugares e dos seres», e cita a propósito um poema de Da Terra à Luz
(trad. Rui Carvalho Homem, Relógio D’Água, 1997).
José Mário
Silva escreve sobre o último livro de Gonçalo M. Tavares, animalescos,
publicado pela Relógio D’Água: «A verdade é que ninguém escreve, hoje, com esta
brutalidade, esta desmesura, este desassombro. O que Tavares nos dá é a “quarta
pessoa do singular” a que se refere a epígrafe de Deleuze. Uma voz que talvez já
esteja para lá do que pode ser dito, mas ainda assim diz.»
Hugo Pinto
Santos escreve sobre o regresso a Shakespeare, informando que «a Relógio D’Água
lança uma colecção que reunirá toda a dramaturgia shakespeariana – os primeiros
títulos são Romeu e Julieta e as duas partes de Henrique IV».
Na rubrica
Livros na Estante, há ainda referência a Amada Vida, de Alice Munro, e a
Trabalhos de Casa, de Rogério Casanova, apresentado como «um dos nossos
melhores leitores e críticos».
Em «A Voz do Brasil», Eduardo Coelho saúda o lançamento no Brasil de Clarice Lispector– Pintura, de Carlos Mendes de Sousa, pela editora Rocco.
Tradução de Alice no País das Maravilhas recomendada por José Mário Silva
Na Revista
do Expresso de 14 de Setembro, José Mário Silva recomenda, na sua
proposta de revisitação dos clássicos neste Verão, Alice no País das Maravilhas,
de Lewis Carroll. O crítico do Expresso refere que o livro está disponível
«numa edição Relógio D’Água, em primorosa tradução de Margarida Vale de Gato».
16.9.13
Soren Kierkegaard na Biblioteca Nacional
Na próxima
quinta-feira, dia 19 de Setembro, será inaugurada a exposição «Um Dinamarquês
Universal: Soren Kierkegaard», por ocasião do bicentenário do nascimento do
filósofo.
A inauguração
acontece pelas 18 horas na Biblioteca Nacional, em Lisboa, e conta com as
intervenções de Eduardo Lourenço e Guilherme d’Oliveira Martins.
A exposição
pode ser visitada até dia 30 de Outubro de 2013.
De Soren
Kierkegaard, a Relógio D’Água publicou Ou—Ou, Um Fragmento de Vida,
Primeira Parte, Temor e Tremor (trad. de Elisabete de Sousa), A
Repetição e Migalhas Filosóficas (trad. de José Miranda Justo).
Jaime Rocha e Miguel-Manso em Vila Velha de Ródão
Em Vila Velha
de Ródão, entre 19 e 21 de Setembro, celebra-se a poesia com o evento «Poesia,
um dia». É uma iniciativa da Biblioteca Municipal José Baptista Martins que
pretende «viver Ródão como território poético».
A poesia será
celebrada com leituras em passeios de barco no rio, conversas, palestras, performances,
uma feira do livro de poesia, oficinas e espectáculos, em que participarão,
entre outros poetas, Jaime Rocha, Miguel-Manso ou Margarida Vale de Gato.
13.9.13
Sobre Elizabeth Bishop
«Para quem não sabe, Elizabeth Bishop é uma das poetas mais
importantes da língua inglesa, tendo recebido todos os prémios que havia para
receber, incluindo o Pulitzer e o National Book Critics Circle.»
[Eduardo
Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito da recente estreia no Brasil do
filme Flores Raras, com realização de Bruno Barreto, que conta a
história da relação da poeta americana com a arquitecta Lota de Macedo Soares,
que conheceu quando viveu no Brasil]
12.9.13
Sobre A Dominação Masculina, de Pierre Bourdieu
«A sociedade cabila, na Argélia, foi o palco das primeiras
pesquisas do sociólogo francês Pierre Félix Bourdieu (1930-2002). O seu
primeiro livro, Sociologia da Argélia (1958), discute a organização
social da sociedade cabila, e em particular, como o sistema colonial interferiu
nessa sociedade tradicional, nas suas estruturas e desculturação.
A dominação masculina está de tal modo inserida no nosso
inconsciente que deixámos de nos aperceber dela. A descrição etnográfica da
sociedade cabila, expressão cristalizada do inconsciente mediterrâneo, fornece
um instrumento poderoso para pôr em causa as evidências e analisar as
estruturas simbólicas desse androcentrismo que persiste nos homens e mesmo nas
mulheres dos nossos dias.» [Do sítio da Agenda Cultural de Lisboa]
11.9.13
Canções Mexicanas editado no Brasil
Canções
Mexicanas, de
Gonçalo M. Tavares, editado pela Relógio D’Água em 2011, foi agora editado no
Brasil, pela Casa da Palavra.
«É possível
ler Canções mexicanas como parece que Gonçalo leu a Cidade do México: sem
tentar porquês, ou encaixar em modelos. Viva o delírio, a falta de ordem e
observe o presente de cada imagem. Depois da ressaca de mezcal ou de ideias (ou
dos dois), pense sobre O QUE aconteceu. Mas não pense em explicar O QUE ERA
aquilo que aconteceu.» [Reginaldo Pujol Filho, O Globo, 31-08-2013]
10.9.13
Sobre William Shakespeare
Francisco Vale e Manuel Gomes da
Torre falam ao Ler +, Ler Melhor sobre a edição da obra dramática de William
Shakespeare na Relógio D'água. O programa pode ser visto aqui.
A Relógio D’Água já editou Romeu e
Julieta, com tradução de Filomena Vasconcelos, e Henrique IV (Parte
I e Parte II), com tradução de Gualter Cunha. Brevemente sairá Bem Está O
Que Bem Acaba, com tradução de Manuel Gomes da Torre.
Sobre A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nabokov
«A
Verdadeira Vida de Sebastian Knight ilustra a impossibilidade de descrever
a “verdadeira” vida de Knight ou se seja quem for. É um romance sofisticado e
melancólico, mais esperançado na literatura do que na empatia.» [Pedro Mexia, Expresso,
Atual, 31-08-2013]
9.9.13
Sobre Rui Nunes
«Como a “sombra que uma criança persegue com a vela”, na
sua escrita Rui Nunes atingiu o limite do horror, iluminando o seu mecanismo de
absurdos.» No jornal i de 31 de Agosto, Diogo Vaz Pinto entrevista o «autor,
que, ao reclamar a vulnerabilidade da pobreza como condição para o homem estreitar
a sua relação com a realidade, encerra a sua obra como um dos exemplos mais
notáveis de uma literatura actuante. (…) Rui Nunes (Lisboa, 1947) começou a
publicar em 1968 e, com mais de 20 títulos de um género inclassificável
editados, hoje admite que não escreverá mais, não apenas porque a progressiva
cegueira que o afecta há vários anos já não o deixa, mas também por sentir que
alcançou um momento final. Referência de um público minoritário, na sua
clandestinidade esta obra alcançou um prestígio enorme. Armadilha e Uma
Viagem no Outono saíram recentemente na Relógio D'Água - o último, numa
edição limitada a 150 exemplares, só pode ser adquirido por encomenda directa à
editora.» [Diogo Vaz Pinto, i, 31-08-2013]
6.9.13
Sobre animalescos, de Gonçalo M. Tavares
Na Time Out de 28 de Agosto, Ana Dias Ferreira escreve sobre animalescos,
de Gonçalo M. Tavares: «animalescos é o novo título da série “Canções”, da qual
faz parte o óptimo título Canções Mexicanas e, tal como esse livro, é um
conjunto de histórias curtas que surgem como alucinações, sem parágrafos, sem
paragens, como uma torrente de palavras que ao mesmo tempo que nos atropelam,
nos engolem. (…) Porque se havia uma distinção entre o narrador de Canções
Mexicanas e a cidade na qual ele tentava sobreviver sem ser degolado, aqui
não há diferenças: dos urubus que comem cães aos cães que comem doentes,
passando pelos médicos que deixaram esses doentes para morrer, todos são
“animalescos”, e os homens regressam a um estado primário em nome da maldade,
da loucura, ou de uma necessidade de sobrevivência.»
5.9.13
Sobre Amada Vida, de Alice Munro
«Na página
213, depois de dez histórias que voltam a revelar, em todo o seu esplendor, a
mestria narrativa de Alice Munro, o leitor de Amada Vida depara com a
seguinte nota: “Os últimos quatro trabalhos deste livro são são propriamente
contos. Formam um conjunto à parte, autobiográfico no sentimento, embora nem
sempre no que concerne aos factos. Penso que são as primeiras e últimas — e
mais íntimas — coisas que tenho a dizer sobre a minha vida.” O que mais
surpreende nestes fragmentos biográficos, construídos a partir das memórias de
infância, é a afinidade evidente com os temas, situações e personagens da sua
escrita ficcional, por muito que a autora procure estabelecer uma barreira
entre os dois domínios. (…) As casas de Amada Vida — talvez o
derradeiro, e belíssimo, livro da escritora canadiana (n. 1931) — são inesgotáveis.»
[José Mário Silva, Expresso, Atual, 31-08-2013]
4.9.13
Sobre Anna Karénina, de Lev Tolstoi
Na Revista do Expresso
de 31 de Agosto, José Mário Silva sugere revisitas aos clássicos no Verão e escreve
sobre Anna Karénina, de Lev Tolstoi: «Sobre Anna Karénina —
a obra-prima de Lev Tolstoi que uma sondagem da revista Time (junto de vários
escritores) considerou, em 2007, o melhor romance de todos os tempos — toda a
gente sabe pelo menos duas coisas. Que abre com uma das mais célebres primeiras
frases da literatura (“Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras,
cada família infeliz é infeliz à sua maneira”) e que a protagonista, no fim, se
suicida, atirando-se para a linha férrea quando passa um comboio. (…) E não é
por conhecermos o desenlace que a descida aos infernos de Karénina se torna
menos comovente.»
3.9.13
Sobre O Jogo Sério, de Hjalmar Söderberg
«Foi no ano
passado que a Relógio D’Água traduziu O Doutor Glas, pequena obra-prima
que provocou grande escândalo no momento da sua publicação, em 1905. A mesma
editora regressou há pouco ao escritor sueco, com O Jogo Sério, mais um
exemplo de mestria narrativa, ambiguidade existencial e análise psicológica
atenta.»
[Ana Cristina
Leonardo, Expresso, Atual, 24-08-2013]
Vanda Anastácio sobre Uma Antologia Improvável
Vanda Anastácio falou ao Ler +, Ler Melhor sobre Uma Antologia Improvável. O programa pode ser visto aqui.
2.9.13
Paulo Faria em terras de Cormac McCarthy
No ípsilon
de 30 de agosto, é publicada a reportagem que Paulo Faria e o fotógrafo Peter
Josyph fizeram em terras ligadas a Cormac McCarthy. Mais precisamente na região
do Texas, que tem sido o cenário dos seus livros desde Meridiano de Sangue.
«Em 1979,
Cormac McCarthy publicou Suttree, encerrando com brilho ímpar a primeira
fase da sua obra, a dos Apalaches, e mudou-se para o Texas, onde encetou uma
segunda etapa criativa, cujo primeiro fruto foi o fragoroso Meridiano de
Sangue, de 1985, a que se seguiu Belos Cavalos, menos sanguinolento
porque seria impossível sê-lo mais. Em 2012, em Knoxville, no Tennessee,
perguntei a Jim Long, amigo de infância e juventude de Cormac McCarthy, dos
tempos em que este ainda se chamava Charlie, se Cormac alguma vez manifestara o
género de desinteresse apaixonado pelo Sudoeste americano que justificasse uma
mudança tão súbita e tão radical na sua vida e na sua obra. E Jim, já
visivelmente enfraquecido pela doença que o viria a ceifar poucos meses depois,
quebrou o silêncio que era a sua marca, o silêncio arredio dos que só falam do
que sabem e respeitam muito o valor das palavras, para me dizer que não, nunca
ouvira Cormac ansiar pelo Oeste Americano. E depois rematou: “Acho que foi a escrita
dele que o levou até lá.”
Nesta
resposta clarividente vi o farol que deveria guiar-me numa visita ao Texas, em
demanda da matriz, da ossatura que Cormac McCarthy terá reconhecido de imediato
como sua, instalando-se aqui como quem regressa a casa.»
No mesmo
número do ípsilon, António Guerreiro escreve sobre Armadilha, de
Rui Nunes, e Helena Vasconcelos sobre A Verdadeira Vida de Sebastian Knight,
de Vladimir Nabokov.
A propósito
do último texto publicado de Rui Nunes, António Guerreiro afirma: «Na obra de
Rui Nunes, que já conta com mais de 20 livros, Armadilha é um
texto-limite, um ponto extremo a que só chega a fúria da escrita quando o seu
obsessivo foco de atracção é a parte maldita. É certo que, se os bons
senitmentos não produzem boa literatura, a aproximação ao mal e à morte
comporta riscos simétricos e é sempre uma aposta demasiado elevada. Mas a
escrita de Rui Nunes está à altura do desafio com que se confronta.» [ípsilon, 30
de Agosto 2013]
Sobre A
Verdadeira Vida de Sebastian Knight, primeiro romance em língua inglesa de
Vladimir Nabokov, Helena Vasconcelos escreve: «É caso para perguntar: onde quer
chegar Nabokov com esta intensa e labiríntica narrativa? É óbvio que não se
limita a contar uma história e avança para a arquitectura de todo um edifício
de teoria literária, num desafio arrojado à sua própria capacidade de pensar,
sentir e levar a cabo os seus complicados exercícios mentais numa língua que
não era a sua, mostrando o jogo e colocando as cartas na mesa num tom
desafiador e mordaz: irmãos, duplos, comboios, vagabundagens, mulheres
misteriosas de pele translúcida, veias a palpitar eroticamente, heróis
byronianos, burgueses entediantes, histórias dentro de histórias, são algumas
das ferramentas que usará — e das quais abusará — no seu ofício, culminando
nessa obra-prima que é Lolita.» [ípsilon, 30 de Agosto 2013]
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