28.2.19

Sobre O Que Maisie Sabia, de Henry James




«Creio que a impressão que me deixaram essas atividades amorosas entre quatro pessoas adultas, observadas pelo frio olhar de uma espécie de Alice-no-país-das-maravilhas, foi sobretudo a de um romance mundano (…) quase perverso de tão engenhoso, singular pelo virtuosismo com que as personagens secundárias mudam de lugar em redor da pequena heroína, como os elementos de um corpo de baile ou de uma equação de álgebra.
(…) Na época em que James escreveu Maisie, ou seja, em 1897, ninguém se atrevia a explorar seriamente o campo da sexualidade infantil. Freud era conhecido apenas por alguns especialistas. No entanto, não podemos deixar de pensar que a sociedade bem-pensante havia arrumado a um canto o pecado original, e que Santo Agostinho teria ficado menos surpreendido do que os primeiros leitores de Maisie ao comprovar a tranquila naturalidade com que esta rapariga se movimentava no meio a que chamamos o “mal”.» [«Os Encantos da Inocência. Uma Releitura de Henry James», Marguerite Yourcenar]

Sobre Minha Ántonia, de Willa Cather




«Lemos as primeiras páginas desta obra e rapidamente damos conta que mergulhamos no universo da grande literatura e do melhor que o século XX produziu nesta matéria. 
A narrativa não nos dá conta com rigor do período em que decorre, sendo que podemos concluir que abrangerá desde o final do século XIX, coincidindo com a imigração em massa de europeus que procuram a sua sorte no país da abundância e dos sonhos, até às vésperas da 1.ª Guerra Mundial, ainda que a narrativa, no final, se perceba que passou dos anos 20. Não é que seja um dado importante, contudo, permite-nos o enquadramento histórico até para compreender o desenvolvimento socioeconómico da região onde se desenrola a maior parte da narrativa, em especial, o estado do Nebrasca. […] 
Doces e ternas são as palavras de Willa Cather transpostas pelos seus personagens, numa contínua reflexão sobre a vida e as relações que travamos, seja de amizade ou de amor, ou até mesmo quando ambos se confundem dando a ideia de amor ideal.
“Minha Ántonia” é um romance marcante e é tido como a obra icónica de Willa Cather ainda que tenha sido com “One of Ours” (1922) a obra que lhe valeu o Prémio Pulitzer, em 1923.» [Jorge Navarro, no blogue O Tempo entre Os Meus Livros, 6/7/2018. Texto completo em http://otempoentreosmeuslivros.blogspot.com/2018/07/a-escolha-do-jorge-minha-antonia.html ]


De Willa Cather aRelógio D’Água publicou também Uma Mulher Perdida e O Meu Inimigo Mortal.

Sobre A Hora da Estrela, de Clarice Lispector




«Clarice Lispector era uma estrangeira. Sempre foi uma estrangeira – um pássaro vindo de longe, um pássaro vindo das ilhas que estão além de todas as ilhas do mundo para nos intrigar a todos com o seu voo e o frêmito de suas asas. E a língua em que ela escreveu atesta belamente esse insulamento: um estilo incomparável, um emblema radioso, uma maneira intransferível de ser e viver, ver e amar e sofrer. Enfim, uma linguagem dentro e além da linguagem, capaz de captar os menores movimentos do coração humano e as mais imperceptíveis mutações das paisagens e dos objetos do mundo» [Lêdo Ivo]


«A Hora da Estrela ou “as fracas aventuras de uma moça numa cidade toda feita contra ela”. De um lado a “terra serena da promissão, terra do perdão”; do outro, o sufoco, o vale-tudo, a agressão da “cidade inconquistável” — os dois brasis.» [Eduardo Portella, na apresentação da edição brasileira de A Hora da Estrela]


Sobre Contos I, de Anton Tchékhov




«Tchékhov escrevia livros tristes para pessoas alegres; quero dizer com isto que só um leitor com sentido de humor será capaz de sentir a fundo a tristeza deles. Há escritores que emitem um som intermédio entre o riso abafado e o bocejo — muitos deles, a propósito, são humoristas profissionais. A outros, por exemplo a Dickens, sai uma coisa intermédia da risada e do soluço. Existe também uma variedade horrível de humor utilizada de propósito pelo autor para dar um escape puramente técnico depois de uma tempestuosa cena trágica, mas o truque nada tem que ver com a verdadeira literatura. O humor de Tchékhov é alheio a isso tudo; é um humor puramente tchekhoviano. O mundo, para ele, é cómico e triste ao mesmo tempo, e sem repararmos na sua comicidade não compreenderemos a sua tristeza, porque são inseparáveis.» [Do Prefácio de Vladimir Nabokov]

Sobre Middlemarch, de George Eliot




Middlemarch (1871-72) é o mais importante romance saído do período vitoriano. Nele, George Eliot aborda todos os temas fulcrais da vida moderna: arte, religião, ciência, política, carácter, sociedade e relações humanas.
Entre as suas personagens estão algumas das mais notáveis da literatura inglesa: Dorothea Brooke (a heroína), Rosamond Vincy (bela e egoísta), Edward Casaubon (o estudioso), Tertius Lydgate (um médico brilhante de duvidosa moralidade), Will Ladislaw (o artista) e Fred Vincy e Mary Garth (namorados de infância).

«Middlemarch é a sua [de George Eliot] mais subtil análise da imaginação moral, possivelmente a mais subtil que alguma vez foi conseguida na prosa de ficção. […) O romance canónico, no verão da sua existência, pode ter atingido o seu sublime em Middlemarch, cujo efeito sobre os leitores se mantém “incalculavelmente difundido”.» [Harold Bloom]

De George Eliot, a Relógio D’Água editou também O Moinho à beira do Floss.

27.2.19

Cristina Carvalho nomeada para Prémio Autores 2019 da SPA





A Saga de Selma Lagerlöf, de Cristina Carvalho, editada pela Relógio D’Água, é uma das obras nomeadas para o prémio de Melhor Livro de Ficção Narrativa.
Os outros nomeados nesta categoria são Rui Lage, com O Invisível, e Sandra Catarino, com Os Fios.

A cerimónia de entrega do Prémio Autores tem lugar no Grande Auditório do CCB, no próximo dia 27 de Março.

Sobre A Chama, de Leonard Cohen




«Magnífico poeta, melancólico, irónico, subtil – é o mínimo que se pode dizer de Leonard Cohen, cujo ‘A Chama’ (Relógio D’Água) acaba de sair: são os últimos poemas, a recordação de uma busca pela beleza e pela pacificação.» [Francisco José Viegas, Correio da Manhã, 12/2/2019]

26.2.19

Sobre Citações de Albert Einstein





Esta é a edição definitiva da coletânea de citações de Einstein traduzida em mais de vinte e cinco línguas.
Inclui novas secções — “Sobre e para as Crianças” e “Sobre Raça e Preconceito” —, bem como uma cronologia da vida de Einstein, o esclarecedor prefácio de Freeman Dyson e comentários de Alice Calaprice.
Cada citação está devidamente documentada, e Calaprice selecionou cuidadosamente novas fotografias e caricaturas para apresentar cada secção.

“Todos nós que carecemos dos dons intelectuais e espirituais de Einstein temos uma dívida de gratidão com a Princeton University Press por tê-lo humanizado desta forma inovadora.” [Timothy Ferris, New York Times Book Review]

“Este livro fascinante revela Einstein como um ser humano completo, ao mesmo tempo com um lado sensível e outro mais sombrio e taciturno.” [Physics World]

Sobre Marianne Moore




«Vejo [na poesia de Marianne Moore] pelo menos três elementos: um ritmo muito novo, que me parece algo bastante louvável; uma utilização peculiar, genial e até satírica do que, enquanto material, não é uma linguagem “aristocrática” […]; e, por fim, uma simplicidade de frase quase primitiva.» [T. S. Eliot sobre Marianne Moore, 1923]

25.2.19

Sobre Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai, de Jenny Erpenbeck




«Em Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai (Relógio d’Água, 2018), a alemã Jenny Erpenbeck consegue precisamente criar pontes e ligar conceitos que a realidade dificulta, num livro onde conta a história de Richard, um académico alemão versado em Filologia Clássica, viúvo e acabado de se reformar, que se aproxima de um conjunto de refugiados.

[…] em Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai, é o presente que está em destaque. Num tempo em que a Europa regressa a políticas que estiveram marcadamente ausentes das décadas do pós-guerra, a crise dos refugiados chegados à Europa, vindos sobretudo de África e do Médio-Oriente, é tema premente, mesmo em Portugal, onde praticamente nem se dá pelos seus efeitos.» [Miguel Fernandes Duarte, Comunidade Cultura e Arte, 30/1/2019. Texto completo em https://www.comunidadeculturaearte.com/jenny-erpenbeck-e-a-ficcao-enquanto-solucao-para-o-tempo-presente/ ]

Sobre O Processo, de Franz Kafka




«O mundo das repartições e dos arquivos, dos gabinetes e dos quartos escuros, bafientos e degradados, é o mundo de Kafka. (…)
O Processo deixa-nos perceber que o procedimento judicial que é levantado contra o réu não lhe deixa, regra geral, qualquer esperança, inclusivamente nos casos em que poderia subsistir a esperança da absolvição. Ora, talvez seja precisamente esse desespero que transforma os réus nas únicas personagens belas no universo kafkiano.» [Do Posfácio de Walter Benjamin]


«Duas ideias — melhor dizendo, duas obsessões — regem a obra de Franz Kafka. A subordinação é a primeira das duas; o infinito, a segunda. Em quase todas as suas ficções há hierarquias e essas hierarquias são infinitas.» [Jorge Luis Borges]

Sobre Cadernos de Um Caçador, de Ivan Turguénev




«Frank O’Connor pôs os Cadernos de Um Caçador (1852) acima de qualquer outra recolha de contos. Um século e meio depois da sua composição, Cadernos de Um Caçador mantém toda a sua novidade, apesar de o tema “de actualidade” que lhe é subjacente, a necessidade de emancipar os servos, se ter desvanecido depois de todos os desastres da história russa. Os contos de Turguénev são de uma beleza estranha e inquietadora, e, no seu conjunto, são a melhor resposta para a pergunta “Porquê ler?” que conheço (sempre exceptuando Shakespeare). Turguénev, que amava Shakespeare e Cervantes, dividia os seres humanos (empenhados numa demanda) em Hamlets e Dom Quixotes. Poderia ter acrescentado os Falstaffs e os Sancho Panças, visto que estes formam, com os outros dois, um paradigma quádruplo para tantos outros seres fictícios.» [Como Ler e Porquê?, Harold Bloom]

Sobre A Paixão segundo G. H., de Clarice Lispector




«— Tu eras a pessoa mais antiga que eu jamais conheci. Eras a monotonia de meu amor eterno, e eu não sabia. Eu tinha por ti o tédio que sinto nos feriados. O que era? era como a água escorrendo numa fonte de pedra, e os anos demarcados na lisura da pedra, o musgo entreaberto pelo fio d’água correndo, e a nuvem no alto, e o homem amado repousando, e o amor parado, era feriado, e o silêncio no voo dos mosquitos. E o presente disponível. E minha libertação lentamente entediada, a fartura, a fartura do corpo que não pede e não precisa.»

«A aterradora magnificência de A Paixão segundo G. H. colocou o romance entre os mais importantes do século. Pouco antes da sua morte, na sua última visita ao Recife, Clarice disse a um repórter que, de todos os seus livros, era esse que “correspondia melhor à sua exigência como escritora”. A obra inspirou uma gigantesca bibliografia, mas, na época em que foi publicada, parece ter sido quase ignorada.» [Benjamin Moser, em Clarice Lispector, Uma Vida]

22.2.19

Sobre Clepsydra, de Camilo Pessanha




«Não é mais possível dar crédito a todas as fábulas que se fizeram sobre a pouca preocupação de Pessanha com os seus poemas e com a publicação dos mesmos. Mas também não se pode ignorar que ele pouco se ocupou da publicação da Clepsydra, e que a sua responsabilidade nela é quase nula.
Talvez não fosse preciso, mas lembremos ainda uma vez as condições em que o livro foi publicado: Pessanha deixou em Lisboa apenas uma pequena colecção de versos autógrafos reproduzidos «de memória» a que se juntaram textos outros de vária procedência para compor o volume, pois, segundo Castro Osório, o poeta nunca enviou os que teria prometido enviar. Tampouco se sabe que textos seriam esses que enviaria: se a versão definitiva dos que transcrevera ou se outros poemas, de que não se recordava por inteiro em 1916. Além disso, ao que tudo indica Camilo Pessanha nunca discutiu epistolarmente a edição e seguramente não viu provas — sendo-lhe enviados alguns exemplares do livro pronto […].

A edição de 1920, portanto, não tem exactamente o mesmo estatuto de um qualquer texto publicado em vida de um escritor, no sentido de ser a lição autorizada e a expressão da vontade de quem o escreveu. Pelo contrário, sabemos que, pelo menos quanto à ordenação de alguns poemas, a Clepsydra de 1920 não era fiel à vontade do poeta, expressa nas indicações de conjunto e sequência presentes nos autógrafos.» [Da Introdução de Paulo Franchetti]

Sobre Tess dos D'Urbervilles, de Thomas Hardy




«É um romance duro e implacável. Thomas Hardy  não refreia o discurso realista e leva-nos a acompanhar, de forma fervorosa e inquietante, a vida de Tess Durbeyfield. É impossível não sentir uma empatia pela personagem. Seguimos a sua vida, a tragédia dos seus amores, os esforços meticulosos para se transformar numa mulher aceite pela sociedade. É uma luta inglória e que nos despedaça o coração.» [Leopold Bloom, em Ulysses, Revista Literária, 18/2/2019]

Sobre Um Apartamento em Atenas, de Glenway Wescott





Tal como em O Falcão Peregrino (também publicado pela Relógio D’Água e que Susan Sontag descreveu, na The New Yorker, como «um dos tesouros do século XX»), Um Apartamento em Atenas desenvolve-se em torno de três personagens.
Nesta história sobre um casal grego que vive em Atenas ocupada por nazis e obrigado a partilhar a sua casa com um oficial alemão, Wescott encena um perturbador drama de adaptação e rejeição, resistência e compulsão.
Um Apartamento em Atenas retrata os efeitos de uma guerra na vida quotidiana. Trata-se de uma invulgar história de luta espiritual, em que o triunfo e a derrota dificilmente se distinguem.


«Um bom estudo sobre a humilhação e a dignidade, e o seu desenlace em tragédia e numa solução desesperada(…). O carácter moderado, a ausência de exageros e a serenidade são admiráveis como o ideal grego que reflectem e honram. Nesta obra reside a dignidade de um estilo no qual nada é excessivo nem insuficiente.» [Eudora Welty]

21.2.19

A chegar às livrarias: Dá-Me a Tua Mão, de Megan Abbott (trad. Helena Briga Nogueira)





«Não temos personalidade enquanto não tivermos um segredo.»

Kit Owens tinha ambições modestas. Até ao momento em que a misteriosa Diane Fleming se inscreveu na mesma escola e chegou à sua aula de Química. A partir daí, o brilhantismo académico de Diane estimulou Kit, e as duas desenvolveram uma amizade fora do comum. Mas essa amizade durou apenas até ao momento em que Diane partilhou um segredo que alterou tudo.
Mais de uma década depois, quando julgava ter esquecido Diane, Kit começa a concretizar os sonhos científicos que a amiga despertara nela. Mas o passado persegue-a, quando tem conhecimento de que Diane é a competidora principal para um lugar que ambas pretendem.

«Este livro mostra Megan Abbott no seu melhor.»[Paula Hawkins, autora de A Rapariga no Comboio]

«Uma escrita obscura, eficiente, bela e absorvente.»[Meg Wolitzer, autora de A Persuasão Feminina]

«Abbott tem uma capacidade única de mergulhar os seus leitores nos temas que aborda.»  [New York Times Book Review]

«Megan Abbott, a rainha do suspense, escreve o seu melhor livro até hoje. Uma história chocante sobre ambição, desejo e obsessão.» [People]


Os direitos de adaptação para televisão foram adquiridos pela AMC.

A chegar às livrarias: As Confissões da Carne, História da Sexualidade IV, de Michel Foucault, ed. de Frédéric Gros (trad. Miguel Serras Pereira)





As Confissões da Carne é o quarto e último volume da História da Sexualidade, obra em que Michel Foucault se propôs a estudar a sexualidade humana desde a Antiguidade clássica até aos primeiros séculos do cristianismo. 
A elaboração definitiva de As Confissões da Carne, de acordo com Frédéric Gros, responsável pela edição, pode situar-se em 1981 e 1982. O livro foi editado em 2018, quando os herdeiros de Foucault consideraram reunidas as condições para a publicação do inédito, que concluía a análise de A Vontade de Saber, O Uso dos Prazeres e O Cuidado de Si.

O livro tem três partes. A primeira aborda os temas “Criação, procriação”, “O baptismo laborioso”, “A segunda penitência” e “A arte das artes”; a segunda, a “Virgindade e continência”, “Das artes da virgindade” e “Virgindade e conhecimento de si”; e a terceira, “O dever dos esposos”, “O bem e os bens do casamento” e “A libidinização do sexo”.

Sobre Persuasão, de Jane Austen




«Foi muitas vezes notada (e quase tantas vezes censurada) a aparente indiferença de Austen aos grandes eventos históricos do seu tempo. Apesar da ténue sombra das guerras napoleónicas, Persuasão continua a não ter espaço para a Revolução Francesa nem para os debates abolicionistas; mas é revolucionário noutro sentido. Mais radical ainda do que ser um romance antiaristocracia e pró-meritocracia, parece ser também um romance antifamília e pró-afinidade. É um livro ferozmente contra a obrigação de aceitar o que nos cabe à nascença e a favor de procurar o que queremos em lugares mais improváveis. O pai e a irmã mais velha podem ansiar por restaurações imaginárias ou privilégios superficiais; Anne apenas anseia por boa companhia, de preferência longe deles.» [Do Posfácio de Rogério Casanova]

Sobre O Bosque da Noite, de Djuna Barnes




«Gostaria de preparar o leitor para encontrar aqui um grande feito de estilo, a beleza da expressão, o brilho do espírito e da caracterização de personagens e um género de horror e fatalidade de muito perto aparentado com a tragédia isabelina.» [do Prefácio de T. S. Eliot]

Sobre O Livro por Vir, de Maurice Blanchot




A literatura ocupa o centro das pesquisas de Blanchot. E é a luz do seu mistério que o autor de “O Livro por Vir” e “O Espaço Literário” se esforça por circunscrever. 
Neste livro, Blanchot fala-nos com um saber apaixonado de Proust, Artaud, Musil, Broch e Henry James e até daquele que será um dia o último escritor. Mas, através dos autores e dos livros, interessa sobretudo a Blanchot o movimento que os cria.

De Folhas de Erva, de Walt Whitman




«CANTO AQUELE QUE EXISTE EM SI MESMO

Canto aquele que existe em si mesmo, uma pessoa simples e independente,
Pronuncio, todavia, a palavra Democrático, a palavra En-Masse.

Canto o próprio organismo da cabeça aos pés,
Nem só a fisiognomonia nem apenas o cérebro são dignos da Musa, afirmo que a Forma completa é muito mais digna,
Eu canto tanto a Mulher como o Homem.

A Vida imensa em paixão, vitalidade e força,
Com alegria, para que mais livre seja o impulso formado sob as leis divinas,
Eu canto o Homem Moderno.»
[trad. Maria de Lourdes Guimarães]


20.2.19

Trilogia de Don Winslow é série televisiva




Uma trilogia escrita por Don Winslow (The Power of the Dog, The Cartel e The Border) está a ser adaptada a série televisiva.

O segundo volume, O Cartel, publicado em 2016 pela Relógio D’Água, “é o âmago da série, e não apenas por estar no centro da ordem cronológica. Consolida a ambição e o calibre, comparados aos d’O Padrinho, deste projecto multigeracional, e apresenta as principais personagens completamente desenvolvidas. A acção acontece, como sabemos em retrospectiva, durante os tempos praticamente idílicos do cartel de Sinaloa, um cartel real comandado por um Barrera fictício, indiferente à sua detenção. Dentro ou fora, ele é que manda. (…) Enquanto a operação Sinaloa evoluiu para guerras atrozes, incluindo jornalistas entre as suas vítimas, a pura brutalidade tornou-se uma memória distante.» [Janet Maslin, The New York Times, 17/2/2019] 

Sobre A Saga de Selma Lagerlöf, de Cristina Carvalho




«Interpelada em registo direto pela biografada, a autora revisita, nos dias de hoje, uma força que o passado não extinguiu. Um fio de luz que fez soltar a magia dos elfos e das fadas que habitam no lago da quinta ou na impenetrável floresta, e que a autora, emocionada, ainda encontra ressoando nas paredes de Mårbacka. Desses lugares de encanto, sobressai o sótão, não enquanto lugar esconso, mas como local pouco visitado pelos adultos, onde as criaturas fantásticas permanecem sem incómodos; de dia, as que pertencem à luz e de noite, as que pertencem às trevas. Há passos, há correrias, há um certo remexer, são os sobressaltos que se desprendem deste livro e não podia deixar de ser assim quando a biografada é Selma Lagerlöf, figura maior da literatura, primeira mulher a ganhar o Nobel, a primeira a ser aceite na academia do seu país e ativista dos direitos da mulher.» [António Ganhão no blogue Acrítico, 18/2/2019. Texto completo em https://tinyurl.com/y2w6g5x4 ]

19.2.19

Sanditon, de Jane Austen, adaptado a série televisiva





Sanditon, o romance inacabado de Jane Austen, está a ser adaptado à televisão e já conta com protagonistas.
«Rose Williams (Reign) e Theo James (da saga Divergent) irão interpretar duas das personagens principais ao lado de Anne Reid (Last Tango In Halifax) e Kris Marshall (Death in Paradise).
A série foca-se em Charlotte Heywood (Rose Williams), uma mulher espirituosa e impulsiva que se muda da sua casa rural para Sanditon, uma tranquila vila piscatória que se tenta reinventar tornando-se num resort à beira-mar. A relação intransigente de Charlotte com o bem-humorado e charmoso Sidney Parker (Theo James) é uma parte fundamental da história, que tem uma jovem heroína espirituosa, dois irmãos empreendedores, alguns negócios financeiros desonestos, uma herdeira das Índias Ocidentais e um bom bocado de nudez.

Reid será a Lady Dunham. Com dois maridos mortos, ela recebeu dinheiro do primeiro e um título do segundo e espera ser tratada com todo o respeito. Notoriamente avarenta, parece encantar-se com o poder que tem na cidade, particularmente sobre aqueles que esperam receber dinheiro quando ela morrer. No papel do líder da família Parker está Kris Marshall como Tom Parker, um homem entusiasta e alegremente casado que tem uma ideia para colocar Sanditon no mapa.» [A partir de https://www.seriesdatv.pt/reino-unido-novo-drama-criminal-encomendado-e-novidades-de-elenco-em-sanditon/ ]

Lançamento de «Gonçalo M. Tavares: Ensaios, Aproximações, Entrevista» na Escola das Artes, da Universidade Católica do Porto




No dia 21 de Fevereiro ocorrerá na Escola das Artes a apresentação do livro “Gonçalo M. Tavares: Ensaios, Aproximações, Entrevista”, por Madalena Vaz Pinto, na Sala de Exposições da Escola das Artes — UCP.

A ideia deste livro surgiu do desejo de dar a conhecer aos leitores de língua portuguesa um conjunto de ensaios críticos que contemplem a multiplicidade das suas criações e funcionem como exercícios de aproximação desta obra singular polifónica. Para isso foram convidados dez ensaístas, cinco brasileiros e cinco portugueses, que puderam debruçar-se livremente sobre textos, colecções ou aspectos da obra do autor.

Sobre José Cardoso Pires




Hoje, dia 19 de Fevereiro, às 17 horas, Marco Neves falará sobre “José Cardoso Pires e as Vozes da Cidade” na Academia das Ciências de Lisboa.

Sobre O Coração É Um Caçador Solitário, de Carson McCullers




O Coração É Um Caçador Solitário foi o primeiro livro escrito por Carson McCullers, quando tinha 23 anos.
Depressa se tornou uma referência na literatura do século xx.
No sul dos Estados Unidos, numa vila da Georgia nos anos 30, num cenário desolado de intolerância racial e isolamento, John Singer, um surdo-mudo, torna-se de súbito confidente de um grupo de personagens marginais quando o seu único amigo, também surdo-mudo, é institucionalizado. 
Mick Kelly é uma adolescente, apaixonada pela música, sonha compor sinfonias e é filha dos proprietários da pensão onde Singer vive; Jake Blount é um agitador socialista que passa os dias alcoolizado; Biff Brannon é o desiludido proprietário de um pequeno café com desejos sexuais ambíguos; e Benedict Copeland é um médico negro que luta, em vão, pela igualdade racial. Todos sentem que não encaixam nos papéis que a sociedade lhes reservou, todos procuram à sua maneira preencher o vazio deixado pelos sonhos perdidos — e todos, por algum motivo, acham que Singer os compreende. 
Mas o impassível Singer procura apenas em cada visita arrancar o seu amigo à indiferença…

«Um livro notável… A escrita de McCullers é apaixonante.» [The New York Times]

«… a obra de Carson McCullers não se eclipsará com o tempo, antes irradiará cada vez com maior fulgor.» [Tennessee Williams]

Esta e outras obras de Carson McCullers disponíveis aqui: https://relogiodagua.pt/?s=carson+mccullers&post_type=product

18.2.19

Sobre Noite e Dia, de Virginia Woolf




Noite e Dia revela-nos o modo como Virginia Woolf dominava a arte do romance tradicional inglês. Através de uma estrutura clássica, de personagens cuidadas e do uso de delicada ironia, o segundo romance de Woolf é comparável às melhores obras de Jane Austen.
Numa Londres eduardina, Noite e Dia estabelece o contraste entre a vida de duas amigas — Katharine Hilbery e Mary Datchet.
Katharine é a entediada neta de um célebre poeta inglês. Mora em casa dos pais e está noiva de um homem pretensioso que representa a vida da qual ela se quer ver livre. Mais tarde conhece Ralph Denham, que se lhe apresenta como a fuga a essa vida.
Mary Datchet, por seu lado, mostra a vida alternativa ao casamento — frequentou a universidade, vive por conta própria e encontra a sua realização trabalhando no movimento pelos direitos da mulher.
À medida que o romance se desenrola, várias interrogações se levantam: será o amor real ou ilusório? Poderão o amor e o casamento coexistir? Será o amor necessário à felicidade.

Sobre Agustina Bessa-Luís




Hoje, dia 18 de Fevereiro, às 17 horas, Isabel Ponce de Leão (Universidade Fernando Pessoa e Círculo Literário Agustina Bessa-Luís) fala sobre "Agustina Bessa-Luís: Diálogos interartísticos” na Academia das Ciências de Lisboa.

A chegar às livrarias: No Verão, de Karl Ove Knausgård (trad. do norueguês de Pedro Porto Fernandes)





“Passam sete minutos das nove horas, e olho rigorosamente para a mesma paisagem de ontem à tarde. A cor do céu, azul-pálido, quase branco, azul-acinzentado mais acima, é a mesma, as cores das árvores, dos arbustos e da erva são as mesmas, do verde-escuro das árvores do cemitério até ao verde-claro e mate do salgueiro, e a luz do Sol declinante, acinzentada perto do solo, dourada na copa das árvores, é a mesma. A única diferença é que o vento de leste é mais fraco e os movimentos nas árvores são menores. Adoro repetições.”

Este é um fragmento do quarto volume escrito por Karl Ove Knausgård sobre as estações do ano, uma série de ensaios breves, destinados a uma filha recém-nascida. 
O autor fala de modo intenso e pessoal de aspersores, castanhas, calções, gatos, caracóis, bétulas, groselhas, e tudo aquilo que faz do verão a melhor das estações, as suas tardes, noites, e até as chuvas.
Knausgård oferece assim à filha e aos leitores um mundo muito diferente daquele que ele próprio teve na infância, marcado pela relação difícil com o pai. Oferece-nos a paisagem de uma vida familiar numa Suécia rural com as suas alegrias e tristezas, onde nada é indiferente e os objetos e os seres estão repletos de significado.
As ilustrações são do pintor Anselm Kiefer.

Sobre Tchékhov





Estreou no passado dia 13 de Fevereiro a peça Tio Vanya, de Anton Thékhov, uma produção dos Primeiros Sintomas encenada por Bruno Bravo.
A peça conta com a participação de Amélia Videira, António Mortágua, Carolina Salles, Ivo Alexandre, Joana Campos, Luis Miguel Cintra, Nídia Roque e Paulo Pinto, e estará em palco até 16 de Março.

A peça O Tio Vânia, de Anton Tchékhov, foi escrita entre 1896 e 1897, logo a seguir a A Gaivota e ainda antes de esta estrear. Foi representada pela primeira vez no Teatro de Arte de Moscovo, em Outubro de 1899.
Também a este caso se aplica o que escreveu Elsa Triolet em A Vida de Tchékhov:
«As grandes peças de Tchékhov […] transgrediam todas as regras da dramaturgia do seu tempo; introduziam na cena a vida quotidiana, as pessoas simples, a linguagem de todos os dias; obrigavam o encenador e os intérpretes a abandonar o que o teatro tinha de teatral, as suas convenções habituais… O diálogo de Tchékhov possui uma particularidade a que é uso chamar-se o seu “antetexto”, espécie de corrente submarina que passa, silenciosa, por detrás das palavras pronunciadas em voz alta.»

Sobre A Sonata de Kreutzer, de Lev Tolstói




A Sonata de Kreutzer, escrita em 1889 é, com A Morte de Ivan Iliitch, uma das mais importante novelas de Tolstói.

«A Sonata de Kreutzer é uma obra-prima de estética magnificamente realizada que nos ensina a desprezar essa mestria e esse conseguimento: é essa a sua enganadora estratégia.» [Gary Saul Morson]

«Misteriosa, a proximidade de Tolstói com o leitor é de todo desconcertante em A Sonata de Kreutzer.» [Harold Bloom]


«Quando [Tolstói] voltou de novo à arte da novela, a sua imaginação tinha adquirido o obscuro fervor da sua filosofia. A Morte de Ivan Iliitch e A Sonata de Kreutzer são obras-primas, mas obras-primas de um género singular; a sua terrível intensidade não resulta da predominância da visão imaginativa, mas da sua concentração; possuem, como as figuras reduzidas das pinturas de Bosch, violentas energias comprimidas.» [George Steiner]

Sobre O Diabo e Outros Contos, de Lev Tolstói




Reúnem-se aqui seis dos melhores contos de Tolstói. Os dois primeiros são sombrias parábolas sobre as tentações carnais. Em «O Diabo» (1889-90), um jovem não consegue resistir a uma bela camponesa com quem tivera um caso antes de se casar. Por sua vez, «O Padre Sérgui» retrata a vida de um soldado que, para resistir às tentações, se torna monge e, mais tarde, pedinte.
Dos restantes contos, destaca-se «Depois do Baile», que é, nas palavras de George Steiner, um «conto formidável», um «exemplo em que a técnica e a metafísica se tornaram inseparáveis», pois, no «vocabulário de Tolstói, um baile tem ressonâncias ambíguas, é ao mesmo tempo uma ocasião de graça e elegância e um símbolo de consumada artificialidade».

15.2.19

Sobre A Espuma dos Dias, de Boris Vian




«Chamaram‑lhe, alguns, a obra‑prima do autor. E num prefácio que andou durante muito tempo colado ao seu “Arranca‑Corações”, Raymond Queneau não hesitava perante um rótulo hierarquizante e audacioso: “o mais pungente dos romances de amor contemporâneos”. Nos anos sessenta, “A Espuma dos Dias” circulou com estas difíceis responsabilidades.
Enfrentou‑as mostrando a singularidade de um universo ainda não conhecido com tanto talento na literatura; que se comprazia a impor aos homens e aos objectos leis novas, interdependentes. De facto, os objectos que lá existiam tinham um comportamento emotivo e implacavelmente ligado aos estados de alma de quem os utilizava. O que já antes parecia sugerido por Edgar Allan Poe em “A Queda da Casa Usher” assumia ali uma evidência despudorada que corria em dois sentidos, de sol e sombra, e nos informava muito mais sobre o interior das personagens do que qualquer alusão directa que o texto chegasse a fazer.» [Da Apresentação de Aníbal Fernandes]

Sobre O Banquete, de Platão




Carlos Vaz Marques falou sobre O Banquete, de Platão, no programa Livro do Dia de 12 de Fevereiro, na TSF. O programa pode ser ouvido aqui: https://www.tsf.pt/programa/o-livro-do-dia/emissao/o-banquete-de-platao-10566807.html?autoplay=true

O Arranca Corações no São Luiz, até 17 de Fevereiro




Estreou ontem no Teatro São Luiz, na Sala Mário Viegas, a encenação de Nuno Nunes de O Arranca Corações, a partir da obra de Boris Vian.

Jacquemort, psiquiatra, chega a casa de Angel e Clémentine, que está em final de gravidez. Jacquemort vai então ajudá-la a dar à luz três rapazes gémeos, Noël, Joël e Citroën, que, ao contrário dos irmãos, nunca grita.
Angel está fechado em casa há dois meses pela mulher, que aceitou mal a gravidez. Só depois do parto é libertado. Jacquemort revela-lhe as razões que o levaram a este recanto aparentemente tranquilo. Ele possui uma capacidade de vazio e procura preenchê-la psicanalisando as pessoas e assimilando os seus sentimentos através de uma psicanálise «integral».
Neste romance, Boris Vian revela um universo terrível, o dos desejos mais implacáveis, em que todo o amor esconde o ódio.
Como escreveu Gilbert Pestureau, no prefácio à edição francesa, neste romance em que o número três desempenha um papel central, «os adultos são selvagens, ferozes ou infelizes, condenados à solidão, enquanto as crianças, cúmplices na magia, procuram secretamente a sua paixão de viver». Tudo isto numa «aldeia entorpecida na vergonha e na religião», onde «os trigémeos exploram o seu universo feérico enquanto uma mãe, que os ama demasiado, lhes reduz inexoravelmente o espaço».

Este e outros livros de Boris Vian disponíveis aqui: https://relogiodagua.pt/?s=boris+vian&post_type=product

14.2.19

Sobre As Estações da Vida, de Agustina Bessa-Luís




«Escrito em 2002, este é um livro bastante peculiar, cruzando influências que resultam numa leitura abrangente e perspicaz, derivada dos interesses por diferentes disciplinas, ainda que não sentido específico e académico com que elas, vulgarmente, são encaradas. Bebendo na Antropologia, na História (dos acontecimentos e datas, mas igualmente das Ideias, da Arte), na Psicologia, Agustina Bessa-Luís consegue, num livro de dimensões reduzidas, produzir um objecto tão luminoso e cativante, que nos ajuda a fazer equacionar diferentes cambiantes do quotidiano, a pretexto da decoração pictórica das estações de caminho-de-ferro. Além de uma deambulação sentida pela melancolia, pelo ritmo muito seu, que as próprias viagens de comboio possuem e transmitem: “o comboio é um mundo. O comboio é o mundo”.» [João Morales, no Blog BranMorrighan, Fevereiro 2019. Texto completo aqui: https://tinyurl.com/y2uxe4ey ]