«ONDE A MULHER É SECRETA, O HOMEM É INÚTIL
A indiferença radicalmente excluída
Tudo se jogava
Em torno do ventre louco e das palavras sem nexo
De uma mulher feita para si mesma
E mais bruma do que real
Tinha um encanto a mais
Do que essa de quem nascera
Pleno de virtualidades
Acolhia tantos prodígios
Todos os mistérios
Na luz aberta do atónito
Sob a sua imensa cabeleira
Debaixo das suas pálpebras descidas
Numa voz abafada entremeada de risos
Ela e seus lábios contavam
A vida
De outros lábios semelhantes aos seus
Procurando entre eles o seu prazer
Como sementes ao vento
A vida também
De homens tão pouco agarrados a ela
De mulheres com mágoas esquisitas
Que se pintam para se apagar
E ninguém compreendia sobre que fundo de delícias e de certezas
A memória vindoura a memória desconhecida
Faria melhor do que a esperança
Para sempre implicada no vulgar no habitual.» [pp.30-31]
Últimos Poemas de Amor, de Paul Éluard (tradução e prefácio de Maria Gabriela Llansol), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/ultimos-poemas-de-amor/