Na revista «E», do «Expresso», de 28 de Julho, Luís M. Faria escreve sobre «Desaparecer na Escuridão», de Michelle McNamara:
«Este livro é a obra de uma amadora que passou anos a tentar descobrir o homem que assaltou casas, violou dezenas de mulheres e matou uma dúzia de pessoas na Califórnia, entre 1974 e 1986. É uma história triste, em mais do que um sentido. Por causa das vítimas, mas também porque a autora não chegou a conhecer a solução do mistério.
Desaparecer na Escuridão saiu na edição original em fevereiro deste ano, dois anos após a morte súbita (não criminosa, ao que tudo indica) de Michelle McNamara. Escassos meses depois, o criminoso foi finalmente apanhado pelas autoridades. Embora estas digam que nenhuma informação do livro contribuiu para isso, a chave foi o ADN, como McNamara previra.
Os crimes começaram em 1976, na zona de Sacramento, capital do estado da Califórnia. Era uma época com índices altos de criminalidade, e o caso não chamou demasiado a atenção. Para isso também poderá ter contado o facto de ter sido usada uma alcunha pouco memorável. Conforme sugere a autora, nestas coisas o marketing conta. Ao longo de três anos, o então chamado “East Area Rapist” atacou 50 mulheres, utilizando repetidamente os mesmos métodos. “A precisão e a autoproteção eram os seus traços distintivos. Depois de se concentrar numa vítima, entrava na casa antes, quando não estava lá ninguém, para estudar as fotografias de família e para se familiarizar com a planta da habitação. Desativava as luzes do pátio e destrancava portas de correr de vidro. Tirava as balas das armas. Os portões fechados de proprietários despreocupados ficavam abertos; as fotografias que tinham mudado de lugar eram arrumadas, atribuindo-se a desarrumação à desordem da vida quotidiana. As vítimas dormiam descansadas até o clarão da lanterna lhes abrir os olhos à força.”
Depois era o horror. As vítimas, primeiro só mulheres e depois também casais, descreviam um homem jovem, alto, atlético, com um sussurro que às vezes se tornava agudo ou tremia. Como é frequente nessas situações, o homem gostava de jogos. Abria tesouras e espetava facas junto às vítimas. Fingia que se ia embora e recomeçava. Dizia coisas estranhas.»