30.8.18

Sobre Gratidão, de Oliver Sacks




Durante os últimos meses de vida, Oliver Sacks escreveu um conjunto de ensaios em que explora, de forma comovente, os seus sentimentos sobre o momento de completar uma vida e aceitar a morte.
«É o destino de cada ser humano», escreveu Sacks, «ser um indivíduo único, descobrir o seu próprio caminho, viver a sua própria vida, morrer a sua própria morte.»
Estes quatro ensaios são uma ode à singularidade de cada ser humano e à gratidão pela vida que nos é concedida. 


«O meu sentimento predominante é de gratidão. Amei e fui amado; recebi muito, e dei alguma coisa. Acima de tudo fui um ser senciente, um animal pensante, neste belo planeta, e isso foi, por si só, um enorme privilégio e aventura»

A Relógio D’Água na Festa do Livro de Belém 2018




A Relógio D’Água participa na 3.ª edição da Festa do Livro de Belém, que decorrerá de dia 30 de Agosto a 2 de Setembro de 2018, nos jardins do Palácio Nacional de Belém. Trata-se de um evento dedicado exclusivamente à promoção de obras de autores de língua portuguesa.
Haverá concertos, cinema, debates, poesia, sessões de autógrafos, lançamento de livros e demonstrações de ginástica, além de um espaço reservado às crianças, dinamizado pela Rede de Bibliotecas de Lisboa, onde haverá sessões do conto, jogos didáticos, yoga, animação de rua e momentos musicais.
Haverá várias zonas de leitura, com uma ligação aberta ao Jardim Botânico Tropical, e uma zona de restauração.
A Festa do Livro de Belém é inaugurada hoje, às 18:00.

29.8.18

Sobre Yu Hua




Yu Hua em entrevista a Isabel Lucas, a propósito da recente edição de «China em Dez Palavras». De Yu Hua a Relógio D’Água publicou também «Crónica de Um Vendedor de Sangue» e editará, em breve, «Viver».

«Yu Hua é um dos escritores mais conceituados da actual literatura chinesa e um nome familiar para os leitores do New York Times onde até há pouco escrevia sobre a actualidade do seu país. Considerado um vanguardista, este chinês de 58 anos, autor de cinco romances, várias colecções de contos, adaptações para o cinema e televisão, publicou em Portugal China Em Dez Palavras [Relógio d’Água], conjunto de ensaios que pretende ser um retrato da China contemporânea. “Não sei se existira no chinês actual outra palavra nesta estranha condição: está presente em toda a parte mas não é vista por ninguém. Na China de hoje, apenas os políticos trazem ‘povo’ na boca. O povo propriamente dito raramente a menciona, pode dizer-se que a está a esquecer.» [Isabel Lucas, Público, ípsilon, 26/8/2018]

A entrevista pode ser lida aqui.


24.8.18

Sobre Deuses de Barro, de Agustina Bessa-Luís




No âmbito da iniciativa Ano Agustina, mensalmente, ao longo de 2018, a Comunidade Cultura e Arte publicará uma crítica a um dos livros de Agustina Bessa-Luís, do catálogo reeditado pela Relógio D’Água.
No dia 31 de Julho foi publicado o texto de Bernardo Crastes sobre «Deuses de Barro»:

«A escrita de Agustina em Deuses de Barro é rica de uma forma quase académica. Tem exemplos perfeitos de recursos estilísticos, frases como «E aspirou na placidez da tarde morna um aroma subtil, um tanto acre, de liberdade, de desengano também», para além das antíteses recorrentes e já largamente mencionadas neste texto. Onomatopeias vão pontuando as descrições extensivas da vida campestre, carregadas de arcaísmos belos que musicalizam o texto e demonstram uma preocupação redobrada com a forma. Aprendemos muito acerca de Agustina aqui, denotando entusiasmo na sua escrita, uma narração intrometida que privilegia a análise por oposição à inferência por parte do leitor; análise essa que, para além de belamente escrita, espelha bem aquilo que imaginamos ser a realidade psicossocial rural dos idos anos 40.
(…) Inédita até 2017, [a obra] marca um início auspicioso que se afigura como o canteiro onde Agustina plantou a semente temática de obras posteriores e onde se deslindam já traços da sua escrita tão marcante.»


Sobre Vasto Mar de Sargaços, de Jean Rhys




Antoinette Bertha Cosway, conhecida pelo nome do padrasto, Mason, apareceu pela primeira vez em Jane Eyre, de Charlotte Brontë. Era a herdeira «crioula» (ou seja, branca das Índias Ocidentais) que Mr. Rochester desposou por ordem do seu pai, e que mais tarde surgiria para Jane Eyre como uma assombração na figura da mulher louca conservada em reclusão e escondida nos sótãos de Thornfield Hall.
Nascida na opressiva sociedade colonialista da Jamaica dos anos 30, Antoinette Cosway conhece um jovem inglês que é atraído pela sua beleza e sensualidade. Contudo, após o casamento, começam a circular boatos que instalam a desconfiança entre o casal. Apanhada entre as exigências do marido e o seu frágil sentido de pertença, Antoinette é levada à loucura e o marido cai nos braços da heroína de outro romance.


«Obcecada pela personagem da primeira Mrs. Rochester de Jane Eyre, de Charlotte Brontë, Jean Rhys acabará por projetar nela grande parte da sua própria experiência de adolescente no seu país de origem. E é como um pesadelo que essa experiência é reconstituída.» [António Mega Ferreira]

Sobre Pequenos Fogos em Todo o Lado, de Celeste Ng (trad. Inês Dias)




«Um dos aspectos mais positivos é a forma inteligente como a autora arquitectou a narrativa, iniciando-a pelo fim e alternadamente figurando presente e passado para uma melhor compreensão da mesma. Consequentemente, os acontecimentos sucedem-se a um ritmo diligente, tornando-se impossível largar o livro até ter conhecimento do seu desfecho. O estilo claro e hábil da escrita de Celeste Ng é outra mais valia para uma agradável e aliciante leitura. 
Recaindo sobre a temática familiar, Pequenos Fogos em Todo o Lado é sobretudo um retrato das relações humanas e crescimento pessoal, da exaltação de sentimentos e afirmação da identidade perante as adversidades. Relata a vida como um conjunto de oportunidades e escolhas e das consequências que daí advêm, sendo inquestionavelmente a decisão de fugir ou de encarar essas consequências que determina o caminho, mais ou menos sinuoso, para encontrar a felicidade.

Com uma prosa magnífica e personagens surpreendentes, Celeste Ng consegue um romance bem estruturado que cativa o leitor. Pequenos Fogos em Todo o Lado é uma experiência que reflecte a fragilidade humana, mas também a coragem que se encontra nos lugares em que menos se espera. Por todas as razões já enunciadas, este é um livro que recomendo vivamente.» [Vítor Caixeiro, no blogue Refém das Letras, 16/08/2018. Texto completo em: https://refemdasletras.blogspot.com/2018/08/pequenos-fogos-em-todo-o-lado.html ]

23.8.18

Sobre O Sonho de Bruno, de Iris Murdoch




«O Sonho de Bruno, de Iris Murdoch (1919-1999), romancista e académica na área da filosofia. As questões morais foram sempre decisivas na obra. O Sonho de Bruno, um dos seus romances mais aclamados, foi agora publicado. Narrado na terceira pessoa, conta a história de Bruno, um homem de idade avançada deformado pela doença: «Ele sabia que se tornara um monstro.» Espera pela morte em casa de Danby, o genro viúvo. Intriga em família, portanto. À beira da morte, tudo gira em torno da essência da vida. Bruno tem duas obsessões: aranhas e selos. Estudou as primeiras, coleccionou os segundos. Faz vista grossa à aversão que suscita, em particular na enfermeira e na empregada doméstica, mas continua a preocupar-se com os impostos (a quem doar a colecção de selos?). A narrativa apoia-se num compósito de doença, sexo, traição, arrivismo, segredos e acidentes naturais. Fora do huis clos, o filho Miles, de quem Bruno se afastou no dia em que o viu casar com uma indiana, que entretanto morreu. Sem surpresa, Murdoch manipula tudo de forma admirável.» [Eduardo Pitta, blogue Da Literatura, a propósito de crítica publicada na revista Sábado, 16/8/2018]

22.8.18

A relação de Lou Andreas-Salomé com Nietzsche, Freud e Rilke





«A russa conheceu e marcou a vida de vários nomes de referência, como Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud ou Rainer Maria Rilke. A filosofia percorreu o seu rol de interesses, mas fixou-se como psicanalista, função através da qual procurou sempre entender melhor o ser humano e, em consequência, o mundo que o rodeia.» [Lucas Brandão, Comunidade Cultura e Arte, 13/8/2018]


De Lou-Andreas Salomé a Relógio D’Água publicou recentemente «Na Rússia com Rilke».

21.8.18

A chegar às livrarias: António e Cleópatra, de William Shakespeare (trad. Rui Carvalho Homem)




«A aparição de Cleópatra diante de António no Cidno evidencia a consciência de que o seu poder depende de imagens e da eficácia que consiga convocar para a representação de si. Daí resultarão várias formas de ambivalência na caracterização de Cleópatra. O espaço egípcio é uma extensão da própria Cleópatra, cujo estatuto real lhe permite ser apostrofada como “Egipto”; e um dado da construção desse espaço que integra a configuração trágica — ou seja, que contribui para tornar inevitável o desastre — é a insistência da rainha em moldar o real de uma forma que lhe resulte gratificante: se não puder fazê-lo pela intervenção activa no plano da factualidade, servindo de modo consequente os seus interesses, Cleópatra fá-lo-á ao nível do discurso, promovendo uma ficção que venha substituir circunstâncias menos conformes com a sua auto-re­pre­sen­tação. Dessa perspectiva, atente-se na sua vontade (…) de matar o portador de más novas (o mensageiro que a vem informar do casamento de António com Octávia), momento este que terá o seu contraponto útil quando o mesmo mensageiro for premiado por ter aprendido a ser lisonjeiro — descrevendo então Octávia tão negativamente quanto a vaidade de Cleópatra o exigir.» [Da Introdução]

20.8.18

Rui Nunes, H. G. Cancela e Frederico Pedreira na lista de semifinalistas do Oceanos 2018






A edição de 2018 do prémio Oceanos tem 60 autores semifinalistas originários de seis diferentes países de língua portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor Leste.
Entre eles, foram seleccionados três autores com obras editadas em 2017 pela Relógio D’Água: Baixo Contínuo, de Rui Nunes, As Pessoas do Drama, de H. G. Cancela, e A Noite Inteira, de Frederico Pedreira.
O júri de 70 escritores, críticos literários, ensaístas e académicos decidiu também os nove jurados que em Outubro vão escolher as dez obras finalistas. Três são portugueses — Pedro Mexia, Maria João Cantinho e Helena — a quem se juntam a angolana Ana Paula Tavares e os brasileiros Julián Fuks, Daniel Munduruku, Heitor Ferraz, Flora Sussekind, e Carola Saavedra.

Na edição de 2017, o Oceanos foi atribuído a Ana Teresa Pereira, pelo romance Karen.

A chegar às livrarias: Ternos Guerreiros, de Agustina Bessa-Luís




«Em que mudaram os tempos? Nisto, para abreviar a especulação em torno do intelectual: o sentimento da tragédia perdeu terreno, e daí parte todo o delírio de persuasão a favor duma vida exausta e acumulada de mesteres remunerados apenas conforme a sua produção material. Um homem não é uma incógnita de medos e de vocações insubstituíveis, mas algo que não resistirá a uma liberdade instaurada em nome do possível. O papel do artista é o de reformar o mito do impossível e o de criar a tragédia. Como se desempenha ele da sua missão, raramente o podemos ver com os nossos próprios olhos; serão outros que tomarão contacto com aquilo que fez a consciência subterrânea da sua época. Através dos amores narrados com desvairada frieza, através dos crimes melancólicos e das brutalidades que o instinto não sugeriu, através das suas desordens que mal apagam a culpa pelo que já foi vivido e perdido antes, noutras idades e noutras criaturas, dar­‑se­‑á o encontro com a tragédia. A Europa conhece­‑a ainda, não perdeu de vista a sua face pálida, o seu esgar de espanto, a sua garra branca e petrificada.» [Do Prefácio]

16.8.18

A chegar às livrarias: Pippi das Meias Altas nos Mares do Sul (trad. de Marta Mendonça)





Alguma vez repreendeste um tubarão?
A Pippi já!

Sabes o que é um “gatafão”?
A Pippi sabe!

Consegues transportar o teu pai aos ombros?
A Pippi consegue!

A Pippi, o Tommy e a Annika partiram para uma grande aventura — uma viagem à Ilha Cannikani, onde o pai da Pippi é rei. Juntos, exploram cavernas secretas e jogam ao berlinde com pérolas. E encontram piratas e tubarões que, felizmente, conseguem derrotar. 


«Qualquer livro da série “Pippi” é motivo de celebração. Este não é exceção.»   [The New York Times]

8.8.18

Sobre «O Senhor Walser e a Floresta», «O Senhor Brecht e o Sucesso» e «Breves Notas sobre Literatura-Bloom», de Gonçalo M. Tavares


«O Senhor Walser e a Floresta juntamente com O Senhor Brecht e o Sucesso enquadram-se na série “O Bairro”, em constante crescimento com os seus alter-egos imaginados de escritores famosos, de onde partiram já diversas peças teatrais, curtas cinematográficas e até especiais de rádio. Na forma de inocentes opúsculos, que quase parecem literatura infantil, sempre acompanhados pelos belos desenhos de Rachel Caiano, Gonçalo M. Tavares constrói, com precisão, personagens masculinas imediatamente identificáveis pelos seus tiques especiais, pensamentos peculiares e pela sua solidão (quase sempre voluntária, ou decorrência da sua personalidade) (…).
(…) Já em Breves Notas Sobre Literatura-Bloom – Dicionário Literário, com o jocoso subtítulo “Uma das muitas maneiras (definitivas) de fazer literatura”, Tavares serve-se do formato fechado e rigoroso do dicionário para dele fazer repositório de tudo o que a (boa) escrita pode e deve conter, inventando significados e significantes para os signos-palavras, que todos os dias temos como unívocas, numa demonstração cabal de como toda a linguagem é necessariamente um meio e nunca um fim cristalizado e previsível.»

[Paulo Ribeiro da Silva, Revista Intro, 2018/08/07]







6.8.18

«O Sonho de Bruno» de Iris Murdoch no «Expresso»


Na revista E, do Expresso, de 28 de Julho, Rui Lagartinho escreve sobre O Sonho de Bruno, de Iris Murdoch:

«Tudo em O Sonho de Bruno remete para uma voragem autofágica. E pour cause, a partir desta vontade de comer o mundo, constroem-se e desfazem-se todos os triângulos amorosos imagináveis com os ângulos que temos ao nosso dispor. Amparados na dúvida, empurrados pela certeza: “Talvez Deus seja só sexo. Toda a energia é sexo.” Mesmo assim, “a velha mão pintalgada” de Bruno vai ter quem a agarre no final, quando a aranha der sinal de que terminou a sua obra. Dos 26 romances que Iris Murdoch escreveu, este foi aquele que o crítico norte-americano Harold Bloom escolheu para integrar O Cânone Ocidental: os Livros e a Escola do Tempo


2.8.18

Karl Kraus no «Observador»





No Observador (2018/07/29), Joana Emídio Marques escreve sobre Karl Kraus:

«Karl Kraus, nome talvez pouco conhecido fora das Faculdades de Jornalismo e dos estudiosos da cultura de língua alemã, viveu naquele período extraordinário da arte e da literatura que foram os anos finais do império austro-húngaro e as vésperas da 1.ª Guerra Mundial. Kraus foi contemporâneo de Freud, de escritores e poetas como Kafka, Rilke, Robert Musil, Hermann Broch, Hugo Hofmannsthal,  Georg Trakl, do músico Mahler, do filósofo Ludwig Wittgenstein, dos pintores Oskar Kokoschka e Klimt, da escola da Bauhaus, de movimentos como o Modernismo, o Expressionismo, o Dadaísmo ou o Futurismo. Viena não era apenas a capital do império, era a incubadora, o casulo do esplendor e do horror do século XX. Mas apesar deste fulgor, nos primeiros anos do século XX parecia que nada acontecia em Viena e o escritor e Nobel da Literatura Elias Canetti descreve Karl Kraus como “a coisa mais viva da cidade”. (…)
Em Março deste ano, a editora Relógio D’Água lançou um volume de textos que Kraus publicou no seu jornal “Die Fackel” (A Tocha) e que leva como título um dos textos mais famosos do autor, publicado e lido em público pouco depois do eclodir da 1.ª Guerra Mundial: Nesta Grande Época. Ambas as obras foram traduzidas por António Sousa Ribeiro, a quem já devíamos uns textos incorporados numa coletânea de autores austríacos editada em 1980 pela Europa-América, e uma edição incompleta d’Os Últimos Dias da Humanidade editada pela Antígona em 2003.»







1.8.18

Maria Filomena Mónica Entrevistada por João Céu e Silva no «Diário de Notícias»


«Ainda a conversa sobre o seu livro Nunca Dancei num Coreto não tinha começado e Maria Filomena Mónica já revelava que agora é vegetariana. E revelou muito mais: de que música gostava dos Beatles — que assistiu em direto quando vivia em Londres —, o que acha do físico de Mick Jagger, o que pensa dos hippies que iam fazer compras à lendária Carnaby Street, que fuminhos inalou, que garrafa tinha debaixo da cama, que homens seduziu e quem a seduziu, que filmes a fazem chorar, tudo o que a marcou, bem como a única coisa que lamenta não ter feito na vida.
Nunca Dancei num Coreto (Editora Relógio D’Água) é um título confessional, que surgiu no dia em que o médico lhe anunciou um cancro. Um volume que reúne muito das suas publicações jornalísticas desde 2011 e pelo qual passa tudo o que pensa em mais de 350 páginas que fogem frequentemente ao registo solene, mesmo que dê logo um abanão ao leitor nas duas primeiras páginas.»






«Desaparecer na Escuridão» de Michelle McNamara no «Expresso»


Na revista «E», do «Expresso», de 28 de Julho, Luís M. Faria escreve sobre «Desaparecer na Escuridão», de Michelle McNamara:

«Este livro é a obra de uma amadora que passou anos a tentar descobrir o homem que assaltou casas, violou dezenas de mulheres e matou uma dúzia de pessoas na Califórnia, entre 1974 e 1986. É uma história triste, em mais do que um sentido. Por causa das vítimas, mas também porque a autora não chegou a conhecer a solução do mistério. Desaparecer na Escuridão saiu na edição original em fevereiro deste ano, dois anos após a morte súbita (não criminosa, ao que tudo indica) de Michelle McNamara. Escassos meses depois, o criminoso foi finalmente apanhado pelas autoridades. Embora estas digam que nenhuma informação do livro contribuiu para isso, a chave foi o ADN, como McNamara previra.
Os crimes começaram em 1976, na zona de Sacramento, capital do estado da Califórnia. Era uma época com índices altos de criminalidade, e o caso não chamou demasiado a atenção. Para isso também poderá ter contado o facto de ter sido usada uma alcunha pouco memorável. Conforme sugere a autora, nestas coisas o marketing conta. Ao longo de três anos, o então chamado “East Area Rapist” atacou 50 mulheres, utilizando repetidamente os mesmos métodos. “A precisão e a autoproteção eram os seus traços distintivos. Depois de se concentrar numa vítima, entrava na casa antes, quando não estava lá ninguém, para estudar as fotografias de família e para se familiarizar com a planta da habitação. Desativava as luzes do pátio e destrancava portas de correr de vidro. Tirava as balas das armas. Os portões fechados de proprietários despreocupados ficavam abertos; as fotografias que tinham mudado de lugar eram arrumadas, atribuindo-se a desarrumação à desordem da vida quotidiana. As vítimas dormiam descansadas até o clarão da lanterna lhes abrir os olhos à força.”
Depois era o horror. As vítimas, primeiro só mulheres e depois também casais, descreviam um homem jovem, alto, atlético, com um sussurro que às vezes se tornava agudo ou tremia. Como é frequente nessas situações, o homem gostava de jogos. Abria tesouras e espetava facas junto às vítimas. Fingia que se ia embora e recomeçava. Dizia coisas estranhas.»