19.1.10

Livros da Relógio D’Água nos Media (semana de 11 a 17 de Janeiro de 2010)

No suplemento Actual do semanário Expresso de 16 de Janeiro de 2010, Hugo Pinto Santos descreve O Jogador de Fiódor Dostoievski como uma «breve obra-prima que retrata com notável realismo e ductilidade estilística os desvãos da cupidez, lembra o que Virginia Woolf dizia dos romances do autor: “Fervilhantes vórtices, rodopiantes tempestades de areia, trombas d’água que silvam e fervem, que nos sorvem. Pura e simplesmente, forjados no âmago da alma.”»

No Ípsilon de 15 de Janeiro Eduardo Pitta escreve sobre A Pedra da Lua de Wilkie Collins, apresentado como «o início do romance policial moderno».
«A intriga flui num registo seco não isento de ironia. Collins domina com precisão todos os recursos estilísticos, dando o registo adequado à modulação de cada uma das várias vozes. Sem se dar conta, o leitor é parte litigante do descaminho do diamante de Rachel

Na secção “Leituras” da LER de Janeiro de 2010 José Riço Direitinho critica Com o Diabo no Corpo de Raymond Radiguet.
«Aquando da sua publicação, o que mais indignou os críticos foi o carácter cínico e escandaloso do narrador desta obra-prima que tem fascinado gerações de leitores, entre os quais J. D. Salinger, em cujo romance Uma Agulha no Palheiro a sua influência é notória e assumida

Na mesma revista é referido também Mãe-do-Fogo de João Miguel Fernandes Jorge e João Cruz Rosa.
«Nestes 25 novos poemas, completados por uma série de desenhos de João Cruz Rosa (a tinta-da-china sobre papel feito à mão), João Miguel Fernandes Jorge (n. 1943) prossegue a sua linha estética de grande rigor e austeridade, pontualmente iluminada por efusões de um lirismo que nunca abandona um recorte clássico

Ainda na mesma LER, Maria Filomena Molder fala, em entrevista, sobre os seus dois livros que sairão este ano na Relógio D’Água.
«Para 2010 tenho duas obras na Relógio D’Água. Primeiro, em O Químico e o Alquimista – Benjamin, Leitor de Baudelaire tento pôr à prova a passagem do químico ao alquimista que Benjamin considera ser a passagem do comentador ao crítico
A outra obra é As Nuvens e o Vaso Secreto, que reúne uma série de textos sobre Kant e Goethe que foram publicados em revistas e obras colectivas.

Imagens da leitura: De Fantin-Latour e Edward Hopper aos nossos dias

A jovem mulher está sentada num sofá de veludo púrpura. Nas mãos cruzadas sobre o colo segura um livro aberto quase a meio em que fixa o olhar. Traja com elegante sobriedade, vestido escuro de mangas cumpridas. Da gola branca da blusa ergue-se um pescoço breve e um rosto de feições mal saídas da indefinição da adolescência. O cabelo curto de um castanho-claro reparte-se numa risca atravessada por uma fita preta, uma simetria que lembra a das mãos. Ao fundo vê-se a parte inferior de um quadro (ou será um espelho?) e, por detrás do sofá, um desarrumo de livros pousados no chão. Mas em todo o aposento é visível que por ali passou a azáfama matinal de uma empregada da casa.
É o quadro A Leitora, que Fantin-Latour pintou em 1861 e que pôde ser visto em recente exposição na Gulbenkian. O tema de uma mulher, mais raramente um homem, a ler é vulgar, quase um subgénero de interiores na pintura europeia de meados do século XIX. A escolha nada tem de ocasional, pois estamos no início do período áureo do romance, que irá prolongar-se até à I Guerra Mundial. Os antecedentes existem nas pinturas medievais e, já no século XIX, nas leitoras de Corot, no Charles Baudelaire, de Courbet, e em Deux Jeunes Filles Lisant, de Renoir.
E, no entanto, estes quadros surgem-nos hoje como alegorias da leitura, de quando esta se instalou na intimidade dos lares burgueses, permitindo uma atenção ao romance e à poesia que haveria de desaparecer na II Guerra Mundial. O corpo da jovem mulher desconhecida do quadro de Fantin-Latour forma um todo com o próprio livro, que parece pertencer-lhe tanto quanto ela lhe pertence.
O livro que segura percorreu já um longo caminho que se confunde com a própria leitura. Foi do texto escrito em papiros e dos pergaminhos de pele tratada de animais até ao livro tipográfico. É já este que surge na tela de Fantin-Latour com a leveza que permite segurá-lo no regaço e folheá-lo.
O acto desta leitora já pouco tem que ver com a solenidade que, pouco mais de um século antes, se podia encontrar em Le Philosophe Lisant de Chardin, de 1734, analisado por Steiner no início de Paixão Intacta. Nele o leitor surge em traje de cerimónia e de cabeça coberta, como é habitual em momentos solenes, alguém vestido para a ocasião, ou seja, para receber um importante convidado. Junto do filósofo há mesmo uma ampulheta para estabelecer o contraste entre a vita brevis do leitor e a ars longa do livro, neste caso um in-fólio encadernado. O livro surge como uma promessa de eternidade, tal como a celebrou por vez primeira Píndaro.
Em A Leitora de Fantin-Latour e em A Leitura de 1870, em que retrata a sua irmã Marie lendo sentada num cadeirão, há uma seriedade que nada tem de solene, há recolhimento mas adivinha-se que o silêncio pode ser interrompido pela chegada de um familiar ou uma tarefa doméstica. As roupas são as do dia-a-dia, o livro tornou-se um convidado habitual.
Na obra de Fantin-Latour há dois quadros de leituras, de 1860 e 1867, que nos falam de um vestígio do passo, leitura em voz alta, que só se tornaria invulgar em pleno século XX. Na primeira dessas telas vêem-se duas jovens sentadas numa mesa arredondada, onde há um vaso de flores roxas. À esquerda está Victoria Dubourg, futura mulher de Fantin-Latour. À direita a irmã, Charlotte Dubourg, uma mulher bela, que escuta com desatenção, como se se limitasse a acolher o som das palavras no seu próprio devaneio. Tem nos cabelos um lenço azul rendilhado e as mãos, um delas enluvada de preto, pousadas nos joelhos, posição canónica dos quadros da época.
A pintura de leitura em voz alta prolongou-se ainda na obra de Thomas Downing, que na sua tela A Leitura mostra duas jovens, uma delas lendo, em jeito informal, um livro pousado numa mesa ampla para uma companheira de elegante vestido amarelo que escuta com expressão impaciente.
Durante séculos a leitura foi praticada em voz alta, individualmente ou em grupo, muitas vezes em contextos culturais. Santo Agostinho referiu-se a Santo Ambrósio como o primeiro homem capaz de ler sem mover os lábios.


O espaço público

As leitoras dos interiores burgueses saídas do realismo pós-romântico de Fantin-Latour evoluíram para os espaços públicos, misturando-se com os sons da rua, esplanadas, cafés e transportes.
A mudança é já visível em Edward Hopper. Nos seus quadros, as leitoras, pois é ainda delas que se trata, surgem em posições informais, vestidas de modo prática e na exposição própria dos espaços públicos. Já não são jovens mulher que aguardam em casa dos pais, numa espécie de limbo, o casamento e os filhos, nem esposas entediadas cujo símbolo é madame Bovary. São mulher que viajam, frequentam hotéis e carruagens, trabalham fora de casa e têm pouco tempo disponível.
Em Quarto de Hotel, de 1931, uma mulher acabada de chegar a seu quadro e semidespida lê, sentada na borda da cama, aquilo que tanto pode ser uma carta como um prospecto de viagem.
Em Compartimento C, Carrugagem 193, de 1938, há uma mulher que, indiferente à paisagem que corre a seu lado, lê uma revista. É um espaço fechado, mas sem intimidade nem silêncio (há talvez outros passageiros e, em todo o caso, o som e os movimentos dos comboios em marcha).
Em Carruagem-Salão, pintado três décadas mais tarde, vemos uma mulher a ler, observada por outra passageira sentada diante dela. Perto, há pelo menos duas outras pessoas.
Assistimos aqui à leitura, em espaços públicos, repletos de ruídos. Desistindo da eternidade, os escritores aspiram agora ao «dure désir de durer», de que falava Éluard.


E agora?

Quase três séculos após Le Philosophe Lisant, século e meio depois das leitoras de Fantin-Latour e várias décadas depois dos quadros de Edward Hopper, os modos de leitura alteram-se sob o impulso da divulgação do livro de bolso a partir dos anos 50 do século XX, da alfabetização universal e da mudança dos hábitos que levou a uma redução do silêncio e do lazer. E, a partir dos anos 80, o advento da sociedade digital generalizou novos suportes para o livro.
O facto de a leitura se ter tornado menos atenta, as dificuldades dos jovens em imaginar a partir do alfabeto fonético e a perda de competências de memória levaram mesmo um Steiner desesperado a propor a criação de escolas de leitura criativa onde esta possa readquirir os níveis que tinha em finais do século XIX.
Nos dias que correm é frequente vermos leitores de livros de bolso que se desfazem dos seus exemplares nos aeroportos e estações e não em proveito de um qualquer bookcrossing. O viajante que vai apanhar o avião para duas semanas de férias no México considera a possibilidade de adquirir um leitor de e-books que lhe permitirá ter ao alcance da mão mais livros do que os que poderia levar na mala sem cair em excesso de bagagem. A leitura no metro é usada como isolamento dos companheiros de viagem ao fim de um entediante dia de trabalho. Nas praias surgem veraneantes debruçados sobre e-books contentes por não precisarem de segurar as páginas de papel contra o vento. iPods com mais de duzentos romances substituem os livros da mesa-de-cabeceira nas leituras que se fazem no sofá ou na cama, antes de adormecer.
Há já um milhão de leitores que usam o Sony Reader e o Kindle da Amazon e o seu número aumenta todos os dias. E em breve, por iniciativa do Google e da Amazon, muitos livros estarão disponíveis em todos os dispositivos móveis conectáveis à Net.
É previsível que, com a web 3.0 Semântica e a colocação de livros online, a leitura adquira uma tal mobilidade e interacção que deixará de estar associada a uma mesa e uma cadeira e mesmo a rostos debruçados sobre páginas em papel ou digitais.
A leitura fragmenta-se, move-se no interstício das actividades humanas, dispensa o silêncio e o isolamento, recorre aos mais variados suportes e está mais desatenta.
Longe das ilusões de Píndaro e Éluard, da eternidade e dos desejo de durar, a obra de um escritor sintonizado com este tempo contenta-se sem ser conhecida na sua geração e talvez lembrada na que vem a seguir.

14.1.10

Ana Teresa Pereira - Finalista do Prémio Literário Casino da Póvoa



O romance Verão Selvagem dos Teus Olhos de Ana Teresa Pereira é um dos dez finalistas para o Prémio Literário Casino da Póvoa.
O vencedor será anunciado no dia 24 de Fevereiro, na sessão pública de abertura do Correntes d'Escritas.
Os outros finalistas são: A Eternidade e o Desejo, Inês Pedrosa; A Mão Esquerda de Deus, Pedro Almeida Vieira; A Sala Magenta, Mário de Carvalho; Myra, Maria Velho da Costa; O apocalipse dos trabalhadores, valter hugo mãe; O Cónego, A. A. Pires Cabral; O Mundo, Juan José Millás; Rakushisha, Adriana Lisboa e Três Lindas Cubanas, Gonzalo Celorio.

5.1.10

Livros da Relógio D'Água nos Media (semana de 28 de Dezembro de 2009 a 3 de Janeiro de 2010)

No suplemento Actual do jornal Expresso de 31 de Dezembro de 2009 é feito o balanço editorial do ano. Entre os livros da Relógio D’Água são destacados Suttree de Cormac McCarthy (Ana Cristina Leonardo), A Lebre de Vatanen de Arto Paasilinna (José Guardado Moreira), A Confiança em Si, A Natureza e Outros Ensaios de Ralph Waldo Emerson (José Guardado Moreira), O Leilão do Lote 49 de Thomas Pynchon (José Mário Silva e Rogério Casanova) e A Pedra da Lua de Wilkie Collins (Luís M. Faria).

A editora com mais títulos escolhidos na década

Na revista Única do mesmo número do Expresso são escolhidos os dez livros internacionais e nacionais que marcaram a primeira década do século XXI.
Nos primeiros está A Estrada de Cormac McCarthy (em tradução de Paulo Faria publicada em 2007).
Dos dez livros nacionais são referidas três obras da Relógio D’Água, a saber: Lilias Fraser de Hélia Correia (2001), O Senhor de Herbais de Maria Gabriela Llansol (2002) e Portugal, Hoje – O Medo de Existir de José Gil (2004).
Com quatro obras mencionadas em vinte, a Relógio D’Água é, nesta escolha de José Mário Silva, a editora com mais obras referenciadas na década.

Relógio D’Água, editora do ano para Os Meus Livros

Na revista Os Meus Livros de Janeiro de 2010 a Relógio D’Água é considerada a editora do ano.

O nome da editora podia remeter para a qualidade constante das suas propostas, um catálogo assente em escolhas pautadas por um indiscutível conhecimento da Literatura, dando a conhecer todos os anos nomes ausentes das escolhas mais óbvias (como este ano foi o caso de John Franklin Bardin, Robert Walser, Alice Munro, Arto Paasilinna), ecoando fenómenos de culto (Slavoj Žižek, Cormac McCarthy) ou recuperando títulos imprescindíveis (“O Túnel” de Ernesto Sabato, ou a publicação gradual da obra de Freud). Nada disto impede a publicação de outros que já não são apostas, são certezas, como os ensaios de José Gil ou a poesia de Gonçalo M. Tavares. Tudo servido num grafismo, acima de tudo, coerente, identificável, eficaz, sem dispersão por infinitas colecções. Se há editoras que permanecem o rosto do seu editor, Francisco Vale, a Relógio D’Água é uma dessas casas. E é também a nossa escolha para Editora do Ano em 2009.
No mesmo número, Filipa Leal critica Com o Diabo no Corpo de Raymond Radiguet. «Escrito entre os 16 e os 20 anos, não ousou relatar as façanhas de um homem experiente, mas sim a vida interior do estudante rebelde cuja “idade desconhecia a insónia”».