29.2.16

Gonçalo M. Tavares na primeira página do Babelia




 

A primeira página do suplemento literário do El País de 27 de Fevereiro é dedicada a Gonçalo M. Tavares, com uma foto de Daniel Mordzinski, tirada na Muralha de Cartagena das Índias, Colômbia, durante a realização do Hay Festival.
O Babelia publica uma entrevista concedida por Gonçalo M. Tavares a Berna González Harbour. A jornalista escolheu para título «O fácil é perigoso», referindo a seguir que o escritor português «apaga tanto quanto escreve, para permanecer no essencial. Na vida, como na literatura, trata-se de dizer poucas vezes sim e muitas vezes não.»
Berna González Harbour descreve GMT e a sua obra nos seguintes termos:
«De carácter reservado, mas sempre alegre e mais desejoso de perguntar do que de responder, Tavares é um escritor peculiar, não só pelo seu estilo original e surpreendente, mas também porque enquadra os seus livros em projectos ambiciosos de longo curso, como quem forja uma genealogia de troncos e ramos prolíficos e importantes: é o caso da série El barrio, em que vai alojando os seus escritores preferidos e que a Seix Barral reuniu num livro com o mesmo nome; El reino, em que mergulha na natureza mais profunda do mal; a sua epopeia Viaje a la India, uma odisseia inteligente, divertida, rica e agradavelemnte densa sobre as andanças de um tal Bloom; a sua série Enciclopedia; e Canciones; além disso escreve poesia, ensaio, teatro, ensina Cultura e Pensamento Contemporâneo na Universidade de Lisboa e acumula prémios importantes, como o de melhor livro estrangeiro em França em 2010 com Aprender a rezar na era da técnica, um avassalador romance sobre a perversão do poder.»
Na mesma edição do Babelia, Alberto Manguel considera, a propósito da publicação em Espanha de Una niña está perdida en el siglo XX, pela Seix Barral, que «Tavares é um dos escritores mais ambiciosos deste século» e que «o seu novo livro é uma epifania memorável».

Camille Paglia entrevistada pelo Expresso



 

A ensaísta norte-americana Camille Paglia é entrevistada por Alexandra Carita no último suplemento E do Expresso.
Camille Paglia é uma das mais lúcidas analistas da sociedade norte-americana e das trajectórias das suas figuras públicas ligadas à literatura, à música e à arte em geral.
Como escreve Alexandra Carita, Paglia «é defensora de um movimento feminista muito próprio, que aceita o papel do homem e resonsabiliza a mulher por qualquer conduta inadequada à igualdade de géneros a que aspirou.
A autora afirma: «Sou uma feminista que defende a igualdade de oportunidades.Com isto quero dizer que exijo que sejam retiradas todas as barreiras existentes às mulheres em campos como a política e o mundo profissional. No entanto, oponho-me a uma protecção especial para as mulheres. Sou contra regras que permitam às raparigas, por exemplo nos campi universitários, queixarem-se do que acontece num encontro com um rapaz. Exijo que as mulheres tenham total reponsabilidade de si mesmas. Não acredito em proteções especiais quando alguém lhes diz alguma coisa ofensiva, a não ser que seja no domínio profissional. Acredito, sim, que as mulheres têm de falar por elas próprias e travar as suas batalhas.»



De Camille Paglia a Relógio D’Água editou Vampes & Vadias (Vamps & Tramps) e Personas Sexuais (Sexual Personae).

A chegar às livrarias: Estufa com Ciclâmenes, de Rebecca West (trad. de José Miguel Silva)



“Não existe percurso demasiado louco para que o ser humano não o possa adotar”, escreveu Rebecca West.
Este livro sobre os julgamentos dos nazis no pós-guerra é a contribuição da autora de O Regresso do Soldado sobre as consequências da loucura nacionalista da Alemanha. Em 1946, West foi encarregada pelo Daily Telegraph de escrever três artigos sobre os julgamentos de Nuremberg. A autora viajou para o local nesse mesmo ano para assistir à parte final dos processos britânicos e americanos.
No décimo primeiro mês de julgamentos, a autora descreve Nuremberga como uma cidade onde o tédio prevalece não apenas dentro do tribunal mas também fora dele, em cada casa, em cada rua.
Também aqui West revela um profundo interesse pela lei, assim como um fascínio pelos seus aspetos humanos e a vontade moral coletiva.
Estes ensaios confirmam a reputação de Rebecca West como uma das jornalistas políticas mais importantes do século XX.

Sobre Breves Notas sobre Música, de Gonçalo M. Tavares





«“A música é, de certa forma, muda em termos de linguagem.” Para GMT, esta mudez, mais do que uma limitação, é um desafio. Como apreender, com palavras, a intangibilidade da música? “Os sons não falam, existem como um elmento físico que aparece num instante e de imediato desaparece – como uma pedra que existisse, ocupasse espaço e tivesse peso mas somente durante um microssegundo – para logo a seguir desaparecer. Uma pedra efémera, eis o som; uma pedra momentânea, eis o som. E isso é estranho, claro.” As “breves notas” – argutas, desenvoltas, lapidares – representam um esforço para decifrar essa estranheza.» [José Mário Silva, Expresso, revista E, 27-02-2016]

26.2.16

Sobre Poderes da Pintura, de José Gil





«É importante notar que o que José Gil tenta descrever e compreender não são coisas virtuais ou potenciais provocadas pela pintura, mas movimentos reais realizados num espaço exterior, material, mundano, e não num lugar virtual criado por ocasião da experiência da arte. A premissa é que o nosso corpo é, de facto, afectado pela perceção da obras de arte: o corpo é percorrido e moldado, diz-nos Gil, por vibrações que atingem o corpo, desencadeando nele um devir-espaço. (…)
Este ensaio, breve mas de notável fôlego, termina com um capítulo dedicado à felicidade. A partir de uma importante citação de Paul Klee — é dito que a imagem artística não possui nenhuma utilidade especial e que o único objectivo que deve cumprir é o de nos tornar felizes. Sendo que a felicidade não é um somatório, mas é uma dilatação do corpo ao mundo de tal modo que não tem nenhum objecto mas transforma-se, como diz Gil, em prazer de existir. E esta abertura ao mundo é, simultaneamente, a condição de possibilidade da arte e o seu resultado.» [Nuno Crespo, Público, ípsilon, 26-2-2016]

Sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen





«Como sabemos, “os encontros que não se concretizam revestem-se de um carácter próprio. Perduram tal como estavam planeados.” A desilusão de Leopold será preenchida (talvez fantasiosamente?), na segunda e mais extensa das três partes do romance, por uma luminosa analepse, que nos fará recuar dez anos e avistar Karen, numa certa manhã de Abril, a bordo de um navio que demanda Cork. É a mãe de Leopold (ou virá sê-lo).
Leremos uma história breve, e finalmente trágica, de amantes com dinheiro mas infelizes. Magnificamente contada. Como se, no trânsito entre melancólicas estâncias balneares das duas margens da Mancha, Henry James desse a mão a Marguerite Duras.
Romance de chegadas e de partidas, de estranhamentos e ausências, de trânsitos e travessias, A Casa em Paris (publicado originalmente em 1935) lembra-nos que a vida passa “muito depressa, como uma peça de teatro sem intervalos”. Umas vezes faz-nos sentir como “um cão numa casa onde tudo está a ser encaixotado para mudança”. Outras, um “navio feliz por não ir a lado nenhum”.» [Mário Santos, Público, ípsilon, 26-2-2016]

Livros que deram Oscars



 


No último número da revista Estante, Tiago Matos assina um artigo sobre os Oscars, nomeadamente sobre filmes que venceram o prémio e se baseiam em livros, como Doze Anos Escravo (Solomon Northup), Este País não É para Velhos (Cormac McCarthy) ou Uma Mente Brilhante (Sylvia Nasar).
Entre os vencedores na categoria de Melhor Argumento Adaptado, estão alguns títulos publicados pela Relógio D’Água, como Um Quarto com Vista, Sensibilidade e Bom Senso, Ligações Perigosas ou Mataram a Cotovia.
Carol, de Todd Haynes, adaptado de um romance de Patricia Highsmith, está nomeado para Melhor Argumento Adaptado.

Sobre Mark Twain





«Tido como o pai do romance americano por nomes tão reputados como Ernest Hemingway e William Faulkner, Mark Twain passava já dos 40 anos quando escreveu As Aventuras de Tom Sawyer.
A memória não o traiu, contudo, ao recuperar as brincadeiras e superstições da sua infância. Na cena mais famosa do livro, é ordenado a Tom Sawyer que pinte uma longa vedação junto da sua casa. Aborrecido com a tarefa, decide fazer com que as crianças da vizinhança trabalhem por ele, convencendo-as de que se trata de uma brincadeira muito divertida. E não lhe chega que aceitem pintar por ele. Pelo privilégio de o fazer, ainda lhe devem pagar em berlindes, brinquedos e outros “tesouros”. Estes estratagemas divertiram o público do século xix, mas continuam a fazê-lo mais de um século depois. Autores como John Grisham recordam-nos com saudade: “Sempre que lia sobre o Tom Sawyer, saía para fazer qualquer coisa atrevida como ele.” Afinal, a escravatura pode ter sido abolida e os chapéus de palha podem ter saído de moda, mas as crianças continuam a ser crianças e a reconhecer-se não como seres perfeitos e angelicais mas como humanos com imperfeições e vontade própria.» [Tiago Matos, Estante, 8]

 
De Mark Twain, a Relógio D’Água publicou As Aventuras de Tom Sawyer, As Aventuras de Huckleberry Finn e Viagens de Tom Sawyer.

Hélia Correia sobre as suas leituras de infância





Hélia Correia, autora de Lillias Fraser e Adoecer, entre muitos outras obras, falou sobre as suas leituras de infância com a revista Estante. Aí pode ler-se:


«Das leituras infantis recorda, com agrado, as edições Romano Torres, através das quais conheceu Walter Scott e outros românticos ingleses, a coleção Biblioteca dos Rapazes – também existia a das Raparigas, mas Hélia e os amigos recusavam-se a lê-la – com títulos como As Viagens de Gulliver ou Robinson Crusoe, e a coleção Manecas. Os livros eram partilhados entre os amigos e transformados em brincadeiras. “Vivíamos as aventuras todas do Ivanhoe, dos cowboys. Não éramos miúdos a brincar aos cowboys, éramos miúdos a entrar dentro dos livros”, diz Hélia Correia. Na Ericeira, no verão, as leituras eram menos tentadoras, resumindo-se à coleção Azul, que incluía as obras da Condessa de Ségur, da biblioteca da madrinha. “Eu odiava a Condessa de Ségur”, lembra. O único título da coleção que recorda com agrado é A Princesinha, de Frances Burnett.» [Estante, 8]

25.2.16

Sobre Elena Ferrante





«O anonimato permite-me concentrar exclusivamente na escrita.» [Elena Ferrante, em entrevista a Deborah Orr, The Guardian, 19-02-2016]

 

A chegar às livrarias: Estufa com Ciclâmenes, de Rebecca West (trad. de José Miguel Silva)





“Não existe percurso demasiado louco para que o ser humano não o possa adotar”, escreveu Rebecca West.
Este livro sobre os julgamentos dos nazis no pós-guerra é a contribuição da autora de O Regresso do Soldado sobre as consequências da loucura nacionalista da Alemanha. Em 1946, West foi encarregada pelo Daily Telegraph de escrever três artigos sobre os julgamentos de Nuremberg. A autora viajou para o local nesse mesmo ano para assistir à parte final dos processos britânicos e americanos.
No décimo primeiro mês de julgamentos, a autora descreve Nuremberga como uma cidade onde o tédio prevalece não apenas dentro do tribunal mas também fora dele, em cada casa, em cada rua.
Também aqui West revela um profundo interesse pela lei, assim como um fascínio pelos seus aspetos humanos e a vontade moral coletiva.
Estes ensaios confirmam a reputação de Rebecca West como uma das jornalistas políticas mais importantes do século XX.

A chegar às livrarias: O Aroma do Tempo, de Byung-Chul Han (trad. de Miguel Serras Pereira)




Byung-Chul Han continua neste livro a sua abordagem filosófica de processos marcantes da sociedade atual, neste caso daquilo que considera ser uma crise temporal.
Segundo o autor germano-coreano, não estamos perante uma aceleração do tempo, mas sim de uma atomização e dispersão temporal, de uma dissincronia. É isso que faz com que qualquer instante pareça igual a outro e não exista nem um ritmo, nem um rumo, que confira significado às nossas vidas.
Numa constatação que tem que ver com as conceções de Zygmunt Bauman sobre a atual «sociedade líquida», Byung-Chul Han diz que tudo é vivido como efémero, sensação essa em que nós próprios estamos incluídos. É assim que a morte surge como um instante mais, prematuro e quase sempre sem sentido.
Tal como nas suas obras anteriores, de A Sociedade do Cansaço até A Agonia de Eros, aborda as causas dessa evolução e reflete sobre a possibilidade de a inverter. Para o filósofo, o final do tempo como duração narrativa não teria de implicar um vazio temporal. Existe, pelo contrário, agora a possibilidade de uma vida que prescinda da teologia e da teleologia e que apesar disso tenha um aroma próprio. Para isso seria necessário recuperar conceitos de Hannah Arendt, pois a crise temporal só poderá ser ultrapassada quando a vita activa acolher de novo a vita contemplativa.

23.2.16

Sobre Carol ou O Preço do Sal, de Patricia Highsmith




«O romance de Patricia Highsmith que deu origem ao filme Carol, que estreou esta quinta-feira em Portugal, chamou-se originariamente (caso alguém ainda não o tenha ficado a saber nos últimos tempos) The Price of Salt. (…) Publicado envergonhadamente sob pseudónimo (Claire Morgan) The Price of Salt, que Highsmith só assumiu publicamente em 1989, é talvez o seu melhor livro – certamente um dos melhores, um excepcional exercício literário sem idade.» [Miguel Freitas da Costa, Observador,4-2-2016]

22.2.16

Na morte de Umberto Eco



 


Como sabemos, Umberto Eco faleceu na passada sexta-feira aos 84 anos na sua casa de Milão de salas repletas de livros. Numa certa tradição renascentista, foi ao mesmo tempo vários coisas, semiólogo, linguista, escritor, professor universitário e jornalista.
Muitas são as homenagens que lhe têm sido prestadas. Desde as governamentais, de Matteo Renzi, Hollande e Mariano Rajoy, até às mais genuínas, dos seus amigos, de escritores e jornalistas. Mas a mais comovente de todas terão sido as rosas brancas depositadas pelos seus alunos em silêncio junto da sua casa.
Umberto Eco teorizou em Apocalípticos e Integrados o que viria a ser a sua posição na sociedade e na vida política, onde denunciou os poderes corrompidos e as opiniões feitas. Nunca quis ser um intelectual na tradição de Montaigne, Espinosa, Pascal ou Walter Benjamin. Apreciava os aspectos agradáveis da vida e esforçou-se por os obter. Sentia a urgência de intervir nos acontecimentos do seu tempo. Decidiu nem se integrar nos meios de comunicação nem deixar de os frequentar, desde que o pudesse fazer mantendo o espírito crítico.
Fez avançar a semiologia e tornou-nos melhores leitores, com obras como A Estrutura Ausente, Obra Aberta ou Lector in Fabula. Aplicou a semiologia a obras populares e até à banda desenhada, em ensaios como O Super-Homem das Massas.

 
 
 
 
Tornou-se autor de romances como O Nome da Rosa, O Pêndulo de Foucault, Baudolino, e vários outros, usando para isso os seus conhecimentos linguísticos e de estudioso de textos antigos e, em particular, medievais.
Manteve até ao fim o espírito crítico em relação aos meios de comunicação, como mostra Número Zero, o seu último romance publicado em vida (sabemos agora que tem uma obra inédita), e recentes declarações sobre as redes sociais.
De Umberto Eco a Relógio D’Água publicou Apocalípticos e Integrados e Sobre Literatura, e vai editar em breve Cinco Escritos Morais, O Super-Homem das Massas e Sobre os Espelhos e Outros Ensaios.
 
Francisco Vale

19.2.16

Na morte de Harper Lee





Publicamos Mataram a Cotovia há quatro anos. Os leitores portugueses têm reconhecido nela um livro ímpar sobre o crescimento de uma rapariga numa cidade de um Alabama racista e devastado pela Grande Depressão.
Este livro único e até certo ponto autobiográfico fará com que Harper Lee seja ainda lida e lembrada por muitas décadas. O que não impede que permaneça o mistério da sua vida e de um silêncio público que se prolongou até 2015, ou seja, por mais de cinquenta anos.
Esse silêncio foi poucas vezes interrompido por cartas e outros escritos. Em Julho de 2006, numa missiva a Oprah Winfrey, Harper Lee dizia: «Agora, setenta e cinco anos mais tarde, na sociedade da abundância onde as pessoas têm portáteis, telemóveis, iPods, e mentes que parecem quartos vazios, eu prefiro teimosamente os livros.»
 
 
Situado em Maycomb, uma pequena cidade imaginária do Alabama, durante a Grande Depressão, o romance de Harper Lee, vencedor do Prémio Pulitzer, em 1961, fala-nos do crescimento de uma rapariga numa sociedade racista.
Scout, a protagonista rebelde e irónica, é criada com o irmão, Jem, pelo seu pai viúvo, Atticus Finch. Ele é um advogado que lhes fala como se fossem capazes de entender as suas ideias, encorajando-os a refletirem, em vez de se deixarem arrastar pela ignorância e o preconceito.
Atticus vive de acordo com as suas convicções. É então que uma acusação de violação de uma jovem branca é lançada contra Tom Robinson, um dos habitantes negros da cidade. Atticus concorda em defendê-lo, oferecendo uma interpretação plausível das provas e preparando-se para resistir à intimidação dos que desejam resolver o caso através do linchamento. Quando a histeria aumenta, Tom é condenado e Bob Ewell, o acusador, tenta punir o advogado de um modo brutal.
Entretanto, os seus dois filhos e um amigo encenam em miniatura o seu próprio drama de medos, centrado em Boo Radley, uma lenda local que vive em reclusão numa casa vizinha.

Sobre Breves Notas sobre Música, de Gonçalo M. Tavares



 
«Em Breves Notas sobre Música, o autor reata o seu interesse pela pesquisa que se enlaça na prática da ciência. Algo que se torna sobremaneira premente quando se quebram as linhas das associações mais imediatas, e se suspendem as anáises mais asscoiativas, para interrogar em pleno espírito fantasioso: “Existirá, em suma, na música algo semelhante ao H2O?”
Estes textos de Gonçalo M. Tavares apresentam afinidades mais estreitas — e, porventura, mais interessantes — com o espírito vagueante e especulativo dos românticos alemães do que, por hipótese, com qualquer pretensão de cientificidade de um tipo mais contemporâneo. Porque não é esse o círculo em que o autor pretende mover-se. E, de facto, ele dirige os seus esforços de escrita rumo a exercícios de imaginação controlados pela permanência da escrita no campo de forças da disciplina musical.» [Hugo Pinto Santos, Público, ípsilon, 19-02-2016]

A chegar às livrarias: A Crisálida, de Rui Nunes






«Hoje, a violência já não está circunscrita aos territórios de caça, rodeados de arame electrificado. Coutadas. Há, por todo o lado, palavras de um sangue indiferente. E há o sangue. Os mapas tornaram-se frágeis e os mortos não têm um deus atrás que os receba:
mostra-se o carrasco vestido de carrasco e o lampejo da faca:
a morte é sempre antiquíssima:
homens ajoelhados, ou o tiro através do pára-brisas de um carro, ou uma rajada de metralhadora numa mercearia de bairro, ou bocados que geram bocados. Nem merda somos. A merda é ainda um sinal de vida. Somos a antecipação de um monte de carne, onde não pousam moscas nem abutres.»

18.2.16

A chegar às livrarias: O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë, com prefácio de Hélia Correia e tradução de Paulo Faria





«Poucas obras tiveram tempo de concepção tão prolongado como Wuthering Heights que, na verdade, deve ter nascido no dia em que nasceu Emily Brontë. Nunca entre um livro e o seu autor aconteceu maior intimidade, no sentido de um crescimento em pura simbiose.» [Hélia Correia]

«É como se Emily Brontë desfizesse tudo aquilo que conhecemos dos seres humanos e preenchesse essas transparências irreconhecíveis com um sopro de vida que faz com que elas transcendam a realidade.» [Virginia Woolf]

«Um livro diabólico — um monstro incrível… A ação tem lugar no inferno — mas parece que os lugares e as pessoas têm nomes ingleses.» [Dante Gabriel Rossetti]

 

Ao longo de 2016, a Relógio D’Água vai editar uma coleção de 35 Clássicos para Leitores de Hoje, a preços muito acessíveis, comemorando os anos decorridos desde a sua fundação em 1982.
O primeiro título é O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë, com tradução de Paulo Faria e prefácio de Hélia Correia.
Os próximos títulos serão O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald, A Abadia de Northanger de Jane Austen, e Candide ou O Otimismo, de Voltaire.
Seguem-se, ao ritmo de três títulos por mês, autores como Marcel Proust, Kafka, Tolstoi, Dostoievski, Turgueniev, Machado de Assis, Flaubert, Choderlos de Laclos, Shakespeare, Oscar Wilde, Jane Austen, Dickens, Montaigne, Gogol, Alain-Fournier, Voltaire, Mário de Sá-Carneiro, Stendhal, Tchékhov, Goethe, Virginia Woolf, Eça de Queirós, Joseph Conrad, Edith Wharton, Victor Hugo e Platão.

15.2.16

Todd Haynes considera sublime o Carol de Patricia Highsmith



 

Em entrevista a Francisco Ferreira no Expresso de 6 de Fevereiro, o realizador Todd Haynes considera que o livro Carol de Patricia Highsmith «é sublime». «Apaixonei-me por Carol imediatamente», acrescenta.
Todd Haynes refere que se trata do «único [livro] de Patricia Highsmith que não é um policial, [sendo], no entanto, uma história de amor proibida, estão lá a angústia e o medo do criminoso que receia ser apanhado».
Todd Haynes refere que, para fazer o filme, procurou aproximar-se da «experiência dela, que teve muitas namoradas e sempre asumiu, de uma forma discreta mas aberta, a sua homossexualidade. O meio literário em que se moveu também a protegia. Não posso esquecer a influência da argumentista Phyllis, também ela lésbica. E se acrescentar a isto a minha própria experiência de homossexual assumido, sinto-me autorizado a filmar esta história de amor diferente das outras.»
No entanto, à insistência de se «Carol é realmente uma história de amor diferente das outras?», o entrevistado é cauteloso. «Sim e não. E eu espero que este “sim” e este “não” se misturem a um ponto tal que já não os podemos destrinçar. A Therese daqueles anos 50 não sabe sequer escolher as palavras que descrevem o amor que está a viver. Ela não tem uma imagem, um exemplo de duas mulheres amantes que a levem a dizer-se: “Eu também sou assim.” Ela está perdida. A única coisa que a preocupa é saber se o seu amor é correspondido. Ora, esta é uma preocupação universal, homo e hetero. Quando nos apaixonamos, ficamos num estado de incerteza e de ansiedade. Ficamos à mercê de não sabermos o que é que a outra pessoa sente por nós. Conseguir fixar isto, para mim, era o mais importante.»
Quando surgiu no início dos anos 50 numa América puritana e conservadora, Carol fez com que Patricia Highsmith recebesse durante anos milhares de cartas de mulheres norte-americanas que lhe agradeciam.
 
 
E como é habitual acontecer com um cinéfilo, Todd Haynes reconhece o talento de uma autora que viu sete dos seus romances adaptados ao cinema, por realizadores como Alfred Hitchcock (O Desconhecido do Norte Expresso), Wim Wenders (O Amigo Americano), Anthony Minghella (O Talentoso Mr. Ripley), e agora Todd Haynes (Carol).

 

12.2.16

A chegar às livrarias: Pensar em Números, de Daniel Tammet (trad. de José Lima)




 

Pensar em Números é o livro que Daniel Tammet, prodígio em matemática, nasceu para escrever. No mundo de Tammet os números são divertidos e a matemática ilumina as nossas vidas e mentalidades. Através de exemplos do dia a dia e referências históricas e literárias, Tammet partilha connosco o seu conhecimento ímpar dos números, frações e equações que sustentam a nossa vida.

“É um livro irresistível e cativante que aumenta a admiração que sentimos pela mente de Tammet e pela sua abrangente visão de um mundo fundamentado nos números.” [Oliver Sacks] 

“Uma experiência estética e cinética que expande a nossa mente. A matemática poética de Tammet é um guia cativante para o modo como pensamos a vida e o amor.” [Amy Tan]

“Sempre informativo e divertido, Daniel Tammet nunca perde o respeito pelo mistério que é o universo dos números.” [J. M. Coetzee]

“Intrigante, provocador — lutar com os números deste modo é uma aventura.” [Lydia Davis]

Mataram a Cotovia na Broadway




A obra que valeu um Pulitzer a Harper Lee teve uma adaptação cinematográfica em 1962 (de Robert Mulligan) e em 2017 deverá estar em cena na Broadway.
O musical terá produção de Scott Rudin e o texto será adaptado por Aaron Sorkin. O trabalho final poderá ainda subir a outros palcos dos Estados Unidos, do Reino Unido e do resto do mundo.

11.2.16

Tetralogia de Elena Ferrante na televisão





A empresa italiana Wildside, produtora de televisão e cinema, e a produtora Fandango (também responsável pela adaptação televisiva de Gomorra, de Roberto Saviano) anunciaram a adaptação da tetralogia de Elena Ferrante à televisão.
A Relógio D’Água acaba de publicar o quarto volume, História da Menina Perdida.
A notícia pode ser lida aqui.

10.2.16

A chegar às livrarias: Os Irmãos Wright, de David McCullough (trad. de Helena Briga Nogueira)



 

Vencedor de dois Prémios Pulitzer, David McCullough conta-nos a dramática história dos irmãos que ensinaram o mundo a voar.

Num dia de inverno em 1903, nas Outer Banks em Carolina do Norte, dois irmãos desconhecidos do Ohio — Wilbur e Orville Wright — mudaram a história do mundo. Uma nova era havia começado com o primeiro voo de avião mais pesado do que o ar e com um piloto a bordo.
Longe de serem apenas mecânicos de bicicletas de Dayton, os irmãos Wright eram homens de excecional habilidade, determinação e com um longo espectro de interesses intelectuais, que sempre atribuíram ao modo como foram criados. Cresceram sem eletricidade ou canalização, mas rodeados de livros, fornecidos essencialmente pelo pai. E nunca pararam de aprender, assim como Katharine, a sua irmã, que sobre eles exerceu uma enorme influência.
Quando os irmãos trabalhavam juntos nenhum problema era insuperável. Wilbur, o mais velho, era sem dúvida um génio. Orville possuía um invulgar talento mecânico. Nada os demovia da sua “missão”, nem falhanços, nem o ridículo, nem mesmo o facto de colocarem a vida em risco cada vez que descolavam numa das suas invenções experimentais.
Neste emocionante livro, o historiador David McCullough recorre ao espantoso espólio dos irmãos Wright, incluindo diários, cadernos de anotações, e mais de mil cartas da correspondência familiar, de modo a mostrar com exatidão o lado humano desta história.

8.2.16

Sobre O Amigo Comum, de Charles Dickens





«Depois de História em Duas Cidades e David Copperfield, entre outros, a Relógio D’Água prossegue a publicação de algumas das obras mais significativas de Charles Dickens, um dos grandes clássicos da literatura universal, nome de referência do realismo inglês do século XIX. Inicialmente um folhetim, O Amigo Comum foi publicado em livro em 1865 e é o seu último romance completo.» [JL, 20-01-2016]

Sobre A Casas das Sombras e outras histórias, de Ana Teresa Pereira




«Neste volume reúne-se, assim, a série completa das casas, o que inclui A Casa dos Penhascos, A Casa da Areia, A Casa dos Pássaros, A Casa das Sombras e A Casa do Nevoeiro. Em comum, têm não só os protagonistas, mas também o diálogo com outras obras literárias e a ideia de espaço habitado por fantasmas. “A tarde parecia arrastar-se. As nuvens baixas, o frio, o nevoeiro, tinham invadido a baía”, lê-se a certa altura. “Estavam cercados pelas montanhas e o mar, longe do mundo. A Mónica pensou pela centésima vez que aquele lugar era um pouco assustador.”» [JL, 20-01-2016]

5.2.16

Ficção, Ensaio e Filosofia na RA em 2016





(fotografia de Pedro Cunha)
A ficção continua a ter em 2016 um lugar destacado na Relógio D’Água, mas haverá uma particular atenção às colecções de filosofia, ensaio e economia.
Na narrativa em língua portuguesa, há romances de Hélia Correia (Um Bailarino na Batalha), de Rui Nunes (A Crisálida), de Alexandre Andrade (O Leão de Belfort), de Ana Teresa Pereira (Correntes Subterrâneas) e uma novela de Jaime Rocha (Escola de Náufragos).


Do outro lado do Atlântico, chegam Todos os Contos de Clarice Lispector (reunidos e apresentados pelo seu biógrafo Benjamin Moser) e o romance O Que os Cegos Estão Sonhando? de Noemi Jaffe.
Na ficção traduzida inicia-se a publicação de escritores chineses contemporâneos a partir da língua original, começando por Yu Hua.
De Elena Ferrante sairão A Praia da Noite e Fragmentos e de Knausgård novos volumes da sua autobiografia e dois dos ensaios que fazem parte do ciclo Outono, Inverno, Primavera, Verão. Trata-se de dois autores opostos no que se refere à exposição da sua vida privada. Apesar disso, Ferrante é publicada na Noruega pela editora que Knausgård fundou.


O romance de Marlon James, A Brief History of Seven Killings, que venceu o Booker de 2015, será lançado em finais de Maio. De Kate Atkinson sairá Um Deus em Ruínas, que recebeu o Costa Award em 2015. De Dave Eggers teremos Um Holograma para o Rei e O Círculo, que vão ter adaptações cinematográficas, de Tom Tykwer e de James Ponsoldt. Com versão cinematográfica igualmente prevista, neste caso de Ridley Scott, sairá O Cartel de Don Winslow.
Teremos ainda obras de Carson McCullers (Coração, Solitário Caçador e A Balada do Café Triste), de Nabokov (O Dom), de Iris Murdoch (O Sino), de Sylvia Plath (A Campânula de Vidro), de Philip K. Dick (O Homem do Castelo Alto e Do Androids Dream of Electric Sheep?), além dos últimos livros da série Ripley de Patricia Highsmith e Orange Is the New Black, de Piper Kerman.
De Rebecca West será publicado Estufa com Ciclâmenes, uma histórica reportagem dos julgamentos de Nuremberga.


Os clássicos, ou seja, as obras que sucessivas gerações de leitores vão fazendo suas, ocupam um lugar de destaque, com o lançamento da colecção 35 Clássicos para Leitores de Hoje, comemorativa da fundação da RA em 1982. Há ainda a tradução de Nina e Filipe Guerra de Evguéni Onéguin de Aleksandr Púchkin, de Os Miseráveis de Victor Hugo (tradução de Júlia Ferreira e José Cláudio), e de Norte e Sul de Elizabeth Gaskell (traduzido por Frederico Pedreira).
A RA publicará ainda obras fundamentais na área da filosofia de José Gil, Sloterdijk, Bertrand Russell e Byung-Chul Han (O Aroma do Tempo).
Destacamos ainda novos ensaios de António Barreto, George Steiner, Maria Filomena Molder, Steven Pinker, com o monumental Os Anjos Bons da Nossa Natureza, Umberto Eco e antologias de George Orwell e de Chesterton (esta última escolhida e prefaciada por Alberto Manguel).
Na Ciência teremos Pensar os Números de Daniel Tammet e Para Além das Palavras: O Que os Animais Pensam e Sentem de Carl Safina.
A colecção Temas de Economia prossegue com A Economia como Desporto de Combate de Ricardo Paes Mamede, O Euro, a Europa e Outros Textos (título provisório) de Ricardo Reis, A Casa da Dívida de Atif Amian e Amir Sufi e uma antologia de Keynes.
Nas obras de actualidade, temos A Nova Odisseia de Patrick Kingsley, sobre os refugiados na Europa, As Várias Faces do Anonymous de Gabriella Coleman, e ainda Gratidão, que reúne os últimos textos de Oliver Sacks.
Será também relançada a colecção Viagens, com autores como Octavio Paz, Durrell, Virginia Woolf, Stevenson, e continuará a bom ritmo a de Poesia, Universos Mágicos e Livros de Bolso.
Os leitores da RA poderão ainda aceder em breve, através de um site renovado, aos mais de 1500 títulos da editora.

Sobre Aquário, de David Vann





«Essa rotina é uma introdução maravilhosa para a história que David Vann conta e a forma como expõe a rotina nas primeiras páginas torna Aquário uma leitura de rajada e de que não se consegue sair. É uma fórmula que dá um conforto inicial e que após o primeiro terço do livro desaparece para dar lugar a uma história de compreensão e perdão, que envolve não só o presente de Caitlin e da sua mãe, mas também o passado desta. (…)
A tradução de José Lima é exemplar na forma como permite que a escrita de David Vann flua sem solavancos nos seus diferentes momentos, entre o fantástico, o implacável e uma ternura fascinante que por vezes deixa o leitor boquiaberto e o força a regressar umas páginas atrás para viver novamente certos momentos (mesmo quando a vontade é a de andar para a frente).» [André Santos, Time Out, 3-2-2016]

4.2.16

A chegar às livrarias: O Mais Cruel dos Meses, de Louise Penny (trad. de Inês Dias)





Quando o inspetor-chefe da Sûreté du Québec Armand Gamache é chamado à aldeia de Three Pines, depara com um cenário de crime invulgar. Uma sessão espírita realizada numa casa velha e abandonada acabou por se revelar uma experiência terrível e inesperada. O resultado é o corpo de um aldeão, imóvel, assustado pela morte, como se a sua alma lhe tivesse sido retirada.
Gamache rapidamente se apercebe de que na idílica aldeia de Three Pines nem tudo é como deveria. Há segredos tóxicos enterrados, e algo de fétido e putrefacto conseguiu escapar do solo.
O próprio Gamache tem algo a ocultar… um segredo que oculta da sua equipa para poder protegê-la…


«Desde Agatha Christie que esperamos por uma aldeia perfeita, tocada pela morte. Three Pines é essa aldeia.» [Globe and Mail]

«Um deleite para todos nós que apreciamos ficção policial.» [Reginald Hill]

«Gamache é um herói complexo e cativante, destinado a tornar-se um clássico.» [Kirkus Reviews]

3.2.16

Sobre Tudo O Que Sobe Tem de Convergir, de Flannery O'Connor




«Precisamente por isso, talvez a melhor maneira de escrever uma recensão sobre Tudo o Que Sobe Tem de Convergir (obra que a escritora disputou à morte e que é agora re-editada, posfaciada e traduzida de forma excelente por Rogério Casanova) não seja fazendo breves e necessariamente superficiais comentários sobre cada um dos nove contos integrados no livro mas antes prestando atenção a um só desses textos, procurando nele não apenas os aspectos centrais e mais recorrentes na obra de Flannery O’Connor mas também os motivos para o espanto e admiração que sentimos diante do que deixou escrito. Olhemos, portanto, para “As Costas de Parker”, o penúltimo e mais extraordinário conto de Tudo o Que Sobe Tem de Convergir.» [João Pedro Vala, Observador, 18-01-2016]

1.2.16

Sobre Karl Ove Knausgård





«Uma das afirmações mais repetidas para falar da obra do escritor norueguês Karl Ove Knausgård (Oslo, 1968) é a de que representa um dos mais originais e arriscados projectos literários. A Minha Luta, iniciada com a publicação de A Morte do Pai (Relógio D’Água 2014), é uma memória ficcionada em seis volumes – um total de 3500 páginas na versão original – que desafia muitas regras – éticas, inclusive –, narrada num tom realista e onde o seu autor se expõe, e aos que o rodeiam, sem qualquer espécie de complacência (…) A Ilha da Infância, terceiro volume de A Minha Luta, conheceu recentemente edição em Portugal, depois de A Morte do Pai, o primeiro, e de Um Homem Apaixonado, o segundo, e está a acontecer por cá algo semelhante ao que se passa um pouco por todos os países onde os livros estão a ser traduzidos: os leitores dividem-se entre os que se deixam arrebatar e os que sentem aversão. A meia medida, ou o gosto morno, não se ajusta a A Minha Luta.» [Isabel Lucas, Público, ípsilon, 29-01-2016]