29.6.23

«Aforismos» de Agustina Bessa-Luís e «Natureza Urbana» de Joana Bértholo Vão Ser Publicados em Espanha e no Brasil

 


O livro «Aforismos», de Agustina Bessa-Luís, prefaciado por Paulo Tunhas, vai ser publicado em Espanha por La Umbria y la Solana, que editou obras de outros autores portugueses, como Hélia Correia.
«Natureza Urbana», de Joana Bértholo, sairá na editora Dublinense, no Brasil, que já editou «Ecologia».

28.6.23

Sobre Stella Maris, de Cormac McCarthy

 


«“Acabou-se o tempo”, diz-se no fim de alguns capítulos de “Stella Maris”, segunda parte do díptico que o quase nonagenário Cormac McCarthy publicou em 2022, meses antes de morrer. Em ambos livros o tempo é um assunto, como é para toda a gente, e mais ainda para quem está no fim do seu tempo. Os protagonistas do díptico são os irmãos Bobby e Alicia Western, que em meados dos anos 60 viveram um amor incestuoso não consumado. Ambos são fisicamente atraentes, intelectualmente geniais, socialmente imprestáveis, mentalmente perturbados. Mas enquanto “O Passageiro”, o livro de Bobby, articula diferentes registos descritivos e triviais, num caos fascinante, “Stella Maris”, o livro de Alicia, assume um tom sofisticado e uniforme: não há uma linha que não seja a conversa articuladíssima entre a rapariga, esquizofrénica, e um psiquiatra do hospício Stella Maris, onde ela se internou depois da morte cerebral do irmão.» 


Pedro Mexia, em «E», do «Expresso» (2023-06-24)


Esta e outras obras de Cormac McCarthy estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/cormac-mccarthy/ 

25.6.23

Sobre História da Sexualidade I — A Vontade de Saber, de Michel Foucault

 



«Diz-se que durante muito tempo teríamos suportado, e suportaríamos ainda hoje, um regime vitoriano. A imperial beata falsa figuraria no brasão da nossa sexualidade, refreada, muda, hipócrita.

Ao que se diz, ainda no início do século XVII era corrente uma certa franqueza. As práticas não procuravam o segredo; as palavras diziam-se sem reticências excessivas e as coisas sem demasiado disfarce; havia com o ilícito uma familiaridade tolerante. Os códigos do grosseiro, do obsceno, do indecente, eram bem frouxos, comparados com os do século XIX. Gestos directos, discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias mostradas e facilmente misturadas, crianças atrevidas vagabundeando sem embaraço nem escândalo no meio dos risos dos adultos: os corpos ostentavam-se.

A esta plena luz ter-se-ia seguido um rápido crepúsculo até às noites monótonas da burguesia vitoriana. A sexualidade é então cuidadosamente aferrolhada. Transfere-se. A família conjugal confisca-a e absorve-a inteiramente na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo, faz-se silêncio.» [p. 9]


História da Sexualidade I — A Vontade de Saber (trad. Pedro Tamen) e outras obras de Michel Foucault estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/michel-foucault/

Sobre Na Penúria em Paris e em Londres, de George Orwell

 



«É bastante curioso, o primeiro contacto que travamos com a pobreza. Pensámos sempre muito, para começar, acerca da pobreza — foi ela o que tememos durante toda a vida, aquilo que sabíamos que nos iria acontecer mais tarde ou mais cedo; mas quando acontece é completamente diferente, na sua configuração absolutamente prosaica. Pensávamos que ia ser muito simples; mas é extraordinariamente complicado. Pensávamos que ia ser terrível; é apenas sórdido e aborrecido. É a extraordinária baixeza da miséria o que se descobre de início; os expedientes que implica, a mesquinhez intrincada, o poupar dos cotos de vela.»


Na Penúria em Paris e em Londres (tradução de Miguel Serras Pereira) e outras obras de George Orwell estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/george-orwell/

24.6.23

Sobre Recordações da Casa dos Mortos, de Fiódor Dostoievski

 



Em Recordações da Casa dos Mortos, Dostoievski narra a sua experiência de cinco anos de prisão siberiana. Ele fora preso em Abril de 1849 e condenado à morte por actividades contra o governo como membro do Círculo Petrashevski. A 22 de Dezembro, colocado diante de um pelotão de fuzilamento, viu a ordem de execução comutada no último momento por trabalhos forçados na Sibéria.

Os acontecimentos são contados do ponto de vista de Aleksandr Petróvitch Goriántchikov, que assassinou a mulher no primeiro ano de casamento e vai descrevendo as conversas, experiências e sentimentos dos outros presos. Dostoievski fala da perda de liberdade, da solidão, do frio, dos trabalhos forçados e do carácter daqueles com quem conviveu, que, apesar de criminosos, descreve com humanidade, demonstrando admiração pela sua energia, engenhosidade e talento. Isto apesar dos seus ódios, astúcias, falta de escrúpulos e delações.

A vida na prisão é particularmente dura para Aleksandr Petróvitch, mais educado e sensível do que a maioria dos outros detidos. Dostoievski conclui que a existência de prisões como aquela, com as suas práticas administrativas e os cruéis castigos corporais, é um facto trágico tanto para os prisioneiros como para a Rússia. É como se previsse também o gulag dos tempos de Estaline, que viria a ser narrado, entre outros escritores, por Varlam Chalamov nos Contos de Kolimá.


Recordações da Casa dos Mortos (trad. António Pescada) e outras obras de Fiódor Dostoievski estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/fiodor-dostoievski/

Sobre O Sol dos Mortos, de Ivan Chmeliov

 



«Se Fiódor Dostoiévski alertou profeticamente, no seu romance Demónios, sobre o perigo da calamidade global preparada pelos ideólogos do “paraíso na terra”, se Evguéni Zamiátin e George Orwell criaram as suas antiutopias satíricas, modelos do mundo desumanizado de acordo com as receitas teóricas e as sinistras experiências práticas que conheciam, escritores russos como Ivan Chmeliov, Ivan Búnin, Isaac Bábel, Vassíli Grossman criaram obras que são crónicas vivas, testemunhos factuais da pavorosa concretização da “grande experiência” de transformação política e social na Rússia, levada a cabo pelo partido bolchevique.» [Da Introdução]


O Sol dos Mortos (trad. Nina Guerra e Filipe Guerra) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-sol-dos-mortos/

23.6.23

Sobre Homens em Tempos Sombrios, de Hannah Arendt

 



Nascida na Alemanha, em 1906, Hannah Arendt viveu os tempos sombrios das duas guerras mundiais.

Aluna de Heidegger e Jaspers, formou-se em Heidelberg, mas teve de deixar o seu país após a chegada dos nazis ao poder, tendo-se fixado nos EUA, onde viria a falecer em 1975.

Foi entretanto reconhecida como uma das figuras mais importantes do pensamento político contemporâneo e da filosofia do século xx.

Os textos aqui reunidos são análises biográficas de homens e mulheres tão diferentes como Lessing, Hermann Broch, João XXIII, Rosa Luxemburgo, Brecht, Karen Blixen e Walter Benjamin.

No seu conjunto, são uma reflexão apaixonante sobre o comportamento e o papel desses homens e mulheres a quem foi dado viver em tempos sombrios.


Homens em Tempos Sombrios (trad. Ana Luísa Faria) e outras obras de Hannah Arendt estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/hannah-arendt/

Sobre Três Homens num Barco, de Jerome K. Jerome

 



«Lembro-me apenas de me sentir muito jovem e absurdamente contente comigo mesmo, por razões que só a mim dizem respeito. Era Verão, Londres é belíssima no Verão. Sob a janela eu tinha uma cidade de fadas coberta por um véu dourado de neblina, pois o local onde trabalhava era muito alto, acima das chaminés; à noite as luzes brilhavam ao fundo, e eu olhava lá para baixo como se estivesse a olhar para a caverna das jóias de Aladino. Foi nesses meses de Verão que escrevi este livro; pareceu-me ser a única coisa que podia fazer.» [Jerome K. Jerome]


Três Homens num Barco (trad. Luísa Feijó) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/tres-homens-num-barco-pre-venda/


Sobre O Outono em Pequim, de Boris Vian

 



O romance O Outono em Pequim é de 1947, o mesmo ano em que Vian escreveu A Espuma dos Dias. Publicado pela primeira vez nas Éditions du Scorpion, o livro contém elementos surrealistas.

A Pequim que surge no título não é literal. Os protagonistas têm em comum dirigirem-se a um deserto imaginário chamado Exopotâmia, onde está em construção uma estação de comboios. A narrativa começa com as peripécias de Amadis Dudu, que, não tendo conseguido apanhar o autocarro para ir trabalhar, acaba a bordo do 975, que o leva a esse deserto. Esse acaso revela-se frutuoso para Amadis.

O Outono em Pequim é uma narrativa de desilusão do mundo adulto, construído sobre o absurdo da sociedade industrial. Mas é também, tal como A Espuma dos Dias, uma história de amor sem esperança.

O narrador detém por vezes deliberadamente o desenrolar da história para comentar o que se está a passar. E é esse seu olhar irónico que evidencia os aspectos absurdos do romance.


O Outono em Pequim (trad. Luiza Neto Jorge) e outras obras de Boris Vian estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/boris-vian/

22.6.23

Sobre Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy

 



Meridiano de Sangue baseia-se em acontecimentos históricos ocorridos na fronteira entre os EUA e o México, em meados do século XIX. O autor subverte as convenções do romance e a mitologia do «Oeste selvagem» para narrar a violência da expansão americana, através da personagem do juiz Holden, que nunca dorme, gosta de dançar, viola crianças dos dois sexos e afirma que não há-de morrer.


“Meridiano de Sangue… é claramente, a meu ver, o maior feito estético da literatura americana contemporânea.” [Harold Bloom, The New York Observer]


“Um romance clássico americano de regeneração pela violência. McCarthy pode apenas ser comparado com os nossos escritores maiores, com Melville ou Faulkner, e este livro é a sua obra-prima.” [Michael Herr]


“McCarthy é um escritor a ler, a admirar e, sinceramente, a invejar.” [Ralph Ellison]


“O estilo de McCarthy segue a melhor tradição sulista, um estilo que funde uma eloquência ousada com ritmos intricados e uma precisão extrema.” [The New York Times]


Meridiano de Sangue e outras obras de Cormac McCarthy (tradução de Paulo Faria) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/cormac-mccarthy/

Sobre A Arte de Ter sempre Razão, de Arthur Schopenhauer

 


“Com Hegel, a dialéctica atinge o seu perfil filosófico mais elevado. Schopenhauer […] replica com uma operação de força igual e contrária, e redu-la ao mínimo, considerando-a a arte de ter razão, a ‘teoria de arrogância humana natural’. Operação que, de um ponto de vista filosófico, é provavelmente menos profunda, mas que acaba por se revelar mais bem adaptada às mudanças dos tempos, porque Schopenhauer não liga a dialéctica a uma filosofia, mas à própria condição do homem enquanto animal dotado de palavra, quer dizer […], enquanto ser a quem os deuses deram a palavra para que possa ocultar o seu pensamento.” [Franco Volpi]


Redigido em Berlim em 1830–31, A Arte de Ter sempre Razão foi publicado em 1864.


A Arte de Ter sempre Razão (tradução de Fernanda Mota Alves) e O Mundo Como Vontade e Representação —Volume I (tradução de António Sousa Ribeiro) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/arthur-schopenhauer/

Sobre Tempos Emocionantes, de Naoise Dolan

 



Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Tempos Emocionantes, de Naoise Dolan (tradução de Carla Morais Pires)


Tempos Emocionantes é um romance intimista e inteligente sobre uma jovem irlandesa que se envolve num triângulo amoroso com um banqueiro e uma advogada. Ava chegara a Hong Kong vinda de Dublin e ensinava inglês a crianças de famílias ricas. Julian é um banqueiro que gosta de fazer sexo com Ava e discutir com ela mercados financeiros. Edith é uma advogada de Hong Kong ambiciosa que deseja Ava e lhe oferece tulipas.

Politicamente atento, divertido, mas pungente e áspero, Tempos Emocionantes é um livro que mergulha nas incertezas das modernas relações amorosas.


Nomeado para o Women’s Prize for Fiction.


Brevemente uma série de televisão Amazon, com Phoebe Dynevor (Bridgerton).


“Extremamente divertido e malvado.” [Zadie Smith]


“Comovente e poderoso.” [The Guardian]


“Um livro impecável.” [Colm Tóibín]


“Extremamente fluido e intuitivo.” [The New Yorker]


Naoise Dolan é uma escritora irlandesa nascida em Dublin. Estudou Literatura Inglesa no Trinity College de Dublin e na Universidade de Oxford. Vive atualmente em Londres. Tempos Emocionantes é o seu romance de estreia e foi publicado um excerto na revista The Stinging Fly.


Tempos Emocionantes é editado com o apoio da @literatureireland.

Mais informação em https://relogiodagua.pt/produto/tempos-emocionantes-pre-venda/

Papa recebe 200 artistas de todo o mundo, incluindo Gonçalo M. Tavares

 




O Papa vai receber amanhã um grupo de cerca de 200 artistas contemporâneos, incluindo sete portugueses, entre eles Gonçalo M. Tavares, num encontro que assinala o 50.º aniversário da inauguração da coleção de arte moderna e contemporânea dos Museus do Vaticano.

“A audiência, que acontecerá na Capela Sistina, faz parte de uma série de encontros papais dedicados aos artistas, cujo primeiro ato data de 1964, quando Paulo VI pediu para renovar a amizade entre a Igreja e os próprios artistas”, indica uma nota enviada à Agência ECCLESIA pelo Dicastério para a Cultura e a Educação (Santa Sé), dirigido pelo cardeal português D. José Tolentino Mendonça.

Os artistas portugueses convidados pelo Papa são o cantor e compositor Pedro Abrunhosa, a arquiteta Marta Braga Rodrigues, os artistas plásticos Joana Vasconcelos e Vhils, o escultor Rui Chafes e os escritores José Luís Peixoto e Gonçalo M. Tavares.

Mais informação em https://agencia.ecclesia.pt/portal/vaticano-papa-recebe-200-artistas-de-todo-o-mundo-incluindo-sete-portugueses/


As obras de Gonçalo M. Tavares editadas pela Relógio D’Água estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/goncalo-m-tavares/

21.6.23

Sobre A Guarda Branca, de Mikhail Bulgákov

 



Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: A Guarda Branca, de Mikhail Bulgákov (tradução do russo de António Pescada)


Estamos em 1918. A Revolução Russa terminou, mas a Ucrânia está em plena guerra civil e, em Kiev, os irmãos Turbin preparam-se para lutar pela Guarda Branca depois da morte da mãe. Nas ruas, há uma atmosfera de inebriante caos, bebe-se vodca, toca-se guitarra, as pessoas apaixonam-se. 

Mas o novo regime prepara-se para vencer e o seu triunfo será a destruição dos Turbin e do seu mundo.


A Guarda Branca e Margarita e o Mestre, de Mikhail Bulgákov (tradução de António Pescada), estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/mikhail-bulgakov/

Sobre Os Maias, de Eça de Queirós

 



Eça de Queirós foi o maior romancista português de sempre e Os Maias é a sua principal obra.

É certo que Jorge Luis Borges celebrou a sua novela O Mandarim como um magnífico conto fantástico e que Harold Bloom viu na ironia de A Relíquia a obra mais original do autor.

Mas a verdade é que sucessivas gerações de leitores e de críticos foram redescobrindo Os Maias como uma obra-prima, um livro sobre os costumes portugueses da época, mas sobretudo como um romance que encerra em si uma tragédia, a impossibilidade de um amor, tendo como pano de fundo um país em que o autor reconhece a impossibilidade das mudanças que o tornem europeu.

Os Maias foram escritos ao longo de oito anos e publicados em 1888. A revisão final foi feita no n.º 23 de Ladbroke Gardens, no bairro londrino de Notting Hill, quando Eça era cônsul em Bristol.

Após a publicação de Os Maias, surgiram na imprensa críticas desencontradas. Uma das mais negativas foi de Fialho de Almeida, autor de Contos e de A Cidade do Vício, que é reproduzida nesta edição, bem como a resposta que Eça lhe deu.


Os Maias e outras obras de Eça de Queirós estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/eca-de-queiros/

20.6.23

Sobre Os Inquietos, de Linn Ullmann

 



Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Os Inquietos, de Linn Ullmann (tradução do norueguês de João Reis)


Os Inquietos é um livro sobre as conversas e recordações que a narradora preservou do seu pai, o realizador e encenador Ingmar Bergman.

Ela era a mais nova de nove filhos. Todos os verões, quando era ainda rapariga, visitava-o na sua casa de pedra rodeada de bosques e papoilas, na remota ilha de Fårö, no mar Báltico, onde ele procurara refúgio nos seus últimos anos de vida.

Quando se tornou adulta, ele era já um velho. Bergman considerou a hipótese de escrever um livro sobre os seus últimos anos, porque receava perder a memória e a lucidez. Tentaram escrevê-lo em conjunto. Ela fazia as perguntas e ele respondia, já com dificuldade.

Sete anos depois da morte de Bergman, Linn Ullmann encontrou coragem para escutar as gravações que fizera e preencher as lacunas com as suas memórias, recriando a história do seu pai, da sua mãe e de si própria.

Os Inquietos é uma elegia sobre a memória e a perda, a identidade e a arte, e também sobre a linguagem e as narrativas que compõem uma vida. E aceita que «não se pode saber muito sobre a vida das outras pessoas, em especial dos próprios pais».


«Uma história familiar tocante e maravilhosa.» [Lydia Davis]


«Há muito que admiro a ficção de Ullmann. Os Inquietos é a sua obra-prima.» [Claire Messud]


«Um livro belíssimo sobre a emoção e a arte da memória.» [Siri Hustvedt]


Linn Ullmann, nascida em Oslo, é autora de seis romances, todos eles premiados, publicados em cerca de trinta línguas.

Os Inquietos, considerado um clássico moderno na Noruega, foi durante vários anos um dos livros mais vendidos na Escandinávia.

Ullmann vive atualmente na capital norueguesa.


Mais informação em https://relogiodagua.pt/produto/os-inquietos-pre-venda/

19.6.23

Traduções por Inteligência Artificial (IA) Chegam a Portugal sem Se Fazer Anunciar

 

Neste momento circulam em Portugal, nas livrarias, em feiras do livro ou na companhia de alguns jornais, centenas de milhares de exemplares de clássicos ingleses, franceses, alemães, italianos ou russos traduzidos com recurso a programas de inteligência artificial (IA), do Google Translate ao ChatGPT, passando pelo DeepL.

Isto verifica-se sem qualquer indicação, perante o desconhecimento dos leitores, a indiferença de jornalistas e críticos literários e o alheamento das associações de tradutores ou da SPA. O processo está a provocar uma acentuada regressão editorial com a divulgação de traduções primárias, insípidas, insensíveis a contextos e subtilezas linguísticas, que tendem a sobrepor-se a textos de enorme qualidade elaborados nas últimas décadas por Paulo Quintela, Aníbal Fernandes, Maria Teresa Dias Furtado, João Barrento, Paulo Faria, Sara Seruya, Margarida Periquito, Margarida Vale de Gato, Vasco Graça Moura, António Pescada, Nina Guerra e Filipe Guerra e António Sousa Ribeiro, entre outros.

Tudo indica que um dos principais agentes desta situação seja a Book Cover Editora, que tem publicadas centenas de clássicos de diversas línguas, o mais das vezes com preços de cerca de 5 euros.

À primeira vista trata-se de uma oferenda aos leitores — clássicos a preços acessíveis.

Mas na verdade a Book Cover é uma esfinge com alguns mistérios.

Todos os seus livros, excepto a série de Conan Doyle, são traduzidos por Lúcia Nogueira, a tradutora mais eficiente do planeta. Só em 2023 aparece na ficha técnica como tradutora de dezenas de obras, entre elas Guerra e Paz, com as suas mais de mil páginas, e outros romances volumosos. Nos últimos dois anos e meio terá traduzido cerca de oitenta clássicos, muitos deles extensos, como Os Miseráveis, E Tudo o Vento Levou ou Vinte Mil Léguas Submarinas.

Qualquer editor sabe que mesmo tradutores a tempo inteiro e com larga experiência são incapazes de traduzir mais de 10 a 15 páginas por dia, o que a incansável Lúcia Nogueira parece fazer antes do pequeno-almoço, seja a partir do inglês, do alemão, do italiano, do cirílico russo e em breve talvez do mandarim ou grego antigo.

As fichas técnicas da Book Cover não indicam o título original nem a língua de que se traduz, nem o nome de revisores.

O mundo está cheio de maravilhas e não se pode excluir a possibilidade de Lúcia Nogueira ser um prodígio, uma supersónica poliglota, que, mesmo sem traduzir a tempo inteiro — segundo o LinkedIn, trabalhou na Booktailors e é agora assistente editorial na Porto Editora —, consegue diariamente passar a um português sofrível várias dezenas de páginas de clássicos.

Mas é muitíssimo mais provável que se trate de uma tradutora experimentada em tecnologias de tradução automática, que começaram no Google Translate, evoluindo para a tradução neuronal do DeepL e, mais recentemente, o ChatGPT. Lúcia Nogueira deve limitar-se a fazer uma revisão que corrige alguns dos erros mais graves da tradução automática já mencionados por alguns dos seus leitores e sem que, em geral, possa cotejar o texto com o original. Na verdade, ficam numerosas gralhas, erros ortográficos e gramaticais, confusão de Acordos, termos brasileiros e outras incongruências (ver críticas de leitores da Book Cover Editora no Google ou comparar páginas das traduções de António Pescada ou Nina Guerra e Filipe Guerra de Guerra e Paz com as de Lúcia Nogueira).

Outra hipótese, menos provável por exigir que se escrevam os textos ao computador, é a de que dirija uma equipa de tradutores/revisores que usam o inglês, o que deveria ser referido e individualizado.

Nada há de ilegal nesta actividade. O problema é que infringe regras editoriais elementares, a começar pela indicação das línguas de partida e dos programas de IA utilizados ou dos tradutores implicados. Além disso, a medíocre qualidade dos resultados leva a um retrocesso em relação aos avanços conseguidos desde os anos 60 do século passado, quando foi possível começar a traduzir autores ingleses, alemães e russos, não a partir do francês, mas das línguas originais, tornando acessíveis aos leitores portugueses as subtilezas dos estilos de Shakespeare, Virginia Woolf, Tolstoi, Goethe ou Dostoiévski.

Claro que o recurso às traduções automáticas permite realizar economias. Mas estas não são suficientes para explicar os preços da Book Cover, que recorre também a grandes tiragens, associando-se a alguns jornais. Estes, que são muitas vezes exigentes com as traduções nas suas secções literárias, aceitam tudo o que lhes é oferecido nessas parcerias, feitas em geral através dos seus serviços comerciais e perante a desatenção das direcções editoriais. 

Não se pode excluir que alguns tradutores recorram em parte a programas de tradução automática para executarem fases do seu trabalho, o que em qualquer dos casos deverá ser indicado nas fichas técnicas. Mas a ocultação do seu uso como instrumento principal ou quase exclusivo de tradução, que transforma os tradutores em meros revisores, não pode ser ignorada. É, por isso, estranho que críticos de diferentes órgãos de informação não comparem algumas páginas dos livros de que falam com os textos originais, pelo menos nos casos em que conhecem a língua de partida.

O próprio ChatGPT, que se afirma capaz de traduzir Guerra e Paz do russo para português, reconhece a sua incapacidade para elaborar uma obra literária significativa. Algo de semelhante se passa com as traduções dos clássicos, que têm sempre aspectos criativos, estando longe de se resumirem a um jogo de correspondências mais ou menos lineares entre diferentes línguas. 

Afinal, os vários programas, do Google Translate ao ChatGPT, apenas podem gerar textos que são o agregado de todos os textos que digerem, indo muitas vezes buscar soluções a tradutores humanos sem que o rasto dessa utilização ou plágio seja controlado.


Francisco Vale

Sobre Pensamentos, de Marco Aurélio

 



«Este livro, todo tecido de reflexões pessoais, tem radículas nos autores gregos bem assimilados — em Platão, em Homero, nos trágicos —, todos sobriamente citados, nunca para mostrar erudição, sempre para sublinhar a meditação pessoal de um homem dobrado ao íntimo. Era, sim, da estirpe de Epicteto e de Pascal este homem que de tão alto viu o “desconcerto do mundo” e abriu, sem mais candeia que a luz da consciência acesa em pavio estóico, um tão nobre caminho nas sombras da vida. Nunca como nele se equivaleram palácio e choupana aos olhos de um meditador. A misantropia crepuscular escorre do pensamento da morte, da brevidade da vida, da fugacidade de prazeres e honrarias. […] Mas que um imperador cumulado de riquezas e com mão desimpedida para a sacudir arbitrariamente por entre injustiças e vinganças se recolha à cela íntima e aí entorne, num canhenho de reflexões, a essência da própria alma — deve mover-nos a espanto e pena.» [Do Prefácio de João Maia]


Pensamentos, de Marco Aurélio (tradução e prefácio de João Maia), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/pensamentos-3/

Sobre Pensamentos, de Blaise Pascal

 



«Pascal oferece muito sobre que o mundo moderno faria bem em pensar. E de facto, por causa da sua combinação e equilíbrio únicos de qualidades, não sei de nenhum escritor religioso mais pertinente para o nosso tempo. Os grandes místicos, como São João da Cruz, são em primeiro lugar para leitores com um objectivo especialmente determinado; os escritores devotos, como São Francisco de Sales, são em primeiro lugar para aqueles que já se sentem conscientemente desejosos do amor de Deus; os grandes teólogos são para os interessados em teologia. Todavia, não consigo pensar em nenhum autor cristão, nem mesmo Newman, que mais do que Pascal devesse ser recomendado àqueles que duvidam, mas que têm a capacidade intelectual para conceber e a sensibilidade para sentir a desordem, a futilidade, a ausência de sentido, o mistério da vida e do sofrimento, e que apenas conseguem encontrar paz através da satisfação de todo o ser.» [Da Introdução de T. S. Eliot]


Pensamentos, de Blaise Pascal (trad. Miguel Serras Pereira), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/pensamentos-2/

Sobre Peter Pan, de J. M. Barrie

 



«Todas as crianças crescem, excepto uma. Rapidamente percebem que hão-de crescer, e foi do seguinte modo que Wendy percebeu: um dia, a brincar no jardim, quando tinha dois anos, colheu mais uma flor e correu com ela para junto da mãe. Imagino que devia estar linda de se ver, porque a Sra. Darling levou a mão ao peito e exclamou: «Oh, porque é que não podes ficar assim para sempre!» Nada mais disseram uma à outra sobre o assunto, mas daí em diante Wendy soube que teria que crescer.»


Peter Pan, de J. M. Barrie (tradução de Ana Luísa Faria), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/peter-pan/

18.6.23

Sobre O Doente Inglês, de Michael Ondaatje

 



No final da Segunda Guerra Mundial, numa villa italiana transformada em hospital de campanha, um irreconhecível aviador inglês, com o corpo queimado, absorve as atenções de Hana, uma jovem enfermeira a quem a guerra arrebatou a família e os sonhos.

As suas companhias são Caravaggio, um ladrão e aventureiro italo-canadiano de mãos estropiadas, e um jovem sikh ao serviço do exército britânico e cujo trabalho é a desminagem.

É uma atmosfera fora do mundo, onde cada um vai revelando pouco a pouco os seus segredos, à medida que os ecos da guerra se esbatem na distância.

Mas o mais misterioso é aquele homem queimado, ligado à enfermeira por um estranho vínculo, e que é ao mesmo tempo um enigma e uma provocação para os que o rodeiam. As suas recordações de traição, dor e salvação iluminam a narrativa como estilhaços de luz.


«O Doente Inglês consegue uma tripla proeza: é profundo, belo e apaixonante.» [Toni Morrison]


«Mais do que um romance, é um tapete mágico que nos transporta através de épocas e geografias […] uma cativante rede de sonhos extraordinários.» [Time]


Este livro obteve o Man Booker Prize em 1992 e o Golden Man Booker em 2018.


O Doente Inglês (tradução revista de Ana Luísa Faria) e outras obras de Michael Ondaatje estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/michael-ondaatje/

Sobre Os Buddenbrook, de Thomas Mann

 



Os Buddenbrook, publicado quando o autor tinha vinte e seis anos, é um dos melhores primeiros romances alguma vez escritos e influenciou a atribuição do Nobel de Literatura ao autor em 1929.

A obra acompanha a vida de quatro gerações dos Buddenbrook, uma próspera família de comerciantes no Norte da Alemanha, que tem várias características em comum com a do próprio autor.

No romance desfilam vivências da burguesia alemã entre nascimentos e funerais, casamentos e separações, ambições e rivalidades, êxitos e crises. A chegada da modernidade acompanha o declínio moral e económico da família.


Os Buddenbrook (trad. Ana Falcão Bastos) e outras obras de Thomas Mann estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/thomas-mann/

17.6.23

Sobre A Estrela da Manhã, de Karl Ove Knausgård

 



«A Estrela da Manhã é o primeiro romance de um anunciado conjunto de cinco — dos quais três já foram publicados na Noruega; são romances autónomos mas que têm em comum, até agora, reflexões sobre a condição de sermos mortais e ainda traços de ambiente pré-apocalíptico. Neste que inaugura o ciclo, a história (as histórias) é contada, à vez, por nove narradores (como alguém reparou, de maneira irónica, nenhum se chama Karl Ove, mas todos têm a sua voz). São narrativas de vidas comuns angustiadas, por vezes também irritadas ou zangadas.

Para quem leu os volumes de A Minha Luta, porventura estranhará este pelo piscar de olho que faz aos romances góticos e do género de terror, ou mesmo por incursões no caminho do fantástico. Mas depressa reconhecerá características estilísticas do autor norueguês, como as descrições pormenorizadas de cenas da vida doméstica, o prosaico continua a encher muitas páginas com um ritmo que por vezes ameaça tornar-se hipnótico; há ainda a capacidade de Knausgård de manter presa a atenção do leitor, desta vez introduzindo elementos extraordinários ou mesmo sobrenaturais (que actuam, para os narradores e para o leitor, como presságios de algo grave que estará para acontecer): desde centenas de caranguejos que atravessam uma floresta perto do mar, atapetando uma estrada, a pássaros com escamas, ou ainda a suposta ressurreição de um homem que se cruza com uma das narradoras. As coisas eram o que eram.» [José Riço Direitinho, Ípsilon, Público, 16/6/2023]


A Estrela da Manhã (tradução de João Reis) e outras obras de Karl Ove Knausgård estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/karl-ove-knausgard/

Sobre O Retrato de Casamento, de Maggie O'Farrell

 



«Maggie O’Farrell  leva o seu tempo. Não se precipita. O desenvolvimento psicológico é coerente, bem urdido e enleante. 

Eis um dos grandes méritos da escritora irlandesa em “O Retrato de Casamento”: 

A excelência na criação de empatia entre leitor e personagem. 

Consegue-o mantendo o equilíbrio entre descrições da realidade da corte, do vestuário, dos hábitos, sem qualquer presunção, com o desenvolvimento emocional das personagens. 

Não é tarefa fácil, mas a escritora confirma o que já havia demonstrado em romances anteriores. […]

Estamos na corte, entre tapeçarias e pinturas, palavras em surdina e arranjos nos bastidores. Caminhamos com Lucrezia. 

Maggie O’Farrell procurou e encontrou o equilíbrio entre contexto histórico e psicologia. Mais uma vez.» [Mário Rufino, Comunidade Cultura e Arte, 10/6/2023: https://comunidadeculturaearte.com/o-retrato-de-casamento-de-maggie-ofarrell-a-infancia-em-morte-rapida/?fbclid=IwAR34G_yyyKM6GHG7vEqM96hhM58_xO3mPCmr1hImjOyVHHJLbNeW4LSopig]


O Retrato de Casamento (trad. Inês Dias) e Hamnet (trad. Margarida Periquito) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/maggie-ofarrell/

Sobre As Pessoas Felizes, de Agustina Bessa-Luís

 



«As relações entre homens e mulheres estão no centro do mundo agustiniano. Em 1974, já muito tinha mudado sem que os revolucionários soubessem. Mas Agustina sabia. E as suas personagens também. Umas eram ou pensavam que eram pessoas felizes. Outras, porque já sabiam que as coisas tinham mudado, viviam inquietas e inseguras. A protagonista deste romance, Nel, é uma mulher que não é feliz do mesmo modo que os outros, homens e mulheres, mas que quer ser feliz, para o que terá de deixar de ser aquilo a que estava destinada. Há qualquer coisa de premonitório neste romance. Pelos costumes das pessoas, pelos sentimentos, pelas relações entre parentes e familiares, percebe‑se que já muita coisa mudou ou está em mudança antes mesmo de a revolução acontecer. A revolução, aliás, é o coroar de um processo de mudança, mais do que o seu começo. Em algo de essencial, de fundamental, isto é, nos sentimentos, as coisas já eram diferentes antes de 1974.» [Do Prefácio de António Barreto]


As Pessoas Felizes e outras obras de Agustina Bessa-Luís estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/agustina-bessa-luis/

16.6.23

Sobre O Príncipe Negro, de Iris Murdoch

 



O Príncipe Negro é uma história de amor. Mas como seria de esperar de Iris Murdoch é, ao mesmo tempo, um emocionante thriller intelectual, uma meditação sobre arte, o amor e deus.

Bradley Pearson, o narrador, é um escritor com um «bloqueio». Rodeado de amigos e familiares vorazes – a sua ex-mulher e o cunhado delinquente, a irmã, um escritor de sucesso mais novo, Arnold Baffin, bem como a sua esposa – Bradley procura escapar a esse cerco social para escrever a obra da sua vida.

O seu fracasso dá origem a um clímax violento e a um final que coloca tudo numa nova perspectiva.


O Príncipe Negro (trad. José Miguel Silva) e outras obras de Iris Murdoch estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/iris-murdoch/

Peter Sloterdijk em entrevista a Luciana Leiderfarb, no Expresso

 



«Foi há 40 anos que escreveu a “Crítica da Razão Cínica”, segundo ele uma “fenomenologia das piadas inerentes à condição humana”, que permanece vigente na sua definição do cinismo como um cair das máscaras da verdade humana. Foi também autor de obras que desafiam até ao extremo a leitura e o pensamento, como “Tens de Mudar de Vida”, “Depois de Deus”, “Cólera e Tempo”, “O Estranhamento do Mundo” (Relógio D’Água), as “Regras para o Parque Humano” (Angelus Novus) e a trilogia “Esferas” (a sua magnum opus, não traduzida para o português), entre muitas outras. é um dos mais importantes filósofos vivos, nascido em Karlsruhe em junho de 1947, nos escombros do pós-guerra alemão, formado em Munique e doutorado em Hamburgo, admirador de Nietzsche, fenomenólogo e polemista acidental, admirado por Jürgen Habermas, e depois por este violentamente criticado, criador de conceitos como “esfera”, “antropotécnica” ou “coimunidade”.

[…]

LL — Soa perturbador — o homem criar os dispositivos técnicos que por sua vez o criam —, mas, com o advento da inteligência artificial, não poderia ser mais atual.


PS — Claro que é perturbador, mas é o modo como vivemos: o nosso estado nunca foi exatamente “natural”. No início perguntava-me para que serve a filosofia. A inclinação par aa filosofia é — sempre foi — uma espécie de doença rara. E está ligada a uma alergia específica contra as explicações simples e as conversas repetitivas. A repetição é legítima, mas não pode substituir o esforço de pensar. No fundo, filosofa-se graças a uma condição alérgica contra tudo o que está automatizado — mental, emocional e politicamente. A proposição central e última (e primeira) da filosofia é: “Isto não pode ser assim tão simples.”» [E, Expresso, 16/6/2023]


Crítica da Razão Cínica (tradução de Manuel Resende) e outras obras de Peter Sloterdijk estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/peter-sloterdijk/

Sobre O Marinheiro de Gibraltar, de Marguerite Duras

 



«Era uma vez um homem que não era feliz. Tinha uma mulher que não lhe agradava e um trabalho que lhe causava horror. […]

[Um dia,] quando se sentia muito infeliz, encontrou uma mulher de grande beleza, que tinha muito dinheiro e um barco. Ela percorria os mares em busca do marinheiro de Gibraltar. Quem é o marinheiro de Gibraltar? É a juventude, o crime e a inocência, um homem simples, o mar, as viagens. Um homem que ela amou e que desapareceu, que está talvez morto ou se esconde.

Ele encontrou-a. Gostam um do outro. Ele teve a coragem de decidir sobre a sua vida. É livre. Não tem um cêntimo. Ela contrata-o para o seu navio. Ele vai ajudá-la a procurar o marinheiro de Gibraltar. Partem.»


O Marinheiro de Gibraltar (tradução de Isabel St. Aubyn) e outras obras de Marguerite Duras estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/marguerite-duras/

Sobre Sobre a Leitura, de Marcel Proust

 



“Talvez não haja dias da nossa infância que tenhamos vivido tão plenamente como aqueles que cremos ter deixado sem os viver, aqueles que passámos com um livro preferido. Tudo o que os preenchia para os outros, era por nós afastado como um vulgar obstáculo perante um prazer divino: o jogo para o qual um amigo vinha buscar-nos na passagem mais interessante, a abelha ou o raio de sol perturbadores que nos forçavam a levantar os olhos da página ou a mudar de lugar, as provisões da merenda que nos tinham obrigado a trazer e que deixávamos ao nosso lado no banco, sem lhes tocar, enquanto, por cima da nossa cabeça, o sol ia perdendo força no céu azul, o jantar que nos obrigara a voltar para casa e durante o qual só pensávamos em subir de novo as escadas para acabarmos, logo a seguir, o capítulo interrompido.”


Ler era, para Proust, mais do que a procura de conhecimento, uma atividade espiritual, um meio de se transformar e transcender. Ao lermos os grandes romances, afirma, entramos em contacto com ideias fantásticas e as mentes mais inspiradoras do mundo.


Sobre a Leitura (trad. Miguel Serras Pereira), os volumes de Em busca do Tempo Perdido (trad. Pedro Tamen) e Os Prazeres e os Dias (trad. Manuel João Gomes) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/marcel-proust/

Sobre Ulisses, de James Joyce

 



Ulisses é um romance de referências homéricas, que recria um dia de Dublin, a quinta-feira de 16 de Junho de 1904, o mesmo em que Joyce conheceu Nora Barnacle, a jovem que viria a ser sua mulher.

Nesse único dia e na madrugada que se lhe seguiu, cruzam-se as vidas de pessoas que deambulam, conversam, tecem intrigas amorosas, viajam, sonham, bebem e filosofam, sendo a maior parte das situações construídas em torno de três personagens. A principal é Leopold Bloom, um modesto angariador de publicidade, homem traído pela mulher, Molly, e, de modo geral, o contrário do heróico Ulisses de Homero.

Joyce começou a escrever esta obra em 1914, recorrendo às três armas que dizia restarem-lhe, «o silêncio, o desterro e a subtileza».

Depois de várias dificuldades editoriais, Ulisses seria publicado pela Shakespeare & Company, em Paris, em 1922, no dia de aniversário de Joyce.


«Mais do que a obra de um só homem, Ulisses parece de muitas gerações […]. A delicada música da sua prosa é incomparável.» [J. L. Borges, James Joyce, 1937]


«As grandes obras em prosa do século xx são, por esta ordem, o Ulisses de Joyce; A Metamorfose de Kafka; Petersburgo de Béli, e a primeira metade do conto de fadas Em Busca do Tempo Perdido de Proust.» [Vladimir Nabokov]


Ulisses (trad. Jorge Vaz de Carvalho) e outras obras de James Joyce estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/james-joyce/

15.6.23

Sobre O Ofício de Viver, de Cesare Pavese

 



«Ninguém se mata pelo amor de uma mulher. Matamo-nos porque um amor, não importa qual, nos revela a nós mesmos na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado inerme, no nosso nada.» [Cesare Pavese]


«O diário de Pavese é ao mesmo tempo uma técnica poética e um modo de estar no mundo.» [Italo Calvino]


«O diário teve uma primeira publicação, póstuma, em 1952, mutilado de algumas partes, constituídas essencialmente por nomes de pessoas e por palavras, frases ou inteiros parágrafos de conteúdo demasiado íntimo e eventualmente chocante, em que o autor exprime em termos muito fortes, grosseiros ou mesmo obscenos, o seu profundo desespero e impotência perante os reveses da sua vida sentimental, perante a sua dificuldade de relacionamento com o sexo oposto. Todas as partes então censuradas estão incluídas na presente edição, constituída pelo texto integral, tal como Pavese o registou no seu diário.

Dado como encerrado pelo autor cerca de uma semana antes da morte, e por ele próprio assinalado pelos limites cronológicos 1935–1950, constitui, assim, a evidência da trágica decisão consciente e antecipadamente tomada (…)» [Da Introdução]


O diário de Pavese foi encontrado depois da morte do autor numa pasta verde, na qual estava escrito a lápis vermelho e azul: «Il Mestiere | di Vivere | di | Cesare Pavese».


O Ofício de Viver, de Cesare Pavese (trad. Alfredo Margarido e Margarida Periquito), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-oficio-de-viver/

De Ofício de Vésperas, de Rui Nunes

 



«não procures a palavra: há muito o escrivão

a destruiu com o aço do aparo e a aguada

tinta dos ofícios; há muito o rigor burocrático

afastou dela um rosto, e o som que te dizia

é agora um ruído no papel, o metal de uma frase

interrompido» [p. 7]


Ofício de Vésperas, Neve Cão e Lava e outras obras de Rui Nunes estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/rui-nunes/