«A História da
Menina Perdida [é] o quarto e último
título da série napolitana. Depois da infância, adolescência e primeiros anos
da idade adulta, estamos na maturidade de Elena Greco — Lenù — a narradora, e
de Raffaella Cerullo — Lila ou Lina —, a amiga por quem sente tanta admiração e
afecto, ciúme e rivalidade, uma amizade “magnífica e tenebrosa” e que um dia
desapareceu, querendo apagar qualquer traço da sua própria existência. O
cenário de tudo isso é Nápoles, um barro pobre de Nápoles que funcionava como
uma mordaça, uma amarra. Mesmo que Lenù tenha saído, fugindo de um destino tido
como natural, mas que via como condenação, instigada a ter sucesso pela amiga
Lila que tanto a elogia como a humilha. Lila era a rapariga de quem se esperava
tudo. Astuta, inteligente, aventureira, sem objectivo. Lenù, a estudiosa,
metódica, insegura, decidida a ser escritora. Lila nunca quis ir. Lenù nunca
quis outra coisa. Saiu, voltou com sucesso, mas foi-se definindo tanto em
oposição a Nápoles como a Lila, num processo de permanente atracção e repulsa,
dividida entre a escrita e a maternidade, entre a ambição individual e o que se
espera de uma mulher. Ou entre querer ser alguém e nunca conseguir separar-se
do laço umbilical face ao bairro, a Lila. Escreve sobre um e sobre outra e
vai-se definindo. E esta saga será essa escrita, fantasia e realidade num jogo
que ultrapassa a própria literatura, mas que na literatura surge assim: “Eu
própria não consigo acreditar. Terminei esta história que me parecia que nunca
mais terminava. Terminei-a e reli-a pacientemente, não tanto para melhorar a
qualidade da escrita, como para verificar se pelo menos numa ou noutra linha
era possível encontrar a prova de que Lila entrara no meu texto e resolvera dar
o seu contributo para a sua redenção.”» [Isabel Lucas, Público, ípsilon,
25-3-2016]
31.3.16
30.3.16
Lançamento de A Economia como Desporto de Combate
O mais recente livro de Ricardo
Paes Mamede, A Economia como Desporto de
Combate, vai ser lançado no próximo dia 7 de Abril, às 18h00, na Sociedade
de Geografia de Lisboa, na Rua das Portas de Santo Antão, n.º 100, em Lisboa.
A obra será apresentada por
Sandra Monteiro e Pedro Nuno Santos.
Ricardo Paes Mamede doutorou-se
em Economia pela Universidade Luigi Bocconi (Milão) e licenciou-se em Economia
pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, onde
obteve também o grau de mestre em Economia e Gestão de Ciência e Tecnologia.
Actualmente é professor de
Economia Política do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, onde lecciona
desde 1999 nas áreas da Economia e Integração Europeia, da Economia Sectorial e
da Inovação, e das Políticas Públicas. É também investigador do Dinâmia'CET,
Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território.
É co-autor de A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes
(Tinta-da-China, 2013), co-organizador do livro Structural Change, Competitiveness and Industrial Policy: Painful
Lessons from the European Periphery (Routledge, 2014) e autor de O Que Fazer Com Este País (Marcador,
2015). Escreve no blogue Ladrões de
Bicicletas.
Sobre A Carta de Lord Chandos, de Hugo von Hofmannsthal
«Publicada em 1902,
esta carta fictícia em que Lorde Chandos se dirige a Francis Bacon,
explicando-lhe a razão de já não conseguir escrever, é uma das mais poderosas
reflexões sobre os limites da linguagem. Num subtil jogo de espelhos,
Hofmannsthal projeta do aristocrata do século XVII as suas próprias angústias e
dúvidas sobre o poder da literatura. Na sua extraordinária concisão, este texto
é uma obra-prima absoluta.» [Expresso, E, 26-3-2016]
29.3.16
A Economia como Desporto de Combate, de Ricardo Paes Mamede
A Economia como
Desporto de Combate reúne uma seleção de textos publicados pelo autor no blogue
Ladrões de Bicicletas, entre abril de
2007 e dezembro de 2015. O início deste período coincide com a emergência da
“crise do subprime” nos EUA. Aquilo que
parecia inicialmente ser um problema circunscrito a um segmento do mercado
americano de crédito à habitação cedo se transfigurou
numa recessão mundial de grandes proporções. Seguiu-se a crise de financiamento
dos Estados nas periferias da UE, com impactos sociais profundos e duradouros
em Portugal. A recente desaceleração ou mesmo inversão do crescimento das
chamadas economias emergentes revela que o ciclo de crises ainda não terminou.
À medida que os eventos se sucediam, teve lugar um debate
alargado e fundamental sobre as suas causas e consequências – e sobre como lhes
reagir. Os textos reunidos no livro dão conta desse debate partindo de uma
perspetiva crítica das ideias económicas dominantes, tendo bem presentes as
suas implicações para o futuro de Portugal, da União Europeia e da economia
global.
A chegar às livrarias: Sobre os Espelhos e Outros Ensaios, de Umberto Eco
Sobre os Espelhos e Outros Ensaios é uma antologia de textos ocasionais, escritos entre 1972 e 1985.
Começaram por ser conferências, prefácios e debates, tendo em comum a questão
da representação, da ilusão e da imagem.
Umberto Eco considera a representação nas suas
variadas formas — o espelho, o teatro, a escrita, o sonho — e é a partir daí
que aborda o problema da representação na arte, desde a ficção científica ao
mundo imaginário da prosa narrativa e da poesia. As suas análises desembocam em
questões mais gerais, como o método nas ciências humanas, na filosofia do jogo
e nas teorias da comunicação.
«(…) Não tento», escreve Eco na Nota Introdutória,
«apresentar estes textos como capítulos, rigorosamente coordenados, de um
discurso coerente. Penso é que podem ser encarados como uma galáxia de
observações não totalmente desconexas, entre as quais o leitor poderá
estabelecer as ligações que lhe parecerem oportunas.»
28.3.16
A chegar às livrarias: Cinco Escritos Morais, de Umberto Eco (trad. José Colaço Barreiros)
Este livro reúne cinco ensaios em que Umberto Eco reflete sobre
questões candentes do nosso tempo.
Como afirma o próprio autor, são ensaios «de caráter ético, ou seja,
dizem respeito ao que seria conveniente fazer-se, ao que não se deveria fazer e
ao que não se pode fazer sob pretexto algum».
«Pensar a Guerra» analisa as diferenças entre as guerras atuais e as
do passado.
«O Fascismo Eterno» chama a atenção para as aparências por
vezes inócuas que as ideologias de tipo fascista assumem nos nossos dias.
«Sobre a Imprensa» é uma abordagem dos atuais problemas da informação
escrita, muitas vezes a reboque de outros meios mais sofisticados, como a
televisão.
Em «Quando Entra em Cena o Outro», discute-se o livre-arbítrio, vendo
de que modo a crença na vida eterna condiciona os comportamentos humanos.
O últimos dos ensaios, «Migrações, Tolerância e Intolerável», aborda
os problemas do crescimento, do racismo, da xenofobia e da intolerância. E
também neste caso Eco abala os lugares-comuns, ao considerar que a intolerância
mais terrível é a dos mais pobres, que são as primeiras vítimas da diferença,
de que pouco ou nada sofrem os ricos. E a verdade é que os intelectuais têm
dificuldade em combater a intolerância selvagem, pois, diante da pura
animalidade sem pensamento, encontram-se desarmados.
22.3.16
Sobre A Crisálida, de Rui Nunes
«A escrita de
Rui Nunes tem-se aproximado de limites que vão desde a sumária abolição dos
géneros literários à mais extrema violência verbal, sem que nada exista de
gratuito nesta contida irreverência. Decidir se A Crisálida é um poema
descontínuo, um relato descontente ou uma acusação política torna-se, portanto,
uma questão ociosa. É tudo isso e muito mais. Ou muito menos: “Nem merda somos.
A merda é ainda um sinal de vida.” (…)
Rui Nunes é,
entre nós, um dos poucos sismógrafos de um “vazio [que] não para de crescer”. E
faz-nos perceber que a poesia não é um modo de redenção, ainda que a concebamos
nos moldes de Celan: “Nem um vaso, nem uma cadeira, nem uma rosa de ninguém.” A
haver um plano de salvação ou danação, ele passa por “perseguir as palavras até
não poderem respirar”.» [Manuel de Freitas, Expresso, E, 19-3-2016]
21.3.16
Almodóvar inspira-se em contos de Alice Munro
[fotografia de Manolo Pavón]
Julieta, o próximo filme do realizador espanhol
Pedro Almodóvar, inspira-se em três contos de Alice Munro, Acaso, Em
Breve e Silêncio [in Fugas]. Com este filme, o vigésimo que
realiza, Almodóvar volta ao universo feminino para nos falar de mulheres a
braços com a dor, a alegria e a tristeza, mas sem «a épica do melodrama».
O cineasta
adquiriu os direitos dos contos em 2009, logo após tê-los lido. «Começo por
agradecer a Alice Munro o enorme prazer que me dá como leitor.»
«Apesar de
haver uma protagonista comum, os textos não configuravam uma sequência. Não era
fácil conferir-lhes unidade, mas fascinaram-me de tal modo que comecei a
escrever. A minha primeira ideia foi fazer um filme em inglês e com actrizes de
língua inglesa; queria realizá-lo no Canadá, nos lugares de que Munro falava.»
Mas depois de
visitar os locais das filmagens, Almodóvar considerou as «paisagens reais
absolutamente desoladoras e tristes».
Foi há dois
anos que Almodóvar decidiu situar a história não nos Estados Unidos, mas em
Espanha.
No Dia Mundial da Poesia
«11
Vinte e oito rapazes tomam banho na
praia,
Vinte e oito rapazes e todos muito
amigos;
Vinte e oito anos de vida feminina e
todos tão sós.
Ela tem uma linda casa junto à colina da
margem,
Esconde-se, bela e ricamente vestida, por
detrás dos estores.
Qual desses rapazes é que ela prefere?
Ah, o mais rústico de todos parece-lhe
belo.
Para onde vais, senhora? pois estou a
ver-te,
Chapinhas ali na água, mas estás imóvel
no teu quarto.
A dançar e a rir ao longo da praia
apareceu a vigésima nona banhista,
Os outros não a viram, mas ela viu-os e
amou-os.
As barbas dos jovens reluziam e a água
escorria-lhes pelos longos cabelos,
Pequenos jorros escorriam dos seus
corpos.
Uma mão invisível deslizou pelos seus
corpos,
Desceu trémula pelas fontes e pelos
membros.
Os rapazes flutuam de costas com os seus
ventres brancos protuberantes ao sol, não
perguntam quem se agarra a eles com tanta
firmeza,
Não sabem quem respira e se inclina
curvando-se como um arco,
Não pensam quem salpicam com a espuma.
(…)»
[Walt Whitman, Folhas de Erva, Tradução
de Maria de Lourdes Guimarães]
18.3.16
Hélia Correia na Feira do Livro de Leipzig
Hélia Correia
será uma das participantes de Portugal na Feira do Livro de Leipzig.
Hoje, 18 de
Março, às 14h, no Forum International und
Übersetzerzentrum,
participará com Christiane Lange e Michael Kegler
na leitura da obra Vinte Degraus e Outros Contos, que venceu o Grande
Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.
Amanhã, 19 de Março, às 11h30, a autora participa com Ingo Drzecnik numa
leitura de Luís de Camões, no pavilhão da Embaixada de Portugal.
Hélia Correia recebeu, em 2015, o Prémio Camões, o
mais prestigiado prémio atribuído no espaço da língua portuguesa.
17.3.16
Relógio D’Água publica obra inédita de Umberto Eco
A Relógio D’Água vai publicar a obra que Umberto Eco deixou
inédita, Pape Satàn Aleppe, que tem o subtítulo Crónicas de uma
sociedade líquida.
A tradução será de Jorge Vaz de Carvalho, que traduziu já diversas
obras de Umberto Eco, nomeadamente a sua última novela, Número Zero.
Depois de ter já publicado Sobre Literatura e Apocalípticos
e Integrados, a Relógio D’Água acaba de editar Cinco Escritos Morais.
Até final do ano sairão ainda Sobre os Espelhos e Outros
Ensaios, O Super-Homem das Massas e Obra Aberta.
16.3.16
Sobre a colecção Artes de Mesa
«No espaço de dois meses, a Relógio D’Água publicou dois
livros que remetem para uma história da gastronomia, área onde se edita
praticamente nada em Portugal, excepção feita à bibliografia extraordinária da
solitária Colares Editora. A colecção chama-se Artes de Mesa e tem como
coordenadora Inês de Ornellas e Castro, estudiosa há muito destas coisas e ela
própria autora de O Livro de Cozinha de Apício.
O outro título, Do Comer e do Falar… Tudo Vai do Começar,
é um dicionário gastronómico escrito a quatro mãos. Duas mãos pertencem a Ana
Marques Pereira, a pessoa que mais sabe sobre o que se comia antigamente (e
como se comia; talheres, louça usada, hábitos, etc.) nas cortes dos reis
portuguses, com obra publicada sobre o assunto. As outras duas são de Maria da
Graça Pericão, filóloga e co-autora da edição actualizada da Arte de Cozinha,
de Domingos Rodrigues, do século XVII, o primeiro manual português do género
conhecido.
Ambos os livros ajudam a recuperar a origem da nossa
culinária – palavras, receitas, técnicas – e a que tenhamos consciência de que
muito do que é aparentemente novo na indústria da cozinha é só evolução ou
reciclagem ou impostura.» [Ricardo Dias Felner, Time Out, 9-3-16]
15.3.16
Sobre Os Irmãos Wright, de David McCullough
«Antes de
os irmãos Wright inventarem o avião, passavam horas a olhar o voo das aves. Era
como observar um mágico e tentar perceber como fazia, explicou um deles. Uma
ótima comparação, pois o que fazem as aeronaves continua a ter algo de mágico.
(…)
David
McCullough, repetente do Prémio Pulitzer, autor de nove livros anteriores de
História popular, conta neste décimo a saga de dois irmãos que, além de
brilhantes, eram extremamente persistentes e corajosos. Wilbur e Orville
identificaram as questões principais por resolver – em especial, como controlar
o aparelho em voo – e , sem serem engenheiros, conceberam as soluções
necessárias. Passavam longos períodos, não raro em condições difíceis, em Kitty
Hawk (Carolina do Norte), um local remoto com ventos adequados. Dedicaram-se
inteiramente, arriscando a vida centenas de vezes. Por fim, foram recompensados,
não sem antes jornais e governos terem ignorado o seu feito durante anos.»
[Luís M. Faria, Expresso, E, 12-3-16]
Sobre Aquário, de David Vann (trad. José Lima)
«A sexualidade de Caitlin virá a ser
essencial no epílogo. É um dos momentos mais bem conseguidos do romance. A
transformação é violenta. A acção revela o que estava escondido. Como os
peixes, o ser humano é ligeiramente diferente do seu semelhante, mas não foge
de um padrão. O fim do calvário de uns é o começo da procura do perdão por
outros.
Aquário
mantém a excepcional qualidade de David Vann. A história é inquietante. As
personagens mantêm-se no imaginário do leitor muito para lá da última página do
livro.» [Mário Rufino, Sábado]
14.3.16
Sobre Gratidão, de Oliver Sacks
«Os textos de Gratidão, todos eles publicados no The
New York Times (e partilhados na internet, onde se tornaram virais), são
uma espécie de coda em que Sacks, mais do que consciente da morte próxima, se
despede com uma dignidade e uma delicadeza extraordinárias. Grato por tudo o
que pôde ver, sentir, experimentar, ele faz deste adeus um hino à vida, uma
celebração do privilégio de conhecer o mundo, aproveitando a existência até ao
tutano.» [José Mário Silva, Expresso, E, 12-3-2016]
11.3.16
Sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen
«Hoje na Sábado escrevo sobre A Casa em Paris, de Elizabeth
Bowen (1899-1973), autora de uma obra extensa, que inclui ficção e ensaio, mas
que não cativou os editores nacionais. A
Casa em Paris, agora traduzido, resgata a obra de um silêncio apenas
interrompido pelas reedições de A
Morte do Coração. É provável que o conservadorismo político tenha pesado no
desinteresse. O romance começa e termina no dia da chegada de Henrietta a
Paris, durante a Primeira Grande Guerra. Henrietta tem onze anos, nunca antes
havia saído de Inglaterra, e está em trânsito para casa da avó, no Sul da
França. Apesar do cansaço da viagem, a noite inteira metida num comboio, tem a
noção de como a sua vida vai mudar. A história está dividida em três partes,
correspondendo a do meio a um flashback de dez anos que serve de guia para
factos que dizem respeito às origens de Leopold, o amiguinho mais novo que
espera conhecer a mãe que nunca viu. Por mero acaso, Henrietta e Leopold
partilham o dia em casa da senhora Fisher. A fórmula fora já utilizada em Friends
and Relations, um romance anterior de Bowen. É muito interessante verificar
como esse capítulo de intervalo, espécie de monólogo interior, em grande medida
construído pela imaginação, serve de cimento à estrutura romanesca. Não por
acaso, a última frase da primeira parte — «A tua mãe não vem; não pode vir»
— é a mesma que abre a terceira. Sem necessidade de recurso a tiradas enfáticas,
Bowen é letal na dissecação da sociedade britânica da primeira metade do século
XX. Esta mulher discreta, que privou com os bloomsberries e teve amantes de ambos os sexos,
escreveu um romance admirável sobre identidade, solidão e maturidade precoce.»
[Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica na revista Sábado,
10-3-2016]
História da Menina Perdida de Elena Ferrante na lista do Man Booker International
O último volume
da tetralogia A Amiga Genial, de Elena Ferrante, faz parte da longlist do
prémio Man Booker International (The Story of the Lost Child, com tradução
de Ann Goldstein). Entre os outros nomeados, estão Yan Lianke, Han Kang e José
Eduardo Agualusa.
A shortlist será conhecida
no dia 14 de Abril e o vencedor será anunciado a 16 de Maio.
10.3.16
Hélia Correia na Feira do Livro de Leipzig
Hélia Correia
será uma das participantes de Portugal na Feira do Livro de Leipzig.
No dia 18 de
Março, às 14h, no Forum International und
Übersetzerzentrum,
participará com Christiane Lange e Michael Kegler
na leitura da obra Vinte Degraus e Outros Contos, que venceu o Grande
Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.
Hélia Correia recebeu, em 2015, o Prémio Camões, o
mais prestigiado prémio atribuído no espaço da língua portuguesa.
8.3.16
A chegar às livrarias: Elogio da Sombra, de Junichirō Tanizaki [Livros de Bolso]
Elogio da
Sombra é uma das
principais obras de Tanizaki (1886-1965) e um dos mais fascinantes ensaios
sobre as diferenças entre o Ocidente e o Oriente.
Para os
Ocidentais, o mais importante aliado da beleza foi sempre a luz, a ausência de
sombras. Para a estética tradicional japonesa, do rosto das mulheres às salas
dos templos, o essencial está na sombra e nos seus efeitos.
Neste ensaio
de 1933, Tanizaki fala-nos da cor das lacas, dos atores de nō, das
paredes dos corredores, dos beirais das casas, da luz que há na sombra, para
nos prevenir contra tudo o que brilha.
Revela-nos o
que sentia ao olhar o papel dos shōji, a visão de um universo ambíguo
onde luz e sombra se confundem numa impressão de eternidade.
A chegar às livrarias: Cinco Conferências sobre Psicanálise, de Sigmund Freud [Livros de Bolso]
A 27 de
agosto de 1909, Freud desembarca nos Estados Unidos. É a primeira e última vez
que pisa solo americano. Tem 53 anos e viaja a bordo do George Washington na
companhia do seu estimado Ferenzci e de Jung, de quem se afastaria mais tarde.
A Clark University, para onde se dirigiam e que celebrava o seu 20.º
aniversário, situa-se na Nova Inglaterra, em Worcester.
As cinco
conferências decorrem em setembro, em alemão e de improviso.
No auditório
de médicos, psicólogos e professores, em geral céticos em relação à
psicanálise, destacam-se o antropólogo Boas, Adolf Meyer, que se tornará um
importante psiquiatra, o neurologista Putnam, o experimentalista Titchener e
William James, que se encontrava doente, mas que queria «ver como era Freud».
Sobre Departamento de Especulações, de Jenny Offill
«Departamento de Especulações, de Jenny Offill, uma
pérola.»
[Francisco José
Viegas, Correio da Manhã, 21-9-2015]
7.3.16
Sobre Artes de Mesa
No último número do ípsilon, Alexandra Prado Coelho fala de
duas obras, O Livro de Cozinha de Apício, de Inês de Ornellas e Castro,
e Do Comer e do Falar… Tudo Vai do Começar, de Ana Marques Pereira e
Maria da Graça Pericão, que iniciaram a colecção Artes de Mesa da Relógio
D’Água. Alexandra Prado Coelho falou com duas das autoras.
«Estamos rodeadas de milhares de livros e objectos ligados à
culinária e gastronomia renidos ao longo do tempo por Ana Marques Pereira. E a
conversa começa por aí. É fácil fazer investigação nesta área? Num mercado
editorial dominado pelos livros de receitas, há lugar para uma colecção como
esta?
“É preciso perceber que a alimentação é uma dimensão
importantíssima da nossa existência”, afirma Inês de Ornellas e Castro. “O acto
de comer é um acto civilizacional, tem a ver com o enquadramento, a cultura, o
espaço, a memória.” Veja-se o tratado de cozinha de Apício. “Está feito própria
percebermos não só as receitas mas toda a sociedade que viveu daquela forma.
Comemos o que nos falta mas também o que simbolicamente está associado ao nosso
universo. Há sempre um lado simbólico e ideológico ligado à alimentação. Num
prato está uma civilização. Foi isso que eu quis apresentar às pessoas.”
Para isso, é preciso olhar para o prato, mas também para o
que se passa à volta. “Que como sentado ou reclinado tem uma forma de estar
muito diferente”, frisa. A própria roupa pode ter um significado e a história
do guardanapo é um bom exemplo. “Os guardanapos são muito importantes porque vêm
proteger aquilo que antes era o fato de comer. Inicialmente eram usados para
proteger o cochim do anfitrião e não a pessoa, mas depois o guardanapo vai
mudar de lugar e passar a proteger os comensais. Os primeiros conhecidos eram
uns pedacinhos de massa que se usavam assim [demonstra enrolando à volta dos
dedos].
O estudo dos objectos é, portanto, essencial. Ana Marques
Pereira sabe bem disso, até pelos trabalhos que publicou anteriormente. (…) Médica
de formação, tornou-se investigadora nesta área por paixão. E garante: “A vantagem
de Portugal é que está tudo por explorar. Ao contrário do que acontece noutros
países, onde há nas livrarias uma zona só para a história da alimentação, aqui não
têm noção da diferença entre a culinária e a gastronomia ou a história da
alimentação. Chamam a tudo gastronomia.”» [ípsilon, 4-3-16]
4.3.16
Sobre Carol ou O Preço do Sal, de Patricia Highsmith
«Por vezes, um escritor torna-se conhecido em todo o mundo pela adaptação ao cinema de um livro seu, e com Highsmith foi logo com o primeiro, Strangers on a Train (1950), um dos thrillers mais
populares do século XX, a partir do qual Hitchcock realizou o clássico que
conhecemos por O Desconhecido do Norte Expresso. Sucede o mesmo
com O Preço do Sal (1952), que agora lemos como Carol. No posfácio, Ana Luísa Amaral, tradutora da obra, lembra que
o livro, tratando a relação amorosa entre duas mulheres, foi publicado sob o
pseudónimo de Claire Morgan, assim se mantendo durante mais de três décadas. (…)
Nunca tendo escondido a condição lésbica, Patricia Highsmith não era activista gay. Mesmo da forma elegante como desenvolve a intriga, compreende-se
que nos anos 1950, no auge do McCarthismo, não fosse fácil tratar a história de
amor entre Carol e Therese sem lhe associar conotação pejorativa e sanção
moral. Highsmith, que se tornaria um ícone da literatura policial (não esquecer
que foi a criadora de Mr. Ripley), inspirou-se na figura de uma antiga amante,
Virginia K. Catherwood, uma mulher casada da alta sociedade de Filadélfia, para
compor a personagem de Carol, também casada e mãe. Ao comprar uma boneca para a
filha, Carol conhece Therese, então com 19 anos, a trabalhar em part-time num armazém de Manhattan. Foi esse o
duplo detonador do romance, isto é, da relação entre ambas e da escrita do
livro. (…) Seria pleonástico sublinhar a destreza com que Highsmith nos envolve
na trama psicológica.»
[Eduardo
Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica sua publicada na revista
Sábado de 3 de Março]
A chegar às livrarias: Gratidão, de Oliver Sacks (trad. de Miguel Serras Pereira)
Durante os
últimos meses de vida, Oliver Sacks escreveu um conjunto de ensaios em que
explora, de forma comovente, os seus sentimentos sobre o momento de completar
uma vida e aceitar a morte.
«É o
destino de cada ser humano», escreveu Sacks, «ser um indivíduo único, descobrir
o seu próprio caminho, viver a sua própria vida, morrer a sua própria morte.»
Estes
quatro ensaios são uma ode à singularidade de cada ser humano e à gratidão pela
vida que nos é concedida.
«O meu
sentimento predominante é de gratidão. Amei e fui amado; recebi muito, e dei
alguma coisa. Acima de tudo fui um ser senciente, um animal pensante, neste
belo planeta, e isso foi, por si só, um enorme privilégio e aventura»
«Oliver
Sacks foi um clínico e escritor ímpar. Era atraído pela casa dos pacientes,
pelas instituições dos mais frágeis e debilitados, pela companhia dos mais
estranhos e “incomuns”. O que o movia era ver a humanidade em todas as suas
variantes, e fazê-lo pelos seus próprios meios, quase sempre de forma anacrónica
— frente a frente, fora de horas, longe da aparelhagem de computadores e
algoritmos. E, através dos seus livros, mostrou-nos o que viu.» [Atul Gawande,
autor de Ser Mortal]
3.3.16
Katrina Dodson vence Prémio PEN de Tradução
Katrina Dodson, tradutora de Complete Stories, de
Clarice Lispector, venceu o Prémio PEN de Tradução. O júri considerou tratar-se
de «uma tradução extraordinária de uma autora excepcional».
A obra, com organização de Benjamin Moser, biógrafo de Clarice
Lispector, reúne todos os contos da escritora e será em breve publicada em
Portugal pela Relógio D’Água.
2.3.16
Reportagem de Karl Ove Knausgård sobre cirurgia de Henry Marsh
[fotografia de Paolo Pellegrin]
O último número da revista
E do Expresso publicou uma extensa reportagem do escritor norueguês Karl
Ove Knausgård, que viajou até à capital da Albânia para assistir às operações
realizadas pelo neurocirurgião britânico Henry Marsh. O médico inglês foi o
inventor de um novo tipo de operações para remover tumores cerebrais em doentes
que se devem manter conscientes.
Karl Ove Knausgård
assistiu às operações realizadas num pedreiro e numa estudante de Medicina
albaneses. Fala-nos tanto da sensação de uma operação ao cérebro como das
atitudes e reacções de Marsh e dos seus colegas médicos.
«Numa noite de domingo,
pelo fim de agosto, cheguei a Tirana (Albânia), num voo proveniente de Istambul.
O sol tinha-se posto quando o avião ia a meio caminho, e, ao aterrarmos no
escuro, imagens da luz a desvanecer-se ainda me enchiam a mente. O homem junto
a mim, um jovem americano ruivo com um chapéu de palha, perguntou-me se sabia
ir do aeroporto para a cidade. Abanei a cabeça, pus o livro que estaba a ler na
mochila, levantei-me, tirei a minha mala do compartimento em cima e fiquei no corredor
à espera que a porta se abrisse.
O livro era a razão da
minha vinda. Chamava-se Do no Harm [Não Faças Mal] e era escrito pelo
neurocirurgião britânico Henry Marsh. O trabalho dele é cortar o cérebro, a
estrutura mais complexa que conhecemos no Universo e que contém tudo o que nos
faz humanos. O contraste entre o extremamente sofisticado e o extremamente
primitivo – todo aquele trabalho com bisturis, brocas e serras – fascinava-me
bastante. Tinha enviado a Marsh um e-mail a perguntar se podia
encontrar-me com ele em Londres para o ver operar. Ele escreveu uma resposta
cordial a dizer que agora era raro trabalhar lá, mas tinha a certeza de que se
podia arranjar algo. De passagem, mencionava que estaria a operar na Albânia em
agosto e no Nepal em setembro, e eu perguntei se poderia ir ter com ele à Albânia.»
[Tradução de Luís M. Faria]
De Karl Ove Knausgård a
Relógio D’Água publicará o quarto volume de A Minha Luta e o livro de
ensaios No Outono.
Sobre O Náugrafo, de Thomas Bernhard
«É a história de três pianistas, um deles mundialmente famoso, os
outros dois personagens de ficção. Glenn Gould, Wertheimer e o narrador do
romance estudaram juntos em Salzburgo na década de 50. Todos eram óptimos
pianistas, mas apenas um dos três era um génio. Depois de se separarem,
mantendo uma amizade distante e à distância, os dois homens que não são Glenn Gould
debatem-se com essa catástrofe: não serem Glenn Gould. Amargurados, abdicam da
vida artística, escrevem, teorizam,exilam-se. Comportam-se talvez como
indivíduos competitivos, invejosos, mas na verdade são gente seriíssima que
acredita que a arte digna desse nome não admite os bons e os muito bons mas
apenas os melhores de todos. Um “virtuoso” é um diletante, não um artista
autêntico. Glenn Gould, “o mais lúcido de todos os loucos”, sabia isso. Era o
melhor de todos, mas nem assim estava contente, porque desprezava o público,
sentia que abastardava a música se vivesse para agradar ao público. Gould
chamava a Wertheimer “o naúfrago” e ao narrador “o filósofo”, e é isso que os
vemos fazer, um a naufragar, o outro a filosofar, num solilóquio ininterrupto
que é também uma partitura musical de repetições e reiterações.» [Pedro Mexia, E,
Expresso, 27-02-2016]
1.3.16
A chegar às livrarias: O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald (trad. de Ana Luísa Faria)
«O Grande Gatsby talvez seja, como alguns afirmaram, o único romance
perfeito. Ao relê-lo, espantamo-nos sempre com a sua brevidade: não é muito
mais longo do que um conto de Henry James. T. S. Eliot julgou-o o único grande
passo no romance americano desde a morte de James. Não deu origem a uma
tradição americana. O livro mal delineado, com calão e que alcança grande
sucesso é corretamente considerado o típico contributo americano para a arte do
romance. Os leitores americanos do Saturday Evening Post, que admiravam as histórias de Fitzgerald sobre a época do jazz,
não o conheciam como autor de um grande livro. A notoriedade popular de
Fitzgerald desde a sua morte baseou-se mais na vida do que na obra — o «crack-up», o alcoolismo, a loucura da sua mulher Zelda. A sua arte era
demasiado sofisticada e a sua ironia demasiado subtil para uma audiência
ampla.» [Anthony Burgess]
«Não sou minimamente influenciado pela observação
que faz sobre mim, quando digo que me interessou e estimulou mais do que
qualquer novo romance, inglês ou americano, dos últimos anos.» [T. S. Eliot]
Vinte Degraus e Outros Contos no Grupo de Leitura do Palácio Fronteira
Vinte Degraus e Outros Contos , o último livro
de contos de Hélia Correia, que recebeu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo
Branco, é a obra em discussão no Grupo de Leitura do Palácio Fronteira. A sessão
ocorre amanhã, dia 2 de Março, pelas 19h00.
Sobre A Crisálida, de Rui Nunes
«A obra de
Rui Nunes tem criado uma barreira invisível a partir da qual as palavras são
forçadas a deixar a bagagem (ou babugem) desnecessária, aquilo que as traz
transidas do ritmo usual das coisas, essa espécie de alegria atarantada. Um
discurso demasiado fluido é algo de intolerável para este autor. A sua escrita
aprendeu a silabar o mundo, a importá-lo para o observar interiormente. Nela o
movimento descritivo radicaliza-se, assumindo um valor crítico. O plano contínuo
da realidade é estilhaçado, as palavras tomam o lugar das coisas, decifrando-as.
A linguagem deixa de legendar, mas, ao lado do mundo, toma-lhe o peso e acaba
por sobrepor-se-lhe. A Crisálida é um texto de profundo mal-estar, reagindo às
imagens de um homem degolado no ecrã da televisão. Não há em momento algum o
compadecimento com uma cultura e identidade que tem gostado de se vitimizar,
nem tão-pouco com os bonecos que encenam o ultraje, com as denúncias e o horror
comportado que cabe na moldura televisiva e serve o teatrinho mediático.» [Diogo
Vaz Pinto, i, 27-02-2016]
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