«No zócalo, um maluco que estava rodeado de fumos disse-me que tinha uma marca que ia do centro da testa até cada uma das pernas: uma marca que começava lá em cima num ponto único e se dividia depois: uma linha para cada perna. Era uma marca invisível, um caminho invisível: primeiro um sítio maldito que partia do centro da testa, mas depois a tinta maldita ia-se diluindo em traço. E de um traço único passava a dois traços, um para cada uma das pernas, traços cada vez mais finos, menos malditos, mais fracos, e chegavam os dois traços aos pés já quase sem forças, sem maldição, sem raiva»
«De pernas esticadas e apoiada nos cotovelos, Yasue olhava o mar. Massas enormes de nuvens fervilhavam gigantescas, imensas na sua tranquila majestade. Dir-se-ia que bebiam todos os barulhos cá de baixo, até o rumor do mar.
Estava-se no pino do Verão e havia fúria nos raios de Sol.
As crianças cansaram-se do castelo de areia. Desataram a correr para que a água jorrasse das poças à beira das ondas. Acordada do pequeno e tranquilo universo pessoal para o qual tinha resvalado, Yasue correu atrás delas.
Mas não estavam a fazer nada que fosse perigoso. Tinham medo do bramido das ondas. Havia um pequeno redemoinho para lá da rebentação. Kiyoo e Keiko de mão dada, com água até à cintura e os olhos brilhantes, faziam frente à água, sentindo a areia mexer debaixo dos pés nus.
— Parece que alguém nos está a puxar — disse Kiyoo à irmã.
Yasue aproximou-se deles e proibiu-os de irem mais longe. Mostrou-lhes Katsuo, não o deviam deixar sozinho, deviam ir brincar com ele. Mas não lhe prestaram atenção. Estavam de pé, de mãos dadas, felizes, e olhavam-se sorrindo. Tinham um segredo: a areia que sentiam mexer debaixo dos pés.»
Reconhecido mestre de visões atormentadas, H. P. Lovecraft criou o seu estilo próprio em 1931 através do livro Nas Montanhas da Loucura.
O relato das misteriosas descobertas de uma expedição às ruínas de uma civilização perdida na Antárctica, onde as ameaças são inesperadas, é uma leitura essencial para qualquer entusiasta do terror clássico.
«H. P. Lovecraft ainda não foi superado como o maior escritor de histórias de terror clássico do século XX.» [Stephen King]