29.6.20

O Bando apresenta «Antes do Mar», adaptação de Miguel Jesus de «Um Bailarino na Batalha», de Hélia Correia


 Em cena até 19 de Julho.

Sobre As Confissões da Carne, de Michel Foucault




As Confissões da Carne é o quarto e último volume da História da Sexualidade, obra em que Michel Foucault se propôs a estudar a sexualidade humana desde a Antiguidade clássica até aos primeiros séculos do cristianismo. 
A elaboração definitiva de As Confissões da Carne, de acordo com Frédéric Gros, responsável pela edição, pode situar-se em 1981 e 1982. O livro foi editado em 2018, quando os herdeiros de Foucault consideraram reunidas as condições para a publicação do inédito, que concluía a análise de A Vontade de Saber, O Uso dos Prazeres e O Cuidado de Si.
O livro tem três partes. A primeira aborda os temas “Criação, procriação”, “O baptismo laborioso”, “A segunda penitência” e “A arte das artes”; a segunda, a “Virgindade e continência”, “Das artes da virgindade” e “Virgindade e conhecimento de si”; e a terceira, “O dever dos esposos”, “O bem e os bens do casamento” e “A libidinização do sexo”.

Este e os outros volumes de História da Sexualidade estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/michel-foucault/

Sobre Mario e o Mágico, de Thomas Mann




«Thomas Mann, que em 1918 publicou umas “Considerações de Um Apolítico” e que a partir de 1940, já exilado, proferiu discursos antinazis à nação alemã, teve um percurso político contraditório, mas esta novela alegórica de 1930 deve ser creditada como exemplo de lucidez. O mágico que espanta os veraneantes de uma estação balnear italiana (incluindo o narrador, que veio de Viena com a mulher e os filhos) não é um mágico como os outros: mais do que ilusionista ou prestidigitador, é um hipnotizador malévolo. Cipolla, o cavaliere, tem uma presença desagradável, grotesca mesmo, corcunda e de pingalim na mão, mas um discurso engenhoso. Faz números físicos, números de adivinhação, números cómicos, números de humilhação. E os italianos vão aderindo ao mágico, muito além da sua vontade.» [Pedro Mexia, E, Expresso, 27/6/2020]

Mario e o Mágico (trad. Helena Topa) e outras obras de Thomas Mann estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/thomas-mann/

26.6.20

Santo António, de Agustina Bessa-Luís (prefácio de José Tolentino de Mendonça)




Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Santo António, de Agustina Bessa-Luís (prefácio de José Tolentino de Mendonça)

«Depois, o romance oferece um conhecimento concreto, não conceptual. A ótica do romance não demonstra: ela mostra, num esforço de desapropriação ideológica, por fidelidade à existência em si. Por exemplo, não é a caraterização intelectual, sociológica ou moral que conta, mas sim Santo António vivendo. Por fim, o romance é um instrumento de precisão, como existem poucos, pois está à altura da singularidade, liberdade, tragicidade e assombro da vida. Ele consegue relatar o superlativo e o minúsculo, o sublime e o mísero, a dor e a redenção, o pecado e a santidade. A partir daqui Agustina opera, e fá-lo com uma segurança metodológica indiscutível.» [Do Prefácio de José Tolentino de Mendonça]

Esta e outras obras de Agustina Bessa-Luís estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/agustina-bessa-luis/

Três Retratos: Salazar, Cunhal, Soares, de António Barreto




Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Três Retratos: Salazar, Cunhal, Soares, de António Barreto

Neste livro, António Barreto faz o retrato dos três portugueses que mais influenciaram o nosso século xx. Mas não os retrata como figuras independentes, antes os combina e contrasta.
Salazar, que instaurou o Estado Novo, enfrentou, a partir de dada altura, como principal dirigente da oposição política e cultural à sua ditadura Álvaro Cunhal. Mário Soares, que impulsionou o regime democrático, teve de vencer as pretensões do PCP de transformar a ruptura do 25 de Abril numa nova ditadura.

«Salazar era profundamente conservador e reaccionário, mas deixou o seu nome associado a uma “revolução nacional” que outros fizeram e ele moldou a seu prazer. Teve o poder todo, que recebeu dos militares e da Igreja, acabou por submeter quem esteve na sua origem e exerceu o poder à força do Estado e da sua vontade. O povo nunca lhe deu explicitamente o poder, mas deixou-o ficar e sobreviver, pelo menos não soube nem quis afastá-lo. Cunhal era revolucionário, pretendeu ter o poder todo, só queria mesmo o poder se fosse todo e por inteiro, percebeu luminosamente que, mesmo ao serviço do “internacionalismo comunista”, teria de utilizar a energia nacional. Quase fez uma revolução, quase exerceu o poder. O povo não lhe deu o poder, rejeitou-o expressamente, mas uma parte desse mesmo povo incensou-o e deu-lhe uma reputação invulgar: derrotado em vida, morreu como se tivesse sido um vencedor. Soares, finalmente. Foi tudo, conservador, revolucionário, liberal, jacobino, burguês e popular. Teve muito poder, que nunca usurpou, recebeu-o sempre do povo eleitor, que também soube derrotá-lo quando quis. Foi o que mais liberdade deu aos seus compatriotas, mas nunca chegou a ser um mito ou uma crença, como Salazar e Cunhal. Ao contrário deles, nunca foi temido ou receado.»

Outras obras de António Barreto estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/antonio-barreto/

25.6.20

Sobre Pessoas Normais, de Sally Rooney




O livro Pessoas Normais, publicado em 2019 pela Relógio D’Água, foi adaptado a série de televisão e já estreou na Hulu e na BBC.
A autora do romance, Sally Rooney, co-escreveu alguns episódios, realizados por Lenny Abrahamson e Hettie Macdonald.
As personagens principais, Marianne e Connell, são representadas por Daisy Edgar-Jones e Paul Mescal. Foi recentemente divulgado o trailer da série de 12 episódios.

Connell e Marianne cresceram na mesma pequena cidade da Irlanda, mas as semelhanças acabam aqui. Na escola, Connell é popular e bem-visto por todos, enquanto Marianne é uma solitária que aprendeu com dolorosas experiências a manter-se à margem dos colegas. Quando têm uma animada conversa na cozinha de Marianne — difícil, mas eletrizante —, as suas vidas começam a mudar.
Pessoas Normais é uma história de fascínio, amizade e amor mútuos, que acompanha a vida de um casal que tenta separar-se mas que acaba por entender que não o consegue fazer. Mostra-nos como é complicado mudar o que somos. E, com uma sensibilidade espantosa, revela-nos o modo como aprendemos sobre sexo e poder, o desejo de magoar e ser magoado, de amar e ser amado.

Pessoas Normais (trad. Ana Falcão Bastos) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/pessoas-normais/

Francisco Vale sobre a Cultura Pós-Quarentena



Francisco Vale, editor da Relógio D’Água, sobre a Cultura Pós-Quarentena, num texto solicitado pelo Museu da Farmácia.


24.6.20

Sobre As Telefones, de Djaimilia Pereira de Almeida




«O novo livro da escritora Djaimilia Pereira de Almeida, As Telefones (Relógio de Água 2020), suscita reflexões acerca das memórias do Império não sucumbirem juntamente com o desejo de superação deste regime. Relaciona-se também com as subjetividades rasuradas pelos distanciamentos.» [Liz Almeida, Buala, 23/6/2020. Texto completo em https://www.buala.org/pt/a-ler/as-telefones-resquicios-do-imperio-na-experiencia-dos-sujeitos-da-diaspora ]

Esta e outras obras de Djaimilia Pereira de Almeida estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/djaimilia-pereira-de-almeida/

23.6.20

Sobre Amada Vida, de Alice Munro




Alice Munro possui um inigualável talento — o de nos transmitir de modo conciso a essência da vida. E é sob a forma de contos que o faz, de novo, em Amada Vida.
História a história, Munro destaca os momentos em que a vida é profundamente transformada por um encontro casual, uma acção não realizada, ou mesmo por um desvio no destino que faz alguém trocar o seu quotidiano ou modo de pensar.
Uma poeta, na sua primeira festa literária em território inóspito, é resgatada por um colunista de jornal, acabando por partir numa incursão pelo continente que a leva a um inesperado encontro.
Um jovem soldado, ao regressar da Segunda Guerra Mundial para os braços da sua noiva, sai na estação de comboio anterior à sua, encontrando numa quinta uma mulher com quem começa nova vida.
Uma jovem mantém um caso com um advogado casado, contratado pelo seu pai para gerir os seus bens. Quando é descoberta, encontra uma forma surpreendente de lidar com a chantagista.
Uma rapariga que sofre de insónias imagina, noite após noite, que assassina a irmã mais nova.
Uma mãe resgata a sua filha no exacto momento em que uma mulher tresloucada invade o seu quintal.

A maioria destas histórias ocorre no território natal de Alice Munro — as pequenas vilas em redor do Lago Huron, no Canadá — embora, por vezes, as personagens se aventurem na cidade.
Estes contos mostram-nos que — nas partidas, nos novos começos, nos acidentes, nos perigos e nos regressos, tanto imaginários como reais — o quotidiano da nossa vida pode ser tão estranho e arriscado como belo.

Amada Vida (trad. José Miguel Silva) e outras obras de Alice Munro estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/alice-munro/

22.6.20

Sobre Humilhados e Ofendidos, de Fiodor Dostoievski




Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Humilhados e Ofendidos, de Fiodor Dostoievski (trad. de Carlos Leite)

Publicado em 1861, Humilhados e Ofendidos é uma das principais obras de Dostoievski, antecipando em personagens como o príncipe Valkovski romances como O Idiota.
Dostoievski retoma de Gente Pobre os humilhados pelas circunstâncias da vida, ofendidos nos seus direitos e excluídos para as margens das grandes cidades. São personagens com o orgulho ferido, que resistem à hipocrisia e falta de humanidade dos seus opressores, se movem num meio em que os paixões esbarram com a frieza dos costumes.
O protagonista principal é Ivan Petrovitch, que procura um alojamento menos húmido do que aquele onde se albergou e cuja vida se altera ao conhecer um velho e o seu cão, tão miseráveis um como o outro. Em breve, é envolvido num dos temas recorrentes na obra de Dostoievski, a dispersão do amor entre várias personagens. 
O maior elogio a Humilhados e Ofendidos foi feito por Tolstói, que, ao tomar conhecimento da morte de Dostoievski, escreveu a um amigo: “Nunca vi o homem, nem tive nenhuma espécie de relação directa com ele, mas quando morreu compreendi de imediato que tinha sido para mim o mais precioso, o mais querido e o mais necessário dos seres. […] Sempre o considerei um amigo e esperava confiadamente vê-lo algum dia. E, de repente, leio a notícia da sua morte. Primeiro senti-me inteiramente confuso e, quando depois compreendi como o tinha apreciado, comecei a chorar… Ainda agora estou a chorar. Só poucos dias antes da sua morte tinha lido com emoção e prazer o seu Humilhados e Ofendidos.”

Esta e outras obras de Fiodor Dostoievski estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/fiodor-dostoievski/

Sobre O Outono em Pequim, de Boris Vian




O romance O Outono em Pequim é de 1947, o mesmo ano em que Vian escreveu A Espuma dos Dias. Publicado pela primeira vez nas Éditions du Scorpion, o livro contém elementos surrealistas.
A Pequim que surge no título não é literal. Os protagonistas têm em comum dirigirem-se a um deserto imaginário chamado Exopotâmia, onde está em construção uma estação de comboios. A narrativa começa com as peripécias de Amadis Dudu, que, não tendo conseguido apanhar o autocarro para ir trabalhar, acaba a bordo do 975, que o leva a esse deserto. Esse acaso revela-se frutuoso para Amadis.
O Outono em Pequim é uma narrativa de desilusão do mundo adulto, construído sobre o absurdo da sociedade industrial. Mas é também, tal como A Espuma dos Dias, uma história de amor sem esperança.
O narrador detém por vezes deliberadamente o desenrolar da história para comentar o que se está a passar. E é esse seu olhar irónico que evidencia os aspectos absurdos do romance.

De Boris Vian, a Relógio D’Água publicou também A Espuma dos Dias, Morte aos Feios, Elas Não Percebem Nada, Irei Cuspir‑Vos nos Túmulos, Cantilenas em Geleia, As Formigas e O Arranca Corações.

20.6.20

Sobre Dom Casmurro e Esaú e Jacó, de Machado de Assis




Dom Casmurro foi publicado em 1899. O título do livro é retirado do nome, já de si irónico, do personagem, pois lhe foi dado por ter adormecido ao ouvir um jovem poeta declamar-lhe os versos. Forma com Memórias Póstumas, Quincas Borba, Esaú e Jacó e Memorial de Aires o essencial da obra romanesca de Machado de Assis.
A subtileza dos protagonistas é tal que ainda hoje os críticos brasileiros discutem se Capitu «traiu» ou não o marido. Como escreveu José Fernando Tavares «falar de Capitu é falar do próprio mistério», pois ela é hábil na arte de simulação e nunca sabemos em que está a pensar.
A este livro aplica-se o que escreveu Afredo Bosi, que considerava que Machado de Assis dissolvia «paixões e entusiasmos no ácido de uma ironia e um humor que nada poupam: indivíduos e sociedade são aí “delicadamente” desmascarados em seu egoísmo e alienação».
Esaú e Jacó, publicado em 1904, é o penúltimo livro de Machado de Assis e distingue-se por uma maior organicidade narrativa, sem abandono das intenções modernistas do autor que o levaram a subverter a forma tradicional do romance. Um dos seus principais personagens é o conselheiro Aires, que irá ressurgir em Memorial de Aires.
Também em Esaú e Jacó a narrativa é subvertida, o contexto histórico está presente e os homens e as mulheres não são feitos de uma matéria única embora abundem as referências míticas. Como escreve Júlio Castañon Guimarães: «o humor irónico quase constantemente se vincula a uma reflexão sobre a narrativa, quando esta, voltando-se sobre si, desmonta sua própria estruturação. Surge aí a oportunidade do discurso de aparência reticente, que avança por retrocesso, faz-se, desfaz-se e refaz-se. Enquanto isso, aqui e ali, o romance se pontua com referências a factos históricos.»

Este e outros livros de Machado de Assis disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/machado-de-assis/

Sobre O Conteúdo da Felicidade, de Fernando Savater




«Na memória, de resto, a felicidade é qualquer coisa como um poço de beatitude em que nada acontece e nada falta: um espaço em branco, mas de um branco brilhante. Daí que Tolstoi afirmasse que as famílias felizes não têm história; e Hegel, que os períodos de felicidade são como vazios na história dos povos. Outro paradoxo, pois: a felicidade é uma das formas da memória, mas também como que o reverso amnésico da mesma. Recordamos o momento feliz como aquele em que nos esquecemos de tudo o resto. É precisamente porque não há realmente nada que contar da felicidade que nos agarramos à sua recordação — à recordação de um vazio, de um espaço em branco, de uma perda — com a força inamovível e algo ridícula de um ato de fé. Enquanto objeto conceptualizável, a felicidade é opaca, revela‑se refratária à tarefa reflexiva. A sua expectativa ou a sua nostalgia dão que pensar, mas ela própria — enquanto presença recordada — não.»

O Conteúdo da Felicidade (trad. Francisco Vale) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-conteudo-da-felicidade-2/

19.6.20

Sobre As Telefones, de Djaimilia Pereira de Almeida




«Nos seus esboços, Alexander Graham desenhou pessoa a usar o telefone ligadas por um fio, ouvido a ouvido. Em “As Telefones”, breve e pudica ficção, esses fios transformam-se nos traços de uma árvore genealógica. Filomena, que vive em Luanda, e Solange, sua filha, que veio para Lisboa, conhecem-se por telefone. Falam todas as semanas, nos primeiros anos de forma cerimonial, imóvel, às vezes em cabines públicas. Conversam numa “língua telefónica” entrecortada e divagante, à distância de continentes. […] É assim com os espólios, os enxovais nunca usados, um vestido, um pente, uns dentes de leite (“minerais encardidos, mudos sobre a vida que haviam vivido e sobre o desejo que os preservara”), coisas ternamente enumeradas que, ao vivo, sugerem emoções de que mal suspeitávamos à distância de um telefonema.» [Pedro Mexia, E, Expresso, 13/6/2020]

Esta e outras obras de Djaimilia Pereira de Almeida estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/djaimilia-pereira-de-almeida/

Sobre Rebuçados Venezianos, de Maria Filomena Molder




«Como muito bem viu Jean Genet, há um litígio insuperável entre estética e história. A primeira configura-se a partir do reduto secreto que constitui cada ser (seja rosto ou quadro) e só ela lhe pode fazer justiça (Baudelaire chama-lhe “soluço ardente”). Sendo assim, é preciso fazer uma dieta rigorosa do histórico enquanto descrição de “como se passaram as coisas”. Desse modo ganha-se uma visão inédita do contemporâneo — para a qual “Les Phares” aponta inequivocamente e que o conceito benjaminiano do “agora da cognoscibilidade” formaliza —, a simultaneidade possível de todas as obras de arte passadas com o presente e a transformação das obras do presente em oferendas funerárias ao grande povo dos mortos: eles um dia também foram vivos.» [Do capítulo «Um Soluço Ardente»]

Rebuçados Venezianos é constituído por textos sobre a obra de alguns artistas contemporâneos e sobre questões de crítica e história de arte, redigidos entre 2000 e 2016. O título é uma homenagem à pintora Luísa Correia Pereira.

Esta e outras obras de Maria Filomena Molder estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/maria-filomena-molder/

18.6.20

Sobre Ensaio sobre o Dia Conseguido, de Peter Handke




Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Ensaio sobre o Dia Conseguido, de Peter Handke (trad. revista de Alexandra Lopes)

«Quem viveu já um dia conseguido? À partida, a maioria não hesitará talvez em afirmá‑lo. Será, pois, necessário continuar a perguntar. Queres dizer “conseguido” ou apenas “belo”? É de um dia “conseguido” que falas, ou de um — igualmente raro, é verdade — “despreocupado”? É para ti um dia que decorreu sem problemas já um dia conseguido? Vês alguma diferença entre um dia feliz e o conseguido?»

Esta e outras obras de Peter Handke estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/peter-handke/

Sobre O Desejo de Ser Inútil, de Hugo Pratt




Hugo Pratt, o homem que criou a lenda de Corto Maltese, tornou-se ele próprio uma lenda. Este livro, profusamente ilustrado e publicado poucos anos antes da sua morte, explora os mistérios da sua vida.
Descendente de uma mistura de franco-ingleses, judeus espanhóis e turcos, Hugo Pratt nasceu em Junho de 1927, nos arredores de Rimini, Itália, e passou a maior parte da infância em Veneza. Despertou para a sua vocação na Etiópia, onde descobriu o amor, aprendeu a desenhar e a detestar o colonialismo. Mergulhou na Veneza libertada do fascismo, embarcou para Buenos Aires, partilhou o tempo entre a BD, as viagens e os amigos.
Perito na cabala, iniciado no vodu, conhecedor de várias línguas e coleccionador de milhares de livros, Hugo Pratt surge-nos neste álbum como uma personagem inesperada.
Hugo Pratt morreu a 20 de Agosto de 1995, na sua casa da Suíça, com vista para o lago Léman, tendo por companhia Patrizia Zanotti e a sua biblioteca. O serviço religioso foi acompanhado por temas de jazz do seu amigo Dizzy Gillespie e o padre leu passagens de “O Desejo de Ser Inútil”.
“A minha vida começou bem antes de vir ao mundo, e imagino que prosseguirá sem mim por muito tempo”, escreveu ele.

O Desejo de Ser Inútil está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-desejo-de-ser-inutil/

Sobre Retrato do Artista quando Jovem, de James Joyce




Joyce acabou de escrever Retrato do Artista quando Jovem em 1914, ano de publicação de Dublinenses.
A novela descreve a infância em Dublin de Stephen Dedalus e a sua busca de identidade. As diferentes fases da vida do protagonista, da infância à vida universitária, refletem-se em mudanças no estilo narrativo. Os aspetos biográficos são tratados com irónico distanciamento, num trajeto que culmina com a rutura com a Igreja e a descoberta e uma vocação artística.
A obra é também um reconhecível autorretrato da juventude de James Joyce, assim como uma homenagem universal à imaginação dos artistas.

Retrato do Artista quando Jovem (trad. Paulo Faria) e outras obras de James Joyce estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/james-joyce/

17.6.20

Brevemente nas livrarias: Os Sete Pilares da Sabedoria, de T. E. Lawrence, com prefácio de B. H. Liddell Hart




A Relógio D’Água publicará em breve Os Sete Pilares da Sabedoria, de T. E. Lawrence, com prefácio de B. H. Liddell Hart, com tradução de Alda Rodrigues e Marta Mendonça. A edição terá 870 páginas e o Preço de Venda ao Público será 24 euros.

“Hogarth defendeu que Lawrence tinha o dever histórico de elaborar uma crónica à altura da Revolta Árabe. Lawrence cedeu relutantemente, mas, depois de aceitar esta incumbência, concretizou‑a com a mesma força motriz impressionante que tinha gerado na campanha.” [B. H. Liddell Hart]

“É um dos melhores livros alguma vez escritos em língua inglesa. Como narrativa de guerra e aventura, é inultrapassável.” [Winston Churchill]

“Descreve a Revolta Árabe contra os turcos, vista por um inglês que nela tomou parte. No que seria aparentemente uma simples crónica militar, Lawrence da Arábia teceu um painel inusitado de retratos, descrições, filosofias, emoções, aventuras e sonhos. Para levar a cabo a sua missão, serviu-se de uma extraordinária erudição, uma memória impecável, um estilo que ele próprio inventou… uma total desconfiança em si mesmo e uma fé ainda maior.” [E. M. Forster]

“T. E. Lawrence foi “libertador da Arábia, tradutor heroico da Odisseia, asceta, arqueólogo, soldado e grande escritor. […] Negava sono e comida ao seu corpo e as suavidades do afeto à sua alma varonil”, acabando por “recusar a glória e até por recusar o prazer do exercício literário”. [Jorge Luis Borges]

Sobre A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber




Este livro é, indiscutivelmente, o trabalho sociológico mais importante do século XX. As palavras de Weber surtiram profunda influência no desenvolvimento das ciências sociais modernas.
Em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Max Weber atribui a ascensão da economia capitalista à crença calvinista nos valores morais do trabalho duro e do alcançar da satisfação através do cumprimento dos deveres mundanos.
Baseada na edição alemã original de 1920, esta nova tradução inclui uma esclarecedora introdução de Anthony Giddens, notas explicativas e reacções e comentários feitos por Weber às críticas que a obra recebeu.

«Max Weber tinha razão. Se temos algo a aprender da história do desenvolvimento económico, é que a cultura faz quase toda a diferença.» [David S. Landes]

«Uma das obras mais conhecidas e controversas da ciência social moderna.» [Anthony Giddens]

«Max Weber é uma das figuras canónicas da sociologia contemporânea.» [The Times Higher Education Supplement]

Esta e outras obras de Max Weber estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/max-weber/

Sobre Ulisses, de James Joyce




Ulisses é um romance de referências homéricas, que recria um dia de Dublin, a quinta-feira de 16 de Junho de 1904, o mesmo em que Joyce conheceu Nora Barnacle, a jovem que viria a ser sua mulher. 
Nesse único dia e na madrugada que se lhe seguiu, cruzam-se as vidas de pessoas que deambulam, conversam, tecem intrigas amorosas, viajam, sonham, bebem e filosofam, sendo a maior parte das situações construídas em torno de três personagens. A principal é Leopold Bloom, um modesto angariador de publicidade, homem traído pela mulher, Molly, e, de modo geral, o contrário do heróico Ulisses de Homero. 
Joyce começou a escrever esta obra em 1914, recorrendo às três armas que dizia restarem-lhe, «o silêncio, o desterro e a subtileza». 
Depois de várias dificuldades editoriais, Ulisses seria publicado pela Shakespeare & Company, em Paris, em 1922, no dia de aniversário de Joyce. 

«Mais do que a obra de um só homem, Ulisses parece de muitas gerações (…). A delicada música da sua prosa é incomparável.» [J. L. Borges, James Joyce, 1937]

«As grandes obras em prosa do século xx são, por esta ordem, o Ulisses de Joyce; A Metamorfose de Kafka; Petersburgo de Béli, e a primeira metade do conto de fadas Em Busca do Tempo Perdido de Proust.» [Vladimir Nabokov]

Ulisses (trad. Jorge Vaz de Carvalho) e outras obras estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/james-joyce/

16.6.20

Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: O Tempo, Esse Grande Escultor, de Marguerite Yourcenar (trad. Helena Vaz da Silva)





«No dia em que uma estátua é acabada, começa, de certo modo, a sua vida. Fechou‑se a primeira fase, em que, pela mão do escultor, ela passou de bloco a forma humana; numa outra fase, ao correr dos séculos, irão alternar‑se a adoração, a admiração, o amor, o desprezo ou a indiferença, em graus sucessivos de erosão e desgaste, até chegar, pouco a pouco, ao estado de mineral informe a que o seu escultor a tinha arrancado.
Já não temos hoje, todos o sabemos, uma única estátua grega tal como a conheceram os seus contemporâneos.»

O Tempo, Esse Grande Escultor e De Olhos Abertos estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/marguerite-yourcenar/

Sobre O Sul seguido de Bene, de Adelaida García Morales




O volume inclui duas novelas, a primeira das quais, O Sul, deu origem a um filme realizado por Víctor Erice.
Tanto O Sul como Bene se caracterizam por um magnetismo narrativo baseado na especial capacidade de Adelaida García Morales para envolver numa aura de mistério a ausência de personagens masculinas ausentes.
Movendo-se no território da pureza amoral da adolescência, as narrativas percorrem caminhos pouco habituais na ficção espanhola.
Como escreveu Ángel Fernández-Santos, «O Sul é uma das narrativas de amor mais originais na sua poderosa simplicidade».

O Sul seguido de Bene (trad. Hélia Correia) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-sul-seguido-de-bene/

Sobre O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan




«E para nos dar esta Curitiba povoada por estes curitibanos tragicómicos, a um pêlo do pícaro, Dalton Trevisan foi-se à eloquência e cravou-lhe a faca. Ironia, elipse, nenhuma cedência ao romantismo nem ao realismo mágico, aí estão outras armas brancas do escritor, afiadas à secretária-mesa-de-cela-monacal.» [Fernando Assis Pacheco, Prefácio a Cemitério de Elefantes, 1984]

«Provavelmente o maior contista brasileiro do século xx.» [Abel Barros Baptista]

«… as suas curtas e irónicas epifanias atingem a revelação das elípticas personagens de Maupassant e Tchékhov.» [Bruce Allen, Library Journal]

«Todas essas histórias sugerem que Curitiba, ao lado da Macondo de Gabriel García Márquez, deverá em breve surgir nos mapas dos norte-americanos que admiram a arte narrativa da América Latina.» [Alan Cheuse, Los Angeles Times]

O Vampiro de Curitiba e outras obras de Dalton Trevisan estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/dalton-trevisan/

15.6.20

De Poemas Escolhidos, de W. B. Yeats




«AO SER-ME SOLICITADO UM POEMA DE GUERRA

Em tempos como estes parece-me melhor que
A boca de um poeta tudo cale, pois na verdade
Não nos cabe o dom de corrigir um estadista;
Já se intromete bastante quem logra agradar
A uma rapariga na indolência da sua juventude
Ou a um velho numa noite de inverno.»

Poemas Escolhidos (trad. Frederico Pedreira) e outras obras de W. B. Yeats estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/william-butler-yeats/

Sobre Antologia Poética, de Fernando Pessoa




«Pessoa morreu em 30 de Novembro de 1935, de uma “cólica hepática” no hospital particular de São Luís dos Franceses no Bairro Alto, então um dos melhores de Lisboa. Antes de entrar em coma escreveu a lápis num papel: “I know not what tomorrow will bring.
Deixava dispersa uma obra já ampla em poesia e prosa e amigos que reconheciam ou suspeitavam o seu génio por entre o alheamento do público. 
O previsível Diário de Notícias falou da morte “de um grande poeta de Portugal” numa referência à Mensagem e a Presença dedicou-lhe um número especial. 
Foi lentamente que a sua dimensão emergiu da mítica arca que legou à posteridade, e que, irradiando o enigmático fascínio dos seus textos, deu aos críticos o que em vão Joyce pediu para o seu Finnegans Wake, ou seja, trabalho para várias gerações.» [Do Prefácio]

Esta e outras obras de Fernando Pessoa estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/fernando-pessoa/

12.6.20

Sobre Sobre a Tirania, de Timothy Snyder




Timothy Snyder é historiador e professor na Universidade de Yale. Venceu o Prémio Hannah Arendt em 2013 com o livro Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin e é co-autor de Thinking the Twentieth Century, o último livro do historiador Tony Judt. Neste livro, o autor explica-nos como podemos resistir e sobreviver aos movimentos de autoritarismo.

«Este escritor não nos deixa ficar com ilusões sobre nós próprios.» [Svetlana Alexievich, Vencedora do Prémio Nobel da Literatura 2015]

«Este livro tem de ser lido. É inteligente e intemporal.» [George Saunders]

«Sobre a Tirania é o livro mais interessante sobre literatura de resistência.» [Carlos Lozada, The Washington Post]

Entrevista a Paolo Giordano



Ana Daniela Soares conversa com Paolo Giordano no programa 360 (a partir de 33m15s), a propósito do livro Frente ao Contágio, que a Relógio D’Água publicou recentemente (5/5/2020). A conversa está disponível em https://www.rtp.pt/play/p6656/e470743/360/826504

Frente ao Contágio e outras outras de Paolo Giordano estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/paolo-giordano/

Sobre Big Sur, de Jack Kerouac




«Esta fecunda escrita natural não tem semelhante na última metade do século XX, é uma síntese de Proust, Céline, Thomas Wolfe, Hemingway, Genet, Thelonious Monk, Bashô, Charlie Parker e da própria compreensão do sagrado de Kerouac.
Big Sur é uma humana, exacta narrativa da espantosa devastação causada pelo delirium tremens alcoólico de Kerouac, um romancista excepcional que forçou os seus limites, uma proeza que poucos escritores tão atormentados realizaram (…). Aqui encontramos a São Francisco dos poetas, e reconhecemos o herói Dean Moriarty dez anos depois de Pela Estrada Fora. Jack Kerouac era um “autor”, como o seu grande igual W. S. Burroughs disse, e aqui, no cume do seu genial temperamento sofredor, escreveu através da dor para acabar no brilhante poema final “O Mar”, nos alucinatórios sons do oceano Pacífico em Big Sur.» [Allen Ginsberg, 10-10-91, N. Y. C.]

Big Sur (trad. Paulo Faria) e outras obras de Jack Kerouac estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/jack-kerouac/

Tradução de Memórias Póstumas de Brás Cubas esgota num dia




A nova tradução de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, editada pela Penguin e assinada por Flora Thomson-DeVeaux, esgotou nos EUA num único dia, depois da publicação na The New Yorker do texto de Dave Eggers que lhe serve de prefácio. Escreve Dave Eggers: «Há muito esquecido pela maioria, é um dos livros mais espirituosos, mais divertidos e por isso mais vívidos e intemporais alguma vez escritos.» O texto completo pode ser lido aqui: https://www.newyorker.com/books/second-read/rediscovering-one-of-the-wittiest-books-ever-written

Memórias Póstumas de Brás Cubas e outras obras de Machado de Assis estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/machado-de-assis/

11.6.20

Mário Cláudio recomenda leitura de Moby Dick




Na revista Sábado, 15 escritores recomendaram livros para a quarentena.
Mário Cláudio sugere Moby Dick, de Herman Melville: «Como os grandes romances, é uma alegoria para diversas coisas, e parece corresponder ao que estamos agora a viver: defendemo-nos do inimigo no nosso confinamento.» [https://www.sabado.pt/gps/palco-plateia/livros/detalhe/feira-virtual-15-escritores-recomendam-livros-para-a-quarentena?ref=GPS_Destaques_livros]

Moby Dick (trad. Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves) e outras obras de Herman Melville estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/herman-melville/

10.6.20

De Prazer e Glória, de Agustina Bessa-Luís




«A janela tinha ficado aberta durante a noite, não como um hábito saudável e vagamente implorante, como se da noite viesse qualquer espécie de transformação. Um ente espacial, por exemplo, navegando na galáxia, explorando os portos do desconhecido. Mas havia outro motivo por que ele sacrificava a escuridão necessária à sua insónia povoada de imagens grotescas que lhe ficavam da época ultramarina, como um botão de casaco mal arrancado, pendente do fio já gasto. Ele, João Baptista Pinheiro, não podia dispensar ainda o rumor florestal e a vida que ele transmitia. Era o caso que o seu modesto albergue, onde vivia agora como inquilino dum alfaiate modesto, tinha defronte a mansão dos Robim, com o grande parque verde que, na manhã chuvosa, parecia um desiludido tema para uma sinfonia, dessas que são tocadas em recitais de Verão para senhoras velhas e que dormem inocentemente com Ravel e Debussy.
João levantou‑se depressa e fumou um cigarro. O cheiro evaporou‑se com as rajadas frescas que varriam o quarto. Ele tremia e tinha um ar doentio; o crestado da pele já desaparecido, lívido na moldura da barba rala e encaracolada. Não era propriamente um homem bonito; tinha nariz curto, o que lhe causava mal‑estar, como se exibisse a prova duma doença. Essa contrariedade estimulava nele o sentido erótico e era uma forma de desilusão que se reprime com paixões despidas de culpa. As mulheres eram atraídas por ele com uma espécie de frenesim passageiro que se permitiam como uma breve pausa nas virtudes. De facto, João era de certo modo a incarnação dum fauno e explorava isso com algum jeito.» [p. 13]

Agustina Bessa-Luís recebeu o Prémio Camões em 2004. Prazer e Glória e outras obras de Agustina Bessa-Luís estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/agustina-bessa-luis/

De O Separar das Águas e Outras Novelas, de Hélia Correia




«Como todas as vilas recolhidas, afastadas das grandes capitais, as notícias chegavam a Vilerma tardiamente e muito acrescentadas. A Revolução Russa e o milagre de Fátima vieram a um tempo, entrelaçados, como formas visíveis do tremendo combate de Deus e do Diabo, que arrastava consigo a perdição do mundo.
O padre Benjamim, subitamente pálido, apoiava no ventre, sobre o lado direito, a mão consoladora. Queixava‐se do fígado e o vinho da missa tornara‐se‐lhe amargo.
Andava assoberbado de trabalho, com novenas e preces, mortes e confissões. Uma gripe maligna e a tuberculose cavalgavam nas vilas, exterminavam. Demonstrando alguns restos de decência, preferiam, na escolha, os casebres dos pobres, o que tornava breves as cerimónias de enterro e indignava apenas os fazedores de campas luxuosas, com mármore e doirados e mãos vindas do chão a segurar nas jarras de alabastro.
O milagre de Fátima deixara o padre Benjamim perplexo. Dera em falar sozinho e em vomitar. Escrevera para Lisboa, pedindo informações, pormenores que lhe dessem alguma garantia. Mas, não tendo resposta, resignou‐se, supondo que até mesmo o cardeal estaria tão espantado como ele.
Secretamente, entrara‐lhe a inveja pelo corpo moído das insónias. Naquela vila branca e infecunda, ele sempre esperara qualquer coisa, um sinal que descesse da lua derretida ou mesmo uma criança que nascesse a declamar os salmos em latim, só um pequeno sopro perfumado que lhe ateasse as velas no altar. Enfim, uma qualquer divina distinção.» [pp. 13-14]

Hélia Correia recebeu o Prémio Camões em 2015. O Separar das Águas e Outras Novelas e outras obras de Hélia Correia estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/helia-correia/

Sobre Ensaio sobre o Dia Conseguido, de Peter Handke




Ensaio sobre o Dia Conseguido, de Peter Handke, é uma das obras que Isabel Coutinho recomenda esta semana. A obra do vencedor do Prémio Nobel da Literatura chegará em breve às livrarias. [https://www.publico.pt/2020/06/08/culturaipsilon/noticia/28-livros-recomendamos-semana-1919434]

«Quem viveu já um dia conseguido? À partida, a maioria não hesitará talvez em afirmá‑lo. Será, pois, necessário continuar a perguntar. Queres dizer “conseguido” ou apenas “belo”? É de um dia “conseguido” que falas, ou de um — igualmente raro, é verdade — “despreocupado”? É para ti um dia que decorreu sem problemas já um dia conseguido? Vês alguma diferença entre um dia feliz e o conseguido?»

Outras obras de Peter Handke estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/peter-handke/

9.6.20

Sobre A Montanha Mágica, de Thomas Mann




Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: A Montanha Mágica, de Thomas Mann (tradução, prefácio e notas de António Sousa Ribeiro)

«Tal como em A Morte em Veneza, o protagonista de A Montanha Mágica empreende uma viagem que acaba por o levar para fora do espaço e do tempo da existência burguesa. Não por acaso, contrariando planos anteriores em que o romance abria com a explanação da biografia de Hans, depois remetida para o segundo capítulo, o primeiro capítulo centra‑se na viagem e no primeiro momento de confronto com o mundo fechado do sanatório, o início do longo percurso de iniciação que irá constituir o fulcro da narrativa. O herói do romance, como surge repetidamente sublinhado, nada tem de excepcional, pelo contrário, a própria mediania da personagem constitui uma forma de acentuar de que modo ela representa paradigmaticamente a normalidade social. O fulcro do romance, está, justamente, no facto de essa normalidade ser totalmente posta à prova e problematizada nos seus fundamentos pelo confronto com o microcosmos do sanatório.» [Do Prefácio]

Esta e outras obras de Thomas Mann estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/thomas-mann/