«Contra tudo aquilo que artificializa o homem, contra a técnica e contra a civilização, contra as ideologias e contra as mentiras e os slogans e as propagandas, a Autora ergue a sua voz. Uma voz antiquíssima, do princípio do mundo, apelando para a conaturalidade dos seres, para o seu enraizamento na terra, para a sua esperança infatigável, sempre renascente dos escombros, para o amor que sabe acreditar e que sabe confiar.
Agustina Bessa-Luís, convertida em “sibila”, uma sibila que tem o nome de Amélia, anuncia, mais além do tempo dividido e superficial — o tempo dominado, por exemplo, pela “arte, a política, o dinheiro, a violência” — o tempo “sem separação”, o tempo da liberdade, o tempo em que as lágrimas do homem “correrão de noite, no silêncio da sua vontade livre e acorrentada pelo amor”, o tempo em que ele “não compreenderá o ardil dos seus gestos antigos, nem a palavra de morte que proferia dantes”, o tempo em que ele se encontrará “trémulo no seu despertar, ansioso na comunicação, maravilhado na sua paz”.» [Manuel Antunes, em Brotéria, Julho de 1963]