A autora de No Logo afirma que «o futuro, com ou sem Trump, não tem necessariamente de ser uma catástrofe».
«Que impulso esteve na génese deste livro?
É um tipo de livro muito diferente para mim. Normalmente levo alguns anos a escrever um livro e este é o resultado de uma intervenção mais urgente numa conversa que estava — e está — a decorrer. Eu estava muito apreensiva ao ver o modo como os círculos mais liberais, de esquerda, estavam a metabolizar Trump, como se fosse um intruso vindo de fora, um alien num sistema político que de outra forma estaria saudável, como se dissessem que sem Trump tudo estaria bem. Trump estava a ser discutido fora de contexto, o protesto assim não fazia sentido. E os media focavam-se no impeachment. Isso também me irritava, porque nessa narrativa ele é a aberração e sem ele tudo fica bem. Eu não vejo Trump dessa maneira, de todo. Eu vejo Trump como uma criação made in America. Mas ele é uma caricatura muito exagerada, a combinação de uma herança cultural e política, o culminar de uma grande evolução. É isso que precisamos de entender, como precisamos de entender o caminho que o levou a Presidente. Acho que temos de nos preocupar se alguém ainda mais perigoso do que ele puder vir a ser Presidente depois dele. Se olharmos para Roy Moore e em como esteve próximo de ser eleito, a única coisa que evitou que ganhasse no Alabama foram as suspeitas de pedofilia. Não foram as suas políticas que são tão extremas, mais extremas do que as de Trump, mais racistas, mais homofóbicas. Acho que há versões de Trump por aí, na cultura política dos Estados Unidos. São piores do que Trump, mais abertamente racistas e mais competentes. Se não formos à raiz das causas que tornaram possível a eleição de Trump, o que se segue a Trump pode ser pior do que Trump.» [Isabel Lucas, Ípsilon, 17/12/29]