29.3.18

Agustina, viagem ao mundo próximo




O último número da revista E, do Expresso, dedica a capa a Agustina Bessa-Luís. A autora do artigo, Ana Soromenho, procurou saber o que se terá passado na vida da autora d’A Sibila e dos seus familiares mais próximos depois da recente morte do marido, Alberto Luís.

«Uma obra não começa nem acaba num número de livros editados. Tem os seus alicerces bem fundados num subterrâneo labiríntico e papéis que sustentam o território do escritor. Originais que nunca foram editados, contos dispersos esquecidos em gavetas, uma vasta correspondência com cúmplices de escrita e familiares, folhas com anotações para conferências, uma peça de teatro que não chegou a ser encenada. Material disperso, à espera de um rumo quando o autor desaparece de cena. Descendo as escadas de tapete vermelho que há quatro meses Alberto Luís tratou de deixar pronta para a mulher, dois dias antes de morrer, é impossível não pensar na carga metafórica que este gesto simboliza.
Agustina tinha a urgência da escrita, “Se vejo um papel diante de mim, apetece-me logo escrever.” Lourença Baldaque, a mais nova dos três netos de Agustina e Alberto, lembra-se de a ver chegar da rua e anotar reflexões nas margens dos livros, nos espaços em branco de uma folha depois de uma conferência. “Sempre a conheci a escrever, mas parecia não ter a preocupação da posteridade. Como se só lhe interessasse o tempo presente, o momento da escrita. Esse desprendimento talvez acontecesse por saber que o meu avô iria tomar conta de tudo. Como aliás sempre fez depois de terminado cada romance.”
O desejo de regressar ao universo literário de Agustina, e tornar novamente presente a obra para que pudesse ser transportada, foi uma determinação de Alberto Luís, seis anos depois do AVC da mulher. (…)
Através das salas silenciosas passam as estantes cheias de livros: Santo Agostinho, a obra completa de Freud, que Agustina leu como se fosse um romance devastador. “Depois disto nada ficou intacto, pensei” Num armário fechado com vidrinhos e objetos preciosos, lá está um retrato de época do tio António, da família do Douro, que morreu de tuberculose. Agustina não o conheceu, mas acompanhou-a muito na imaginação. Em cima de uma mesa estão pousadas edições antigas de “Eugénia e Silvina” e “O Mosteiro”, com cópias de manuscritos entaladas entre as folhas. Há ainda muito para fazer, há caixas que guardam o arquivo privado da escritora, onde está parte da correspondência que não foi mexida. “O arquivo de Agustina manter-se-á na posse da família, filha e netos, que o irão preservar e trabalhar. Eu e a Lourença tomaremos conta da organização”, informa Mónica. “Não haverá, em circunstância alguma, uma casa-museu Agustina Bessa-Luís. As casas-museu são todas aquelas por onde passou, onde viveu, onde se inspirou, onde escreveu, e das quais ficou a memória nas suas obras.” (…)
[Agustina] faz questão de beber uma taça [de champanhe] ao almoço e outra ao jantar, um hábito que adquiriu desde que estabilizou depois do AVC, naquele ato de voluntarismo que espantou a neta. A filha interpreta esta vontade de champanhe a acompanhar cada refeição como a celebração de mais um dia. Das imagens mais fortes que guarda de Agustina é dela na sala, a escrever com uma prancha em cima dos joelhos, papel e caneta e na mão. Mónica entrou de repente na sala, a mãe interrompeu-se e deu-lhe atenção, depois regressou ao texto, numa expressão que a filha estranhou, “como em transe”. Como se tivesse passado para um mundo diferente.» [Ana Soromenho, E, Expresso, 24/3/2018]

Sobre Arder a Palavra e Outros Incêndios, de Ana Luísa Amaral




«Pode ocorrer que uma parte dos leitores da poesia de Ana Luísa Amaral desconheçam a sua atividade de tradutora (poesia de língua inglesa) ou de professora. Este volume reúne alguns ensaios sobre poesia, sexualidade, feminismo e literatura. São textos de intervenção: podemos concordar ou não, mas é bom que sejam lidos.» [LER, inverno 2017/2018]

28.3.18

Sobre Reflexos num Olho Dourado, de Carson McCullers




«No cinema juntou Brando e Liz Taylor sob o olhar de John Huston. Na vida, juntou os personagens tensos e o dramatismo de um crime no Sul da América.» [LER, inverno 2017/2018]

De Carson McCullers, a Relógio D’Água publicou também O Coração É Um Caçador Solitário, A Balada do Café Triste, Frankie e o Casamento, Relógio sem Ponteiros e uma selecção de Contos. 

Sobre Deuses de Barro, de Agustina Bessa-Luís




«Deuses de Barro foi escrito por Agustina aos 19 anos (…), nele está já presente o seu génio, a sua capacidade inventiva e — mais — a sua sabedoria ousada e críptica, como um rio revolto e impuro.» [LER, inverno 2017/2018]

Sobre Nesta Grande Época — Sátiras Escolhidas, de Karl Kraus




«Diz o interessante prefácio de António Sousa Ribeiro ao livro de Karl Kraus que o autor encontra o seu tema principal na "hipocrisia dominante e as suas consequências". Refere-se principalmente à moral sexual, mas nestas sátiras temos de tudo o que se foi passando no princípio do século XX a nível histórico, sendo impossível eleger uma destas performances literárias como a melhor. Melhor, dá uma panorâmica social de um tempo em que as grandes questões atuais já eram antecipadas.» [João Céu e Silva, DN, 24/3/2018]

27.3.18

Sobre Pela Estrada Fora de Jack Kerouac




«Quero uma vida inteira a escrever sobre o que vi com os meus próprios olhos, contando tudo com as minhas próprias palavras, de acordo com o estilo que escolher, tenha vinte e um, trinta, quarenta, ou qualquer idade ainda mais avançada e juntando tudo, como um registo de história contemporânea, para que no futuro seja possível ver o que realmente aconteceu e o que as pessoas realmente pensavam.» [Jack Kerouac ao seu pai Leo]


Sobre A Princesa de Clèves, de Madame de Lafayette




«Passados quase 350 anos, o romance é uma joia de sentimentalismo, paixão, graciosidade e, em simultâneo, de comedimento ideológico e feminismo, explorando pela primeira vez de forma tão clara os subterrâneos do adultério e da capacidade de lhe resistir.» [LER, inverno 2017/2018]

Sobre Prefácios, de Søren Kierkegaard (trad. Susana Janic)




Pedro Mexia escreveu sobre Prefácios, de Søren Kierkegaard, no Expresso

«Publicado em 1844, “Prefácios” é, como o título indica, uma colecção de introduções, embora neste caso introduções a livros inexistentes. O autor textual, Nicolaus Notabene (um dos vários pseudónimos ou quase-heterónimos de Kierkegaard), é um homem a quem a mulher faz notar que escrever livros constitui uma “requintada felicidade”, um vez que o autor dedica tanta ou mais atenção aos livros que à família. Querendo agradar à senhora Notabene, Nicolaus decide então não redigir mais livros, apenas prefácios. Prefácios a livros imaginários. O movimento que suscita estes “prefácios” é, por isso, duplo. Por um lado, trata-se de uma tentativa de resposta à dúvida sobre a “validade estética” (e não apenas estética) do casamento, assunto que muito inquietava Kierkegaard. Por outro, é a manifestação de um gozo da escrita que se converte em teoria dos géneros textuais. (…) Zangados, lúdicos, dúcteis, estes prefácios mimetizam artigos de imprensa, textos de almanaque, elucubrações dialécticas. Um discute como fazer uma revista, e se vale a pena alguém dar-se ao trabalho. Outro imagina uma Associação para a Abstinência Total, abstinência intelectual, entenda-se, não alcoólica. Um terceiro debate a noção de “escrito edificante” (…).» [Pedro Mexia, E, Expresso, 24/3/2018]

De Søren Kierkegaard, a Relógio D’Água publicou também «Migalhas Filosóficas», «Ou-Ou. Um Fragmento de Vida (Primeira Parte e Segunda Parte)», «Temor e Tremor» e «A Repetição».

26.3.18

Sobre A Ciência e a Política como Ofício e Vocação, de Max Weber




«O texto de Max Weber é de uma extraordinária atualidade para analisar o funcionamento das democracias e das sociedades liberais; mas este livro tem ainda um outro “plus”: o prefácio de Raymond Aron e a sua engenhosa intuição, que tanta falta faz aos dias de hoje.» [LER, inverno 2017/2018]

Sobre O Eco das Cidades Vazias, de Madeleine Thien




«Ninguém consegue esquecer os horrores do comunismo cambojano e do seu regime, o Khmer Vermelho. Madeleine Thien recorda o inferno com uma leveza que ele não merece, mas que é grande literatura,elegante, delicada, sem amenidades nem desculpas — e sem deixar margem para dúvidas: o horror é o horror.» [LER, inverno 2017/2018]


De Madeleine Thien a Relógio D’Água editou também Não Digam que não Temos Nada.

Benjamin Moser tem um sonho: uma estátua de Lispector ao lado da de Pessoa no Chiado




«Na Madeira, o autor da biografia de Clarice Lispector, "Porquê Este Mundo", admitiu que gostava de ver uma estátua da escritora brasileira junto à de Fernando Pessoa no Chiado, em Lisboa.
Ninguém fala de Clarice Lispector com tanto amor como Benjamin Moser. Autor da primeira biografia em inglês de Lispector, o norte-americano, que conversou com a jornalista Raquel Marinho no recente Festival Literário da Madeira (FLM), explicou que descobriu a autora brasileira por mero acaso, quando decidiu aprender português. A paixão foi arrebatadora e dura até hoje, tendo-o levado a percorrer todos os lugares por onde Clarice Lispector passou e a dar início à tradução a para inglês da obra da brasileira que, para ele, é uma das mais importantes do século XX.
Fluente em oito idiomas, Benjamim Moser contou esta quinta-feira no Funchal que, depois de ter fracassado em aprender chinês, decidiu voltar-se para o português porque “era o que havia disponível” para o seu horário. “Depois da gramática, começámos por estudar literatura luso-brasileira e não fiquei muito apaixonado”, admitiu no Teatro Municipal Baltazar Dias. “Já estava cansado.” Foi então que leu a novela  A Hora da Estrela. “Essa mulher entrou em mim de maneira espetacular. Hoje ainda estou aqui a falar dela porque é uma paixão”, contou, emocionado.
Sobre a decisão de escrever a biografia de Clarice Lispector, Porquê este mundo: uma biografia de Clarice Lispector, editada em Portugal pela Relógio d’Água, Moser revelou que, como “em qualquer paixão, a pessoa quer saber quem o outro é, o que come, são perguntas banais”. Até o facto da pessoa “gostar de Beethoven e não de Elvis é um fator de grande fascinação”, admitiu. Foi essa curiosidade que o levou a querer saber mais sobre Lispector, a obra mas sobretudo a sua vida. “No Brasil há tendência de enterrar a vida que há na arte, por causa da visão académica, o que, para mim, lhe tira a vida e o coração selvagem, que é o que nos atrai na arte. Escrevo sobre ela, porque a amo, porque a quero conhecer”, afirmou. (…)
A morte de Mania [mãe de Clarice] foi a principal razão pela qual, segundo Benjamin Moser, Clarice Lispector, filha de judeus, se revoltou contra Deus. Só anos mais tarde é que conseguiu voltar a aproximar-se da religião. Até porque “a vocação não desaparece assim”. Para o biógrafo, é precisamente sobre isso que fala A Paixão Segundo G.H., “uma das obras-primas do século [XX] da língua portuguesa, onde é possível sentir “a náusea do encontro com Deus”. É pela sua importância para a literatura em escrita em português, que o biógrafo norte-americano gostaria de ver Clarice Lispector reunida com Fernando Pessoa. Esta quinta-feira, Benjamin Moser admitiu no Teatro Municipal Baltazar dias que tem um “sonho”, que é também um desafio: ver uma estátua da brasileira junto à de Pessoa na Brasileira do Chiado, em Lisboa.

Durante a conversa com Raquel Marinho, Benjamim Moser destacou ainda a forma como a escritora “deu beleza a histórias de pessoas desprezadas, no Brasil, sobre pobres, sobre a dona de casa que vai às compras”. Antes de Lispector, a literatura brasileira estava demasiado focada no seu próprio país, com “muito índio, muita floresta, muita cachoeira”. Precisava “de se abrir, de se tornar universal”, e foi isso que Clarice Lispector fez. Os seus livros podem ser difíceis de entender, mas Moser, que terminou recentemente a biografia de Susan Sontag, garante que entender Lispector “não tem nada a ver com formação ou inteligência”. “É uma coisa de sentimento e corpo. Posso apaixonar-me por uma pessoa e os outros não e não dá para explicar porque a amo. A solução é ler e ver o que acontece.”» [Observador, 16/3/18]

23.3.18

A chegar às livrarias: Oliver Twist, de Charles Dickens (trad. e introdução de Paulo Faria)





«Oliver Twist contém já a marca do génio de Dickens. O seu humor mordaz e a sua ironia cáustica enchem estas páginas, e encontramos aqui cenas inesquecíveis, que parecem fixar a condição humana em toda a sua fragilidade e riqueza: pensemos em Mr. Brownlow e Mr. Grimwig, sentados numa sala, na penumbra, com um relógio pousado na mesa, entre ambos, à espera de ver para que lado irá tombar a balança do destino de Oliver, tendo cada qual apostado num dos lados da alma humana, o Bem e o Mal.» [Da Introdução de Paulo Faria]

Agustina Bessa-Luís homenageada ao longo do ano em Vila Real





A iniciativa surge quando se assinalam os 70 anos da publicação de “Mundo Fechado”, uma das primeiras obras da autora.
A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) arranca na sexta-feira, em Vila Real, com uma homenagem a Agustina Bessa-Luís, que se prolongará ao longo do ano com colóquios, exposições e cinema para divulgar a obra da escritora.
A homenagem à escritora vai ser lançada na cerimónia de celebração do 32.º aniversário da academia transmontana, que vai contar com a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes.
O vice-reitor da UTAD Artur Cristóvão disse hoje à agência Lusa que a universidade vai promover, ao longo deste ano, iniciativas diversas "para a divulgação e consagração da vida e obra de Agustina Bessa-Luís, autora com fortes ligações ao Douro".
Até ao final do ano surgirão iniciativas como "As tardes da Agustina", um ciclo de cinema e um colóquio de dois dias que vai abordar várias facetas do trabalho da escritora, desde o jornalismo ao cinema, e vai contar com a participação de convidados nacionais e estrangeiros.
A primeira "tarde da Agustina" ocorre a 13 de abril em torno da obra "O princípio da incerteza".
Em maio, será dedicada ao livro "Dentes de rato", a sua obra mais dirigida para a juventude, será realizada em articulação com as escolas de Vila Real e terá como convidada a filha da autora e escritora Mónica Baldaque, que ilustrou o livro.
Uma terceira tarde será dedicada à biografia de Agustina Bessa-Luís e terá como convidado o historiador Rui Ramos.
O programa de homenagem inclui ainda um ciclo de cinema, com filmes inspirados em obras da escritora, como "Vale Abraão", realizado por Manoel de Oliveira, bem como uma exposição de primeiras edições.
Esta iniciativa conta com a colaboração do Círculo Literário Agustina Bessa-Luís, a Câmara de Vila Real e a biblioteca municipal, a rede de bibliotecas da cidade, bem como as escolas, a Associação Zona Livre e a nova editora da escritora a "Relógio de Água".


Sobre Os Três Crimes dos Meus Amigos, de Georges Simenon (trad. Ângelo Ferreira de Sousa)




Mário Santos escreveu no ípsilon sobre duas obras de Georges Simenon recentemente editadas pela Relógio D’Água


«A editora Relógio D’Água tem vindo a publicar algumas obras de Simenon. As mais recentes — e que estavam até agora inéditas em português, creio — são Os Três Crimes dos Meus Amigos (1938) e O Santinho (1965). Nenhuma delas é integrável no qualificativo ‘policial’, sendo que a primeira é, no mínimo, de discutível filiação genológica. Embora originalmente tenha sido publicado como se de uma obra de ficção romanesca se tratasse, o livro Os Três Crimes dos Meus Amigos é, substancialmente, uma memória descritiva dos anos de formação do autor em Liège, até à sua ida para Paris em 1922, e da década subsequente na capital francesa, até à condenação dos amigos criminosos. Trata-se de uma crónica declaradamente autobiográfica, narrada por Simenon-ele-mesmo. É claro que sempre poderemos questionar a exacta veracidade deste episódio ou daquela circunstância, pois as fantasias da memória costumam atraiçoar as mais bem intencionadas autobiografias, mas, no geral, personagens e acontecimentos serão historicamente comprováveis.» [Mário Santos, Público, ípsilon, 23/3/18, texto completo aqui]

Sobre O Santinho, de Georges Simenon (trad. Catarina F. Almeida)




Mário Santos escreveu no ípsilon sobre duas obras de Georges Simenon recentemente editadas pela Relógio D’Água

«O Santinho é a biografia de um pintor imaginário, cuja existência decorre inteiramente em Paris desde o final do século XIX até ao início dos anos 60 do século seguinte. O livro está dividido em duas partes, intituladas O Rapazinho da Rue Mouffetard e O Rapazinho da Rue de l’Abbé-de-l’Épée. A primeira, na reconhecível moldura do “romance de formação”, conta a infância do protagonista no seio de uma feliz família disfuncional e pobre, capitaneada por uma mãe-coragem algo promíscua que vende legumes e frutas na rua Mouffetard, cujo entorno pertencia então às classes obreiras e populares de Paris e a alguns pequeno-burgueses (hoje pertence, como se sabe, ao turismo de massas). Na segunda parte, concluída a escola primária, o rapazinho vai trabalhar para o então grande mercado abastecedor de Paris (Les Halles) e tornar-se-á um (famoso) pintor autodidacta. A repetição, no título de ambas as partes (tratando a segunda, em boa medida, da vida adulta do artista, até à sua velhice), da palavra “rapazinho” é uma boa chave para a leitura do romance.»

[Mário Santos, Público, ípsilon, 23/3/18, texto completo aqui ]

Sobre O Meu Inimigo Mortal, de Willa Cather (trad. Ana Teresa Pereira)




Carlos Vaz Marques falou sobre O Meu Inimigo Mortal, de Willa Cather, no programa Livro do Dia na TSF. O programa pode ser ouvido aqui.



De Willa Cather, a Relógio D’Água editou também Uma Mulher Perdida (trad. Paulo Faria).

Dia do Livro na Feira do Livro de Poesia



Nas livrarias: O Meu Amor Absoluto, de Gabriel Tallent (trad. de Vasco Gato)





Este primeiro livro de Gabriel Tallent, escrito aos 30 anos, é a revelação de um grande autor, tanto pela escrita como pelo facto de ter arriscado num tema difícil, sempre próximo do abismo.
Turtle Alveston, com apenas 14 anos, é uma sobrevivente, ameaçada pelo amor asfixiante do pai, Martin. Vive em perigo constante, mas está longe de ser uma adolescente passiva e inocente. E, no entanto, tem apenas a referência de Jacob, no meio da paisagem desolada.
O autor nunca esconde que o tema do livro é o abuso, psicológico e mesmo sexual, mas admite que até assim pode existir uma certa forma de amor e de prazer.

«O romance de leitura obrigatória do ano.» [The Times]

«Este livro deverá tornar-se a estreia literária do ano (…). Tallent parece ter chegado [aos 30 anos] já formado.» [The New York Times]

«Um livro com a grandeza de Mataram a Cotovia e Catch-22. É impossível parar de o ler.» [NPR]

«A palavra “obra-prima” tem sido banalizada, mas este livro é sem dúvida uma.» [Stephen King]

Dia do Livro na Feira do Livro de Poesia





«A poesia de Dickinson é marcada por uma peculiar gramaticalidade: inserção forçada de plurais, posições sintácticas invertidas, ou, muitas vezes, desrespeito pelos géneros, pelas pessoas ou pelas concordâncias verbais. É ainda necessário destacar da linguagem de Dickinson não só os desvios sintáctico-formais, mas ainda os desvios semânticos internos, aqueles que sustentam, pela ruptura, a arquitectura dos seus textos poéticos e que resultam numa linguagem críptica, compacta, plena de elipses, traduzida em textos que desafiam a tradição da poesia enquanto comunicação e oferecem à linguagem literária um lugar de destaque e autonomia mais próximo da estética que informa a poesia moderna. Excessiva, em relação ao seu tempo; excessiva, mesmo em relação ao nosso, pela opacidade de leitura e apreensão e pelas temáticas envolvidas. “Uma linguagem altamente desviante que arrisca tudo”, como defende David Porter, pois, “na extrema elipse e transposição, desbasta a armadura mesma do sentido”.» [Do Posfácio]

Dia do Livro na Feira do Livro de Poesia




«Há nos melhores versos de Baudelaire uma combinação de carne e de espírito, uma mistura de solenidade, de calor e de amargura, de eternidade e de intimidade, uma raríssima aliança da vontade com a harmonia, que os distingue nitidamente dos versos românticos, como os distingue nitidamente dos versos parnasianos. O Parnaso não foi excessivamente terno para com Baudelaire.

Leconte de Lisle criticava-lhe a esterilidade. Ele esquecia que a verdadeira fecundidade de um poeta não consiste no número dos seus versos, mas bem mais na extensão dos seus efeitos. Só podemos julgar com o passar do tempo. Vemos hoje que a ressonância, passados mais de sessenta anos, da obra única e muito pouco volumosa de Baudelaire, preenche ainda toda a esfera poética, que está presente aos espíritos, é impossível de ignorar, reforçada por um número notável de obras que dela derivam, que não são imitações, mas consequências, e que seria pois necessário, para ser equitativo, juntar à delicada recolha das Flores do Mal diversas obras de primeira ordem, e um conjunto de investigações mais profundas e mais subtis como nunca a poesia empreendeu.» [Do Posfácio de Paul Valéry]

A chegar às livrarias: As Rotas da Seda — Uma Nova História do Mundo, de Peter Frankopan (trad. Isabel Castro Silva)





A região das Rotas da Seda é desconhecida para muitos. No entanto, a região que ligava o Ocidente com o Oriente foi onde a civilização nasceu, onde as grandes religiões do mundo se enraizaram, onde eram trocados bens e onde as línguas, as ideias e a doença se disseminavam. Em «As Rotas da Seda», Peter Frankopan afasta-se de uma visão eurocêntrica do mundo para oferecer um relato diferente da História, sublinhando a importância vital readquirida por essa zona do mundo.

«O mais iluminador livro do ano... Um antídoto saudável a relatos eurocêntricos da História.» [Times Literary Supplement]

«Frankopan é um historiador brilhante e destemido de Oxford, que marcha com rapidez e erudição através dos séculos. Um livro fascinante a todos os níveis. Um feito histórico de alcance épico.» [The Guardian]

«Um projecto pessoal de enorme coragem. Inspirador e ambicioso.» [The New York Review of Books]


«Um livro extremamente ambicioso… A escrita de Frankopan é clara e repleta de pormenores memoráveis.» [The Economist]

A chegar às livrarias: Sonhos Elétricos, de Philip K. Dick (trad. de Helena Briga Nogueira e Paulo Faria)





Philip K. Dick escreveu vários livros que serviram de inspiração para filmes e séries de televisão. Sonhos Elétricos é a antologia dos dez contos adaptados a série de televisão com o mesmo nome.
Desde enredos em que uma mulher suspeita que o seu marido já não é a mesma pessoa desde que regressou de uma viagem ao espaço profundo, a um agente do governo em busca do que está por trás de uma recente onda de “capuzes” ilegais que inibem capacidades telepáticas, estas histórias tratam do que é ser-se humano num mundo em constante mudança.

Estas dez histórias são a base dos dez episódios de Sonhos Elétricos de Philip K. Dick, a série de televisão do Channel Four e da Sony Pictures Television, que conta com atores como Steve Buscemi, Bryan Cranston, Greg Kinnear, Anna Paquin, Terrence Howard, Timothy Spall e Geraldine Chaplin. Cada conto tem também uma introdução escrita pelos argumentistas ou realizadores responsáveis pela adaptação.

A chegar às livrarias: Constantinopla, de Théophile Gautier (trad. de João Moita)





Neste seu livro de viagens, Théophile Gautier descreve Constantinopla em meados do século xix, os seus monumentos, habitantes e costumes e a animada vida de rua, sublinhando as diferenças que ainda hoje persistem entre a cultura muçulmana turca e a cultura ocidental.
No período de mais de dois meses que Gautier passou em Constantinopla em 1852, faziam-se sentir as importantes mudanças impulsionadas pelos sultões Mamude II e Abdul Mejide.

«Do passeio do Pequeno Campo, desfruta-se de um espetáculo maravilhoso. Da outra costa do Corno de Ouro, Constantinopla cintilava como uma coroa de rubis de um imperador do Oriente. […]
A água do golfo multiplicava, ao quebrá-los, os reflexos destes milhões de fosforescências e parecia projetar torrentes de pedras preciosas meio fundidas. A realidade, diz-se, fica sempre aquém do sonho, mas aqui o sonho ultrapassa a realidade. Os contos das Mil e Uma Noites não oferecem nada tão maravilhoso, e o brilho do tesouro submerso de Harune Arraxide empalideceria ao lado deste escrínio colossal e resplandecente de uma légua de comprimento.»

22.3.18

Sobre Arder a Palavra e Outros Incêndios, de Ana Luísa Amaral




Arder a Palavra e Outros Incêndios, novo livro de ensaios de Ana Luísa Amaral, foi apresentado no Festival Correntes d’Escritas

«“Arder a Palavra e Outros Incêndios” (Relógio d`Água), novo livro de Ana Luísa Amaral, foi apresentado por Maria João Cantinho, membro da direcção do International PEN e professora universitária.
O novo livro de Ana Luísa Amaral reúne um conjunto de ensaios um pouco “loucos”, segundo Maria João Cantinho, que reflectem uma leitura renovada e afastada de um certo cinzentismo académico. É um dos grandes méritos deste livro, afirmou.
A autora pretende com este conjunto de ensaios fomentar a interrogação sobre problemáticas relacionadas com a questão da identidade, os estudos feministas, a teoria queer e as relações entre género, sexo e sexualidade.
Depois dos vários ensaios relacionados com estas temáticas, Ana Luísa Amaral termina o livro com um peça de teatro em que contracenam todos os escritores analisados no livro.» [Mário Rufino, no sítio da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, 23-02-2018]

Sobre Mulheres Excelentes, de Barbara Pym (trad. Vasco Gato)




«Larga e profundamente admirada por Philip Larkin, por exemplo, Barbara Pym (1913-1980) é uma das autoras mais ignoradas da ficção inglesa. Uma pena. Esta é a história divertida e romântica de duas mulheres na Inglaterra dos anos 50, confrontadas com um mundo de homens indiferentes. Uma descoberta.» [LER, inverno 2017/2018]

Bob Dylan em Portugal




O cantor e Prémio Nobel de Literatura Bob Dylan está em Portugal para um concerto esta noite, em Lisboa.
Além de um momento para o ouvir, é uma excelente ocasião para adquirir as suas obras, publicadas em Portugal pela Relógio D’Água: «Canções I», «Canções II», «Tarântula» e «Crónicas (Volume 1)».



«Bob Dylan (Robert Allen Zimmerman) nasceu em Duluth, Minnesota, em 24 de Maio de 1941, descendente de emigrantes judeus da Lituânia, Rússia e Ucrânia.
Como aconteceu com tantos outros músicos, Bob Dylan procurou nos agitados anos 60 novas vias de expressão, dando voz aos deserdados e abordando as suas experiências pessoais.
Mas desde muito cedo as suas composições integraram e revitalizaram também as tradições musicais norte-americanas, as baladas do Norte e os blues do Sul. Dylan procedeu assim a uma renovação musical que se prolonga até aos nossos dias, absorvendo e expandindo velhas tradições e levando a literatura ao rock ‘n’ roll.
Uma das suas músicas (“Like a Rolling Stone”, de 1965) tem sido repetidamente considerada como uma das melhores canções de sempre. O primeiro volume reúne as suas composições de 1962 a 1973 e o segundo as composições de 1974 a 2001.» [Canções I e II]



«(…) Falámos sobre o seu [de Bob Dylan] livro, sobre as suas expectativas em relação a ele e de como queria que ele ficasse. E sobre o que ele lhe queria chamar. Apenas sabíamos que era um “trabalho em progresso”, um primeiro livro de um jovem compositor, um rapaz tímido, a quem a fama depressa chegaria, e que por vezes escrevia poesia que causava em todos nós um efeito de estranheza inexplicável.» [Do prefácio à primeira edição de Tarântula]



«Bob Dylan chega a Nova Iorque em 1960, quando não completara ainda vinte anos. 
Os encontros que teve na tumultuosa e noctívaga Greenwich Village haveriam de marcar a sua vida. 
Bob Dylan recorda em Crónicas os seus encontros com músicos, produtores e artistas e os seus primeiros amores e fala-nos da desordenada biblioteca, descoberta em casa de um amigo e que foi essencial na sua formação, onde leu de Tucídides a Eliot. 
Há ainda a história da sua vida em Nova Orleães e Woodstock, onde a avassaladora fama, que o perseguiu como símbolo de uma geração, impediu a vida familiar que desejava ter com a mulher e os filhos. 
Crónicas fala-nos também da origem de várias canções de Dylan e das gravações de alguns dos seus álbuns. 

No conjunto, compõem um quadro íntimo e incisivo da vida de Dylan, inseparável da sua criação poética e musical.» [Da contracapa de Crónicas]

Livro do Dia na Feira do Livro de Poesia




21.3.18

No Dia Mundial da Poesia





«BURNT NORTON
I

O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
O que poderia ter sido é uma abstracção
Que fica uma possibilidade perpétua
Somente num mundo de especulação.
O que poderia ter sido e o que foi
Apontam para um só fim, sempre presente.
Sons de passos ecoam na memória,
Descem o caminho que nós não seguimos
Em direcção à porta por nós nunca aberta
Para o jardim de rosas. As minhas palavras ecoam
Assim, no teu espírito.
Mas com que propósito
Perturbam o pó numa taça de folhas de rosa
Não sei.
Outros ecos
Habitam o jardim. Vamos seguir?
Depressa, disse o pássaro, procurai-os,
procurai-os,
Ao voltar da esquina. Pelo primeiro portão,
Para dentro do nosso primeiro mundo, vamos seguir
O ludíbrio do tordo? Para dentro do nosso primeiro mundo.
Ali estavam, graves, invisíveis,
Moviam-se
sem pressa, sobre as folhas mortas,
No calor do Outono, pelo ar vibrante,
E o pássaro chamou, em resposta
À inaudível música oculta nos arbustos,
E o invisível relance perpassou, pois as rosas
Tinham o ar de flores que são olhadas.
Ali estavam como convidadas nossas, acolhidas e acolhedoras
Assim nós e elas avançámos, num padrão formal,
Pela alameda vazia, até ao círculo de buxo,
Para olhar para dentro do lago esvaziado.
O lago seco, o cimento seco, de bordos castanhos,
E o lago encheu-se
com água feita da luz do Sol,
E o lótus subiu, devagar, devagar,
A superfície cintilou do coração da luz,
E ficaram por detrás de nós, reflexos no lago.
Passou então uma nuvem, e o lago ficou vazio.
Ide, disse o pássaro, pois as folhas estavam cheias de crianças,
Em excitação escondidas, a refrear o riso.
Ide, ide, ide, disse o pássaro: a espécie humana
Não pode suportar muita realidade.
O tempo passado e o tempo futuro
O que poderia ter sido e o que foi
Apontam para um só fim, sempre presente.»

[De «Quatro Quartetos» (trad. Gualter Cunha), in «Poemas Escolhidos», de T. S. Eliot]