28.6.19

Um Romance Invulgar




É um prémio merecido.
Claro que Hélia Correia já o poderia ter recebido. Podemos mesmo considerar que anteriores livros seus, como Lillias Fraser e Adoecer, se inseriam mais naturalmente no cânone tradicional do romance. Mas este género tem-se revelado versátil e mutável. 
Não admira, pois, que Um Bailarino na Batalha acabe por receber o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, apesar de poder também ser considerado um longo poema de ressonâncias épicas.
Hélia Correia fala-nos de um dos grandes problemas da actualidade, que, de certo modo, o foi de todos os tempos, as migrações dos deserdados. 
A narrativa fala-nos de personagens, animais, e homens e mulheres, estas em luta também pela sua libertação. Movem-se no deserto, onde há um rio e até uma cidade, mas tudo está fora de um espaço e tempo reconhecíveis. O ritmo é construído sílaba a sílaba, na cadência dos caminhantes e da sucessão dos dias e das noites, em busca de uma Europa cada vez mais próxima e inacessível.


Francisco Vale

Sobre Contos, de Luigi Pirandello




Luigi Pirandello foi contista, romancista e dramaturgo. Algumas das suas peças teatrais derivam de contos, como é o caso de Seis Personagens em Busca de Autor e Para Cada Um a Sua Verdade, que resultaram de A Tragédia de Um Personagem e de A Senhora Frola e o Senhor Ponza, Seu Genro.
Os contos de Pirandello, de que se publica uma selecção de vinte e oito, surgiram em diversos volumes por ele reunidos em Contos para Um Ano, pois tencionava escrever 365.
No final da vida cultivou em particular o género surrealizante de que é exemplo Um Cavalo na Lua.

«A realidade é um engano. Tudo são aparências e, por isso, tudo o que consideramos como verdades são, apenas, coisas instáveis e incertas. Nenhum conhecimento poderá ser considerado como verdade absoluta, pois tudo depende da nossa interpretação dos factos.» [Luigi Pirandello]

De Luigi Pirandello, a Relógio D’Água publicou Contos, O Falecido Mattia Pascal, A Bilha e Henrique IV e Seis Personagens em busca de Um Autor.

Um Bailarino na Batalha, de Hélia Correia, vence Grande Prémio de Romance e Novela da APE




O romance Um Bailarino na Batalha de Hélia Correia (editado pela Relógio D’Água) foi escolhido pelo júri do Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLAB 2018 como vencedor.
O júri foi formado por José Manuel de Vasconcelos, Clara Rocha, Cristina Robalo Cordeiro, Fernando Pinto do Amaral, Maria de Lurdes Sampaio e Salvato Teles de Menezes.
Os outros finalistas eram Djaimilia Pereira de Almeida, com Luanda, Lisboa, Paraíso; Joana Bértholo, com Ecologia; Julieta Monginho, com Um Muro no Meio do Caminho; e Rui Lage, com O Invisível.
Um Bailarino na Batalha foi publicado pela Relógio D’Água em Setembro de 2018. A apresentação ao público decorreu na Livraria Ferin e foi feita porJosé Gil.

«Ao terminar a leitura do livro de Hélia Correia, o leitor, imerso no seu ritmo hipnótico, acorda bruscamente e pergunta: que texto é este que acabei de ler? Quem são estas personagens? Em que continente real se situam o deserto em que caminham, o rio que atravessam, a cidade que encontram? Fala-se no mar e na Europa, mas isto não é nem um relato de factos reais, nem uma alegoria, nem um conto simbólico ou uma fábula, ou uma parábola, um fragmento de saga, de epopeia, de lenda, de mito, ou qualquer coisa como a reconstrução de uma narrativa bíblica. Nenhuma destas figuras de escrita caracteriza adequadamente o objecto literário que Hélia Correia criou.» [José Gil, na apresentação de Um Bailarino na Batalha, 12/11/2018]

25.6.19

Sobre A Cortina da Senhora Lugton, de Virginia Woolf




Carlos Vaz Marques falou sobre A Cortina da Senhora Lugton, de Virginia Woolf, no programa Livro do Dia de 21 de Junho, na TSF. O programa pode ser ouvido aqui: https://www.tsf.pt/programa/o-livro-do-dia.html

Sobre A Luz da Guerra, de Michael Ondaatje




«Em Londres, em 1945, quando a cidade se reergue da ruína da guerra, Nathaniel, um jovem de 14 anos, e Rachel, sua irmã mais velha, vêem-se abandonados pelos pais que alegam ter de deixar o país em trabalho e os deixam a cargo de estranhos misteriosos que podem muito bem ser criminosos, como o Traça ou o flecheiro, e que aliás parecem viver como tal. Nathaniel irá inclusive ajudar um deles no tráfico de galgos vindos de França como forma de manter vivas e activas as clandestinas corridas de cães. […]
É um romance que tem tanto de belo como de misterioso, enquanto Nathaniel, em adulto, começa a encaixar o enigma que foi a sua vida. […] Mas apesar do engano e das separações inevitáveis que resultam da mentira em que os pais de Nathaniel o deixam, como um filho órfão, o que persiste neste romance é a luminescência do saudosismo e da poesia palpitante na vida.» [Paulo Nóbrega Serra, no blogue Palavras Sublinhadas. Texto completo em http://palavrassublinhadas.com/luz-da-guerra-michael-ondaatje-relogio-dagua/ ]

A Luz da Guerra e O Doente Inglês, de Michael Ondaatje, estão disponíveis aqui.

Sobre Gonçalo M. Tavares


[Fotografia de Gonçalo Rosa da Silva]

Prémio Literário da Melhor Tradução de Narrativa no México atribuído ao livro de Gonçalo M. Tavares “Uma Menina está Perdida no seu Século à Procura do Pai”. 

O livro “Uma Menina está Perdida no seu Século à Procura do Pai”, de Gonçalo M. Tavares, recebeu o Prémio Belas Artes de Tradução Literária Margarita Michelena 2019, o mais importante prémio de tradução do país. O júri atribuiu, por unanimidade, o prémio à tradução de Paula Abramo. (O livro saiu na prestigiada editora Almadía em 2018.)
O júri congratulou-se pela “alta qualidade” da tradução de Paula Abramo e destacou a “excelência” da obra e a notável “tradução da fascinante imaginação de Tavares” que conseguiu manter a “originalíssima” escrita do autor.
Relembre-se que, ainda recentemente, foi noticiado que o livro “Uma Menina está Perdida no seu Século à Procura do Pai” é finalista do Prix Jean Monnet para o melhor livro europeu publicado em frança, juntamente com livros de Julian Barnes, Bernard Schlink, entre outros. 
O livro “Uma Menina está Perdida no seu Século à Procura do Pai” já foi, assim, no seu breve percurso, finalista e premiado em quatro países: Portugal (Prémio Tabula Rasa), Brasil (finalista do Prémio Oceanos), França (Finalista do Prix Jean Monnet) e, agora México (Prémio Belas Artes de Tradução Literária), estando a ser traduzido em várias outras línguas.
Praticamente toda a obra de Gonçalo M. Tavares está a ser traduzida no México, bem como em outros países de América Latina.
Gonçalo M. Tavares está a ser editado em mais de cinquenta países e já recebeu vários prémios internacionais, o último dos quais no final de 2018, na Roménia, pelo conjunto da sua obra.
Em França foi finalista de alguns dos mais importantes prémios, como o Prix du Meilleur Livre Étranger, que venceu, com o livro Aprender a rezar na Era da Técnica (prémio que foi atribuído, ao longo da história, a autores como Elias Canetti, Robert Musil, Orhan Pamuk, John Updike, Philip Roth, Gabriel García Márquez, entre outros).

Na Relógio D’Água Gonçalo M. Tavares tem publicadas 14 obras. Recentemente saiu «Na América, disse Jonathan» e será em breve reeditado «Histórias Falsas».

24.6.19

Sobre As Confissões da Carne, de Michel Foucault




As Confissões da Carne é o quarto e último volume da História da Sexualidade, obra em que Michel Foucault se propôs a estudar a sexualidade humana desde a Antiguidade clássica até aos primeiros séculos do cristianismo. 
A elaboração definitiva de As Confissões da Carne, de acordo com Frédéric Gros, responsável pela edição, pode situar-se em 1981 e 1982. O livro foi editado em 2018, quando os herdeiros de Foucault consideraram reunidas as condições para a publicação do inédito, que concluía a análise de A Vontade de Saber, O Uso dos Prazeres e O Cuidado de Si.
O livro tem três partes. A primeira aborda os temas “Criação, procriação”, “O baptismo laborioso”, “A segunda penitência” e “A arte das artes”; a segunda, a “Virgindade e continência”, “Das artes da virgindade” e “Virgindade e conhecimento de si”; e a terceira, “O dever dos esposos”, “O bem e os bens do casamento” e “A libidinização do sexo”.

Este e os outros volumes de História da Sexualidade estão disponíveis aqui.

Sobre Açores — O Canto das Ilhas, de Carlos Pessoa




Lançamento de «Açores — O Canto das Ilhas», de Carlos Pessoa, na livraria SolMar, dia 22 de Junho, com apresentação de Isabel Albergaria



«Por mim, o gran finale desta viagem pelo arquipélago dos Açores poderia ocorrer com o observador confortavelmente sentado, e por fim serenado, na esplanada exterior do hotel Azoris Faial Garden, na Horta, tendo a piscina suspensa à sua frente e contemplando, no dia que lentamente se extingue, a montanha do Pico para lá do canal, deixando-se fundir com o ocaso solar e aspirando os matizes de luz e cor reflectidos na encosta, enquanto a constante dança das nuvens molda uma e outra e outra vez o maciço rochoso, num movimento incessante de ocultamento e desvelamento da própria montanha, até que a noite caia.
(…)
[A]percebe-se da suspensão do tempo, a imobilidade eterniza-se, a emoção irrompe, tudo ao mesmo tempo, num turbilhão perturbador e único. Enquanto isso, o Sol desce para o ocaso, lá longe na imensidão do mar das Flores, e as luzes vibrantes do dia prestes a terminar ajudam a instalar um estado de excepção, que é a expressão sublime da transcendência na vida, descobrindo, possivelmente pela primeira vez, que só assim ela vale a pena ser vivida.»

Sobre Todos Nós Temos Medo do Vermelho, Amarelo e Azul, de Alexandre Andrade




Alexandre Andrade conversou com Inês Fonseca Santos no último Todas as Palavras (21/6/2019) a propósito do seu último livro, Todos Nós Temos Medo do Vermelho, Amarelo e Azul.

Esta e outras obras de Alexandre Andrade estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/alexandre-andrade/

21.6.19

Sobre Frankenstein, de Mary Shelley




O monstro de Victor Frankenstein foi criado em 1818 por uma jovem de 23 anos, Mary Wollstonecraft Godwin, filha de um livre-pensador e de uma das fundadoras do feminismo.
Mary Shelley concebeu a sua obra inicialmente apenas como um conto, quando passava alguns dias na Villa Diodati, alugada por Byron, junto do lago de Genebra na aldeia de Cologny, num grupo de que fazia também parte o médico John Polidori. 
Aproveitando a conversa junto à lareira, em vários dias em que não puderam passear devido à chuva intensa, os quatro amigos combinaram escrever contos fantásticos. 

Só Mary Shelley concluiu o seu, que depois de transformaria no romance Frankenstein, um dos clássicos indiscutíveis da literatura inglesa.

Sobre A Mão Esquerda das Trevas, de Ursula K. Le Guin



«Um viajante terrestre, de seu nome Ai (o que soa como um grito de dor, mas também como eu em inglês, “I”), é enviado numa missão a Inverno, com o objectivo de convencer esse planeta a fazer parte do Ecuménio, uma civilização galáctica, assente na comunicação e na cooperação, uma liga de mundos cuja união é mais espiritual do que política. Inverno, uma terra inóspita, sem flores e sem aves, é um estranho mundo marginal, no limite do conhecido, perto do braço sul de Oríon, para lá do qual não existe qualquer outro mundo habitado, e com a particularidade de os seus habitantes serem andróginos: o seu corpo passar por ciclos hormonais em que eles serão ora homens ora mulheres, podendo ser pais de uma criança e mães de outras.
Como é próprio da ficção científica, nesta obra o que fala mais alto não é a capacidade de fantasiar da autora, e a sua genialidade efabulatória e narrativa, mas sim a forma como se parte da alteridade de um outro poso, num outro planeta, para reflectir sobre a própria humanidade e sobre a condição terrestre […].» [Paulo Nóbrega Serra, no blogue Palavras Sublinhadas. Texto completo em http://palavrassublinhadas.com/mao-esquerda-das-trevas-ursula-k-le-guin-relogio-dagua/ ]

Sobre O Conteúdo da Felicidade, de Fernando Savater




«Na memória, de resto, a felicidade é qualquer coisa como um poço de beatitude em que nada acontece e nada falta: um espaço em branco, mas de um branco brilhante. Daí que Tolstoi afirmasse que as famílias felizes não têm história; e Hegel, que os períodos de felicidade são como vazios na história dos povos. Outro paradoxo, pois: a felicidade é uma das formas da memória, mas também como que o reverso amnésico da mesma. Recordamos o momento feliz como aquele em que nos esquecemos de tudo o resto. É precisamente porque não há realmente nada que contar da felicidade que nos agarramos à sua recordação — à recordação de um vazio, de um espaço em branco, de uma perda — com a força inamovível e algo ridícula de um ato de fé. Enquanto objeto conceptualizável, a felicidade é opaca, revela‑se refratária à tarefa reflexiva. A sua expectativa ou a sua nostalgia dão que pensar, mas ela própria — enquanto presença recordada — não.»

19.6.19

Jenny Erpenbeck recebe Prémio Llibreter 2019




Com o livro Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai, Jenny Erpenbeck recebeu o Prémio Llibreter 2019, atribuído pelo Gremi de Llibreters de Catalunya, organização de profissionais da indústria livreira a Catalunha.
O júri destacou a “prosa ágil, directa e sem excessos de dramatismo”, que aborda “sem cair em estereótipos” um tema da actualidade.
Em Portugal, o livro foi editado em 2018 pela Relógio D’Água.

Toda a vida Richard foi professor universitário, imerso no mundo dos livros e das ideias. Mas, agora que está aposentado, com os seus livros ainda amontoados em caixas, entretém-se a calcorrear as ruas da sua cidade, Berlim. Em Alexanderplatz, descobre uma nova comunidade — uma cidade de tendas, erguida por refugiados africanos. Embora hesitante, trava conhecimento com os recém-chegados, enquanto começa a questionar o seu próprio sentido de pertença a uma cidade que outrora dividiu os seus cidadãos entre eles e nós.
Uma apaixonada contribuição para o debate sobre raça, privilégio e nacionalidade, e simultaneamente uma análise excecional da demanda de um homem maduro pelo significado da sua vida.

Sobre Peter Pan, de J. M. Barrie




Era uma noite de sexta-feira. Os Darling jantavam em casa de uns amigos e a cadela Nana ficara presa no pátio. O caminho estava livre para Peter Pan, o rapaz que se recusava a crescer, vir buscar a sua sombra e levar os pequenos Wendy, John e Michael para a Terra do Nunca. Uma ilha encantada, povoada de sereias, peles-vermelhas e piratas, capitaneados pelo sinistro Jaime Gancho, e onde se vai desenrolar uma bela história de iniciação.
O autor do livro, James Matthew Barrie (1860-1937) nasceu na Escócia. Estudou em Glasgow e depois na Universidade de Edimburgo, antes de se fazer jornalista em Nottingham, profissão que continuou em Londres. Publicou poemas, peças de teatro e romances.

Peter Pan — que teve continuação em Peter Pan in Kensington Gardens (1906) — é a mais conhecida das suas obras. Começou por ser uma peça de teatro em 1904, só mais tarde conhecendo a sua forma definitiva.

Sobre Pequenos Fogos em Todo o Lado, de Celeste Ng




Artigo no The Washington Post a propósito da mini-série baseada em Pequenos Fogos em Todo o Lado, de Celeste Ng.

Em Shaker Heights, um pacato subúrbio de Cleveland, está tudo previsto — desde o traçado das ruas sinuosas até à cor das casas, passando pelas vidas bem-sucedidas que os seus residentes levam. E ninguém encarna melhor esse espírito do que Elena Richardson, cujo princípio orientador é obedecer às regras do jogo.
A esta idílica redoma chega Mia Warren — uma artista enigmática e mãe solteira — com a filha adolescente, Pearl. Mia arrenda uma casa aos Richardsons. Rapidamente Mia e Pearl se tornam mais do que inquilinas: os quatro filhos dos Richardsons sentem-se cativados pelas duas figuras femininas. Mas Mia traz consigo um passado misterioso e um desprezo pelo statu quo que ameaçam perturbar esta comunidade cuidadosamente ordenada.



18.6.19

Sobre Jaime Rocha




Jaime Rocha, de quem a Relógio D’Água acaba de publicar O Estendal e Outros Contos, entrevistado por Raquel Marinho, no Expresso

«— Como é que sabe que essa frase do senhor do café que acaba de inventar vai dar um poema ou uma narrativa literária ou uma peça de teatro?
— Eu trabalho sobre sobras daquilo que escrevo. E as sobras ficam de lado, depois pego nelas para escrever noutro registo. O momento do quotidiano dá-me um registo, escrevo sobre esse registo, e quando estou a escrever vão surgindo coisas que não funcionam no teatro, porque são demasiado poéticas, e então ficam para a poesia. E ao contrário. E vou jogando esse material.»


A entrevista pode ser lida aqui.

Sobre Deuses de Barro, de Agustina Bessa-Luís




«“Nós devemos escrever sobre aquilo que conhecemos”, foi sempre o conselho dado por Agustina aos que se iniciavam na escrita. E foi por onde também começou — pelo mundo rural que tão bem conhecia, a Casa do Paço, em Travanca, aquele mundo fechado que frequentara em criança e adolescente, onde o convívio com as tias Maria e Amélia, sobretudo Amélia (a Sibila), fora o exemplo para a sua vida, um legado de sabedoria transmitido como uma profecia. As duas últimas páginas d’A Sibila testemunham, numa linguagem oracular, como num transe arrepiante e comovente, pela revelação do profundo, a transmissão de um destino, que ela, Agustina, terá de continuar a cumprir, depois da morte da Sibila. Deuses de Barro, se por um lado é um esboço para a descoberta dos mundos fechados que integram estes três romances iniciais, por outro, representa já um grito de liberdade, ousadia, revolta e desafio contra os deuses de barro que nos vigiam, nos tolhem, com quem somos obrigados a conviver e a venerar.» [Do Prefácio]

Sobre Pensamentos, de Blaise Pascal




«Pascal oferece muito sobre que o mundo moderno faria bem em pensar. E de facto, por causa da sua combinação e equilíbrio únicos de qualidades, não sei de nenhum escritor religioso mais pertinente para o nosso tempo. Os grandes místicos, como São João da Cruz, são em primeiro lugar para leitores com um objectivo especialmente determinado; os escritores devotos, como São Francisco de Sales, são em primeiro lugar para aqueles que já se sentem conscientemente desejosos do amor de Deus; os grandes teólogos são para os interessados em teologia. Todavia, não consigo pensar em nenhum autor cristão, nem mesmo Newman, que mais do que Pascal devesse ser recomendado àqueles que duvidam, mas que têm a capacidade intelectual para conceber e a sensibilidade para sentir a desordem, a futilidade, a ausência de sentido, o mistério da vida e do sofrimento, e que apenas conseguem encontrar paz através da satisfação de todo o ser.» [Da Introdução de T. S. Eliot]

17.6.19

Sobre Patañjali e o Yoga, de Mircéa Eliade




«Veremos através de que métodos o Yoga julga alcançar estes surpreendentes resultados. Mas não podemos deixar de ter em conta uma das maiores descobertas da Índia: a da consciência-testemunha, a consciência desvinculada das suas estrutura psicofisiológicas e do seu condicionamento temporal, a consciência do “libertado”, isto é, daquele que conseguiu desligar-se da temporalidade e conhece, portanto, a verdadeira e inefável liberdade. A conquista dessa liberdade absoluta constitui o objectivo de todas as filosofias e técnicas místicas indianas, mas foi sobretudo através do Yoga, através de uma das múltiplas formas de Yoga, que a Índia acreditou poder assegurá-la.»


De Mircéa Eliade, a Relógio D’Água editou também O Sagrado e o Profano.

Sobre A Chama, de Leonard Cohen




«A Chama. Este foi o título escolhido pelo filho de Leonard Cohen, Adam, para reunir poemas, canções, desenhos, alguns versos dispersos, apontamentos em guardanapos de papel ou cadernos avulsos, dando origem a um volume que funciona como uma espécie de epitáfio, uma despedida do mundo das letras e da poesia que cruza a vida, através de um legado organizado segundo as indicações do próprio Cohen quem, contudo, não assistiu à publicação deste derradeiro volume, conforme seria, possivelmente, seu desejo. “Estou pronto para morrer”, dizia por alturas do seu disco derradeiro, You Want it Darker. Metódico, paciente, dedicado, empenhado, visionário.
Juntando textos inéditos e outros já publicados, A Chama, publicado em Portugal pela Relógio D’Água, evidencia um carácter confessional, não por uma exposição de intimidade que possa causar estranheza ou surpresa nos leitores que bem conhecem o universo onírico, espiritual e, simultaneamente, bem concreto e explícito em que se move a escrita deste “profeta do amor”, como já lhe chamaram. Antes porque a maioria destes textos não se coíbe da primeira pessoa do singular, assumindo a necessidade de viver por eles, e neles, transfigurando emoções, recordações, percepções, numa reinvenção da existência que tanto terá de espiritual como de relato nostálgico.
«Não há tempo para mudar/ O olhar para trás/ É demasiado tarde/ Meu doce livro // Demasiado tarde para/ Que os homens se envergonhem/ Daquilo que eles fazem/ Com chamas nuas// Demasiado tarde para/ Cair sobre a minha espada/ Nem sequer tenho espada/ Estamos em 2005// Como ouso preocupar-me/ Com o que tenho a fazer/ Ó doce livro/ Vens demasiado tarde// Não percebeste nada/ Da poesia/ É tudo sobre eles/ Não sobre mim».
Encontramos este trabalho divido em três partes. Primeiro, um conjunto de 63 poemas, recolhidos entre uma produção mantida inédita e escritos ao longo de décadas, permitindo aos garimpeiros do estilo procurar sistematizar traços evidentes de preocupações constantes, marcas de personalidade que se revelaram perenes e intrínsecas lao a lado com abordagens conjunturais que nas mãos de biógrafos minuciosos podem ganhar o alento de porta de entrada para caminhos ainda obscuros numa personalidade intensa e assumidamente exposta, como foi a atitude quase sempre mantida pelo autor de “Suzanne”.
Depois, como seria previsível, uma escolha de alguns poemas que se cristalizaram publicamente como letras de canções. «Assim como a névoa não deixa marcas/ Na colina verde-escura/ Também o meu corpo não deixa marcas/ Em ti, nunca vai deixar// O vento e o falcão têm o seu encontro/ E o que resta para guardar?/ Também tu e eu após o nosso encontro/ Nos vamos, depois dormimos// Assim como a noite consegue resistir/ Mesmo sem lua e sem estrelas/ Também vamos resistir/ Quando um de nós partir para longe».

A antologia completa-se com fragmentos dos seus inúmeros cadernos, preenchidos ao longo da(s) sua(s) vida(s). E desenhos, muito, muitos desenhos…» [João Morales, no blogue Bran Morrighan]

Lançamento de Açores — O Canto das Ilhas, de Carlos Pessoa




Amanhã, às 18:00, lançamento de «Açores — O Canto das Ilhas», de Carlos Pessoa, na livraria In Folio, em Angra do Heroísmo.
A apresentação da obra será feita por Ana Lúcia Almeida e Carlos Severino.

Sobre Os Sonetos, de William Shakespeare




Carlos Vaz Marques falou sobre Os Sonetos, de William Shakespeare, no programa Livro do Dia, da TSF, de 14 de Junho. O programa pode ser ouvido aqui: https://www.tsf.pt/programa/o-livro-do-dia.html#

15.6.19

Feira do Livro de Lisboa: 16 de Junho de 2019



Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 16 de Junho de 2019


Pais e Filhos, de Ivan Turguéniev
Mary Poppins, de P. L. Travers
Chuang Tse, de Chuang Tse
O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
Todos os Contos, de Clarice Lispector
História da Menina Perdida, de Elena Ferrante
Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
Anna Karénina (ed. brochada), de Lev Tolstoi


Feira do Livro de Lisboa: Preço Especial — 16 de Junho de 2019


As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain
Musicofilia, de Oliver Sacks
Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa
A Sibila, de Agustina Bessa-Luís
Mataram a Cotovia, de Harper Lee
Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski

Os Miseráveis (vols. I e II), de Victor Hugo

14.6.19

Sobre Vento, Areia e Amoras Bravas — Dentes de Rato II Parte, de Agustina Bessa-Luís, com ilustrações de Mónica Baldaque




Disponível em www.relogiodagua.pt, na Feira do Livro de Lisboa e a chegar às livrarias: Vento, Areia e Amoras Bravas — Dentes de Rato II Parte, de Agustina Bessa-Luís, com ilustrações de Mónica Baldaque

«Era o dia 17 de Maio, e as rosas-chá do capitão Machado estavam abertas e já se desfolhavam. Lourença olhou da janela do quarto e achou que não havia razão para vestir roupa de agasalho. Estava calor, e do mar, ao fundo da avenida, vinha uma brisa esperta, com ar de dança. Mexia nos fios eléctricos e fazia balouçar os pardais rabotos que lá estavam. Lourença, se já não parecia contente com o vestido destinado para esse dia, mais contrariada ficou.»

Neste livro, continua a contar-se a história de Lourença, iniciada em Dentes de Rato.
São histórias que Agustina Bessa-Luís escreveu para os leitores mais novos, mas que, tal como Lourença, vão crescendo.

As preocupações de Lourença vão agora para os vestidos, as meias e o corpo que se vai modificando, e para dúvidas tão filosóficas como «Será que sou abençoada?».

Sobre Topologia da Violência, de Byung-Chul Han




Disponível em www.relogiodagua.pt, na Feira do Livro de Lisboa e a chegar às livrarias: Topologia da Violência, de Byung-Chul Han (trad. Miguel Serras Pereira)

A violência é uma constante da vida humana. Mas as suas formas variam de acordo com a evolução das sociedades.
Hoje em dia ainda há bastante violência aberta. Mas, em muitos aspetos, a violência passou de visível a invisível, de direta a mediada, de real a virtual, de física a psíquica, de negativa  a positiva. Retirou-se para espaços menos comunicativos, de tal modo que dá a impressão de que quase desapareceu.
No essencial, verifica-se uma transformação topológica da violência na atual sociedade, que Byung-Chul Han tem caracterizado como sociedade do cansaço e da transparência.


Esta e outras obras de Byung-Chul Han disponíveis em www.relogiodagua.pt e na Feira do Livro de Lisboa.

Sobre O Estendal e Outros Contos, de Jaime Rocha




Disponível em www.relogiodagua.pt, na Feira do Livro de Lisboa e a chegar às livrarias: O Estendal e Outros Contos, de Jaime Rocha

«“Eu sou guionista”, disse ele.

Havia dois dias que não encontrava vivalma, somente tabuletas com setas e nomes que não entendia, umas na direcção do Norte, outras do Sul. Ficou sem saber para que lado era o mar e para que lado eram as montanhas. E também sem perceber se naquele lugar existiam lagos, cascatas, moinhos, pastagens, tudo aquilo de que necessitava para o seu filme. E também sem saber quando chovia, se costumava haver tornados, granizo.

“Preciso de escolher as paisagens.”

A mulher torceu os lençóis, bateu com eles na barrela uma vez mais e dirigiu­‑se ao estendal. Ainda não olhara para o estrangeiro, ainda não fixara o seu único olho, um olho bem azul que se destacava no rosto dele porque a sua boca e o seu nariz eram pequenos como os de uma criança e os dentes eram escuros, de alguém que fuma em excesso, que masca tabaco.


O estrangeiro seguiu-a, deixando um mínimo de distância entre os dois. Olhava para o chão enquanto caminhava. Tinha medo dos insectos.»

Sobre Walt Whitman




«Um livro como nenhum outro alguma vez escrito», segundo um crítico da Life Illustrated em 1855. Mais acerca do bicentenário do nascimento de Walt Whitman aqui: https://www.theguardian.com/books/2019/jun/12/walt-whitman-bicentennial-exhibitions-new-york

Feira do Livro de Lisboa: 15 de Junho de 2019




Sábado, dia 15 de Junho, às 16h, na praça da Relógio D’Água Editores na Feira do Livro de Lisboa, haverá uma actuação musical com Luís Cunha no trompete e Francisco Brito no contrabaixo.



Sábado, dia 15 de Junho, às 18h, na praça da Relógio D’Água Editores na Feira do Livro de Lisboa, José Gil, António Barreto, H. G. Cancela, Alexandre Andrade e Cristina Carvalho estarão na praça da Relógio D’Água na Feira do Livro de Lisboa para autografar os seus livros.

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 15 de Junho de 2019


Memórias do Subterrâneo, de Fiódor Dostoievski
A Viúva e o Papagaio, de Virginia Woolf
Tao Te King, de Lao Tse
Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa
A Paixão segundo G. H., de Clarice Lispector
Mataram a Cotovia, de Harper Lee
Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski
Anna Karénina (ed. brochada), de Lev Tolstoi

Feira do Livro de Lisboa: Preço Especial — 15 de Junho de 2019


O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald
Contos de Grimm (ed. cartonada)
A Arte da Guerra, de Sun Tzu
Em busca do Tempo Perdido, vol. II, de Marcel Proust
animalescos, de Gonçalo M. Tavares
História da Menina Perdida, de Elena Ferrante
Os Miseráveis (vols. I e II), de Victor Hugo

Contos — vol. VIII, de Tchékhov