fotografia de Peter Josyph
Neste número da revista Ler, o relato «de uma peregrinação apaixonada» de Paulo Faria, tradutor de várias obras de Cormac McCarthy, sobre o dia em que se encontrou com o autor: «Agora a viagem será mais longa e mais ousada — alguns contactos permitem-me acalentar a esperança (ténue, é certo, mas ainda assim esperança) de que, no final da estrada, em Santa Fé, me poderei encontrar pela primeira vez com o próprio Cormac McCarthy, ao fim de tantos anos de cartas em vaivém, de tanta espera ansiosa, de tantas palavras traduzidas numa árdua labuta que eu desejo infindável.»
Rogério Casanova percorreu A Estrada, de Cormac McCarthy: «A drástica redução literária sempre foi fácil de parodiar, mas há aqui um delicado equilíbrio, e o livro não deixa de ser um triunfo estilístico. Perante a limitação referencial — num mundo onde o colapso da biosfera igualizou as possibilidades descritivas — McCarthy consegue a proeza de preservar opulência verbal com uma paleta elementar.»
Hugo Pinto Santos embrenhou-se «no remoinho da vida» que é O Duelo, de Anton Tchékhov: «Segundo Gorki, ninguém como Anton Tchékhov (1860-1904) teria percebido de modo tão claro e agudo a tragédia das banalidades da vida. Condição verificável no prodigioso O Duelo (…). Com um apuro de edifício narrativo e uma economia de recursos que lembram os seus anos de formação, como brevíssimo contista nas páginas dos periódicos, a novela é um exemplo notável de uma técnica de minucioso poder de análise, que concentra o remoinho da vida em escassas páginas, em concisos, preciosos, parágrafos de flagrante captura.»
José Riço Direitinho escreve sobre Outros Quartos, Outras Maravilhas, do paquistanês Daniyal Mueenuddin, «oito magníficas histórias interligadas», que «valorizam, e sobretudo descrevem, estruturas de poder de um mundo feudal que paulatinamente parece ir abrindo caminho para uma modernidade, em muitos aspectos, ainda bastante distante».
José Riço Direitinho escreve também sobre o recente desaparecimento de Ernesto Sabato, «expoente da literatura argentina», cujo «primeiro romance, O Túnel (Relógio D’Água, 2010), surgiria apenas em 1948 nas páginas da revista Sur — onde então colaboravam Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo — depois da recusa de muitas editoras argentinas. À época elogiado publicamente por Thomas Mann e Albert Camus, O Túnel depressa projectou o seu nome para fora das fronteiras da língua espanhola.»
Há ainda uma chamada de atenção para a edição de Conversas com Woody Allen, de Eric Lax, biógrafo que entrevistou o realizador ao longo de mais de trinta anos.
Anuncia-se também a chegada às livrarias da recente edição de Americana, o primeiro romance de Don DeLillo.
Na rubrica «Primeira Página» publica-se um excerto de Sondagens, Eleições e Opinião Pública, de Pedro Magalhães (em edição da Fundação Francisco Manuel dos Santos): «Há quem possa achar negativo que os eleitores decidam com base na informação que resulta das sondagens, defendendo que essa decisão deveria ser “livre” de qualquer influência. Mas não é fácil imaginar o que seja uma decisão “livre de qualquer influência”.»
Na «Zona Franca», de Fernando Sobral, destaque para Economia, Moral e Política, de Vítor Bento, também uma edição da Fundação Francisco Manuel dos Santos: «Tal como a política, a economia está hoje no centro da vida das pessoas e das sociedades. Num contexto de crise financeira internacional, onde forma atropeladas muitas lógicas morais e éticas em nome do lucro, talvez seja bom recordar o que dizia Adam Smith: o interesse individual não vive independente das regras sociais fundamentais.»