28.2.18

Ana Teresa Pereira em entrevista à "Veja", a propósito da edição de “Karen” no Brasil (ed. Todavia)





«O que espera do público brasileiro? “Há uma história de que gosto muito: Jean Genet encontrou no estúdio de Alberto Giacometti uma pequena escultura, debaixo de uma mesa, cheia de pó, escondida. O escultor disse: “Se ela tiver força, acabará por mostrar-se, mesmo que eu a esconda”. Continuo a pensar isso em relação aos meus livros. Se eles tiverem força, abrirão o seu caminho, no Brasil e noutros países. Eu sou apenas a autora dos livros.”» [Veja, texto de Victoria Serafim, 3/2/2018] 
A entrevista pode ser lida aqui.

A chegar às livrarias: O Medo e Confusão de Sentimentos, de Stefan Zweig (trad. de Helena Topa)





Este livro reúne duas das mais importantes novelas de Stefan Zweig.
Em Confusão de Sentimentos, um jovem estudante é enviado pelo seu pai para a universidade de uma pequena cidade de província. É ali que um brilhante professor desperta nele o amor pelo saber. Mas quando o jovem se aproxima do mestre e se propõe ajudá-lo a concluir a grande obra da sua vida, o professor aceita a oferta, mas mantém a distância que só muito mais tarde o inseguro Roland irá ser capaz de compreender.
Em O Medo, Irene é obcecada pelo pavor, suscitado pela relação com um amante.
«Quando Irene descia as escadas do apartamento do amante, aquele medo súbito e irracional voltou a tomar conta dela. Um pião negro pôs‑se a zunir de repente diante dos seus olhos, os joelhos imobilizaram-se numa terrível rigidez e foi obrigada a agarrar‑se ao corrimão para não cair bruscamente para a frente.»

De Stefan Zweig, a Relógio D’Água editou também Carta de Uma Desconhecida, Vinte e Quatro Horas da Vida de Uma Mulher, Amok, Segredo Ardente, O Mendel dos Livros e A Viagem ao Passado, Fernão de Magalhães, Grandes Momentos da Humanidade e Uma História de Xadrez.

27.2.18

Sobre Karl Ove Knausgård




Karl Ove Knausgård em entrevista ao The Guardian

A propósito da recente edição inglesa de Na Primavera, que a Relógio D’Água publicará na primeira semana de Março, Karl Ove Knausgård falou com Andrew Anthony.
«Quis fazer algo diferente d’A Minha Luta — ser mais objectivo, não introspectivo. Quis que estes livros [Quarteto das Estações] fossem sobre o mundo exterior. Quase desprovido de psicologia e perturbações interiores. Quis que fossem mais felizes, que se distanciassem de tudo o que associo a A Minha Luta.»
A entrevista completa pode ser lida aqui.

Na primeira semana de Março chegará também às livrarias o quinto volume de A Minha Luta, Alguma Coisa Tem de Chover.

26.2.18

Hélia Correia na revista Textos e Pretextos




O número Outono/Inverno 2017 da revista Textos e Pretextos é dedicado a Hélia Correia.
A propósito do lançamento do último número da revista, a escritora estará amanhã, 27 de Fevereiro, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde dará uma aula aberta, às 16:00.

A revista é editada pelo Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e o seu principal objectivo é a divulgação e reflexão em torno da obra de autores de língua portuguesa contemporânea e de temas interdisciplinares que promovam a relação entre a literatura e outras artes.

Sobre Marca de Água, de Joseph Brodsky




Pedro Mexia escreveu sobre Marca de Água, de Joseph Brodsky

«Numa noite de Inverno um viajante chamado Joseph Brodsky (1940-1996) chegou a Veneza. Poeta russo exilado nos Estados Unidos, futuro Nobel da Literatura (em 1987), Brodsky usou o primeiro salário que ganhou na América para cumprir o sonho antigo de conhecer a Sereníssima República, que imaginava paradisíaca. Essa visita de 1972, aliás de contornos esquivamente amorosos, não lhe frustrou as expectativas. E a partir daí Brodsky passou todos os anos uma parte do Inverno em Veneza.

O cheiro a algas geladas foi a primeira sensação que o impressionou, porque lhe lembrava o Báltico, que por sua vez lembrava um poema de um grande poeta italiano, Eugenio Montale. Depois, anos após ano, o visitante guardou outras imagens, “(…) as rendas de mármore, os capitéis, as cornijas, os relevos e as molduras, os nichos habitados e desabitados, os santos, os ausentes, as donzelas, os anjos, os querubins, as cariátides, os frontões, as balaustradas”. E os becos empedrados e labirínticos, as janelas em arco iluminadas, os leões, a laguna e as gôndolas, as esplanadas e os palácios, o barroco e a mitologia, a “nebbia” e a “acqua alta”. Embora se dissesse mais observador do que esteta, Brodsky sugere que talvez não haja diferença entre observar atentamente a beleza e dela ser devoto. É por isso que “Marca de Água” (1992), livro “sobre Veneza” como diz o subtítulo, se distingue de uma monografia. Escrito a propósito de uma cidade concreta, é na verdade a concretização, universalizável, de uma ideia de beleza.» [Pedro Mexia, E, Expresso, 24/2/2018]

Sobre Nados Líquidos, de Zygmunt Bauman e Thomas Leoncini




Nados Líquidos, de Zygmunt Bauman e Thomas Leoncini, em destaque no Expresso

«Este volume de diálogos sobre as “transformações do terceiro milénio” contém as páginas em que o sociólogo estava a trabalhar quando morreu, no início de 2017. O objeto do seu discurso é a geração nascida nos anos 80 do século XX e as suas peculiaridades estéticas e tribais. Ou seja, é um livro sobre os nativos de um tempo de mudanças aceleradas, aquilo a que chamou “sociedade líquida”.» [E, Expresso, 24/2/2018]

23.2.18

Mataram a Cotovia na Broadway




A obra que valeu um Pulitzer a Harper Lee teve uma adaptação cinematográfica em 1962 (de Robert Mulligan) e em 2017 deverá estar em cena na Broadway em 2018-2019.
O espectáculo terá co-produção de Scott Rudin e do Lincoln Center Theater, e o texto será adaptado por Aaron Sorkin. 

O actor Jeff Daniels interpretará o papel de Atticus Finch.

Juan Gabriel Vásquez vence Prémio Correntes d’Escritas 2018, com segundo lugar para Jaime Rocha





No dia inaugural do Festival Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, foi anunciado o vencedor do prémio homónimo, para que foram seleccionados 14 finalistas, entre eles Jaime Rocha, com Escola de Náufragos, e Ana Teresa Pereira, com Karen (ambos publicados pela Relógio D’Água).A obra de Jaime Rocha recebeu dois dos cinco votos do júri, constituído por Fernando Pinto do Amaral, José Mário Silva, Maria de Lurdes Sampaio, Teresa Martins Marques e Javier Rioyo.
Fernando Pinto de Amaral elogiou “a depuração estilística e a qualidade poética” da escrita de Jaime Rocha. Teresa Martins Marques votou no livro de Jaime Rocha por ver nele uma “obra reveladora de uma dinâmica fragmentária e de um lirismo de excelência, criando uma poderosa alegoria da vida através de uma nebulosa onírica filiada na tradição literária do Raul Brandão de Húmus e de Os Pescadores”.

O Prémio, que este ano distingue uma obra de ficção, foi atribuído ao colombiano Juan Gabriel Vázquez, pelo romance A Forma das Ruínas. Os outros finalistas eram Rentes de Carvalho, Isabela de Figueiredo, Bruno Vieira Amaral, Ana Margarida de Carvalho, João Ricardo Pedro, Djaimilia Pereira de Almeida, João Pedro Porto, João Paulo Borges Coelho, Julián Fuks, Enrique Vila-Matas e Juan Marsé.

A chegar às livrarias: Na Rússia com Rilke — Diário da Viagem com Rainer Maria Rilke em 1900, de Lou Andreas-Salomé (trad. de Ana Falcão Bastos)





Este diário de viagem, iniciado em Moscovo em abril e terminado em agosto de 1900, é um documento da maior importância para compreender a evolução de Lou Andreas-Salomé. 
Nesta viagem, Lou reencontra o país da sua infância. É uma época em que alcança a maturidade, e o destino surge-lhe com uma promessa de plenitude. O diário é ocasião de uma descoberta de si própria, pois a viagem é para ela uma realização do seu ser.

A Rússia evocada é também a de Tolstoi, que os dois viajantes — Rilke e Andreas-Salomé — visitam, e a dos movimentos que anunciam a Revolução de Outubro de 1917.

22.2.18

Eduardo Pitta escreveu sobre«Porquê Este Mundo», de Benjamin Moser, para a revista Sábado






«Moser é um americano do Texas que estudou em Paris e viveu vários anos no Brasil. Os primeiros autores que leu em português foram Machado de Assis e Clarice: nunca mais foi o mesmo depois de ler A Hora da Estrela. A vida de Clarice dava um romance e, nessa medida, não virá mal ao mundo se lermos como tal Porquê Este Mundo. Publicada em 2009, esta biografia revela-nos uma Clarice em grande angular. Sem beliscar o rigor intelectual da pesquisa, a escrita ágil do autor torna a leitura aliciante. Chaya Lispector nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia (então território russo), em Dezembro de 1920, no seio de uma família judaica. O desemprego, a fome e os pogroms anti-semitas tornavam a vida insustentável. Impedida de emigrar para os Estados Unidos, a família foi para o Brasil em 1921. Chegados a Maceió, mudaram todos de nome, e Chaya virou Clarice. Assim nasceu aquela que viria a ser uma lenda da vida literária brasileira, a Esfinge, como era conhecida. Moser detalha os pormenores da odisseia migratória, contextualizando a situação política da Europa no pós-Primeira Guerra Mundial. O autor acompanha também o dia-a-dia de Clarice nas suas diversas fases: criança, adolescente, curso de Direito, casamento com o diplomata Maury Gurgel Valente, mãe, escritora. Os anos no estrangeiro (1944-59) na companhia do marido, os dois filhos, o divórcio (1959), as depressões, o cão Ulisses, o trágico incêndio de 1966 (adormeceu a fumar), a mão inutilizada, a doença e, na véspera de completar 57 anos, a morte por cancro nos ovários. Como disse Paulo Francis, Converteu-se na sua própria ficção. Moser não descura a obra — romances, contos e crónicas —, analisada sob vários ângulos, por vezes em close reading, desde o abalo causado pelo primeiro livro, Perto do Coração Selvagem (1943), autêntico sismo na ficção escrita em português. Mas também os sobressaltos editoriais, a recepção crítica, as traduções, os encontros e desencontros, rumores e mal-entendidos. Uma vida. Além de índice remissivo, o volume inclui 60 páginas de notas, bibliografia e portfolio fotográfico.» [a partir do blogue Da Literatura, 22/2/2018]

A chegar às livrarias: Os Três Crimes dos Meus Amigos, de Georges Simenon (trad. de Ângelo Ferreira de Sousa)





É embaraçoso! Ainda há pouco — que digo eu? —, ainda há um instante apenas, enquanto escrevia o título, estava convencido de que ia começar a minha narrativa como se iniciam os romances e que a única diferença seria a sua veracidade. 
Mas eis que descubro, subitamente, o que faz o artifício do romance, o que faz com que nunca possa ser uma imagem da vida: um romance tem um começo e um fim!
Hyacinthe Danse matou a amante e a sua própria mãe no dia 10 de maio de 1933. Mas quando é que o crime realmente começou? Terá sido em Liège, quando ele publicava o jornal Nanesse, do qual um acaso inverosímil me fez, aos dezassete anos, um dos fundadores? Terá sido quando, em companhia de Deblauwe, deambulávamos pelas ruas da cidade? Ou terá sido bem antes, durante a guerra, quando umas miúdas nos sussurravam que, por trás das portadas fechadas de uma certa livraria…
E Deblauwe? Em que momento se tornou ele um assassino? E o Fakir?”

“Um dos maiores escritores do século XX.” [The Guardian]

“Adoro ler Simenon. Faz-me lembrar Tchékhov.” [William Faulkner]

“Simenon é autor de várias obras-primas do século XX.” [John Banville]

“O maior e mais genuíno romancista de toda a literatura.” [André Gide]


“Um escritor maravilhoso… Lúcido, simples, em perfeita sintonia com o que escreve.” [Muriel Spark]

20.2.18

Clarice Lispector no retiro do Papa Francisco





Clarice Lispector é um dos autores que o padre e poeta Tolentino Mendonça vai levar para ser uma das referências do exercício espiritual do Papa Francisco, que terá lugar dia 23 de Fevereiro, na Casa “Divin Maestro” di Ariccia, nos arredores de Roma, como contou à jornalista Antonella Palermo, do Vatican News.
Deus, afirmou o padre Tolentino, não é sobretudo um enigma, é apenas algo de invisível. Em Jesus tornou-se nosso próximo, por isso nos exercícios espirituais o mais importante é estar inteiramente aberto a essa vizinhança.
Tolentino afirma ter-se inspirado na poesia de Emily Dickinson quando escrevia que “a sede ensina o caminho para a água”, mas também em Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Antoine de Saint-Exupéry e o escritor Tonino Guerra.

Relógio D’Água publica a obra de Gonçalo M. Tavares






A Relógio D’Água chegou a acordo com Gonçalo M. Tavares para nos próximos anos concentrar a publicação das suas obras na editora.
A partir de agora, os seus novos livros — à excepção de alguns para que já existam compromissos de publicação — sairão na Relógio D’Água, que procederá igualmente à reedição das suas obras à medida que forem ficando disponíveis.
Será mantida a organização por séries já existente (O Bairro, a Enciclopédia, etc.), procedendo-se por vezes à alteração do grafismo e ao agrupamento de livros saídos nas mesmas colecções.
Espera-se deste modo facilitar e alargar o contacto de Gonçalo M. Tavares com os seus leitores.
Gonçalo M. Tavares é autor de uma vasta obra traduzida em cerca de cinquenta países, sendo por isso um dos escritores mais traduzidos na história da literatura portuguesa.
Recebeu importantes prémios em Portugal e no estrangeiro. Em Portugal, obteve o Grande Prémio de Romance e Novela da APE, o Prémio Literário José Saramago, o Fernando Namora e o Prémio Vergílio Ferreira.
Em França, Aprender a Rezar na Era da Técnica foi premiado com o Prix du Meilleur Livre Étranger em 2010. Recebeu ainda o Premio Internazionale Trieste Poesia em 2008, o Prémio Belgrado Poesia em 2009, o Grand Prix Littéraire du Web Cultura em 2010 e duas vezes o Prémio Oceanos no Brasil, tendo sido finalista por diversas vezes do Prix Médicis e do Prix Femina.
A sua linguagem em ruptura com as tradições líricas portuguesas e a subversão dos géneros literários fazem dele um dos mais inovadores escritores europeus da actualidade. 
Saramago vaticinou-lhe o Prémio Nobel. Vasco Graça Moura escreveu que Uma Viagem à Índia dará ainda que falar dentro de cem anos. Alberto Manguel considerou-o um dos grandes autores universais. Em entrevista recente, Vila-Matas comparou-o a Kafka e Lobo Antunes. O mesmo já fizera a The New Yorker, afirmando que, tal como em Kafka e Beckett, Gonçalo M. Tavares mostrava que a “lógica pode servir eficazmente tanto a loucura como a razão”.
O próximo livro a publicar será Dicionário sobre Literatura Bloom e, entre as reedições previstas para este ano, estão O Senhor Walser e a Floresta, O Senhor Brecht e o Sucesso, Livro da Dança, Animalescos, Atlas do Corpo e da Imaginação, e duas obras para o público infanto-juvenil, Os Dois Lados e Os Amigos.
Gonçalo M. Tavares junta-se assim no catálogo da Relógio D’Água (onde já tinha várias obras) a autores como José Cardoso Pires, Agustina Bessa-Luís e Hélia Correia.

Melhores cumprimentos,
Francisco Vale

Lisboa, 19 de Fevereiro de 2018

[fotografia de Teresa Sá]

19.2.18

A chegar às livrarias: Nesta Grande Época — Sátiras Escolhidas (selecção, tradução, prefácio e notas de António Sousa Ribeiro)




«A partir de 1902, ano em que publica o texto “Moral e criminalidade”, Kraus encontra o seu primeiro grande tema, a hipocrisia da moral dominante e as suas consequências, nomeadamente, para a opressão da mulher, vitimizada pelo aparelho judiciário com a conivência activa de uma imprensa sensacionalista. Nesta área sobre todas sensível numa sociedade de cariz vitoriano, reina a mais nefasta confusão entre o público e o privado: enquanto assuntos públicos são tratados como negócios entre particulares, a esfera privada, nomeadamente a esfera íntima da mulher, é invadida sem quaisquer escrúpulos. A crítica à moral sexual dominante e, em particular, ao uso de um enquadramento jurídico obsoleto e misógino como sustentáculo de uma sociedade hipócrita, que nega à mulher o direito à sexualidade, percorre toda a primeira década da revista, atingindo, pode dizer-se, um quase paroxismo num texto como “A muralha da China”, de 1910, incluído no presente volume.» [Do Prefácio de António Sousa Ribeiro]

16.2.18

Sobre Descrição Guerreira e Amorosa da Cidade de Lisboa, de Alexandre Andrade




Hugo Pinto Santos escreveu no «ípsilon» sobre «Descrição Guerreira e Amorosa da Cidade de Lisboa», de Alexandre Andrade:

«(…) este romance não vê baldados os seus esforços de equilíbrio de forças contrárias, nem se deixa invadir por brechas que comprometessem a sua estrutura, ou pudessem enfraquecê-lo sem conserto possível. Para a resistência dessa edificação não deixará, igualmente, de contribuir um factor que é comum a trabalhos prévios de Alexandre Andrade. O rigor da linguagem, como instrumento de precisão e investimento estilístico, a impecável urdidura dos segmentos, a montagem superior do todo. Sem ceder à tentação “preciosista” que poderia ter levado o estilo a suplantar o homem (parafraseando a máxima de Buffon), Descrição Guerreira conta com essa solidez de construção para que todos os elementos disruptivos — cavaleiros em demanda pelo Graal a dormirem em pensões lisboetas, a rainha Genevra (forma como se escrevia na Demanda do Santo Graal) em apuros pela cidade — sejam concorrentes, e não adversários, do conseguimento da ficção.» [16/2/2018]

De Alexandre Andrade a Relógio D’Água publicou também Benoni, O Leão de Belfort e Cinco Contos sobre Fracasso e Sucesso

A chegar às livrarias: Contos Escolhidos, de Franz Kafka (trad. de Carlos Leite)





Este livro reúne onze contos de Kafka.
Entre eles estão alguns dos mais notáveis, como «Textos do Tema “O Caçador Graco”», «Um Médico de Aldeia», «Preparativos para Um Casamento no Campo» e «Josefine, a Cantora ou O Povo dos Ratos».

«(…) O argumento e o ambiente são o essencial; não as evoluções da fábula nem a penetração psicológica. Daí a primazia dos seus contos sobre os seus romances; daí o direito a afirmar que esta antologia de contos nos dá integralmente a medida de tão singular escritor.» [Jorge Luis Borges]

15.2.18

O desejo de perdurar




Comecei por conhecer Natália Nunes como autora, tendo a Relógio D’Água editado três dos seus romances. 
Mais tarde, encontrei-me algumas vezes com ela em casa da filha, Cristina Carvalho.
Natália Nunes fez parte de uma geração de escritoras cuja obra, iniciada nos anos cinquenta do século xx, escapou às correntes do neo-realismo e do surrealismo. Umas transcenderam o seu tempo e mantêm-se actuais, como é o caso de Agustina Bessa-Luís. Outras conseguiram fazê-lo em muitas das suas obras, como sucedeu como Maria Judite de Carvalho, Irene Lisboa, Fernanda Botelho e a própria Natália Nunes.
Era uma intelectual que mantinha uma lucidez por vezes cortante. Quando a conversa era literária, entusiasmava-se, e o seu sorriso era uma cintilação de ironia.
Foi de uma grande coragem quando jovem e bela mulher de uma família tradicional beirã se dispôs a casar com um homem quinze anos mais velho, divorciado e pai de um filho. Era Rómulo de Carvalho e a sua história amorosa é um segredo que, para um estranho como eu, só pode ser pressentida nalguns versos de Gedeão ou frases dos romances de Natália Nunes.
Às vezes, encontrava-a passeando por caminhos de Quintas. Ia absorta e o Vale de Deus e as montanhas cobertas de pinheiros e urze branca pareciam apenas um cenário para as suas meditações. O vale tem início numa capela onde outrora o mar chegava e é atravessado por um ribeiro que vai desaguar na Praia de São Lourenço. No último Verão, o vale e a montanha arderam e são agora uma paisagem de castanho e cinza.
Há algumas semanas Cristina Carvalho ofereceu-me, com visível entusiasmo, um livro de Natália Nunes: Horas Vivas. «Lê», disse-me, «vais ficar espantado.» O livro permaneceu algumas semanas na minha secretária e lamento agora não o ter aberto há mais tempo. São memórias de infância dedicadas ao pai.
Começam assim:
«Um dia, quando vivíamos ainda na cidade, o pai chegou a casa mais cedo do que costumava. Vinha extremamente pálido e amparado por dois homens que o levaram para o quarto e o depuseram sobre a cama.»


Francisco Vale

Sobre a morte de Natália Nunes





Sobre a morte de Natália Nunes ( 1921 – 2018 ) portuguesa, escritora, tradutora, ensaísta, nome este que, para muitos e muitos, tem sido ouvido, recentemente, pela primeira vez.
Natália Nunes tem passado despercebida do grande público leitor. O seu primeiro livro publicado, em 1952, “Horas Vivas” memórias de infância é uma obra de arte literária. Seguiram-se muitos outros romances, novelas, contos. Traduziu, incansavelmente, toda a obra de Tolstoi, de Dostoievsky, de Elsa Triolet, de Mircea Elíade (História das Religiões), Violette Leduc, etc. Escreveu muitos ensaios e posso destacar “A Ressurreição das Florestas” um estudo sobre a obra de Carlos de Oliveira ou  “As Batalhas que Nós Perdemos” estudos sobre as obras de Augusto Abelaira, José Cardoso Pires e Raul Brandão ou “A metafísica de Húmus de Raul Brandão” para só mencionar alguns destes trabalhos ; colaborou em diversas revistas da especialidade e durante muitos anos como a Vértice ou a Seara Nova.
Enfim, uma vida inteira dedicada com paixão à arte literária. E quantos e quantos escreveram quilómetros de linhas que, num diminuto espaço temporal, deixam de ser lembrados? Que memória é esta, a que fica destas pessoas que, por interesse, por paixão, tanto escreveram? Que memórias nos deixaram? Que interesse tem tudo? Para que servirá tudo isto?
A memória é labiríntica, intercepta tempos e espaços e realidades psicológicas  e históricas completamente diferentes, misturando-as. Nunca se sabe onde nos pode levar e o que pode produzir, essa memória, entrelaçando o efémero e o permanente, o subtil e o concreto que são matéria prima e elementar da construção literária. Mas a lembrança, essa, por si só não aparece a ninguém, nem sequer como alucinação. A lembrança de alguém tem de ser orientada, apresentada, tem de percorrer todo um processo cognitivo. A educação é assim.   E só assim se inaugura ou se mantém uma obra valorosa. Como a história de todas as artes tem demonstrado.
A Relógio D’Água publicou, da sua produção ficcional, as seguintes obras:
“Vénus Turbulenta” ; “Assembleia de Mulheres” ; “As Velhas Senhoras e Outros Contos”
Natália Nunes nasceu a 18 de Novembro de 1921 e morreu a 13 de Fevereiro de 2018. 
Foi casada com Rómulo de Carvalho – professor, cientista, divulgador da ciência que usou o pseudónimo de António Gedeão na sua poesia.



Cristina Carvalho  (filha) 14 de Fevereiro 2018
[fotografia de Nanã Sousa Dias]

Sobre O Céu É dos Violentos, de Flannery O'Connor



Isabel Lucas e Mariana Oliveira falam sobre O Céu É dos Violentos, de Flannery O’Connor, no programa Paraíso Perdido de 2 deFevereiro. Da escritora norte-americana, a Relógio D’Água editou também Tudo O Que Sobe Tem de Convergir, Um Bom Homem É Difícil de Encontrar e Um Diário de Preces.



Paraíso Perdido de 02 Fev 2018 - RTP Play - RTP


14.2.18

Sobre Gertrude Bell, Uma Mulher na Arábia




Lucinda Canelas escreveu no Público sobre Gertrude Bell, de quem a Relógio D’Água editou uma seleção da sua correspondência privada e militar, entradas de diário e escritos de viagem.

«Um dos seus périplos mais importantes pelo deserto, em 1913-1914, entre Bagdad e Damasco, acompanhada apenas por um pequeno grupo de criados fiéis, foi feito com o apoio de Edward Grey, o secretário dos Negócios Estrangeiros inglês. Gertrude, que era fluente em vários idiomas – árabe, alemão, francês, italiano, farsi – e conhecia a região, era a espia ideal. Tinha por missão recolher informação o mais detalhada possível sobre as tribos que controlavam o deserto sírio e sobre a influência crescente dos alemães naquele território.» [Público, 13/8/2016, texto completo aqui. ]

Byung-Chul Han em Barcelona




No passado dia 6 de Fevereiro, Byung Chul-Han participou numa conferência no Centre de Cultura Contemporània de Barcelona. O El País acompanhou a sua intervenção com um artigo publicado no dia seguinte.

«“No 1984 orwelliano a sociedade era consciente de que estava sendo dominada; hoje não temos nem essa consciência de dominação”, alertou em sua palestra no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB), na Espanha, onde o professor formado e radicado na Alemanha falou sobre a expulsão da diferença. E expôs sua particular visão de mundo, construída a partir da tese de que os indivíduos hoje se autoexploram e têm pavor do outro, do diferente. Vivendo, assim, “no deserto, ou no inferno, do igual”.»

De Byung-Chul Han, a Relógio D’Água publicou também A Agonia de Eros, A Sociedade do Cansaço, A Sociedade da Transparência e Psicopolítica, O Aroma do Tempo e A Salvação do Belo, No Enxame e Sobre o Poder.

12.2.18

Sobre Conflito Interno, de Kamila Shamsie




Carlos Vaz Marques falou sobre Conflito Interno, de Kamila Shamsie, no programa Livro do Dia da TSF. O programa pode ser ouvido aqui[5/1/2018]

Sobre Joseph Conrad




«Quando um seus primeiros biógrafos encontrou um capitão que se lembrava de Conrad, numa viagem pelo Oriente em 1887 e 1888, o capitão recordou que “quando descia à cabine para falar com o seu imediato, habitualmente encontrava-o a escrever”.» [Colm Tóibín, em crítica a The Dawn Watch: Joseph Conrad in a Global World, The New York Review of Books, 22/2/2018]

De Joseph Conrad a Relógio D’Água editou «O Agente Secreto», «O Companheiro Secreto», «O Naufrágio do Titanic», «Coração das Trevas, Linha de Sombra e Outras Histórias» e «Lorde Jim».

9.2.18

Nas livrarias: Um Apartamento em Atenas, de Glenway Wescott





Tal como em O Falcão Peregrino (também publicado pela Relógio D’Água e que Susan Sontag descreveu, na The New Yorker, como «um dos tesouros do século XX»), Um Apartamento em Atenas desenvolve-se em torno de três personagens.
Nesta história sobre um casal grego que vive em Atenas ocupada por nazis e obrigado a partilhar a sua casa com um oficial alemão, Wescott encena um perturbador drama de adaptação e rejeição, resistência e compulsão.
Um Apartamento em Atenas retrata os efeitos de uma guerra na vida quotidiana. Trata-se de uma invulgar história de luta espiritual, em que o triunfo e a derrota dificilmente se distinguem.


«Um bom estudo sobre a humilhação e a dignidade, e o seu desenlace em tragédia e numa solução desesperada(…). O carácter moderado, a ausência de exageros e a serenidade são admiráveis como o ideal grego que reflectem e honram. Nesta obra reside a dignidade de um estilo no qual nada é excessivo nem insuficiente.» [Eudora Welty]

8.2.18

Nas livrarias: A Verdadeira Vida de Sebastian Knight, de Vladimir Nabokov




O primeiro romance escrito em inglês por Nabokov — A Verdadeira Vida de Sebastian Knight — foi publicado em Paris, em 1938.
Esta é a história de Sebastian Knight, um escritor famoso cuja vida e morte estão envoltas em mistério.
Depois da morte de Knight, o seu meio-irmão decide investigar-lhe a vida, enfrentando o falso, distorcido e irrelevante. A busca revela-se tão intrigante como qualquer um dos livros do escritor — desconcertante e, afinal, recompensadora. 
A narrativa fala-nos da inserção de um artista numa sociedade hostil ao espírito criativo. Mas A Verdadeira Vida de Sebastian Knight debruça-se também sobre o problema essencial da ambígua identidade humana: quem era afinal Sebastian Knight?

De Vladimir Nabokov a Relógio D’Água publicou também Aulas de Literatura, Ada ou Ardor, Lolita, Convite para Uma Decapitação, Pnin, Riso na Escuridão, Fala, Memória, Fogo Pálido, Rei, Dama, Valete, Opiniões Fortes, Desespero, e O Dom.

Edna O’Brien recebe PEN/Nabokov Award for Achievement in International Literature 2018






Edna O’Brien foi premiada com o Prémio PEN/Nabokov, atribuído anualmente a um autor cuja obra, escrita ou traduzida para inglês, demonstra sólida originalidade e elevada habilidade.
O júri, constituído por Michael Ondaatje e Diana Abu-Jaber, reconhece assim a carreira literária da escritora irlandesa, que receberá o prémio no dia 20 de Fevereiro, numa cerimónia em Nova Iorque.
De Edna O’Brien a Relógio D’Água publicou Raparigas da Província (trad. Margarida Periquito) e Byron e o Amor (trad. Miguel Serras Pereira).

7.2.18

Nas livrarias: A Ilha de Arturo, de Elsa Morante




A Ilha de Arturo é, conjuntamente com La storia, um dos mais importantes romances de Elsa Morante.
Na ilha mediterrânica da Prócida, assistimos à formação de Arturo, que sente uma apaixonada admiração por um pai sempre ocupado em misteriosas viagens. Já adolescente, é atraído pela sua jovem madrasta, Nunziatella. A passagem de um tempo de sonhos e ilusões para a realidade será um caminho lento e difícil para Arturo.
Elsa Morante foi uma mulher que nunca aceitou ter nascido num mundo onde o amor é efémero e a indiferença ou o ódio habituais. «No amor começa por haver o paraíso, mas depois, não se sabe como, precipitamo-nos no inferno», disse numa entrevista que concedeu antes da sua morte em1985.
A miúda selvagem nascida num bairro pobre de Roma, a viajante, a enamorada, a angustiada companheira de Moravia, que sonhava com o sol das ilhas napolitanas e as cores da agreste Prócida («Arturo sou eu», disse ela um dia), percorreu vários continentes, passou em Portugal e viveu as duas últimas guerras mundiais, partilhando a maior parte dos sofrimentos e esperanças do século XX.
As suas personagens recorrentes são crianças, animais e adolescentes cegamente apaixonadas pelo pai, a mãe ou o amor.

6.2.18

Sobre Contos Escolhidos, de Carson McCullers




Reúnem-se aqui doze contos de Carson McCullers numa selecção feita por Ana Teresa Pereira.
Embora seja conhecida pelos seus romances, Carson McCullers foi uma notável contista, inserindo-se na tradição sulista da literatura norte-americana.
Carson McCullers dedicou-se aos contos desde os 17 anos, momento em que escreveu «Sucker», tendo muitos deles começando por aparecer em revistas literárias.
As suas capacidades de observação e o seu estilo revelam uma assumida filiação em autores tão diversos como Flaubert e Dostoievski. Julie Harris considerou-a mesmo «uma mulher encantadora e misteriosa que escrevia como um anjo».
Carson McCullers foi reconhecida pelos grandes escritores da sua época. Graham Greene declarou preferi-la a Faulkner, e Tennessee Williams disse que a sua obra «não se eclipsará com o tempo, mas irradiará cada vez mais fulgor».


De Carson McCullers a Relógio D’Água publicou também “O Coração É Um Caçador Solitário”, “A Balada do Café Triste”, “Relógio sem Ponteiros”, “Reflexos nuns Olhos de Ouro” e “Frankie e o Casamento”.