Sobre a morte de Natália Nunes ( 1921 – 2018 ) portuguesa, escritora, tradutora, ensaísta, nome este que, para muitos e muitos, tem sido ouvido, recentemente, pela primeira vez.
Natália Nunes tem passado despercebida do grande público leitor. O seu primeiro livro publicado, em 1952, “Horas Vivas” memórias de infância é uma obra de arte literária. Seguiram-se muitos outros romances, novelas, contos. Traduziu, incansavelmente, toda a obra de Tolstoi, de Dostoievsky, de Elsa Triolet, de Mircea Elíade (História das Religiões), Violette Leduc, etc. Escreveu muitos ensaios e posso destacar “A Ressurreição das Florestas” um estudo sobre a obra de Carlos de Oliveira ou “As Batalhas que Nós Perdemos” estudos sobre as obras de Augusto Abelaira, José Cardoso Pires e Raul Brandão ou “A metafísica de Húmus de Raul Brandão” para só mencionar alguns destes trabalhos ; colaborou em diversas revistas da especialidade e durante muitos anos como a Vértice ou a Seara Nova.
Enfim, uma vida inteira dedicada com paixão à arte literária. E quantos e quantos escreveram quilómetros de linhas que, num diminuto espaço temporal, deixam de ser lembrados? Que memória é esta, a que fica destas pessoas que, por interesse, por paixão, tanto escreveram? Que memórias nos deixaram? Que interesse tem tudo? Para que servirá tudo isto?
A memória é labiríntica, intercepta tempos e espaços e realidades psicológicas e históricas completamente diferentes, misturando-as. Nunca se sabe onde nos pode levar e o que pode produzir, essa memória, entrelaçando o efémero e o permanente, o subtil e o concreto que são matéria prima e elementar da construção literária. Mas a lembrança, essa, por si só não aparece a ninguém, nem sequer como alucinação. A lembrança de alguém tem de ser orientada, apresentada, tem de percorrer todo um processo cognitivo. A educação é assim. E só assim se inaugura ou se mantém uma obra valorosa. Como a história de todas as artes tem demonstrado.
A Relógio D’Água publicou, da sua produção ficcional, as seguintes obras:
“Vénus Turbulenta” ; “Assembleia de Mulheres” ; “As Velhas Senhoras e Outros Contos”
Natália Nunes nasceu a 18 de Novembro de 1921 e morreu a 13 de Fevereiro de 2018.
Foi casada com Rómulo de Carvalho – professor, cientista, divulgador da ciência que usou o pseudónimo de António Gedeão na sua poesia.
Cristina Carvalho (filha) 14 de Fevereiro 2018
[fotografia de Nanã Sousa Dias]