31.5.16

Maria Filomena Molder entrevistada pelo Expresso



[fotografia de Luís Barra]
 
No último número do suplemento E do Expresso, Luciana Leiderfarb entrevista Maria Filomena Molder.

«Numa conferência dizia que o leitor é aquele que relê. Que o “não entendo” é não reconhecer que “a opacidade encontrada é a matriz de onde se tem de partir para voltar a ler”. É assim?

E o maior engano é a empatia. A empatia é um instrumento de familiaridade imediata que pode impedir a compreensão. Sentimos tanto que aquilo é assim que não fazemos nenhuma análise. E a leitura inclui esse momento destrutivo da análise, a decomposição do que se tem. Enfrentar a opacidade implica destruir o texto.


Alberto Manguel contava que só conseguiu ler A Divina Comédia aos 60 anos, após muitas tentativas goradas. Quando é que se está pronto?

Tem que ver com esperar a boa ocasião. Tenho muitas experiências semelhantes a essa. Também não li Dante quando era nova.


Mas leu Nietzsche insistentemente, mesmo sem perceber. Continuava.

Li muito nova A Origem da Tragédia e Assim Falava Zaratustra. Era como provar um vinho estranho, uma comida desconhecida, que amargava a boca. Sem conseguir parar. Depois só o voltei a ler anos mais tarde. Em relação à Divina Comédia, já tinha 50 anos quando li a edição do Vasco Graça Moura. Fiquei absolutamente varada e não sei se teria conseguido lê-la mais nova. Não se sabe quando estamos prontos. Sei que estamos prontos para continuar e depois começar quando uma coisa nos toca. E isso não é empatia, é sentir que aquilo vai entrar na nossa vida. Por vezes, entrar num texto é entrar num descampado. Temos medo, mas continuamos.»


Na Relógio D’Água, Maria Filomena Molder tem editados Semear na Neve; Matérias Sensíveis, A Imperfeição da Filosofia; O Químico e o Alquimista — Benjamin, Leitor de Baudelaire; As Nuvens e o Vaso Sagrado.
O próximo título, Rebuçados Venezianos, sairá em Setembro.

«“Rebuçados Venezianos” é o título de um texto sobre a obra de Luísa Correia Pereira, uma pintora de quem fui amiga. E este texto é póstumo – ela não o pôde ler. Uma vez, a Luísa comprou em Murano uns rebuçados feitos de vidro e ofereceu alguns ao Jorge [Molder, o marido], que os fotografou para a série The Secret Agent. Entretanto, ela fez um pequeno óleo chamado Rebuçados Venezianos, que nós comprámos. É um nome que implicava uma série de nexos. É como uma discussão entre mim e ela – em que ela ganhou. Entre a arte e a filosofia, a arte ganha.»
[Expresso, E, 28/5/2016]

Sobre Todos os Contos, de Clarice Lispector




«Hoje na Sábado escrevo sobre a integral dos contos de Clarice Lispector (1920-1977), que Benjamin Moser juntou num único volume. São oitenta e cinco. Os que tiveram publicação em volume, mais os avulsos repescados em jornais, revistas e outras publicações, um texto arquivado na Fundação Casa Rui Barbosa, bem como inéditos do espólio. Atentas as variantes ocorridas ao longo do tempo, Moser optou pelas edições originais. Portanto, depois da integral das crónicas, temos Todos os Contos. Clarice é a déracinée típica, a mulher que nasceu na Ucrânia, à época território russo, no seio de uma família judaica, mas foi ainda bebé para o Brasil (a família teve de fugir dos pogroms anti-semitas), onde o pai lhe mudou o nome: Haia virou Clarice. Nessa altura ainda não tinha a nacionalidade brasileira, que só obteve em Janeiro de 1943, já com o curso de Direito concluído, onze dias antes de casar com um diplomata e no mesmo ano em que publicou Perto do Coração Selvagem, o romance de estreia que provocou ondas de choque nos círculos literários mais exigentes. Tinha nascido uma lenda. No prólogo, Moser faz notar que a obra «é o registo da vida inteira de uma mulher, escrito ao longo da vida inteira de uma mulher […] o primeiro registo do género em qualquer país.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, 25/5/2016]

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 31 de Maio de 2016


 


Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de J. M. Keynes
Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa
Pela Estrada Fora, de Jack Kerouac
A Metamorfose, de Franz Kafka
As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain


«Prestemos atenção ao estilo de Kafka. Na sua claridade, no seu tom preciso e formal, em agudo contraste com o assunto tenebroso do conto. Não há metáforas poéticas a adornar esta severa história a preto-e-branco. A nitidez do seu estilo sublinha a riqueza perversa da sua fantasia. Contraste e unidade, estilo e assunto, trama e forma, alcançam aqui uma coesão perfeita.» [Do Prefácio de Vladimir Nabokov em A Metamoforse]

30.5.16

Sobre Emily Dickinson





Ana Luísa Amaral, no programa Todos os Livros de 28 de Maio, fala sobre Emily Dickinson, de quem traduziu Cem Poemas e Duzentos Poemas.

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 30 de Maio de 2016



 

O Homem Que Confundiu a Mulher com Um Chapéu, de Oliver Sacks

Em Busca do Tempo Perdido, vol. I, de Marcel Proust

A Paixão segundo G. H., de Clarice Lispector

O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

Mary Poppins, de P. L. Travers

27.5.16

A chegar às livrarias e à Feira do Livro de Lisboa: A Praia de Noite, de Elena Ferrante, com ilustrações de Mara Cerri (trad. Margarida Periquito)


 


Entusiasmada com o seu gato branco e preto, Mati parece esquecer-se da sua boneca na praia.
É assim que Celina vai passar uma interminável noite sob as ameaças do Banheiro Cruel do Sol-Posto e do Grande Ancinho.
À luz das chamas de um incêndio, a noite transforma-se numa aventura fantástica e terrível que só termina ao nascer do Sol.
A história é acompanhada pelas magníficas ilustrações a cores de Mara Cerri.

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 29 de Maio de 2015








A Arte da Guerra, de Sun Tzu

Folhas de Erva, Walt Whitman

Pela Estrada Fora — O Rolo Original, de Jack Kerouac

Guerra e Paz, vol. I e II, de Lev Tolstoi

As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (ed. brochada)

Sessões de Autógrafos - 29 de Maio de 2016





No domingo, dia 29, às 16h, Gonçalo M. Tavares estará nos pavilhões da Relógio D’Água para autografar Breves Notas sobre o Medo, Ciência, as Ligações e Música; Canções Mexicanas; Animalescos e outras obras.




No domingo, dia 29, às 16h, Jaime Rocha estará nos pavilhões da Relógio D’Água para autografar Escola de Náufragos;Necrophilia; A Rapariga sem Carne; e outras obras.

A chegar às livrarias e à Feira do Livro de Lisboa: A Nova Odisseia, de Patrick Kingsley (trad. de Carlos Leite)




 

A Europa está a enfrentar uma vaga de migração sem precedentes desde a Segunda Grande Guerra, e ninguém expôs a realidade desta crise de forma tão profunda e detalhada como o correspondente do The Guardian, Patrick Kingsley. Durante 2015, Kingsley viajou por 17 países pertencentes à rota destes movimentos migratórios, travando conhecimento com centenas de refugiados e testemunhando as suas odisseias por desertos, mares e montanhas para tentarem desesperadamente alcançar o coração da Europa.
Este livro é o relato de quem esses viajantes são. Das razões por que continuam a arriscar a sua vida para chegar à Europa, e de como o fazem. É também sobre os contrabandistas que os ajudam, e sobre a guarda costeira que, com escassos recursos, tenta auxiliá-los no final da jornada. É ainda sobre os voluntários que os alimentam, as pessoas que os abrigam, e os guardas das fronteiras que os repelem, e sobre os políticos que viram a cara e não têm coragem de os olhar nos olhos.
A Nova Odisseia é um relato corajoso e original, escrito com compaixão e conhecimento de causa por um jornalista que sabe do que fala.

 
«Patrick Kingsley escreve-nos diretamente do centro do maior movimento migratório a atingir o Mediterrâneo e a Europa desde a Segunda Grande Guerra (…). Ele distingue o indivíduo das massas. Um feito jornalístico único, que carece de um reconhecimento e entendimento urgentes. Uma chamada de atenção a todos nós que dormimos calmamente à noite nas nossas camas.» [Jon Snow]

«Uma leitura obrigatória.» [Yanis Varoufakis]

«O livro de Patrick Kingsley é impressionante. Combina uma pesquisa de campo aprofundada com narrativas individuais de grande interesse: as das pessoas que são apanhadas nestes enormes movimentos de massas… Repleto de vida, por vezes chocante, mas sempre eficaz... O relato do que se esconde por trás das notícias sobre o Mediterrâneo raramente foi contado de forma tão marcante.» [Philip Pullman]

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 28 de Maio de 2015




 
 

O Homem Que Confundiu a Mulher com Um Chapéu, de Oliver Sacks

Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa

A Amiga Genial, de Elena Ferrante

Anna Karénina (ed. brochada), de Lev Tolstói

As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain

Sobre O Leão de Belfort, de Alexandre Andrade





Alexandre Andrade conversou com Ana Daniela Soares sobre o seu último livro, O Leão de Belfort, no À Volta dos Livros de dia 25 de Maio.

 

Feira do Livro de Lisboa: Livros do Dia — 27 de Maio de 2015



 

A Poesia do Pensamento, de George Steiner
Fausto, de Goethe
Contos, de Clarice Lispector
Em Busca do Tempo Perdido, vol. I, de Marcel Proust
Mary Poppins, de P. L. Travers

25.5.16

A Relógio D’Água na Feira do Livro de Lisboa 2016




 

A Relógio D’Água participa na Feira do Livro de Lisboa com os pavilhões A91, A93, A95, A97, A99, A101, A103, A105 e A107, no topo do Parque Eduardo VII, de 26 de Maio a 13 de Junho.

Haverá desconto de 40 % sobre o PVP nos Livros do Dia e um desconto de 20 % sobre o PVP nos de Preço Especial.



Teremos também sessões de autógrafos com José Gil, António Barreto, Gonçalo M. Tavares, Jaime Rocha, Hélia Correia, Manuel Graça Dias, Ricardo Paes Mamede e Júlio Machado Vaz.


Os Livros do Dia de amanhã, 26 de Maio, dia inaugural da Feira do Livro de Lisboa, são:



A Viagem do Beagle, de Charles Darwin

O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

Crónicas do Mal de Amor, de Elena Ferrante

Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski

As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (ed. brochada)

23.5.16

Sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen (trad. Ana Maria Chaves)




«Esta segunda parte do livro, sobre as casas e sobre o tempo, é de longe a mais poética e modernista, justificando os habituais paralelos entre Elizabeth Bowen e a sua amiga Virginia Woolf. Os gestos equívocos, as manobras de fuga e as desconversas são uma constante. Max, que não é um anglófono nativo, explica: “Aquilo que digo estaria muitas vezes certo se eu quisesse dizer outra coisa.”
O amor entre Karen e Max é um amor renitente mas ansioso, vive de uma calma desesperada, de enganos e segredos, de actos que uma vez concretizados pertencem não ao passado mas ao futuro, de expectativas destruídas e destrutivas: “É isto o que o amor tem de pior, este fingimento involuntário – alguém a sorrir e a sair sem dizer para onde, ou uma carta que chega, é lida na nossa presença e pousada sem explicações, ou: ‘Não, infelizmente esta noite não posso’, dito ao telefone – pois o que uma pessoa desencadeia sem saber a outra não pode remediar sem os onde? quem? porquê? Que a ambas sossegam.” Leopold não tem ainda idade para compreender a ambição social, a endogamia, a inveja, o casamento como comodismo, os triângulos amorosos, mas sabe alguma coisa sobre a crueldade das mães, sobre encontros não concretizados, sabe sobretudo que “nada poderia macular o que não tinha acontecido”, e por isso a sua invenção é uma invesigação moral.» [Pedro Mexia, Expresso, E, 21/5/2016]

20.5.16

A chegar às livrarias: Ensaios Escolhidos, de George Orwell (trad. de José Miguel Silva)



 

Este livro reúne uma ampla seleção de textos de George Orwell, o mais importante ensaísta inglês do século xx.
Entre os 37 ensaios escolhidos encontram-se “Matar Um Elefante”, “Tolstoi e Shakespeare”, “A Redescoberta da Europa”, “Recordações da Guerra Civil Espanhola”, “Notas sobre o Nacionalismo”, “Bons Maus Livros”, “Confissões de Um Crítico de Livros”, “Porque Escrevo” e “Prefácio para a Edição Ucraniana de Animal Farm”.
Evidencia-se, deste modo, o amplo leque dos interesses, ideias e paixões de George Orwell, acompanhando o seu trajeto desde os dias na Birmânia até à sua vida em Londres e Paris, passando pela participação na Guerra Civil Espanhola e as tomadas de posição na II Guerra Mundial.

19.5.16

Sobre O Aroma do Tempo, de Byung-Chul Han




«Em O Aroma do Tempo, na companhia de Heidegger, Nietzsche, Proust, Hegel e Baudrillard, Han diz-nos porque é que hoje em dia a crise temporal não passa pela aceleração (i. e., pela nossa mania de que não temos tempo) mas, sim, pelo facto de termos deixado de saber como nos demorar nas coisas. Usando mais ou menos jargão filosófico, Han não deixa o leitor comum a apanhar papéis, quanto mais não seja porque nos revemos facilmente naquilo sobre o que escreve.» [Diana Soeiro, Time Out, 4/5/2016]


De Byung-Chul Han, a Relógio D’Água publicou também A Agonia de Eros, A Sociedade do Cansaço, A Sociedade da Transparência e Psicopolítica, e publicará em breve A Salvação do Belo.

A chegar às livrarias: Ensaios — Antologia, de Montaigne (trad. e prefácio de Rui Bertrand Romão)





 

«Para celebrar o seu retiro da magistratura, a fim de se consagrar à actividade literária, Montaigne fez, em sua célebre torre, pintar no gabinete adjunto à sua biblioteca uma inscrição em latim: (…) “No ano de Cristo 1571, com a idade de 38 anos, na véspera das calendas de Março, seu aniversário natalício, Michel de Montaigne, desde há muito desgostado da servidão aúlica e dos cargos públicos, sentindo-se ainda vigoroso, retirou-se para o seio das doutas virgens, onde, calmo e sem se inquietar com a mais pequena coisa, passará o que lhe resta de uma vida já muito avançada.» [Do Prefácio] [PVP: 10 €]

18.5.16

Clarice tem primeira estátua de mulher artista no Rio de Janeiro


 
O escultor Edgar Duvivier fez uma escultura de Clarice Lispector (1920-1977), inaugurada no dia 15 de Maio, no bairro do Leme, na zona sul do Rio de Janeiro, onde a escritora viveu. Trata-se da primeira estátua de uma artista mulher no Rio de Janeiro.
Mesmo sem patrocínio, Duvivier seguiu em frente com a ideia de instalar a peça. Ele e o seu filho, o actor e escritor Gregorio Duvivier , segundo o Globo, pagaram do bolso os 90 mil reais para viabilizar a homenagem a um dos principais nomes da literatura brasileira. O artista vendeu maquetes da obra para isso. No início de Maio, miniaturas da estátua, cujas vendas ajudaram a financiá-la, roubadas de uma marmoraria. Mas isso não impediu a conclusão da obra. [Fotografia de Fernando Frazão]
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17.5.16

Adaptação para televisão de História em Duas Cidades, de Charles Dickens



 

Harvey Weinstein, produtor da série da BBC baseada em Guerra e Paz, de Lev Tolstoi, tem planos para adaptar para a televisão História em Duas Cidades.
O produtor anunciou em Cannes que, em nova colaboração com a BBC, irá adaptar a obra de Charles Dickens sobre a Revolução Francesa.
A edição da Relógio D’Água, com tradução de Paulo Faria, foi publicada em 2014.


«A História em Duas Cidades é, acima de tudo, um jogo de espelhos, de similitudes e contrastes. Antes de mais nada, obviamente, entre as duas cidades do título, Londres e Paris. A Revolução Francesa abalou o mundo, gerou ondas de fascínio e pavor que reverberaram durante muitas gerações. Escrevendo em 1859, setenta anos depois do sucedido, Dickens traçou para o seu público vitoriano um retrato daqueles tempos conturbados, o tempo dos avós dos seus leitores. Um tempo já distante mas ainda bem vivo na memória colectiva, uma viragem decisiva na história do mundo e da Europa. História em Duas Cidades não é, porém, um livro de história. Quando muito, será um romance histórico. (…)» [Da Introdução de Paulo Faria]


«Em História em Duas Cidades a vida está sobretudo na sublime negatividade de Madame Defarge e no seu tricot, uma das mais conseguidas criações de Dickens, e que funciona como evidente metáfora da narrativa do próprio romance.» [Harold Bloom, em Romancistas e Romances]

 


De Charles Dickens, a Relógio D’Água publicou também David Copperfield e O Amigo Comum e publicará Tempos Difíceis.

Sobre Elena Ferrante






«Elena Ferrante escreve literatura feminina? É difícil aceitar que estamos perante uma literatura de género. Uma aproximação despida de preconceitos não permitirá essa afirmação. Até porque há tantas outras relações nesta tetralogia além da relação das duas mulheres e das suas lutas exclusivamente femininas. Os livros são, de facto, intensos, violentamente pessoais. Mas são também parte da história do século XX e do percurso de sobrevivência de uma classe desfavorecida. As lutas são as de quem nasceu pobre. A batalha é a de classes. O conflito é o de quem ensaia uma identidade querendo apagar as raízes das quais se envergonha. O dilema define-se entre os que partem e os que ficam. A vontade é a de transcendência de estatuto imposto à nascença, impregnado no sotaque, nas obscenidades do dialeto com que se aprendeu a amar, a odiar. E se tudo isto é napolitano, nada disto é um exclusivo dos napolitanos: “Aquilo que devia mudar, na opinião dela [Lina] era sempre a mesma coisa: de pobres devíamos passar a ricas, de não termos nada devíamos passar ao ponto de ter tudo”.
Não sendo a política o assunto, a política está sempre subjacente. De um modo mais subtil encontra-se na forma como os homens dominam as mulheres, no modo como as mulheres fogem à velha submissão do sistema patriarcal para cair de imediato na ratoeira de outros formatos de obediência não muito distantes da ordem tradicional, nas batalhas nas quais os homens se digladiam e por vezes perecem, na fuga a modelos impostos pela sociedade para cada um dos géneros. De um modo mais escancarado, está nos movimentos sindicalistas, comunistas, fascistas... nos atos terroristas em que as personagens se envolvem ou na história italiana dos últimos cinquenta anos do século XX.» [Cristina Margato, Expresso, 14/5/2016]

16.5.16

A chegar às livrarias: Orange Is the New Black, de Piper Kerman (trad. Helena Briga Nogueira)




 

O livro que deu origem à famosa série de televisão Orange Is The New Black.


Com uma carreira profissional, namorado e uma família estável, Piper Kerman não se parecia com ela mesma quando, há dez anos, entregou uma mala repleta de dinheiro proveniente de um negócio de droga.
Piper foi condenada a quinze meses de prisão correcional em Danbury, Connecticut. A ex-aluna do prestigiado Smith College é agora a reclusa 11187-424, uma dos milhares de pessoas que todos os anos “desaparecem” no sistema prisional americano.
Durante este período, Kerman aprende a viver neste estranho mundo, ladeado de insólitos códigos de conduta e regras tão restritivas como arbitrárias. Conhece mulheres dos mais variados estratos sociais. Algumas surpreendem-na com pequenas demonstrações de generosidade, duras palavras de sabedoria ou simples actos de aceitação. Outras, nem tanto…

 
«Adorei este livro. É uma história valiosa, repleta de humor, emoção e redenção. Surpreendeu-me com a sensibilidade, compaixão e respeito que Piper Kerman demonstra por todas as mulheres que encontrou enquanto esteve na prisão. Nunca esquecerei este livro.» [Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Orar, Amar]

«Comovente… transcende o estilo clássico e auto-centrado presente na maioria dos livros de memórias para explorar o modo como os seres humanos nos podem surpreender.» [USA Today]

«Não deixes que a irreverência do título te desencaminhe: este é um livro sério e repleto de compaixão que retrata com enorme detalhe a vida de uma mulher na prisão, e a empatia e respeito que ganha pelas outras presas que não possuem as mesmas vantagens e opções. (…)» [Dave Eggers]

A chegar às livrarias: O Amante de Lady Chatterley, de D. H Lawrence (trad. de António R. Salvador)





A história da relação entre Constance Chatterley e Mellors, o guarda de caça do seu marido inválido, é o romance mais controverso de Lawrence e talvez o seu texto mais comovente sobre o amor.
Escrevendo para libertar as gerações que, a seu ver, consideravam o sexo um simples constrangimento ou ato mecânico, Lawrence disse sobre este livro: «Trabalhei sempre o mesmo tema, encarar a relação sexual não como algo vergonhoso, mas válido e precioso. Penso que neste romance fui mais longe do que em qualquer outro. Para mim, é uma obra bonita, terna e frágil, tal como a nudez.» [PVP: 10 €]
 

«A sua religião foi a do começo, um começo que não é o dos antropólogos que estudam as sociedades primitivas; é o começo diário, esse primeiro dia que, cada dia, os amantes inventam.» [Octavio Paz em «A Religião Solar de D. H. Lawrence»]

«Na guerra interminável entre homens e mulheres, Lawrence luta em ambos os lados.» [Harold Bloom]

12.5.16

Sobre Pensar em Números, de Daniel Tammet




«Daniel Tammet é um savant, aquilo que, trocado por miúdos e nas palavras do próprio, se pode definir como um idiota-prodígio altamente funcional. O britânico, hoje com 36 anos, é um dos mais célebres portadores do síndrome de Asperger, uma forma moderada de autismo que lhe permite ser um sujeito perfeitamente comunicativo, ainda que socialmente desastroso.
(…) E esse é apenas um de 25 textos espalhados por 225 páginas em que disserta, com verbo apurado e invejável sentido lúdico, sobre a importância de Shakespeare ter aprendido o número zero ou o facto de os chineses terem diferentes palavras para um mesmo número; sobre as relações matemáticas das figuras de linguagem ou as relações entre provérbios e a tabuada. A simplicidade com que partilha tudo isso e expõe a beleza matemática do mundo é desconcertante e dá vontade de evocar Álvaro de Campos: “O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo. O que há é pouca gente para dar por isso.”» [João Pedro Oliveira, Time Out, 11/5/2016]

Sobre Escola de Náufragos, de Jaime Rocha




Jaime Rocha conversou com Ana Daniela Soares a propósito de Escola de Náufragos, o seu último livro.
A edição de «À Volta dos Livros» de 9 de Maio pode ser ouvida aqui.
 

11.5.16

Sobre Todos os Contos, de Clarice Lispector


 

«Na Introdução conta-se a seguinte história: estava Clarice Lispector no aeroporto de Brasília, em plena ditadura militar, quando foi demoradamente revistada. Ela perguntou: “Tenho casa de subversiva?” Ao que a segurança respondeu: “Até que tem.” Não é por acaso que Benjamin Moser, biógrafo da escritora, se lembrou de a referir no texto que precede Todos os Contos (Relógio D’Água), o título da primeira e única integral dos contos de Clarice. Porque desde o primeiro de todos os contos (“O Triunfo”), escrito aos 19 anos, até ao derradeiro, póstumo e fragmentado, ela é sempre aquela voz estranha, colossal, inadaptada, um centímetro atrás ou à frente de si mesma. Uma mulher que escreve quando poucas o faziam, e que escreve em parte sobre o que mal se considerava matéria literária – a vida de uma mulher, com filhos, com marido, que “fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo”, em quem a simples visão de um homem cego, pela janela do autocarro, pode desencadear uma viagem “ao pior” de si mesma. Uma mulher, como diz Moser, desprovida de uma tradição, imigrante no duplo sentido de ter nascido noutro país que não o da língua que falava e escrevia (e amava) e de ser suficientemente “subversiva” para ter o desplante de ingressar em Direito no Rio de Janeiro, onde só estudavam mais duas mulheres e nenhum outro judeu além dela.» [Luciana Leiderfarb, Expresso, E, 7-5-2016]

10.5.16

Sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen





A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen, no Todas as Palavras (RTP 3, 7 de Maio de 2016).

 

Sobre O Aroma do Tempo, de Byung-Chul Han




«Neste “ensaio filosófico sobre a arte da demora”, Han, pensador germano-coreano que a Relógio D’Água tem vindo a publicar, defende que um dos aspetos da crise da sociedade atual não é a aceleração do tempo, mas a sua fragmentação, criadora de caos e dessincronia. De que forma podemos inscrever-nos no tempo? Que fazer para lhe voltar a dar um sentido? O livro abre caminhos estimulantes para uma discussão cada vez mais necessária.» [Expresso, E, 7-5-2016]


De Byung-Chul Han, a Relógio D’Água publicou também A Agonia de Eros, A Sociedade do Cansaço, A Sociedade da Transparência e Psicopolítica.

9.5.16

Jardim Zoológico de Vidro, de Tennessee Williams, no Teatro da Politécnica





Jardim Zoológico de Vidro, de Tennessee Williams, é apresentado em Lisboa, no Teatro da Politécnica, até 4 de Junho.
O espectáculo tem encenação de Jorge Silva Melo e tradução de José Miguel Silva, e conta com a representação de Isabel Muñoz Cardoso, João Pedro Mamede, José Mata e Vânia Rodrigues.
O texto faz parte da obra que a Relógio D’Água publicou em 2015, juntamente com outras três peças de Tennessee Williams: Doce Pássaro da Juventude e Outras Peças.

3.5.16

Sobre Todos os Contos, de Clarice Lispector




No programa Livro do Dia, na TSF, Carlos Vaz Marques fala de «um dos candidatos a livro do ano», Todos os Contos, de Clarice Lispector.