«Os grandes encantos e desconcertos de ler as histórias de Lydia Davis
resultam da sua enorme capacidade de dramatizar os mais pequenos episódios do
quotidiano, aumentando-lhes a dimensão ao ponto de os isolar do todo, o que os
torna hilariantes, ridículos, obsessivos, insignificantes ou tremendamente
emotivos. Esse efeito-lupa dura o tempo exacto para não os descontextualizar, não
lhes retirar sentido, só o suficiente até o absurdo ou a sordidez do insólito
ficarem mais bem sublinhados e, sem que o notemos, impressos no nosso
subconsciente. Em casa momento, a escritora brinca com a perspectiva num difícil
jogo de equilíbrio entre uma análise mais fria, ou cerebral, e a eficácia com
que convoca as emoções mais íntimas.» [Isabel Lucas, ípsilon, Público,
30-1-2015]
30.1.15
29.1.15
Paulo Gurgel Valente recorda a sua mãe, Clarice Lispector
No dia 10 de Dezembro, o Instituto Moreira Salles promoveu a 4.ª edição da «Hora de Clarice», que comemora o aniversário da autora de Perto do Coração Selvagem.
Como parte dessa comemorações, foi produzido um vídeo com uma entrevista de Paulo Gurgel Valente, filho da escritora, e Eucanaã Ferraz e Elizama Almeida.
Sobre O Idiota, de Fiódor Dostoievski
«O romance é
especial, mesmo entre os deste autor. Poucos outros exploram de forma tão clara
alguns temas associados a Dostoievksi. Em especial, o contraste entre a corrupção
do mundo, que encontramos aqui em múltiplos graus e formas, e a pureza de alma
tal como representada por Lev Nikoláevitch Míchkin, o príncipe a quem o título
se refere. Míchkin tem muito pouca experiência do mundo, apesar de já andar
pelos 26 anos. Passou os últimos quatro na Suíça, onde esteve a tratar-se de
epilepsia, e regressa à Rússia sem saber o que vai fazer da vida.» [Luís M.
Faria, E, Expresso, 24-1-2015]
23.1.15
Jhumpa Lahiri vence prémio DSC para Literatura Sul-Asiática com A Planície
A escritora
Jhumpa Lahiri, de ascendência indiana e vivendo nos EUA, acaba de receber o
prémio mais importante atribuído à literatura na Ásia com o seu romance A
Planície, publicado na Relógio D’Água (trad. de Inês Dias).
Jhumpa Lahiri
foi já vencedora do Pulitzer e esteve na shortlist do Man Booker Prize em 2013.
Keki N.
Daruwalla, membro do júri, considerou que se trata de um «esplêndido romance,
escrito em prosa contida com momentos de autêntico lirismo», «por um autor na
plena posse dos seus poderes».
Sobre Os Pescadores de Raul Brandão
«O regresso
de Os Pescadores de Raul Brandão não significa apenas a reedição de um
livro clássico da literatura portuguesa. Do que se trata, sobretudo, é de
trazer de volta, de forma condigna, um dos escritores que mais exigem leitura e
releitura actual. Pela força do estilo, pelo reenquadramento da tradição, pela
posição quase isolada na prosa do seu tempo. Portanto, não seria justo deixar
de referir os organizadores Vítor Viçoso e Luis Manuel Gaspar – em louvável
trabalho sobre o texto de Raul Brandão – e, não menos importante, o prefácio de
Viçoso.» [Hugo Pinto Santos, Time Out, 21-1-2015]
22.1.15
O Desconhecido do Norte Expresso tem nova adaptação ao cinema
Strangers on a Train, de Patricia Highsmith, que Hitchcock
levou ao cinema com o título O Desconhecido do Norte Expresso, vai ser
de novo adaptado ao ecrã.
O título do projecto é agora Strangers, mudança que se explica
até pelo facto de desta vez a história se passar a bordo de um avião.
O projecto reúne de novo David Fincher e Ben Affleck, após o sucesso
que obtiveram em Gone Girl.
Gillian Flynn, a autora deste último livro e do respectivo argumento
adaptado, integra igualmente a equipa de Strangers.
Guerra e Paz, de Tolstoi, faz 150 anos
Guerra e
Paz, de Tolstoi, foi
publicada pela primeira vez há 150 anos, em forma de folhetim, na revista
literária Russkiy Vestnik. O autor haveria de reformular a história e
lançá-la em formato de livro em 1869. A tradução da edição da Relógio D’Água,
que saiu em finais de 2013, é de António Pescada.
21.1.15
Sobre A Amiga Genial, de Elena Ferrante
«Uma amiga de infância de Elena, a narradora, desapareceu sem deixar rasto.
Há decénios a separá-las de um convívio que fora especialmente próximo. Numa
demanda que lembra tenuemente Um Estranho Amor (in Crónicas do Mal de
Amor, Relógio D’Água, 2014), o filho da desaparecida procura a mãe. Por
isso contacta Elena, que acede a recuar mais de 50 anos, desenterrando a sua
infância e a sua adolescência, em dois momentos narrativos de um romance que
claramente se anuncia como mais um tomo na guerra que é a vida até ao fim –
“Vamos ver quem vence, desta vez” (p. 16).» [Hugo Pinto Santos, Público,
ípsilon, 16-1-2015]
20.1.15
Sobre A Estalagem do Nevoeiro, de Ana Teresa Pereira
«Em paralelo
com as suas novelas e contos – atravessados por obsessões, zonas de sombra,
formas do desassossego –, Ana Teresa Pereira tem escrito livros para um público
juvenil. A simplicidade muito trabalhada da prosa é a mesma, mas posta ao
serviço de histórias reconfortantes e amenas, sem qualquer tipo de angústias,
estremecimentos ou ameaças. Serão, talvez, um contraponto solar ao negrume
habitual da autora. Mas são sobretudo uma homenagem às atmosferas típicas das
aventuras de Enid Blyton, transpostas para a ilha da Madeira. “Parece que
estamos numa aventura dos Cinco”, diz-se a certa altura. E parece mesmo. Há
crianças, há um cão, há passeios ao ar livre com farnel, há até um arremedo de
mistério policial (em torno do desaparecimento de um colar de pérolas).» [José
Mário Silva, «E», Expresso, 17-1-15]
Os livros que aí vêm, no Expresso
No último
número da revista E do Expresso, José Mário Silva fala dos livros
que vão ser publicados nos próximos meses.
Em relação à
ficção, «O ano literário não podia começar melhor. Ainda em janeiro, a Relógio
D’Água lança Não Posso nem Quero, de Lydia Davis (numa tradução da
poetisa Inês Dias), o muito aguardado livro de uma autora que começou por ser
de culto nos EUA – “ficcionista para ficcionistas” – mas entretanto foi
entronizada como uma das mais estimulantes prosadoras da actualidade. Tal como
nos livros ateriores, que podem ser lidos em Contos Completos (2012),
Davis reúne, na nova coletânea, dezenas de histórias breves, irónicas ou
melancólicas, todas narradas com linguagem exata e ritmo perfeito. Ainda na
Relógio D’Água, fevereiro trará o mais recente Prémio Booker (A Senda
Estreita do Norte Profundo, do australiano Richard Flanagan), a que se
seguirão A Última Palavra, de Hanif Kureishi, o segundo volume do magnum
opus de Karl Ove Kanusgård (O Homem Enamorado – A Minha Luta: 2) e Telex
de Cuba, de Rachel Kushner, autora de Os Lança-Chamas, um dos
melhores livros de 2014 para o Expresso.»
No que se
refere à não ficção, JMS menciona «outros ensaios que vale a pena destacar: A
Lógica do Dinheiro, de Niall Ferguson, e Os Ricos, de John
Kampfner (Temas e Debates), Tolstoi ou Dostoievski, de George Steiner, Os
Meus Primeiros Anos como Escritora, de Eudora Welty, e O Que Quer a
Europa?, de Slavoj Zizek e Srecko Horvat, com prefácio de Alexis Tsipras
(Relógio D’Água); Dada – História de Uma Subversão, de Henri Béhar e
Michel Carassou (Antígona).»
Em relação
aos autores portugueses, o jornalista e crítico do E termina dizendo:
«Em fevereiro, a Relógio D’Água publicará um consagrado (Mirleos, de
João Miguel Fernandes Jorge) e um representante dos “novíssimos” (Frederico
Pedreira, com Cenas de Uma Vida Conjugal).»
16.1.15
Sobre O Céu É dos Violentos, de Flannery O’Connor
«O Céu É dos Violentos tem o peso de uma maldição lançada aos
quatro ventos por esta autora singular que lia e relia em criança os contos de
Edgar Allan Poe e manteve uma discussão consigo própria relacionada com os
enigmas da fé sem nunca perder de vista uma ironia selvagem que raiou o
grotesco, muito próprio do “gótico sulista”, uma designação que serviu para
acantonar escritores tão diferentes quanto William Faulkner, Carson McCullers,
Tennessee Williams, Harper Lee, Truman Capote, Cormac McCarthy e a relutante
Eudora Welty, que se insurgiu contra esssa categorização.» [Helena Vasconcelos,
Público, ípsilon, 16-1-2015]
15.1.15
Sobre A Amiga Genial , de Elena Ferrante
«Em Itália,
para lá dos leitores conquistados, Elena Ferrante é regularmente assunto de
acesa discussão em torno da sua identidade. A escritora que escreve sob pseudónimo
recusa dar-se a conhecer. A Amiga Genial é o primeiro volume de uma
tetralogia que sehue a vida de duas jovens que crescem em Nápoles nos anos
subsequentes à II Guerra Mundial.» [Rui Lagartinho, Time Out, 14-1-2015]
Sobre A Estátua Assassina, de Louise Penny
«Este livro
não tem muitas parecenças com o que geralmente se associa a um romance
policial. Embora haja um crime, suspeitos e um investigador, tudo o afasta de
um tratamento rotineiro dessas matérias. Louise Penny é uma escritora de pleno
direito, que merece atenção, independentemente do género em que escolheu
exprimir-se.
O clássico
cenário da pequena povoação rural, envolta em névoas, é aqui substituído pelo
Manoir Bellechasse, no Quebeque, onde o inspector Gamache está a gozar férias.
Em vez do frio, uma vaga de calor rodeia tudo.» [Hugo Pinto Santos, Time Out,
14-1-2015]
13.1.15
José Mário Silva escreve sobre Booker Prize
No número de Dezembro da revista Ler, José Mário Silva escreve
sobre The Narrow Road to the Deep North, do australiano Richard
Flanagan, vencedor do Man Booker Prize 2014.
«Os temas centrais deste romance são dois tópicos literários por
excelência: a guerra e o amor. Flanagan encontrou um modo subtil de os cruzar,
mas o que torna The Narrow Road to the Deep North memorável é a sua
descrição vívida dos tormentos por que passaram os POW (prisioners of war)
australianos nas selvas da Indochina, às mãos dos japoneses, durante a
construção da infame “ferrovia da morte”, um troço de 415 quilómetros que
ligava Sião (actual Tailândia) à Birmânia (actual Myanmar). O objectivo era
abrir uma via para o transporte de material e tropas, com vista a um ataque à
Índia que nunca se concretizou. Sem dinheiro nem maquinaria apropriada, os
japoneses avançaram na mesma, para cumprir o desígnio do imperador,
sacrificando de formas inimagináveis os prisioneiros, transformados em mão-de-obra escrava.
As estimativas variam muito, mas até à conclusão da linha, em 1943, terão
morrido entre 80 mil e 200 mil homens. Dos 22 mil POW australianos, na maioria
capturados após a queda de Singapura, um terço perdeu a vida no inferno verde
da selva birmanesa. (…)
O segundo eixo essencial, subtilmente encaixado no da guerra, é a
história de amor entre Dorrigo e Amy, a mulher do seu tio. Uma história
condenada por duas mentiras simétricas – sabiamente geridas pela exemplar
economia narrativa do romance (a pedir uma mais do que previsível adaptação
cinematográfica) –, e responsáveis por uma tragédia íntima, contraponto da tragédia
colectiva de que Evans se tornou um símbolo. Nas páginas iniciais, um
personagem afirma que um “bom livro” deixa no leitor “a vontade de o reler”. É
o caso deste.»
A obra será editada em finais de Fevereiro pela Relógio D’Água.
«livros que não podem perder o seu lugar na estante» [Ler, Dezembro 2014]
«“Eu vi as mentes mais brilhantes da minha geração destruídas pela
loucura, famintas histéricas nuas”. Mesmo o leitor pouco acostumado à poesia
reconhece o tom do início do poema que celebrizou Allen Ginsberg e lançou as
fundações da canonização da Beat Generation, que incluía maluquinhos geniais do
calibre de Jack Kerouac e William S. Burroughs. Assim que o livro foi
publicado, em 1956, o editor e um livreiro foram presos e acusados de divulgar
literatura obscena. Como golpe publicitário não podia ser melhor. Mas a obra de
Ginsberg é mais do que essas referências populares e as notas e a tradução de
Margarida Vale de Gato devolvem em excelente estado aos leitores portugueses
este volume incontornável da poesia do século XX.»
«Tanto Northanger Abbey como Persuasão foram publicados
depois da morte de Jane Austen, mas o destino de Persuasão merecia ser –
e foi – diferente. (…) Persuasão é um magnífico e poderoso romance em
que temos sempre presentes os grandes temas da época e, sobretudo, as
consequências da própria obra de Austen. Ponto ainda mais positivo: a tradução
é de Rogério Casanova, que assina um brilhante posfácio.»
A chegar às livrarias: Morte Aparente no Pensamento, de Peter Sloterdijk (trad. de Carlos Leite)
No seu
anterior livro, Tens de Mudar a Tua Vida,
Peter Sloterdijk apresentou a prática como dimensão determinante da conditio humana. Em Morte Aparente no
Pensamento, considera segundo esta nova perspetiva tanto a ciência como a
prática do cientista.
Peter
Sloterdijk concebe a ciência como maneira de trazer à vida o próprio cientista
com recurso a sistemas de exercício geradores de ciência. Esse procedimento
inicia-se com os relatos de Platão sobre o seu mestre ateniense: quando travava
um intenso monólogo interior, Sócrates tinha pura e simplesmente de imobilizar-se
em qualquer lugar. Assim sendo, a Academia original foi um centro de práticas
onde os homens aprendiam técnicas para se ausentarem do mundo. As atuais
universidades têm também, de certo modo, dado contributos neste domínio.
Incluem-se na tradição desses «albergues de ausências» platónicos; fazem a
ligação entre a alteridade do ato de pensar e a exterioridade do ato de pensar,
ligação essa que torna possível a prática da ciência.
9.1.15
A chegar às livrarias: Não Posso nem Quero, de Lydia Davis (trad. de Inês Dias)
Não Posso nem Quero é a oitava recolha de contos de Lydia Davis,
que podem ter apenas duas linhas como em «Bloomington, ou percorrer várias páginas
como em «A Carta à Fundação». Mas todos eles dão uma sensação de descoberta do
que é estranho ou inesperado.
«A obra de Lydia Davis é única na literatura americana. É uma combinação
de lucidez, brevidade aforística, originalidade formal, astuta comédia, frieza
metafísica, pressão filosófica e profundo conhecimento humano.» [JamesWood, The
New Yorker]
«Poderosa como Kafka, subtil como Flaubert e, ao seu modo, defifnidora
de uma era como Proust… Um conto de duas linhas de Lydia Davis, ou um parágrafo
aparentemente insignificante, invade-nos e persegue-nos…» [Ali Smith, The
Guardian]
«O que torna os contos de Lydia Davis emocionantes, e por vezes
arrebatadores, é a sua habilidade de construir frases, que resulta numa escrita
feroz e de extrema precisão. Davis captura palavras como um caçador e usa a
pontuação como uma armadilha… Uma mente ousada e original.» [Colm Tóibín, The
Sunday Telegraph]
«Para uma escritora que aparenta ser meticulosamente cerebral, Lydia
Davis produz uma escrita por vezes excessivamente íntima. É esta discrepância
que se torna tão recompensadora no seu trabalho.» [Ben Marcus, Bookforum]
Sobre Extraterritorial, de George Steiner
«Como quase toda a gente sabe, Steiner,
para quem a literatura é parte de um todo mais vasto, criou um corpus de
eleição e não cessa de o dissecar. Borges e Nabokov são exemplos fétiche. Nunca
mais foram os mesmos desde que os lemos pelos seus olhos. Mas também Oscar
Wilde, considerado sob vários ângulos «uma das autênticas fontes do espírito moderno.» Por outro lado, o carácter multilingue das obras de Pound,
Beckett, etc., merece páginas decisivas, sendo curiosa a relação estabelecida
com o facto de Nabokov passar de uma língua a outra «como um turista milionário», circunstância que explicaria o tema do incesto. Ler
Steiner é ouvir o turbilhão de um pensamento ágil, articulado nas suas mais
subtis harmónicas. Sempre admirável.»
[Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica a Extraterritorial,
de George Steiner, publicada na revista Sábado, 7-1-15]
2.1.15
Sobre Persuasão, de Jane Austen
«Persuasão, de Jane Austen (1775-1817), voltou às livrarias com
nova tradução, desta vez de Rogério Casanova, que anotou e posfaciou a obra.
(…) Em Persuasão, obra póstuma, o sentimento de auto-suficiencia de Anne
Elliot ilustra o “descaso” de quem, tendo chegado à meia-idade após os
sobressaltos da Revolução Francesa e a derrota de Napoleão em Waterloo, se
sente desobrigada de corrigir a pontaria das convenções. Actualíssimo. Publicou
a Relógio D’Água.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de
crítica na revista Sábado de 30-12-2014]
De Jane Austen, a Relógio D’Água publicou também Lady Susan e Orgulho
e Preconceito.
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