28.2.21

Sobre Ensaios — Antologia, de Montaigne

 



«No capítulo XVII do Livro II dos Ensaios, «Da Presunção», Montaigne diz o seguinte: «Mas as almas belas são as almas universais, abertas e preparadas para tudo, se não instruídas, pelo menos, instruíveis: o que digo para acusar a minha; porquanto, seja por fraqueza seja por negligência (e o negligenciar o que está aos nossos pés, o que temos entre mãos, o que de mais perto concerne a prática da vida, é coisa bem longínqua do que tenho por bom), nenhuma há como a minha tão inepta e tão ignorante de muitas coisas vulgares e que não se podem ignorar sem vergonha.» Este trecho, com o seu movimento sinuoso e paradoxal, ilustra bem o estilo de Montaigne e o modo como ele frequentes vezes entrecruza o que exprime acerca de si mesmo com juízos de alcance ético e antropológico. O ideal que aqui enuncia, de uma alma caracterizada essencialmente pela pura disponibilidade, pela abertura plena à apreensão do real, e por um insaciável desejo de saber concomitante de uma atitude de humildade e suspeita perante o mesmo saber, embora, em tom autodepreciativo (o qual, de resto, não pode deixar de ser visto como uma inscrição a contrario na crítica da presunção e da filáucia levada por si a cabo neste capítulo), declare não o atingir, corresponde de alguma forma ao que — tendo em vista a sua obra, o itinerário da sua vida e o que nelas se revela — ele incarnou, coisa que, aliás, não é de espantar a respeito de quem, ao longo de toda a existência, sempre aplicou «todos os esforços a formar a [sua] vida», fazendo disso o seu «ofício e trabalho» (II, 37, 784a).» [Da Introdução]


Ensaios — Antologia, de Montaigne, com prefácio e tradução de Rui Bertrand Romão, está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/ensaios-antologia-2/


Sobre A Volta no Parafuso, de Henry James

 



«É um pequeno conto maravilhoso, terrível e venenoso», escreveu Oscar Wilde acerca de A Volta no Parafuso, a obra mais enigmática de James. Nesta história de uma preceptora encarregada de duas crianças e perseguida por fantasmas, a imaginação convoca horrores inexplicados.


A Volta no Parafuso (trad. Margarida Vale de Gato) e outras obras de Henry James estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/henry-james/


27.2.21

Sobre As Ilhas Gregas, de Lawrence Durrell

 



A escrita de Durrell está ligada à experiência do Mediterrâneo, em especial às Ilhas Gregas. Este texto, criado originalmente como um álbum fotográfico, foi agora recriado para o formato de livro. Nele encontramos descrições evocativas, histórias e mitos (entre eles alguns sobre flores e festividades). É por isso que nenhum viajante da Grécia ou admirador do génio de Durrell deve perder este livro.


«Durrell esteve em todo o lado e, como Ulisses, fez muito e sofreu muito, incluindo aventuras ocorridas durante a última guerra mundial. As suas descrições são prismáticas e palco para um elenco fascinante de atores… todos relembrados com afeto.» [Stewart Perowne, The Times]


«A sua mente é iluminada por tesouros enterrados no fundo do mar, mas nunca perdidos, sobre uma memória clara do Mediterrâneo… Durrell esteve em todo o lado, e é tão generoso com as suas sugestões como atrevido com as peripécias que descreve. Este texto está repleto de vitalidade.» [Frederic Raphael, Sunday Times]


As Ilhas Gregas (trad. Carlos Leite) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/as-ilhas-gregas/


Sobre As Ondas, de Virginia Woolf

 



As Ondas é considerado o mais radical romance de Virginia Woolf — um desses raros escritores que nasceu no «instante em que uma estrela se pôs a pensar».

Marguerite Yourcenar, sua tradutora francesa, descreveu-o assim:

«As Ondas é um livro com seis personagens, ou melhor, seis instrumentos musicais, pois consiste unicamente em monólogos interiores, cujas curvas se sucedem e entrecruzam com uma segurança que lembra a Arte da Fuga de Bach. Nesta narrativa musical, os breves pensamentos de infância, as rápidas reflexões sobre os momentos de juventude e de confiante camaradagem desempenham o mesmo papel dos allegri nas sinfonias de Mozart, abrindo espaço para os lentos andantes dos imensos solilóquios sobre a experiência, a solidão e a maturidade.

Tanto como uma meditação sobre a vida, As Ondas é um ensaio sobre a solidão. Trata-se de seis crianças, três raparigas, Rhoda, Jinny e Susan; e de três rapazes, Louis, Neville e Bernard, que vemos crescer, diferenciarem-se e envelhecer. Uma sétima criança, que nunca toma a palavra e que só conhecemos através das outras, é o centro do livro, ou melhor, o seu coração.»


As Ondas (tradução de Francisco Vale) e outras obras de Virginia Woolf estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/virginia-woolf/


26.2.21

Sobre Notre-Dame de Paris, de Victor hugo

 



«Lá estava ele, sério, imóvel, absorto, num olhar e num pensamento. Paris inteira jazia aos seus pés, com as mil flechas dos seus edifícios e o seu horizonte circular de suaves colinas, com o rio a serpentear sob as pontes e o povo a ondular nas ruas, com a nuvem dos seus fumos e a montuosa cadeia dos telhados a comprimirem Notre-Dame nas suas malhas cerradas. Mas de toda esta cidade, o arcediago apenas fixava um ponto concreto do pavimento: a Place du Parvis; e de toda aquela multidão, apenas uma figura: a cigana.

Seria difícil definir de que natureza era aquele olhar e de onde provinha a chama que dele brotava. Era um olhar fixo, mas repleto de perturbação e de tumulto. E, pela imobilidade profunda de todo o seu corpo, apenas agitado de onde em onde por um tremor automático como uma árvore sacudida pelo vento, pela tensão dos cotovelos, mais marmóreos do que a balaustrada em que se apoiavam, ao ver-se o sorriso petrificado que lhe contraía o rosto, parecia que em Claude Frollo só estavam vivos os olhos.»


Esta obra e Os Miseráveis de Victor Hugo estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/victor-hugo/


Sobre a obra de George Orwell

 



«A Relógio D’Água retoma este ano a edição do escritor inglês com uma nova tradução de 1984 e uma adaptação inédita de “A Quinta dos Animais”. A editora, que fez igualmente sair “Na Penúria em Paris e em Londres” (2017) e “Dias Birmaneses” (2016), prepara-se ainda para lançar “Os Ensaios”. Esta será a mais ampla reunião da obra ensaística de George Orwell alguma vez publicada entre nós.»

[Hugo Pinto Santos, «2021: ano George Orwell», «Ípsilon», 2021/02/26]

As obras de George Orwell estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/george-orwell/

Isabel Lucas conversa sobre as leituras de Manuela Correia, com a participação de Hélia Correia

 



«Eu trouxe este livro da Hélia Correia, Um Bailarino na Batalha, que eu li no tempo da troika. Foi um livro muito importante para mim, na altura. […] Eu na altura senti… estava a experienciar uma falta de esperança colectiva, estava a experienciar a falência dos modelos de organização social, estava a experienciar uma dificuldade, e quase que uma impossibilidade, de sobreviver, de termos a tal alternativa como comunidade. E este livro da Hélia recentrou-me no caminho. Foi muito importante. eu li-o e reli-o durante todo o período da troika. foi um dos que li e reli nessa fase. E trouxe outro da Hélia Correia — já se percebeu que é uma autora de que gosto muito — […] Acidentes, é poesia, mas é uma poesia que eu sinto, independentemente da singularidade da Hélia, é uma poesia… aliás, eu trouxe também a Emily Dickinson […] é poesia em estado bruto.» [Manuela Correia, no Podcast Grandes Leitores, de Isabel Lucas, com a participação de Hélia Correia, 29/1/2021. Disponível em https://tinyurl.com/abj2d2fj]


Um Bailarino na Batalha, Acidentes e outras obras de Hélia Correia estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/helia-correia/

Cem Poemas e Duzentos Poemas de Emily Dickinson (trad. Ana Luísa Amaral) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/emily-dickinson/


Sobre A Agressão, de Konrad Lorenz

 



«A conclusão evidente é que o amor e a amizade devem compreender toda a humanidade e que devemos amar todos os nossos irmãos humanos sem discriminação. Este mandamento não é novo. A nossa razão é perfeitamente capaz de compreender a sua necessidade e a nossa sensibilidade é capaz de apreciar a sua beleza. E no entanto, tal como somos feitos, somos incapazes de lhe obedecer.» [Konrad Lorenz]


A Agressão e E o Homem Encontrou o Cão estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/konrad-lorenz/

Sobre A Escola e a Sociedade, de John Dewey

 



«Temos tendência para encarar a escola segundo uma perspectiva individualista, pondo a tónica na relação entre professor e aluno, ou entre professor e pai. Aquilo que mais nos interessa são, naturalmente, os progressos feitos pela criança individual que conhecemos, o seu desenvolvimento físico normal, a sua evolução no que toca à capacidade de ler, escrever e contar, o aumento dos seus conhecimentos de geografia e história, as suas melhorias em termos de conduta, hábitos de higiene, ordem e zelo — é com base nesses padrões que avaliamos o trabalho da escola. E é justo que assim seja. Todavia, é conveniente que ampliemos o alcance desta perspectiva. Aquilo que o pai mais diligente e sensato deseja para o seu próprio filho, a comunidade deverá desejá-lo para todas as crianças que crescem no seu seio. Qualquer outro ideal para as nossas escolas é limitado e pernicioso; posto em prática, destruirá a nossa democracia.»


A Escola e a Sociedade (trad. Isabel Sá, Maria João Alvarez e Paulo Faria) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/a-escola-e-a-sociedade/

Gonçalo M. Tavares no Correntes D’Escritas

 





No âmbito do Festival Correntes D’Escritas, Gonçalo M. Tavares conversa hoje com Mariana, a Miserável. O encontro acontece às 17:00. Este ano o festival acontece online, dia 26 e 27 de Fevereiro. A programação de hoje pode ser acompanhada em https://youtu.be/5ML9I4Vg1SM


As obras de Gonçalo M. Tavares editadas pela Relógio D’Água estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/goncalo-m-tavares/


25.2.21

Sobre O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald

 



«Por fim, o livro é profundamente ambíguo; a sua coerência não tem que ver com uma convicção moral central, mas com uma forma artística. A estrutura é forte como ferro e a eficiência profunda. O Grande Gatsby talvez seja, como alguns afirmaram, o único romance perfeito. Ao relê‑lo, espantamo‑nos sempre com a sua brevidade: não é muito mais longo do que um conto de Henry James. T. S. Eliot julgou‑o o único grande passo no romance americano desde a morte de James. Não deu origem a uma tradição americana.» [Do Prefácio de Anthony Burgess]


O Grande Gatsby (trad. de Ana Luísa Faria) e outras obras de F. Scott Fitzgerald estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/f-scott-fitzgerald/


Duzentos Anos com Dostoievski

 




O catálogo da Relógio D’Água inclui onze obras de Dostoievski, entre elas os seus romances principais, Os Irmãos Karamázov, Os Demónios, O Idiota e Crime e Castigo. Recordações da Casa dos Mortos sairá ainda em Março e, até final do ano, Diários do Escritor.

Na segunda metade do século xx, os leitores portugueses conheceram os escritos de Dostoievski, mas sempre através de traduções francesas, num persistente trabalho de Maria Franco. Hoje podem ler a maioria das suas obras em traduções do russo de António Pescada e Nina Guerra e Filipe Guerra, ambas de qualidade, mas diversas nos métodos e resultados.

As reedições têm sido frequentes, o que mostra que Dostoievski continua a ter leitores, muitos deles jovens, sendo um clássico no sentido em que é redescoberto por sucessivas gerações. Mas nunca foi um autor consensual. Recebeu críticas negativas de escritores como Tchékhov e Nabokov. O próprio Tolstoi tinha com ele uma relação ambígua, embora, na casa do chefe da estação de Astapovo, onde se refugiou para morrer, tivesse consigo, ao que se diz, Os Irmãos Karamázov (e os Ensaios de Montaigne).

Ao longo dos anos, foi-se tornando um dos meus autores preferidos. Fiz na adolescência uma leitura demasiado precoce de Os Irmãos Karamázov, que me levou a pô-lo de lado por uma década, repelido pelo seu misticismo algo alucinado, tendo-me parecido então um romancista que amava “mais o cristianismo que a verdade”, para usar a expressão de Coleridge. Nessa época, fui incapaz de ver que o misticismo em escritores como Dostoievski pode ser uma via para explorar as profundidades do ser humano, como mostra o ensaio que Freud lhe dedicou. Regressei a Dostoievski mais tarde através de Crime e Castigo, que, passados cento e cinquenta anos, permanece a melhor história de um assassino, uma obra que, através de personagens como o egocêntrico Raskólnikov, a abnegada Sónia e Svidrigálov, altera a consciência dos leitores, mostrando-nos que o egoísmo e a generosidade, o bem e o mal se entrecruzam na disputa do incerto coração humano. 

A actualidade de Dostoievski tem várias explicações. Cento e quarenta anos após o seu enterro no cemitério do Mosteiro Alexandre Nevski em São Petersburgo, afirma-se como um dos mais importantes escritores dramáticos desde Shakespeare (sabe-se que vários dos seus romances e novelas se desenvolveram a partir de esboços teatrais). Atrai pela intensidade das situações, as personagens em momentos de crise, o imprevisto das acções e os caminhos que abriu para a compreensão de aspectos subterrâneos e transcendentes da vida.

O carácter visionário da sua obra é visível em Os Demónios, onde antecipa o horror a que levam as tentativas de impor a igualdade social através da violência sectária, e também em Os Irmãos Karamázov, onde surge a figura do Grande Inquisidor, o mal que se oculta sob a aparência do bem, em que se defendem teorias em que se não acredita para manipular seguidores crédulos. O Grande Inquisidor afirmava que os homens apenas serão felizes quando imperar na terra uma ordem regulada por uma autoridade sem contestação, pois «só assim será possível dar aos homens a tranquila e humilde felicidade das criaturas débeis». A Alemanha nazi, a URSS e os actuais regimes chinês e norte-coreano, em que uma parte da população foi levada a trocar a liberdade pela segurança, são uma ilustração da dimensão visionária da personagem do Grande Inquisidor.

Muitos dos seus livros, de O Jogador à primeira parte de O Idiota e à maior parte de Os Irmãos Karamázov, concentram-se em breves períodos de tempo. Alguns foram escritos em poucas semanas por um Dostoievski em quase estado de transe, impelido pelo seu desejo de criação de uma grande obra.

Em tudo isso parecem ter sido importantes as experiências-limite que atravessou, a começar por aquela que, aos vinte e oito anos, o levou à prisão, acusado de actividades subversivas, e a enfrentar um pelotão de fuzilamento, cuja ordem para disparar só foi cancelada deliberadamente no último instante. Seguiram-se anos de trabalhos forçados siberianos, onde Dostoievski conheceu presos comuns e marginais, que haveria de resgatar como personagens de drama, um cortejo de humilhados que se arrastam pelas ruelas sombrias e pelos sótãos das cidades russas. Foi também nesses anos que se tornou um conservador radical e devoto da Igreja Ortodoxa russa, o que não chegou para domar o que havia de subversivo e até de demoníaco na sua escrita.


Francisco Vale

Sobre O Silêncio, de Don DeLillo

 



«Romancista, dramaturgo e ensaísta, é sempre gratificante voltar a Don DeLillo (n. 1936), o derradeiro guru da literatura norte-americana. Depois de ter escrito sobre temas tão diversos como o advento da Era digital, o assassinato de Kennedy, fraude fiscal, linguística, dissuasão nuclear, artes performativas, adultério, terrorismo, Wall Street, desporto, televisão, o 11 de Setembro (o melhor romance sobre a tragédia de 2001 continua a ser O Homem em Queda), velhice, etc., chegou a vez de escrever sobre o futuro próximo. Publicado em plena pandemia, O Silêncio, romance minimal que podia ser uma peça de teatro, centra-se no Super Bowl de 2022. Em Nova Iorque, defronte de um televisor, ansiosas pela final do campeonato, três pessoas aguardam a chegada de um casal amigo regressado de Paris (ignoram que o avião de Jim e Tessa tenha tido que fazer uma violenta aterragem de emergência). Até que tudo pára: televisores, laptops, relógios, telefones. Com o colapso geral da energia, a cidade está mergulhada na escuridão. Apocalipse da Internet provocado pela China? Ciberataque de origem russa? Início da Terceira Guerra Mundial? Invasão extraterrestre? Nenhum dos cinco sabe o que pensar. Deveras inquietante.» [Eduardo Pitta, Sábado, 25/2/2021]


«O Silêncio» e outras obras de Don DeLillo estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/don-delillo/


Francisco Louçã falou sobre o lançamento da obra de Louise Glück em Portugal

 





«A Relógio D’Água publicou quatro volumes, quatro traduções por quatro tradutores diferentes, de Louise Glück, que ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 2020. Noite Virtuosa o Fiel e Uma Vida de Aldeia — foram os que eu trouxe —, uma escritora norte-americana, não muito conhecida entre nós, e a obra foi agora publicada.» [Francisco Louçã, Tabu, Sic Notícias, 25m, 5/2/2021: https://tinyurl.com/mwb9u3ey]


As obras de Louise Glück estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/louise-gluck/

Sobre Cânticos do Realismo e Outros Poemas, de Cesário Verde

 



«Esta nova publicação de Cesário Verde é assim constituída pelas páginas cobertas de decassílabos e de alexandrinos, líricos e mordazes de uma peculiar energia, e pela reduzida prosa epistolar.

E se ela é tributária de quantas a precederam, como se reconhece por ela adentro, do mesmo modo não prescinde da lição de Fialho de Almeida (“o maior poeta da prosa portuguesa”), “mestre incontestado do impressionismo”, rendido, ainda em vida de ambos, à novidade do canto de Cesário Verde (“o poeta mais dotado com qualidades da prosa”) (…).

Do mesmo modo esta edição também não prescinde da lição de Fernando Pessoa que, dos três mestres de língua portuguesa que elegeu, foi ao cantor de “O Sentimento dum Ocidental” — como ele transeunte das ruas de Lisboa e espectador desencantado do fim do império — que instituiu mestre do mestre das suas fantasmagorias autorais, fez mentor da descoberta sensacionista que instruiu a sua geração, a quem louvou em prosa e em verso e estudou, criticamente, em vários momentos.

Os dois escritores propunham-se estudar Cesário com demora através de uma obra que, por longos anos, foi presente nas letras portuguesas com apenas vinte e dois poemas, tendo o acaso frustrado tais propósitos. Talvez tenha sido ainda o acaso, mas agora de sinal positivo, a providenciar a reunião destes três enormes vultos de nascença oitocentista onde, em cadeia, ainda puderam tocar-se numa espécie de “transferência de energia dos antigos aos discípulos” (como Pessoa alegou em outras circunstâncias).» [Da Introdução]


Cânticos do Realismo e Outros Poemas está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/canticos-do-realismo/


24.2.21

Sobre O Problema dos Três Corpos, de Cixin Liu

 



Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: O Problema dos Três Corpos, de Liu Cixin (tradução de Telma Carvalho)


Tendo como pano de fundo inicial a Revolução Cultural chinesa, uma cientista de uma base militar secreta envia sinais para o espaço, tentando estabelecer contacto com extraterrestres. Quando uma civilização alienígena, quase extinta, capta o sinal, começam os preparativos para invadir a Terra, onde, enquanto isso, diferentes grupos se começaram a formar. Porém, enquanto alguns pretendem dar as boas-vindas a uma civilização superior, ajudando-os a controlar um mundo que se tornou excessivamente corrupto, outros pretendem travar a invasão.

O resultado é O Problema dos Três Corpos, uma obra-prima da ficção científica, escrita por um dos mais considerados autores da China contemporânea.


«Um livro altamente inovador… uma mistura única de especulação científica e filosófica.» [George R. R. Martin]


«A Guerra dos Mundos do século XXI.» [Wall Street Journal]


«Extraordinário.» [The New Yorker]


Vencedor do Prémio Hugo


Por iniciativa dos produtores de A Guerra dos Tronos, David Benioff e D. B. Weiss, O Problema dos Três Corpos será brevemente adaptado a série Netflix.


Sobre A Família Golovliov, de Saltykov-Shchedrin

 



Intensamente quente no Verão e fria no Inverno, a herdade da família Golovliov é o final do caminho. É lá que Arina Petrovna comanda os empregados e a família — até ceder o poder ao seu filho Porfírio. Um dos monstros mais memoráveis da literatura mundial, Porfírio é o perfeito hipócrita e maquinador que ataca sem remorsos aqueles que dele se aproximam. Mas no final até ele se revela incapaz de resistir a Golovliovo.


«… o grande romance A Família Golovliov, o mais sombrio e implacável exemplo de comédia negra na literatura russa do século XIX.» [V. S. Pritchett]


«A linhagem que começa com Dostoievski, passa por Shchedrin e chega a Hamsun é visível. Assim considerado, A Família Golovliov, um livro estranho e áspero, cujas personagens a um tempo sofrem a doença do nada e aspiram a ela, um livro que é por vezes uma ampla sátira, outras um livro de terror gótico, e outras ainda um anti‑romance, torna‑se cada vez mais moderno com a passagem do tempo.» [James Wood]


A Família Golovliov, de Saltykov-Shchedrin, está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/a-familia-golovliov/

Sobre Mr Fox, de Helen Oyeyemi

 




É uma tarde soalheira de 1938, e Mary Foxe está com um humor agressivo. St John Fox, um romancista célebre, já não a vê há seis anos. Por isso, não está preparado para a tarde em que ela o visita, mais não seja porque ela não existe. Está apaixonado por ela. Mas foi ele que a inventou.

“És um patife”, diz-lhe ela. “Um assassino em série… Estás a entender?”

Estará Mr Fox à altura do desafio da sua musa? Conseguirá deixar de assassinar as suas heroínas e explorar algo mais próximo do amor? O que irá a sua esposa Daphne pensar dessa súbita mudança no seu marido? Poderá desta vez existir um final feliz?


«As personagens de Oyeyemi quase dançam nas páginas dos seus livros. Este é o seu melhor romance até à data.» [Independent on Sunday]


«Não é apenas um romance profundamente imaginativo. Está repleto de inteligência e sabedoria. O seu melhor livro até hoje.» [Metro]


«Cómico, profundo, chocante, complexo e emotivo.» [Guardian]


Mr Fox (trad. de Ana Falcão Bastos) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/mr-fox/


Sobre David Molder, de Irène Némirovsky

 



Doente e abandonado pelos seus, David Golder, um temível homem das finanças, parece destinado a aceitar a ruína.

Mas o amor que tem pela sua filha Joyce, uma jovem frívola e gastadora, sobre a qual não tem qualquer ilusão, leva-o de novo ao campo de batalha.

David Golder decide reconstruir o seu império e prepara-se para o último combate, reunindo o que lhe resta da feroz energia do passado.

Publicado em 1929, este foi o primeiro romance de uma jovem escritora de origem russa de insólita maturidade.


David Golder e outras obras de Irène Némirovsky estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/irene-nemirovsky/

Homenagem a Lawrence Ferlinghetti

 





Morreu no passado dia 22 de Fevereiro , aos 101 anos, o poeta, dramaturgo e editor Lawrence Ferlinghetti, um dos impulsionadores da Beat Generation, ao lado de Jack Kerouac e Allen Ginsberg.

Descendente de uma família italo-portuguesa, Ferlinghetti nasceu em Nova Iorque em 24 de Março de 1919.

O pai, imigrante, morreu seis meses antes do seu nascimento. Quando tinha dois anos, a mãe teve sérios problemas nervosos. Por isso, foi criado por um tio materno e por uma tia de origem francesa, de nome Emily. Quando o casal se separou, Ferlinghetti teve de mudar-se para França com Emily. De regresso aos EUA, viveu num orfanato, pois a tia ficara desempregada.

Apesar das dificuldades, conseguiu formar-se como jornalista na Universidade da Carolina do Norte em 1941, indo então servir na marinha americana durante a Segunda Guerra Mundial. Depois de esta terminar, obteve um mestrado em Columbia e um doutoramento na Sorbonne. Em Paris, conheceu a poesia de Eliot e Pound e encontrou Kenneth Rexroth, que o convenceu a ir para São Francisco para participar na cena contracultural da cidade.

Aí fundou como sócio a livraria e editora City Lights, especializada em poesia (publicou o livro Howl de Allen Ginsberg, censurado e confiscado pelas autoridades norte-americanas, que processaram o editor).

O papel de Ferlinghetti foi essencial na criação do movimento da Beat Generation. Como refere Larry Smith, autor do livro Lawrence Ferlinghetti: Poet-at-Large: “O que resulta do panorama histórico em que Ferlinghetti se envolveu é um padrão social envolvente de experimentação literária.” Smith acrescenta que o papel de Ferlinghetti foi muito superior ao de editor e organizador: “Além de ter moldado a ideia do que é ser um poeta no mundo, criou uma forma poética que é ao mesmo tempo retoricamente funcional e socialmente vital.”

Ferlinghetti defende que a arte deve ser acessível a todos, não apenas a um punhado de intelectuais com educação superior, e a sua carreira foi marcada por um constante desafio ao statu quo.

O seu livro A Coney Island of the Mind é um dos livros de poesia mais vendidos na história dos EUA.


De Lawrence Ferlighetti, a Relógio D’Água publicou em 2017 A Poesia como Arte Insurgente, o testemunho de uma geração para quem a poesia era sinónimo de subversão.


«MANIFESTO POPULISTA #2

(1978)


Filhos de Whitman, filhos de Poe

filhos de Lorca & Rimbaud

ou suas filhas obscuras

poetas com outro fôlego

poetas com outra visão

Quem de entre vós fala ainda de revolução

Quem de entre vós desaparafusa ainda

as fechaduras das portas

nesta década revisionista?

“São Presidentes do vosso próprio corpo, América”

Assim falava Kush em Tepoztlan

poeta anjo de cabelo selvagem e sangue jovem

membro de uma estirpe de poetas selvagens

à imagem de Allen Ginsberg

vagueando pela América selvagem

“Vós, Rimbauds com outro fôlego”

cantava Kush

antes de se afastar com a suas próprias paranóias particulares

enlouquecido como a maioria dos poetas

por uma ou outra razão louca

na cama desfeita do mundo

Filhos de Whitman

na vossa “solidão pública”

unidos pelo duende no seu sangue

“Presidentes do vosso próprio corpo, América”

Reconquistem‑no

a quem vos enlouqueceu

a quem o roubou

e o rouba diariamente» [pp. 97 e 99]


A Poesia como Arte Insurgente (tradução de Inês Dias) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/a-poesia-como-arte-insurgente/


Sobre Contos de Grimm

 



Esta edição inclui os contos O Que Partiu à Procura do Medo, O Lobo e as Sete Cabrinhas, O Fiel João, Raponços, As Três Fiandeiras, Hansel e Gretel, O Pequeno Alfaiate, A Gata Borralheira, A Menina e os Sete Corvos, Os Músicos da Cidade de Bremen, Os Três Cabelos de Ouro do Diabo, Os Pequenos Génios Benfazejos, O Senhor Compadre, Os Seis Cisnes, A Bela Adormecida, A Branca de Neve, O Bate-Sorna, Rolando o Noivo Esquecido, O Pássaro de Ouro, Os Dois Irmãos, As Três Penas, A Guardadora de Patos, Os Três Irmãos, As Estrelas de Prata, Os Diferentes Filhos de Eva, O Conto do Fuso, da Lançadeira e da Agulha.


Contos de Grimm está disponível em https://relogiodagua.pt/autor/grimm/


23.2.21

Sobre Mulheres Invisíveis, de Caroline Criado Perez

 



Caroline Criado Perez entrevistada por Inês Fonseca Santos, no programa Todas as Palavras (11m38s), a propósito do seu livro Mulheres Invisíveis, publicado pela Relógio D’Água em 2020.


Imagine um mundo onde os telemóveis são demasiado grandes para as suas mãos. Onde os médicos prescrevem medicamentos errados para o seu corpo. Onde, num acidente de automóvel, tem mais 47% de probabilidade de sofrer ferimentos graves. Onde, em cada semana, as suas incontáveis horas de trabalho não são reconhecidas nem valorizadas. Se isto lhe parece familiar, há grandes hipóteses de ser uma mulher.

Mulheres Invisíveis mostra-nos como um mundo largamente construído por e para homens ignora sistematicamente metade da população. Estas páginas expõem o preconceito de género que está na raiz da discriminação que afeta diariamente a vida das mulheres.


“Leiam este livro e digam-me depois se o patriarcado é apenas produto da minha imaginação.” [Jeanette Winterson, The New York Times]


“Este livro muda tudo. É uma coletânea de factos intransigentes, reunidos com ambição e competência, que nos conta a história do que acontece quando nos esquecemos de considerar metade da população humana. Deveria fazer parte das estantes de qualquer legislador, político ou gestor.” [The Times]


Mais informação em https://relogiodagua.pt/produto/mulheres-invisiveis/


Sobre Sonetos, de Florbela Espanca

 



«O que em Florbela é inovação é o alheamento estilístico com que joga a radical temática da interioridade. Essa interioridade é um funcionamento do princípio de realidade, mas completamente alheio ao primado do quotidiano. É uma coloquialidade expressiva atemporal.» [Do posfácio de Joaquim Manuel Magalhães]


Sonetos, de Florbela Espanca, está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/sonetos-de-florbela-espanca/

Sobre Sonetos Portugueses, de Elizabeth Barrett Browning

 



«Conta-se que um dia, já depois de casados, Elizabeth entrou no gabinete do marido [Robert Browning] com um maço de papéis na mão, e, pousando-o na sua mesa de trabalho, disse “lê isto”, e retirou apressadamente. Robert leu o que ela tinha deixado. Eram 44 lindíssimos sonetos, escritos desde a data do seu primeiro encontro até àquele dia. Melhor, era um poema, com estanças em forma de sonetos, que relatava, passo a passo, toda a evolução do espírito de Elizabeth, desde o desânimo e as hesitações do princípio, quando se lhe tinha imposto a evidência do seu amor, até à vitória final, na gratidão sem limites, na paz, na felicidade.» [Do prefácio de Manuel Corrêa de Barros a Sonetos Portugueses]


Sonetos Portugueses está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/sonetos-portugueses/

Sobre Flush, de Virginia Woolf

 



Flush é a biografia de um spaniel, mais concretamente do cão da poetisa inglesa Elizabeth Barrett Browning, autora de Sonetos Portugueses.

Como escreve Fernando Guimarães no prefácio, a narrativa faz-se a partir de «vários pontos de vista que podem ser tanto os de Flush como os do narrador ou de outros personagens».

Mas como é um cão o protagonista, muitas descrições das casas burguesas, dos jardins e dos bairros pobres da Inglaterra do século xix são-nos dadas de um modo mais olfactivo do que visual.

Para Flush, «o amor é sobretudo odor; a forma e a cor, odores; a música, a arquitectura, a lei, a política e a ciência são odores. Para ele a própria religião era um odor».


Esta e outras obras de Virginia Woolf estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/virginia-woolf/

22.2.21

Sobre Amok, de Stefan Zweig

 



Amok é um termo retirado da cultura indonésia e significa «lançar-se furiosamente na batalha». As pessoas afetadas por este estado psíquico têm ataques de fúria cega e procuram aniquilar os que consideram seus inimigos e qualquer pessoa que se interponha no caminho, sem consideração pelo perigo que correm.

O narrador conta a sua viagem de Calcutá para a Europa a bordo do Oceânia. Num passeio noturno na coberta do navio, encontra um médico preocupado e assustado e que evita qualquer contacto social. Este vai contar-lhe o que o levou a uma relação obsessiva com uma mulher que o colocou em estado de amok.


«Amok (…) é o inferno da paixão no fundo do qual se retorce, queimado mas eliminado pelas chamas do abismo, o ser essencial, a vida oculta.»


Esta e outras obras de Stefan Zweig estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/stefan-zweig/

Sobre A Desobediência Civil e Outros Ensaios, de Henry David Thoreau

 



Este livro é representativo do pensamento de Thoreau, e inclui cinco dos seus ensaios mais lidos e citados. “A Desobediência Civil”, o seu ensaio político mais influente, enaltece a lei da consciência em relação à lei civil. “A Vida sem Princípios” apresenta a essência da filosofia do autor sobre independência e individualismo. “A Escravatura no Massachusetts” é um duro ataque à indiferença do governo perante a escravatura. “Em Defesa do Capitão John Brown” é um eloquente compromisso do abolicionismo radical. “Caminhar” celebra os prazeres desta atividade, advogando a conservação dos locais selvagens da Terra.


A Desobediência Civil e Outros Ensaios (trad. de Inês Dias) e Walden e Ktaadn (trad. Alda Rodrigues) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/henry-david-thoreau/


Sobre Elena Ferrante

 




Amanhã, às 23:27, a RTP2 transmite o documentário A Febre Ferrante, de Giacomo Durzi, sobre Elena Ferrante. Mais informação aqui.


A Vida Mentirosa dos Adultos e as outras obras de Elena Ferrante estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/elena-ferrante/

Sobre A Montanha Mágica, de Thomas Mann

 



«Thomas Mann foi dos escritores que mais bem retratou a mudança de paradigmas do século XIX para o século XX, agregando e pondo em confronto nas suas obras ideologias, filosofias e correntes de pensamento díspares mas complementares entre si. ‘Montanha Mágica’ e ‘Morte em Veneza’ são, não só, expoentes máximos disso mesmo (das correntes que marcaram a actualidade de então), como constituem, também, uma grande viagem pela montanha russa que é o ser-humano. Viagem, essa, que será sempre universal e atemporal. Este ano, a editora ‘Relógio D’Água’ dedicou-se a reeditar algumas das obras mais significativas do autor alemão. Como tal, vamos revisitar alguns aspectos da sua vida enquanto relembramos, justamente, o quão importantes ‘Montanha Mágica’ e ‘Morte em Veneza’ são para o entendimento do início do séc.XX, como também perceber porque são fundamentais, principalmente ‘Montanha Mágica’, para a nossa contemporaneidade.» [Ana Isabel Fernandes, Comunidade Cultura e Arte, 15/8/2020. Texto completo em https://www.comunidadeculturaearte.com/montanha-magica-e-morte-em-veneza-o-confronto-de-ideologias-em-thomas-mann/ ]


A Montanha Mágica, A Morte em Veneza e outras obras de Thomas Mann estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/thomas-mann/

Sobre Do Desaparecimento dos Rituais, de Byung-Chul Han

 



«Os dez pequenos ensaios que constituem este volume debruçam-se sobre uma alteração de paradigma no que respeita à perceção simbólica. Por eles somos alertados para o facto de, na sociedade ocidental, o símbolo ter sido substituído pela performatividade e pela eficácia. O primeiro texto intitula-se “A coacção de produzir”, e está diretamente relacionado com os dois últimos, nos quais se retoma um saudosismo pelas culturas arcaicas onde o conhecimento assume formas lúdicas e a sedução é da ordem do ritual, podendo viver sem sexo. A importância da repetição e dos formalismos é contrastada com o universo da comunicação digital. Neste não se criam relações, ficando a vida desprotegida. O mundo tornou-se um teatro onde os gestos rituais desapareceram, o corpo move o espírito, as paixões triunfam e o comportamento formal é rejeitado como inautêntico. A vida perdeu o seu caráter mágico e o ruído da comunicação substituiu o silêncio.» [Maria Luísa Ribeiro Ferreira, Brotéria, Janeiro 2021]


Do Desaparecimento dos Rituais e outras obras de Byung-Chul Han estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/byung-chul-han/