«Por vezes, um escritor torna-se conhecido em todo o mundo pela adaptação ao cinema de um livro seu, e com Highsmith foi logo com o primeiro, Strangers on a Train (1950), um dos thrillers mais
populares do século XX, a partir do qual Hitchcock realizou o clássico que
conhecemos por O Desconhecido do Norte Expresso. Sucede o mesmo
com O Preço do Sal (1952), que agora lemos como Carol. No posfácio, Ana Luísa Amaral, tradutora da obra, lembra que
o livro, tratando a relação amorosa entre duas mulheres, foi publicado sob o
pseudónimo de Claire Morgan, assim se mantendo durante mais de três décadas. (…)
Nunca tendo escondido a condição lésbica, Patricia Highsmith não era activista gay. Mesmo da forma elegante como desenvolve a intriga, compreende-se
que nos anos 1950, no auge do McCarthismo, não fosse fácil tratar a história de
amor entre Carol e Therese sem lhe associar conotação pejorativa e sanção
moral. Highsmith, que se tornaria um ícone da literatura policial (não esquecer
que foi a criadora de Mr. Ripley), inspirou-se na figura de uma antiga amante,
Virginia K. Catherwood, uma mulher casada da alta sociedade de Filadélfia, para
compor a personagem de Carol, também casada e mãe. Ao comprar uma boneca para a
filha, Carol conhece Therese, então com 19 anos, a trabalhar em part-time num armazém de Manhattan. Foi esse o
duplo detonador do romance, isto é, da relação entre ambas e da escrita do
livro. (…) Seria pleonástico sublinhar a destreza com que Highsmith nos envolve
na trama psicológica.»
[Eduardo
Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica sua publicada na revista
Sábado de 3 de Março]
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