«A obra de
Rui Nunes tem criado uma barreira invisível a partir da qual as palavras são
forçadas a deixar a bagagem (ou babugem) desnecessária, aquilo que as traz
transidas do ritmo usual das coisas, essa espécie de alegria atarantada. Um
discurso demasiado fluido é algo de intolerável para este autor. A sua escrita
aprendeu a silabar o mundo, a importá-lo para o observar interiormente. Nela o
movimento descritivo radicaliza-se, assumindo um valor crítico. O plano contínuo
da realidade é estilhaçado, as palavras tomam o lugar das coisas, decifrando-as.
A linguagem deixa de legendar, mas, ao lado do mundo, toma-lhe o peso e acaba
por sobrepor-se-lhe. A Crisálida é um texto de profundo mal-estar, reagindo às
imagens de um homem degolado no ecrã da televisão. Não há em momento algum o
compadecimento com uma cultura e identidade que tem gostado de se vitimizar,
nem tão-pouco com os bonecos que encenam o ultraje, com as denúncias e o horror
comportado que cabe na moldura televisiva e serve o teatrinho mediático.» [Diogo
Vaz Pinto, i, 27-02-2016]
1.3.16
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário