2.3.16

Sobre O Náugrafo, de Thomas Bernhard




«É a história de três pianistas, um deles mundialmente famoso, os outros dois personagens de ficção. Glenn Gould, Wertheimer e o narrador do romance estudaram juntos em Salzburgo na década de 50. Todos eram óptimos pianistas, mas apenas um dos três era um génio. Depois de se separarem, mantendo uma amizade distante e à distância, os dois homens que não são Glenn Gould debatem-se com essa catástrofe: não serem Glenn Gould. Amargurados, abdicam da vida artística, escrevem, teorizam,exilam-se. Comportam-se talvez como indivíduos competitivos, invejosos, mas na verdade são gente seriíssima que acredita que a arte digna desse nome não admite os bons e os muito bons mas apenas os melhores de todos. Um “virtuoso” é um diletante, não um artista autêntico. Glenn Gould, “o mais lúcido de todos os loucos”, sabia isso. Era o melhor de todos, mas nem assim estava contente, porque desprezava o público, sentia que abastardava a música se vivesse para agradar ao público. Gould chamava a Wertheimer “o naúfrago” e ao narrador “o filósofo”, e é isso que os vemos fazer, um a naufragar, o outro a filosofar, num solilóquio ininterrupto que é também uma partitura musical de repetições e reiterações.» [Pedro Mexia, E, Expresso, 27-02-2016]

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