«É a história de três pianistas, um deles mundialmente famoso, os
outros dois personagens de ficção. Glenn Gould, Wertheimer e o narrador do
romance estudaram juntos em Salzburgo na década de 50. Todos eram óptimos
pianistas, mas apenas um dos três era um génio. Depois de se separarem,
mantendo uma amizade distante e à distância, os dois homens que não são Glenn Gould
debatem-se com essa catástrofe: não serem Glenn Gould. Amargurados, abdicam da
vida artística, escrevem, teorizam,exilam-se. Comportam-se talvez como
indivíduos competitivos, invejosos, mas na verdade são gente seriíssima que
acredita que a arte digna desse nome não admite os bons e os muito bons mas
apenas os melhores de todos. Um “virtuoso” é um diletante, não um artista
autêntico. Glenn Gould, “o mais lúcido de todos os loucos”, sabia isso. Era o
melhor de todos, mas nem assim estava contente, porque desprezava o público,
sentia que abastardava a música se vivesse para agradar ao público. Gould
chamava a Wertheimer “o naúfrago” e ao narrador “o filósofo”, e é isso que os
vemos fazer, um a naufragar, o outro a filosofar, num solilóquio ininterrupto
que é também uma partitura musical de repetições e reiterações.» [Pedro Mexia, E,
Expresso, 27-02-2016]
2.3.16
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