Como sabemos, Umberto Eco faleceu na passada sexta-feira aos
84 anos na sua casa de Milão de salas repletas de livros. Numa certa tradição
renascentista, foi ao mesmo tempo vários coisas, semiólogo, linguista,
escritor, professor universitário e jornalista.
Muitas são as homenagens que lhe têm sido prestadas. Desde as
governamentais, de Matteo Renzi, Hollande e Mariano Rajoy, até às mais genuínas,
dos seus amigos, de escritores e jornalistas. Mas a mais comovente de todas terão
sido as rosas brancas depositadas pelos seus alunos em silêncio junto da sua
casa.
Umberto Eco teorizou em Apocalípticos e Integrados o
que viria a ser a sua posição na sociedade e na vida política, onde denunciou
os poderes corrompidos e as opiniões feitas. Nunca quis ser um intelectual na
tradição de Montaigne, Espinosa, Pascal ou Walter Benjamin. Apreciava os
aspectos agradáveis da vida e esforçou-se por os obter. Sentia a urgência de
intervir nos acontecimentos do seu tempo. Decidiu nem se integrar nos meios de
comunicação nem deixar de os frequentar, desde que o pudesse fazer mantendo o
espírito crítico.
Fez avançar a semiologia e tornou-nos melhores leitores, com
obras como A Estrutura Ausente, Obra Aberta ou Lector in
Fabula. Aplicou a semiologia a obras populares e até à banda desenhada, em
ensaios como O Super-Homem das Massas.
Tornou-se autor de romances como O Nome da Rosa, O
Pêndulo de Foucault, Baudolino, e vários outros, usando para isso
os seus conhecimentos linguísticos e de estudioso de textos antigos e, em
particular, medievais.
Manteve até ao fim o espírito crítico em relação aos meios de
comunicação, como mostra Número Zero, o seu último romance publicado em
vida (sabemos agora que tem uma obra inédita), e recentes declarações sobre as
redes sociais.
De Umberto Eco a Relógio D’Água publicou Apocalípticos e
Integrados e Sobre Literatura, e vai editar em breve Cinco
Escritos Morais, O Super-Homem das Massas e Sobre os Espelhos e
Outros Ensaios.
Francisco Vale
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