«Como sabemos, “os encontros que não se concretizam revestem-se de um
carácter próprio. Perduram tal como estavam planeados.” A desilusão de Leopold
será preenchida (talvez fantasiosamente?), na segunda e mais extensa das três
partes do romance, por uma luminosa analepse, que nos fará recuar dez anos e
avistar Karen, numa certa manhã de Abril, a bordo de um navio que demanda Cork. É
a mãe de Leopold (ou virá sê-lo).
Leremos uma história breve, e finalmente trágica, de amantes com
dinheiro mas infelizes. Magnificamente contada. Como se, no trânsito entre melancólicas
estâncias balneares das duas margens da Mancha, Henry James desse a mão a Marguerite
Duras.
Romance de chegadas e de partidas, de estranhamentos e ausências, de
trânsitos e travessias, A Casa em Paris (publicado originalmente em
1935) lembra-nos que a vida passa “muito depressa, como uma peça de teatro sem
intervalos”. Umas vezes faz-nos sentir como “um cão numa casa onde tudo está a
ser encaixotado para mudança”. Outras, um “navio feliz por não ir a lado nenhum”.»
[Mário Santos, Público, ípsilon, 26-2-2016]
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