29.4.16

Sobre Um Holograma para o Rei, de Dave Eggers




«Dave Eggers (Boston, 1970) foi até há uns anos um dos “meninos de ouro” da nova literatura norte-americana, em conjunto com o imaginativo Jonathan Safran Foer e o ecléctico Michael Chabon. Jornalista de formação, fundador e editor da revista literária de culto, a McSweeney’s, estreou-se na literatura em 2000 com um romance que de imediato o catapultou para as preferências dos leitores e dos críticos, Uma Obra Enternecedora de Assombroso Génio (Quetzal, 2012), uma espécie de livro de memórias sobre os trágicos acontecimentos que foram a morte dos seus pais, com poucas semanas de diferença, à mistura com um pouco de ficção, e que chegou a ser finalista do Pulitzer Prize.
Escritor de uma versatilidade admirável, tem dividido o seu talento por livros de memórias, como O Sítio das Coisas Selvagens (Quetzal, 2009), histórias orais passadas à escrita, O Que É o Quê (Casa das Letras, 2009) — onde conta a história de um refugiado sudanês que conseguiu chegar aos Estados Unidos e que, curiosamente, há cerca de dois anos se tornou ministro da educação  no Sudão – ou ainda livros baseados em experiências surpreendentes e acontecimentos verídicos, escritos com o propósito de defender uma causa – em particular a dos direitos humanos, em Zeitoun (Quetzal, 2011), sobre os mecanismos kafkianos da justiça americana, a propósito da detenção de um habitante de Nova Orleães que se recusou deixar a cidade durante os dias do furacão Katrina.
Um Holograma para o Rei – recentemente adaptado ao cinema, tendo Tom Hanks como protagonista – é o seu primeiro “verdadeiro” romance deste que 2002 publicou Conhecereis a Nossa Velocidade! (Quetzal, 2011).» [José Riço Direitinho, Público, ípsilon, 29/4/16]

28.4.16

Sobre A Economia como Desporto de Combate, de Ricardo Paes Mamede





«O contacto com a segunda intervenção do FMI em Portugal, nos anos 80, abriu-lhe os olhos. Tinha uns dez anos de idade na altura, e as dificuldades por que o país passava mostraram-lhe que “as injustiças pareciam estar muito associadas ao funcionamento da economia”. Volvidos 30 anos, já economista de formação e ofício, Ricardo Paes Mamede, autor do livro O Que Fazer com Este País, tornou-se conhecido por fazer parte de um grupo que não se revê na sacrossanta doutrina da austeridade imposta pelas instituições europeias e pelo governo anterior. Ironicamente, um dos três participantes do programa semanal da RTP3 “Números do Dinheiro”, fez o doutoramento na Universidade Bocconi, em Milão, famosa por ter uma das escolas de economia mais conservadoras da Europa, e de onde, de resto, saiu a ideia de austeridade expansionista que nos atormenta. Hoje, o resultado do desalinhamento de Paes Mamede traduz-se também na sua participação, com outros economistas, no blogue Ladrões de Bicicletas, onde esgrime argumentos contra o establishment económico atual, que tem dado a Portugal – e aos países do sul da Europa – graves problemas sociais. Uma recolha desses posts que pedalam contra a maré deu este livro – A Economia como Desporto de Combate, editado pela Relógio D’Água. Porque é o que esta ciência social é na realidade para quem não se conforma com o estado das coisas: um “combate permanente contra as ideias feitas”.» [Ricardo Nabais, JL, 27/4/2016]

27.4.16

Elena Ferrante eleita pela Time uma das 100 personalidades mais influentes de 2016


 


A escritora italiana foi considerada pela revista Time uma das 100 personalidades mais influentes do ano, na categoria Artistas. Elena Ferrante é autora da tetralogia napolitana A Amiga Genial, cujo último volume foi recentemente publicado pela Relógio D’Água, que também editou o volume Crónicas do Mal de Amor, que colige três novelas da escritora.


«(…) Nesta bela e delicada história de confluência e reversão, é difícil identificar os momentos em que uma corrente altera o curso. Talvez um deles ocorra quando a professora de Elena, a Mestra Oliviero, lhe diz que ela deve fazer o exame de admissão ao liceu, e que os pais terão de pagar aulas extraordinárias para ela se preparar. Os pais de Elena, depois de alguma resistência, dizem que sim; os de Lila dizem que não. Lila diz a Elena que irá fazer o exame de qualquer modo, e ninguém duvida disso.» [James Wood]


«Elena Ferrante é uma das grandes escritoras contemporâneas.» [The New York Times]

26.4.16

Sobre Escola de Náufragos, de Jaime Rocha




«Em menos de cem páginas, de acompanhamento compulsivo desde que se começa, navegam um pequeno tratado de observação e uma agreste tese de interpretação. O que ajuda a provar, ainda e sempre, que a capacidade de acomodar vidas inteiras num livro não depende do espaço que um autor se reserva, mas sim dos seus méritos e trabalhos. No caso de Jaime Rocha e desta narrativa, arrepiante, temos direito a uma “canção do mar”, cantada em terra, mas com homens e mulheres que parecem viver — e morrer — sempre à deriva. Uma canção triste, como as mais belas, aquelas que fixamos e passamos a levar connosco.» [João Gobern, Diário de Notícias, 23/4/16]

A chegar às livrarias: O Leão de Belfort, de Alexandre Andrade





«— O que eu quero dizer é isto: como é que sabemos quando estamos a viver a nossa história? É uma coisa que a própria pessoa reconhece? E também isto: sem uma história, pode-se dizer que estamos a viver, sequer? Deixar-se ir no fluxo, chamas a isso viver?
— Não te estou a ouvir, Cristina! Fala mais alto!
Cristina Verschwundhoffnung e Anaïs atravessavam uma rua do 12ème arrondissement, em diagonal. Era dia e local de mercado. Anaïs ia à frente, desviava-se das pessoas com uma fluidez de movimentos que só poderia ser apreciada por quem a seguisse com o olhar, ao longe, talvez do cimo de um prédio, à maneira de uma gárgula. Anaïs era larga de corpo, morena e atlética, delicada de feições, excelente ouvinte, assistente social de profissão, canhota, irónica, paciente até ao infinito, porém implacável com os sonsos e com os presunçosos.»

22.4.16

A chegar às livrarias: Cândido ou O Otimismo, de Voltaire (trad. de Júlia Ferreira e José Cláudio)





Cândido ou o Otimismo é um conto filosófico de Voltaire, publicado pela primeira vez em Genebra em janeiro de 1759. A par de Zadig e Micromégas, é um dos escritos mais famosos de Voltaire, tendo sido reeditado vinte vezes em vida do autor.
O livro é pretensamente traduzido de uma obra alemã do Dr. Ralph, pseudónimo utilizado por Voltaire para evitar a censura.
No essencial, trata-se de uma crítica às teses do filósofo alemão Leibniz, convencido da excelência da criação divina, através dos princípios da «razão suficiente» e da «harmonia preestabelecida». Voltaire faz essa crítica através das aventuras de Cândido, um jovem alemão possuidor de um espírito simples e reto, nascido como filho ilegítimo no seio da nobreza e adotado pelo barão de Thunder-ten-tronckh. É no castelo deste que vai ser educado por Pangloss, partidário, como Leibniz, de que «tudo está o melhor possível».
Depressa se torna evidente para os leitores o sarcasmo com que Voltaire trata não apenas as teses de Leibniz mas também o conservadorismo social e a nobreza arrogante.


PVP:  € 7,50

Elena Ferrante e Clarice Lispector na lista para o Prémio de Melhor Livro Traduzido



 

A escritora italiana Elena Ferrante, já na corrida para o Man Booker International de 2016, concorre também para o Prémio de Melhor Livro Traduzido.
O prémio, no valor de cinco mil dólares, é atribuído ao autor e ao tradutor da obra vencedora pelo blogue Three Percent, da Universidade de Rochester.
Ferrante foi seleccionada pelo júri por História da Menina Perdida, o último volume da tetralogia napolitana, traduzido por Ann Goldstein.
 
 
Todos os Contos, da escritora brasileira Clarice Lispector, traduzida por Katrina Dodson, é outra das obras finalistas do prémio.
O vencedor será anunciado no próximo dia 4 de Maio.

19.4.16

Sobre O Bosque, de João Miguel Fernandes Jorge




«Este volume reúne o diário de João Miguel Fernandes Jorge durante um ano exato (de 21 de dezembro de 2012 a 21 de deembro de 2013). Ou seja, entre duas noites mais longas. O tom é meditativo e melancólico. Há fragmentos de vida — viagens, trabalhos, visitas a exposições, leituras, poemas, encontros com amigos — mas também hiatos, recolhimentos, muitas elipses. Em cada página, reconhecemos sempre a voz do poeta, o seu olhar, o seu rigor estético.» [Expresso, E, 9/4/2016]

Sobre História da Menina Perdida, de Elena Ferrante





«É a conclusão de um imenso romance que um pouco por todo o mundo foi apaixonando e arrastando um caudal de leitores rendidos à mestria de Elena Ferrante como narradora ao mesmo tempo que se disseminavam, teorias sobre a identidade da mulher por detrás da obra. Quase um romance paralelo que ao contrário de Amiga Genial vai continuar sem solução à vista pois os tempos pedem estes pequenos mistérios como pão para a boca.
Para o sucesso da edição portuguesa contribuiu muito o talento da tradutora Margarida Periquito.» [Rui Lagartinho, Time Out, 30/3/2016]

18.4.16

A chegar às livrarias: Os Livros da Selva, de Rudyard Kipling



 

Os Livros da Selva são duas coleções de histórias, O Livro da Selva (1894) e O Segundo Livro da Selva (1895), que foram escritas no período em que Kipling viveu nos Estados Unidos. Estes incluem contos e poemas, incluíndo o de Mogli, que nos fala de um rapaz criado por lobos na selva indiana. É lá que vamos encontrar o tigre Shere Khan, a pantera negra Baguera, o ensonado urso-pardo Balu e a serpente Kaa.
Outros protagonistas famosos destes livros são o mangusto Rikki-Tikki-Tavi e Tumai dos Elefantes.


[tradução de Ana Falcão Bastos, Mara Vieira Neves e Alda Rodrigues]

A chegar às livrarias: O Super-Homem das Massas, de Umberto Eco

 

Em O Super-Homem das Massas, Umberto Eco analisa géneros literários como a banda desenhada e o romance popular.
Eco mostra-nos como a figura do super-homem deixou de ter que ver com a que Nietzsche apresentara na segunda metade do século xix. Para isso acompanha a evolução deste tipo de herói desde Os Mistérios de Paris de Eugène Sue até aos livros de Ian Fleming sobre o elegante agente James Bond, passando pelo Conde de Monte Cristo, Rocambole, Arsène Lupin, Tarzan e os heróis dos romances de Pitigrilli.
Através dos ensaios reunidos neste livro, o semiólogo italiano recentemente desaparecido reflete sobre os diferentes géneros do «romance popular», que vão desde o policial ao histórico, e investiga as relações entre este tipo de paraliteratura e as personagens de super-homens que foram sendo criadas.

15.4.16

Sobre Estufa com Ciclâmenes, de Rebecca West




«Vem esta referência a propósito da publicação, pela Relógio D’Água, de Estufa com Ciclâmenes, de Rebecca West, que reúne um ensaio tripartido acerca dos julgamentos de Nuremberga, a parte central de The Train of Powder, originalmente publicado também na The New Yorker, uns anos antes do arquicélebre ensaio de Arendt, e que, em parte, antecipa algumas das observações da autora, nomeadamente no que toca à caracterização – e, talvez, instrumentalização – profundamente política e simbólica dos julgamentos aos Nazis pelos ignóbeis crimes perpetrados durante o terceiro Reich.
Contudo, West não se limita a capturar a singular utilização dos julgamentos e da culpa nacional pelos crimes para a construção da identidade germânica no pós-guerra, mas explora também a forma como, apesar de toda essa construção, a capacidade de sacrifício perante o trabalho e a dedicação quase patológica à eficácia que, em parte, veicularam a tanatopolítica nazi foram capazes de lhe sobreviver quase incólumes. No desenvolvimento desta narrativa que a naturalidade germânica de Arendt dificilmente lhe permitiria explorar, West consegue encapsular de forma brilhante esta perplexidade na figura do jardineiro perneta de Nuremberga que, árdua e dedicadamente, vendia cíclames a todo o contingente aliado.» [David Teles Pereira, Sol, 14/04/2016]

Sobre Escola de Náufragos, de Jaime Rocha





«Escola de Náufragos puxa as suas redes a partir da memória, arranca vivências impressivas de um país que é o retrato de uma das mais veementes noções que temos de Portugal, aquele da austera e firme têmpera que de diferentes modos foi glosada pelos grandes cronistas portugueses (Raul Brandão e o seu Os Pescadores é só o mais óbvio dos exemplos), uma terra encostada à margem litoral, dependente do mar, acossada por ele, à sua mercê. São os desastres de vidas no osso, lapidadas em pormenores grotescos, essa é a única trama: um ambiente de sufoco, até na beleza, uma sensação de trauma, de intimidade magoada, como se se tratasse de uma história de embalar em que o narrador se encantou pelos detalhes, se excedeu nas descrições. Quem quer que estivesse sob os lençóis, prestes a adormecer, acabou por amarfanhá-los e passar a noite em claro.» [Diogo Vaz Pinto, i, 14/04/2016]

14.4.16

A chegar às livrarias: Norte e Sul, de Elizabeth Gaskell (trad. de Frederico Pedreira)






A ação de Norte e Sul decorre em meados do século XIX, narrando o percurso da protagonista desde o ambiente tranquilo mas decadente de uma Inglaterra sulista até um norte vigoroso mas turbulento.
Neste romance, Elizabeth Gaskell fala-nos de um amor incomum, para mostrar o modo como a vida pessoal e pública se entrelaçavam numa sociedade recentemente industrializada.
Esta é uma história de triunfos conquistados com enorme esforço, onde o pensamento racional é mais valorizado do que o preconceito, e o lado humano se sobrepõe ao respeito cego pela atividade económica.
Os leitores do século XXI irão sentir-se absorvidos, à medida que a trama deste romance vitoriano os transporta até às origens de problemas e possibilidades que ainda hoje, cento e cinquenta anos mais tarde, subsistem: a complexidade das relações, públicas ou privadas, entre homens e mulheres de diferentes classes sociais.

13.4.16

Apresentação de A Economia como Desporto de Combate




 
O mais recente livro de Ricardo Paes Mamede, A Economia como Desporto de Combate, vai ser apresentado no próximo dia 16 de Abril, às 18h00, no Espaço Café-Concerto do Pavilhão Centro de Portugal, na Avenida da Lousã, em Coimbra.

A apresentação será feita por Nuno Teles, fundador do blogue Ladrões de Bicicletas e Investigador do CES/UC, e Rita Brás, Estudante de Sociologia da FEUC.

Ricardo Paes Mamede doutorou-se em Economia pela Universidade Luigi Bocconi (Milão) e licenciou-se em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, onde obteve também o grau de mestre em Economia e Gestão de Ciência e Tecnologia.
Actualmente é professor de Economia Política do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, onde lecciona desde 1999 nas áreas da Economia e Integração Europeia, da Economia Sectorial e da Inovação, e das Políticas Públicas. É também investigador do Dinâmia'CET, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território.
É co-autor de A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes (Tinta da China, 2013), co-organizador do livro Structural Change, Competitiveness and Industrial Policy: Painful Lessons from the European Periphery (Routledge, 2014) e autor de O Que Fazer Com Este País (Marcador, 2015). Escreve no blogue Ladrões de Bicicletas.

 

Sobre Elena Ferrante





«É talvez o maior fenómeno literário dos últimos anos. De repente, Elena Ferrante, a escritora italiana que se esconde atrás de um pseudónimo e cuja verdadeira identidade permanece um mistério (ao ponto de haver quem sugira tratar-se de um homem), invadiu a vida de muitas pessoas. A tetralogia A Amiga Genial, publicada em tempo recorde pela Relógio D’Água (que já publicara os três primeiros romances da autora num só volume: Crónicas do Mal de Amor), tornou-se um inesperado sucesso de vendas. Inesperado porque não estamos diante de uma autora comercial ou sequer enquadrável nas várias categorias da edição mainstream. Como explicar então esta febre que revolucionou os hábitos de leitura de tanta gente? (…)
Ainda assim, de onde nasce o magnetismo mplacável destes livros, essa espécie de força que cria uma avidez compulsiva na leitura? Nasce de uma evidência: o facto de Ferrante ser uma extraordinária narradora – o que fixa e agarra os leitores, o que os leva a devorar, sem descanso, as quase 1500 páginas dos quatro volumes de A Amiga Genial, é um prodigioso mecanismo romanesco, em que cada um dos elementos que o compõem – os atos das personagens, os gestos, os diálogos, os conflitos, os impasses, as derivas, as pausas,  os recomeços, os volte-faces – se encaixam e articulam de forma perfeita.» [José Mário Silva, Expresso, E, 9/4/2016]

12.4.16

Perdição – Exercício sobre Antígona, de Hélia Correia, em palco




Perdição – Exercício sobre Antígona, de Hélia Correia, no palco do Cineteatro Alba, em Albergaria-a-Velha, pela Companhia do Jogo, dia 16 de Abril, às 21h30, com encenação de Victor Valente.

Sobre Carol ou O Preço do Sal, de Patricia Highsmith




«A história da paixão de Therese Belivet, 19 anos, por Carol Aird, com uma filha e a caminho do divórcio, acende-se numa Nova Iorque às portas do Natal e é instantânea e total mesmo que traduzida em gestos contidos – a consumação física acontece passados uns dois terços da história. O livro vendeu que se fartou em boa parte porque, diz a tradutora Ana Luísa Amaral em nota de leitura, “o tratamento da relação amorosa homossexual e o desfecho feliz da narrativa” era “completamente inédito até então nos textos ficcionais de temática semelhante”.
A escrita de Highsmith é um maravilhoso tratado de secura que em nada atenua o corrupio nervoso de sentimentos que paira sobretudo nos períodos inicial (o da paixão detonada) e final (o do reencontro, mais amadurecido mas esperançoso, com a realidade) do livro.» [Jorge Lopes, Time Out, 6/4/2016]

A chegar às livrarias: Orlando, de Virginia Woolf (trad. Ana Luísa Faria)






«Da magnífica residência dos Sackville-West, o castelo de Knole, Virginia faz a moldura da sua biografia fantástica; de Vita, herdeira de uma das maiores famílias de Inglaterra, o modelo do seu herói. Homem e depois mulher, mas sobretudo homem e mulher, Orlando poderia ter saído com todas as suas armas do cérebro do Aristófanes do Banquete (…) Virginia Woolf não se sente apenas tentada pela originalidade antropológica de Orlando. O que a interessa no personagem é a inumerável variedade de combinações possíveis que permite a ausência das obrigações humanas habituais. (…) Tesoureiro ou embaixador, perseguidor de raparigas ou musa de espíritos apaixonados pela beleza, melancólico ou exaltado, trocando as calças pelas saias ou refugiando-se na sua tebaida de campo para escrever o seu poema, a sua natureza dupla presenteia-o não com duas nem com dez, mas com cem vidas diferentes.» [Monique Nathan, em Virginia Woolf]

A Economia como Desporto de Combate, de Ricardo Paes Mamede, apresentado em Coimbra




A Economia como Desporto de Combate, de Ricardo Paes Mamede, apresentado em Coimbra, no Espaço Café-Concerto do Pavilhão Centro de Portugal, pelas 18h00, no dia 16 de Abril.

8.4.16

A chegar às livrarias: Todos os Contos, de Clarice Lispector, com edição e introdução de Benjamin Moser




Pela primeira vez, todos os contos de Clarice Lispector reunidos num só volume.

«Melhor do que Borges.» [Elizabeth Bishop]

«A maior escritora latino-americana de prosa.» [The New York Times]

«Um dos génios escondidos do século XX, na mesma liga de Flann O’Brien, Borges e Pessoa — original e brilhante, acutilante e perturbador.» [Colm Tóibín]

«Senti-me fisicamente abalada pelo seu génio.» [Katherine Boo, Financial Times]

«Clarice Lispector possuía uma inteligência dura como um diamante, um instinto visionário, e um sentido de humor que ia desde a admiração ingénua até à comédia mais perversa… Lispector tenta captar o que é pensar na nossa existência enquanto ainda estamos nela — no “maravilhoso escândalo” da vida, como a autora diz. Um trabalho espetacular, sem uma real continuidade dentro da literatura nem fora dela.» [Rachel Kushner, Bookforum]

Sobre Estufa com Ciclâmenes, de Rebecca West




«Quando a Primeira Grande Guerra terminou, a autora escreveu um romance, O Regresso do Soldado, sobre o conflito que devastou a Europa entre 1914 e 1918. Ainda nenhuma mulher o havia feito.  Agora volta a servir-se da guerra como Leitmotiv. Simbiose de jornalismo literário e ensaio, o livro colige três textos de A Train of Powder, uma extensa reportagem sobre os julgamentos de Nuremberga, aos quais a autora assistiu como enviada do Daily Telegraph. Sem perder de vista as implicações morais, Rebecca relata os factos com objectividade: «Na primeira parte da leitura da sentença não houve referências aos acusados, apenas às instituições que haviam formado.» Quando o jornal lhe pediu para cobrir os julgamentos, era já uma autora consagrada, com cinco romances e sete livros de não-ficção publicados. Desde sempre ligada à política, feminismo incluído, manteve uma longa relação com H. G. Wells, pai do seu filho. Estufa com Ciclâmenessuscita um problema prático: o livro vai para a estante de Literatura, ou para a de História? Diria, sem favor, que fica bem nas duas. Quatro estrelas. Editou a Relógio d’Água.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, sobre crítica a Estufa com Ciclâmenes, de Rebecca West, publicada na revista Sábado]

6.4.16

Lançamento de A Economia como Desporto de Combate



 

O mais recente livro de Ricardo Paes Mamede, A Economia como Desporto de Combate, vai ser lançado amanhã, dia 7 de Abril, às 18h00, na Sociedade de Geografia de Lisboa, na Rua das Portas de Santo Antão, n.º 100, em Lisboa.
A obra será apresentada por Sandra Monteiro e Pedro Nuno Santos.
Ricardo Paes Mamede doutorou-se em Economia pela Universidade Luigi Bocconi (Milão) e licenciou-se em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, onde obteve também o grau de mestre em Economia e Gestão de Ciência e Tecnologia.
Actualmente é professor de Economia Política do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, onde lecciona desde 1999 nas áreas da Economia e Integração Europeia, da Economia Sectorial e da Inovação, e das Políticas Públicas. É também investigador do Dinâmia'CET, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território.
É co-autor de A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes (Tinta-da-China, 2013), co-organizador do livro Structural Change, Competitiveness and Industrial Policy: Painful Lessons from the European Periphery (Routledge, 2014) e autor de O Que Fazer Com Este País (Marcador, 2015). Escreve no blogue Ladrões de Bicicletas.

Hélia Correia responde ao questionário de Proust



 
Somos Livros, Primavera 2016

5.4.16

Sobre Gratidão, de Oliver Sacks




«A epígrafe que abre o mais recente livro de Oliver Sacks resume com apenas uma imprecisão os quatro ensaios que o compõem, onde o neurologista britânico relata a sua relação com a morte que na altura, devido à detecção de uma metástase de uma forma rara de melanoma no fígado, se aproximava velozmente, tendo chegado em Agosto de 2015. Gratidão tem como mote “estou agora frente a frente com a morte, mas não acabei a vida”, um mote que, não fosse o uso da adversativa, resumiria perfeitamente o que se passa ao longo das suas páginas. O que Sacks nos procura mostrar nestes ensaios escritos entre Julho de 2013 e Agosto de 2015 é que não existe contradição nenhuma — como o uso da conjunção “mas” sugere — entre estar diante da morte e não se ter acabado de viver. Em Gratidão, é sugerido que o confronto com a morte é até, em certo sentido, como veremos, um momento inaugural da vida.
Com a aproximação, cada vez mais rápida, da morte, duas ideias tornam-se claras para Sacks. Em primeiro lugar, o escritor afirma-se repetidamente agradecido (um agradecimento peculiar, uma vez que não se dirige a nenhuma entidade específica, mas apenas àquilo a que, à falta de melhor termo, poderemos designar por “vida”). Mas Sacks confessa também que, na iminência da morte, se sente no dever de “tentar completar a [sua] vida, seja lá o que ‘completar uma vida’ queira dizer”. No ensaio a que chamou A Minha Vida, escrito poucos dias depois da descoberta das metástases no fígado que o viriam a matar, o neurologista escreve:
“Nestes últimos dias, tenho podido ver a minha vida como que de um lugar muito alto, como uma espécie de paisagem, e com um sentido profundo de ligação entre todas as suas partes. O que não significa que para mim a vida tenha acabado. Pelo contrário, sinto-me intensamente vivo.”» [João Pedro Vala, Observador, 30-3-2016]

4.4.16

A chegar às livrarias: Escola de Náufragos, de Jaime Rocha




 

«Estavas ali sentado ao meu lado e eu a dizer-te como se saía da infância para a vida do mar. Ali, à minha frente, à escuta, e eu a ver-te crescer, a encheres o peito de ar e os olhos a dilatarem-se, a quereres ser homem de repente. E então, eu olhei, eu vi para dentro de ti, o que estava lá dentro, uma mancha negra por detrás da pele da tua testa que alastrava para os lados, a toda à volta da cabeça, como uma cinta preta que se cosia na nuca, uma costura que podia rebentar a cada momento, mas que sabia que estava à espera do momento certo para se partir, o momento em que perderias o medo e toda a gente te respeitaria pelo que irias ser, um homem marcado pelo destino, um homem arraçado. Eu vi que tu estás feito para uma morte diferente da dos outros, que não irás nunca para o Bacalhau, nem uma vez que seja entrarás no mar como pescador. Tu és feito de uma outra coisa, os teus ossos e a tua carne foram cruzados por vários sangues. E eu apenas estava ali, ao pé de ti, a passar-te um testemunho antes de morrer.»

1.4.16

A chegar às livrarias: A Abadia de Northanger, de Jane Austen


 

«A Abadia de Northanger foi provavelmente o primeiro romance de Jane Austen a ficar concluído para publicação. Segundo Cassandra, a sua irmã mais velha, o romance, originalmente intitulado Memorandum, Susan, foi escrito em 1798-99, mas revisto pela autora em 1803 (…).
O livro começa com a frase “Quem tivesse visto Catherine Morland em criança nunca poderia supor que nascera para heroína”, e ela é certamente uma heroína muito invulgar para um romance de Jane Austen. Todas as outras são inteligentes e a sua perceção da vida e experiência são muito distintas da simplicidade ingénua de Catherine. Quando a narrativa começa, ela tem dezassete anos e é um dos dez filhos de um clérigo rural razoavelmente independente, com o rendimento de dois bons benefícios. A sua mãe é uma mulher de «bom senso prático», de bom humor e forte constituição, o que certamente lhe é útil, com dez filhos para criar e as raparigas para educar em casa. Catherine não é bonita, apesar de, ao chegar aos quinze anos, os pais verem o princípio de uma mudança favorável.» [Do Posfácio]