«— O que eu quero dizer é isto: como é que sabemos quando estamos a
viver a nossa história? É uma coisa que a própria pessoa reconhece? E também
isto: sem uma história, pode-se dizer que estamos a viver, sequer?
Deixar-se ir no fluxo, chamas a isso viver?
— Não te estou a ouvir, Cristina! Fala mais alto!
Cristina Verschwundhoffnung e Anaïs atravessavam uma rua do 12ème arrondissement, em
diagonal. Era dia e local de mercado. Anaïs ia à frente, desviava-se
das pessoas com uma fluidez de movimentos que só poderia ser apreciada por quem
a seguisse com o olhar, ao longe, talvez do cimo de um prédio, à maneira de uma
gárgula. Anaïs era larga de corpo, morena e atlética, delicada de feições,
excelente ouvinte, assistente social de profissão, canhota, irónica, paciente
até ao infinito, porém implacável com os sonsos e com os presunçosos.»
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