«Estavas ali sentado ao meu lado e eu a dizer-te
como se saía da infância para a vida do mar. Ali, à minha frente, à escuta, e
eu a ver-te crescer, a encheres o peito de ar e os olhos a dilatarem-se,
a quereres ser homem de repente. E então, eu olhei, eu vi para dentro de ti, o
que estava lá dentro, uma mancha negra por detrás da pele da tua testa que
alastrava para os lados, a toda à volta da cabeça, como uma cinta preta que se
cosia na nuca, uma costura que podia rebentar a cada momento, mas que sabia que
estava à espera do momento certo para se partir, o momento em que perderias o medo
e toda a gente te respeitaria pelo que irias ser, um homem marcado pelo
destino, um homem arraçado. Eu vi que tu estás feito para uma morte diferente
da dos outros, que não irás nunca para o Bacalhau, nem uma vez que seja
entrarás no mar como pescador. Tu és feito de uma outra coisa, os teus ossos e
a tua carne foram cruzados por vários sangues. E eu apenas estava ali, ao pé de
ti, a passar-te um testemunho antes de morrer.»
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