31.8.16

Sobre Ensaios Escolhidos, de George Orwell










«O presente volume de Ensaios Escolhidos pela Relógio D’Água é a mais extensa antologia de textos de George Orwell até agora publicada em Portugal. São 37 ensaios e/ou artigos, ordenados cronologicamente e dispensando praticamente notas ou qualquer outro comentário (exceptuando a data da publicação original). Foram escritos entre 1936 e 1949, sendo os anos de 1945 e 1946 os mais extensamente representados. Há textos com duas ou três páginas e outros que ultrapassam a vintena e que têm sido por vezes publicados autonomamente. É o caso de Recordações da Guerra Civil Espanhola. Retomando, em 1942/3, a memória de acontecimentos que haviam sido decisivos na sua experiência ideológica e política, Orwell continua a tentar demolir o cinismo e a cobardia de muitos dos seus pares (…).
Alguns assuntos são abordados repetidamente, por vezes com intervalos de vários anos. Ou por razões conjunturais (Gandhi, por exemplo), ou por obsessões particulares (Swift, Shakespeare, etc.). Em 1949, e a propósito da publicação de uma autobiografia do líder indiano, “impressionante pela vulgaridade de muito do seu conteúdo”, Orwell ironiza sobre os malefícios da virtude em política: “Sem dúvida que o álcool, o tabaco e por aí fora são coisas que um santo deve evitar, mas também a santidade é algo que devemos evitar.” Seis anos antes, escrevera – e refiro-me a “Gandhi num Bairro Aristocrático” – um dos textos mais sarcásticos e mais certeiros deste volume, a propósito de uma figura infelizmente perene: a do “intelectual descontente” e (comodamente) avençado. Um texto que é, verdadeiramente, de antologia. Se “Política versus Literatura” (1946) é uma extensa e brilhante análise de Viagens de Gulliver, a entrevista imaginária com Swift difundida em 1942 pela BBC, é um corrosivo resumo da radical descrença do grande satirista anglo-irlandês na vermicular espécie humana.»

[Mário Santos, Ípsilon, 26/08/2016]

Sobre Será que os Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick




«Clássico da ficção científica dos anos 60, este romance foi adaptado ao cinema por Ridley Scott, com o título Blade Runner e Harrison Ford no papel do protagonista: Rick Deckard, caçador de androides. Num tempo futuro e distópico, em que a Terra ficou devastada pela guerra, torna-se cada vez mais difícil distinguir os humanos das máquinas que os imitam.»

[Na revista E, do jornal Expresso, 20/08/2016]


17.8.16

Sobre A Nova Odisseia, de Patrick Kingsley




 
«Um livro sobre a maior crise humanitária da Europa no pós-guerra — a dos refugiados — tem forçosamente muitas histórias impressionantes. Algumas grandes, de tragédias onde morrem centenas de pessoas; outras pequenas, de coisas inesperadas que se fazem ou dizem. Entre estas últimas inclui-se, por exemplo, a história de Yama Nayab, o cirurgião afegão que se encontra sentado num matagal sérvio à espera de saber literalmente o que vai ser da sua vida. Vendo passar o jornalista, estende-lhe um copo de água suja retirada de um poço e pede-lhe que aceite, explicando que no Afeganistão teria obrigação de oferecer algo ao seu “convidado”. Kingsley é de facto um convidado especial. Em 2015, aos 26 anos, foi nomeado o primeiro correspondente de emigração do jornal The Guardian. Anteriormente tinha coberto o Egito, um país no centro de tantas das questões que hoje afligem os países árabes. Quando os efeitos nos afetam diretamente, começamos a prestar atenção e o alarme público é quase imediato, mas convém ter uma noção de perspetiva. Kingsley lembra que mesmo os maiores números mencionados representam menos de um por cento do total da população europeia.
A Nova Odisseia, A História da Crise Europeia dos Refugiados — título escohido deliberadamente pelo seu poder alusivo, apesar de o autor reconhecer que a Eneida teria sido um paralelo mais adequado – explora as dimensões da crise em 17 países e três continentes.» [Luís M. Faria, Expresso, E, 13/8/2016]

Sobre Macbeth, de William Shakespeare






«Compreender a tragédia de Macbeth passa em grande parte por compreender o que o distingue de Banquo. Ao mesmo tempo que informam Macbeth de que será rei, as bruxas profetizam que Banquo será pai de reis. No entanto, Macbeth será vencido porque será vencedor enquanto Banquo porque vencido, será vencedor. Sendo evidente a qualquer leitor atento que o retrato de Banquo esconde, no meio de muitos elogios, algumas críticas ao seu carácter (críticas essas que Shakespeare pretenderia muito discretas para agradar a Jaime VI, patrono do dramaturgo e rei de Inglaterra, cuja aspiração ao trono escocês dependia fortemente da sua ligação familiar ao Banquo histórico), a verdade é que Banquo é o grande vencedor da história, ao conduzir, já depois de morto, Macbeth à loucura, abrindo caminho à insurreição que colocaria o seu filho no trono. A derrota de Macbeth e posterior vitória de Banquo assentam, por paradoxal que pareça, numa virtude do primeiro (que exagerada se transforma num vício) e num defeito do segundo. Macbeth torna-se rei porque a sua valentia em combate torna todas as honras e distinções com que o rei Duncan o possa distinguir obsoletas, deixando-se seduzir pelo encanto das palavras das bruxas e de Lady Macbeth. Macbeth sabe que o seu futuro lhe reserva o trono e decide resgatá-lo pelas suas próprias mãos. Banquo, por seu turno, menos corajoso e muito mais calculista que Macbeth, decide ficar à espera que o seu destino se cumpra sozinho, não tomando parte em nenhum acontecimento, remetendo-se ao silêncio mesmo quando percebe que Macbeth matara Duncan.» [João Pedro Vala, Observador, 7/8/2016]

Sobre A Salvação do Belo, de Byung-Chul Han





«O belo não é um prolongamento do “eu”, mas uma terrível dissolução do “eu”. O belo é “o insuportável tornado suportável”. É uma magia, mas também uma desmitificação. É um relâmpago, mas também um vínculo duradouro É uma salvação, sem dúvida, mas porque é uma anulação: “‘A salvação do belo é a salvação do diferente’ (…). Na medida em que é o ‘totalmente diferente’, o belo anula o ‘poder do tempo’.” É isso que Agosto, ano após ano, nos promete.» [Pedro Mexia, Expresso, E, 6/8/2016]

12.8.16

Sobre Michel de Montaigne




«Voltando aos seus escritos, agora que sou mais velho do que ele era em 1571, surpreendo-me porque aprecio quase tudo: a auto-análise, mesmo nas suas complacências; a modéstia, mesmo quando por boa educação; a intenção de “nada afirmar audaciosamente, nada negar irreflectidamente”, tão contrária à minha educação; a vida entendida enquanto “cosa mentale”; o cepticismo face às doutrinas que nos dizem como viver bem; o temperamento sossegado e equilibrado que me dizem ser o meu; a escrita toda em digressões e anotações; a recusa da amargura mesmo no abatimento; e, acima de tudo, a divisa “que sais-je?”, que sei eu?, uma pergunta de bibliófilo, tão indispensável quanto inútil.» [Pedro Mexia, Expresso, E, 30-07-2016]

Sobre Pais e Filhos, de Ivan Turguéniev (trad. António Pescada)




«Sobre este clássico absoluto da literatura russa, escreveu Vladimir Nabokov (um autor geralmente parco em elogios), num texto que serve de posfácio a esta edição: “Pais e Filhos não só é o melhor romance de Turguéniev, mas também um dos maiores romances do século XIX.” Centrado na figura de Bazárov, um jovem intelectual materialista, o livro põe em confronto duas gerações (a de 1860 vs. a de 1840) com ideias opostas sobre o que deve ser e como deve funcionar a sociedade.» [Expresso, E, Obrigatório, 30-7-2016]

Sobre O Aroma do Tempo, de Byung-Chul Han




«Em "O Aroma do Tempo – um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora" são desenvolvidas ideias sobre a decisiva influência da organização do trabalho no comportamento do ser humano e na percepção do tempo.
A coacção, explícita em "Psicopolítica", encontra-se implícita nesta obra. A regulamentação comportamental por forças económicas tem o seu substrato em ideias religiosas. A coação existe sem o ser humano ter disso consciência. A optimização de processos físicos e mentais, abordada em "Psicopolítica", é desenvolvida nesta obra por diferentes prismas.
O "idiota" de "Psicopolítica" é aquele que se afasta para contemplar em "O Aroma do Tempo". Ele personifica a solução, aquele que percebe que "o tempo perde o aroma quando se despoja de qualquer estrutura de sentido, de profundidade, quando se atomiza ou aplana, se enfraquece ou se abrevia.” O "idiota" é aquele que contempla. E quem contempla dá coesão ao tempo e permite o resgate da narrativa como força criadora.» [Mário Rufino, Diário Digital, 9-8-2016]

10.8.16

A chegar às livrarias: Será que os Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick





O romance que deu origem ao filme Blade Runner, do autor de Minority Report e A Scanner Darkly.

Philip K. Dick morreu em 1982, mas a sua visão futurista, carregada de humor negro, é mais perturbante e poderosa do que nunca.

A Guerra deixou a Terra devastada. Por entre as ruínas, o caçador de recompensas Rick Deckard persegue a sua presa: os androides desertores. Quando não desempenha esta tarefa, Deckard sonha possuir o maior símbolo de status da época: um animal vivo.
É então que Rick recebe a sua principal tarefa: localizar seis Nexus-6, alvos que lhe podem valer uma enorme recompensa. Mas a vida nunca é assim tão linear, e a de Rick transforma-se rapidamente num pesadelo caleidoscópico de subterfúgios e enganos.

«O escritor de ficção científica mais consistente do mundo.» [John Brunner]

«Um dos genuínos visionários que a ficção norte-americana produziu.» [L.A. Weekly]

«Philip K. Dick vê e abraça as possibilidades aterradoras de que os outros autores fogem.» [Paul Williams, Rolling Stone]

9.8.16

A chegar às livrarias: O Sino, de Iris Murdoch


 


Dora Greenfield, uma jovem mulher, regressa para viver com o marido numa comunidade secular junto da Abadia de Imber, que alberga uma misteriosa ordem de freiras.
Dirigida por um homem dedicado às suas causas e pela discreta autoridade de uma abadessa idosa e experiente, a Abadia de Imber é considerada um porto seguro para almas inquietas em busca de tranquilidade. Mas o antigo sino da Abadia, símbolo lendário de religião e magia, é redescoberto, e com ele verdades e desejos ocultos surgem a uma nova luz.


«Arrebatador e apaixonante, diferente de qualquer outro livro.» [The Times]

8.8.16

A chegar às livrarias: A Máscara de Ripley, de Patricia Highsmith





Passaram-se seis anos desde que Ripley assassinou Dickie Greenleaf e herdou o seu dinheiro. Agora, em A Máscara de Ripley, vive numa bela casa de campo francesa, rodeado de uma magnífica coleção de arte, e está casado com a herdeira de uma empresa farmacêutica. Tudo parece sereno no mundo de Ripley até um telefonema de Londres destruir a sua paz. Um esquema de falsificação de obras de arte que montara há alguns anos ameaça desfazer-se: um americano metediço anda a fazer perguntas, e Ripley tem de viajar até Londres para o impedir de descobrir algo mais. Patricia Highsmith oferece-nos, no segundo romance da série protagonizada por Ripley, uma narrativa hipnotizante e perturbadora na qual Ripley fará de tudo para que o seu novelo de mentiras não seja desfeito.


«[Highsmith] obriga-nos a reconsiderar as linhas entre a razão e a loucura, normal e anormal, enquanto nos incita a partilhar o ponto de vista traiçoeiro do nosso herói.» [Michiko Kakutani, New York Times]


«Não existe ninguém como Patricia Highsmith para evocar a ameaça que se esconde em lugares familiares.» [Time]

A chegar às livrarias: Emma, de Jane Austen (trad. e posfácio de Jorge Vaz de Carvalho)

 
 
 

«O romance conta a jornada de uma jovem de vinte anos para o autoconhecimento e maturidade intelectual e sentimental, através de discussões instrutivas, da (circunscrita) variedade das relações pessoais e experiências vividas. No caso de Emma Woodhouse, estas acções de formação, em boa parte coincidentes com o programa do Bildungsroman, suprimem as deficiências da educação que a mãe cedo falecida não pôde assegurar, em que falharam o pai sem força de autoridade, deslumbrado pelas qualidades da filha, e a preceptora demasiado amiga e condescendente para exigir razoabilidade e o esforço da vontade indispensáveis à formação da discípula.» [Do Posfácio de Jorge Vaz de Carvalho]


De Jane Austen, a Relógio D’Água tem também publicados Sensibilidade e Bom Senso, Mansfield Park, Orgulho e Preconceito, Lady Susan, Persuasão e A Abadia de Northanger.

5.8.16

A chegar às livrarias: Céu em Fogo, de Mário de Sá-Carneiro




«Oscilando entre a angústia da fugacidade do tempo e a tragédia da repetição, as personagens de Céu em Fogo abismam-se fatalmente no tédio e, numa luta penosa — que é também um confronto fascinado com a morte —, tentam inventar maneiras de o vencer. É esta a tarefa fantástica que vai empreender o Fixador de Instantes. Tomado por um «tédio mortal» no momento em que constata a inevitabilidade da sua morte, acaba por realizar no crime a sua obsessão de posse total. Também na novela «A Grande Sombra», que diríamos o diário de um psicopata dos tempos modernos, o protagonista renasce «outra vida» após o assassínio violento de uma rapariga que acaba de conhecer, com quem se envolve sexualmente. Este crime acorda-o da sonolência monótona em que vivia até aí, e tem o efeito imediato de «parar os instantes», de suspender o tempo, e, paralelamente, eliminar a angústia da morte que o vinha deprimindo. O suicídio final, para o qual se encaminha em euforia louca, está para além do remorso: é o culminar triunfal da sua busca do mistério e do desconhecido.

O crime e o suicídio, tão presentes nestas novelas, são as duas faces da mesma moeda, aquela com que ilusoriamente se quer pagar o preço da modernidade, na sua paixão pelo Novo: a morte é a única região inexplorada, não há novidade senão na morte. Para estes heróis de tragédia moderna, o suicídio não é um puro acto de desespero, mas a única forma de heroísmo, a última procura que vale a pena — um acto estético, ou uma deserção.» [Do Prefácio de Maria Antónia Oliveira]

PVP: 7,50 €

4.8.16

A chegar às livrarias: O Homem do Castelo Alto, de Philip K. Dick





América, quinze anos após o final da Segunda Grande Guerra. As potências vencedoras dividiram as suas conquistas: os nazis controlam Nova Iorque e a Califórnia é controlada por Japoneses.
Mas entre estes dois estados confrontados numa guerra fria existe uma zona neutra onde, dizem os rumores, reside o lendário autor Hawthorne Abendsen, que receia pela sua vida, pois escreveu em tempos um livro no qual os Aliados venceram a Segunda Grande Guerra.


«O escritor de ficção científica mais consistente do mundo.»
[John Brunner]

«Um dos genuínos visionários que a ficção norte-americana produziu.»
[L.A. Weekly]

«Philip K. Dick vê e abraça as possibilidades aterradoras de que os outros autores fogem.»
[Paul Williams, Rolling Stone]

2.8.16

Sobre O Leão de Belfort, de Alexandre Andrade




«Num português sempre imaculado, Alexandre Andrade tem a rara capacidade para transformar simples notações descritivas (“Cristina comprou queijo Pont-l’évêque num estabelecimento de alimentação geral”) em coisas traiçoeiramente cómicas. É o seu terceiro romance, e o primeiro desde o igualmente recomendável Aqui Vem o Sol, de 2005.» [Rogério Casanova, Observador, 2/7/2016]

1.8.16

Sobre Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust




«E no entanto qualquer leitor descobre que, mais filosofia menos filosofia, o que se mostra no livro é que as nossas memórias não são de fiar: são parte do “erro perpétuo a que se chama vida.” Talvez Proust estivesse aqui a exagerar: mas talvez este romance seja importante por ser tão parecido com quem o consegue ler. E a confirmação disto é que quem o consegue ler percebe-o sempre, mesmo que não se lembre de tudo, que nunca tenha posto os pés em Paris, ou recebido um telegrama.» [Miguel Tamen, Observador, «O que faz de “Em Busca do Tempo Perdido” um clássico?», 24/7/2016]


 


«Avanço para À l’ombre des jeunes filles en fleur. Começa a ser difícil. Passo para Le Temps Retrouvé. Tenho vinte anos, estou a ler ao mesmo tempo A Montanha Mágica, o paralelo é promissor. Proust tem para mim um problema só: é demasiado. É irrespirável de bom. É esmagador de bem feito. É preciso fazer tanto compromisso para tanta sensibilidade! Negociar sempre com ele este caminho, transformar a sensiblerie em sensibilidade, a susceptibilidade em fragilidade, o estético em interessante, o bonito em belo, o bem escrito em bem pensado… e acaba por ser estafante, como Stendhal em Florença, a síndrome instala-se, deixa-me ir ver televisão, uma coisa estúpida e ligeira…

Mas volto a Proust sempre, porque as descrições são extraordinárias, e aquelas tias (mas aqueles salões, as conversas nos salões!…) e a linguagem banha tudo, transforma tudo, empapa tudo, e o que se me impõe é apenas o fantasma de um homem fechado num quarto e em si próprio, a escrever.»

[Luísa Costa Gomes, Observador, «O que faz de “Em Busca do Tempo Perdido” um clássico?», 24/7/2016]