«Compreender a tragédia de Macbeth passa em grande
parte por compreender o que o distingue de Banquo. Ao mesmo tempo que informam
Macbeth de que será rei, as bruxas profetizam que Banquo será pai de reis. No
entanto, Macbeth será vencido porque será vencedor enquanto Banquo porque
vencido, será vencedor. Sendo evidente a qualquer leitor atento que o retrato
de Banquo esconde, no meio de muitos elogios, algumas críticas ao seu carácter
(críticas essas que Shakespeare pretenderia muito discretas para agradar a
Jaime VI, patrono do dramaturgo e rei de Inglaterra, cuja aspiração ao trono
escocês dependia fortemente da sua ligação familiar ao Banquo histórico), a
verdade é que Banquo é o grande vencedor da história, ao conduzir, já depois de
morto, Macbeth à loucura, abrindo caminho à insurreição que colocaria o seu
filho no trono. A derrota de Macbeth e posterior vitória de Banquo assentam,
por paradoxal que pareça, numa virtude do primeiro (que exagerada se transforma
num vício) e num defeito do segundo. Macbeth torna-se rei porque a sua valentia em
combate torna todas as honras e distinções com que o rei Duncan o possa
distinguir obsoletas, deixando-se seduzir pelo encanto das palavras das bruxas
e de Lady Macbeth. Macbeth sabe que o seu futuro lhe
reserva o trono e decide resgatá-lo pelas suas próprias mãos. Banquo, por seu
turno, menos corajoso e muito mais calculista que Macbeth, decide ficar à
espera que o seu destino se cumpra sozinho, não tomando parte em nenhum
acontecimento, remetendo-se ao silêncio mesmo quando percebe que Macbeth matara
Duncan.» [João Pedro Vala, Observador, 7/8/2016]
17.8.16
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