«Oscilando entre a angústia da fugacidade do tempo e a tragédia
da repetição, as personagens de Céu em
Fogo abismam-se
fatalmente no tédio e, numa luta penosa — que é também um confronto fascinado
com a morte —, tentam inventar maneiras de o vencer. É esta a tarefa fantástica
que vai empreender o Fixador de Instantes. Tomado por um «tédio mortal» no
momento em que constata a inevitabilidade da sua morte, acaba por realizar no
crime a sua obsessão de posse total. Também na novela «A Grande Sombra», que
diríamos o diário de um psicopata dos tempos modernos, o protagonista renasce
«outra vida» após o assassínio violento de uma rapariga que acaba de conhecer,
com quem se envolve sexualmente. Este crime acorda-o
da sonolência monótona em que vivia até aí, e tem o efeito imediato de «parar
os instantes», de suspender o tempo, e, paralelamente, eliminar a angústia da
morte que o vinha deprimindo. O suicídio final, para o qual se encaminha em
euforia louca, está para além do remorso: é o culminar triunfal da sua busca do
mistério e do desconhecido.
O crime e o suicídio, tão presentes nestas novelas, são as duas
faces da mesma moeda, aquela com que ilusoriamente se quer pagar o preço da
modernidade, na sua paixão pelo Novo: a morte é a única região inexplorada, não
há novidade senão na morte. Para estes heróis de tragédia moderna, o suicídio
não é um puro acto de desespero, mas a única forma de heroísmo, a última
procura que vale a pena — um acto estético, ou uma deserção.» [Do Prefácio de
Maria Antónia Oliveira]
PVP: 7,50 €
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