«A Senda Estreita para o
Norte Profundo é
um relato de barbárie. No início dos anos 1940, durante a Segunda Guerra
Mundial, o Japão começou a construir uma via-férrea entre o Sião e a Birmânia,
ou seja, entre os países hoje conhecidos por Tailândia e Myanmar. É então que
Dorrigo Evans, jovem cirurgião australiano, se torna o prisioneiro n.º 335 do
campo que forneceu duzentos mil homens, um terço dos quais ocidentais, para
trabalharem como escravos na Ferrovia da Morte. Flanagan descreve o horror
(vivissecção de prisioneiros, por exemplo) sem piruetas semânticas, numa
escrita limpa de enxúndia. A primeira frase dá o tom: «Porque é que no começo das coisas há sempre luz?» Isento de auto-complacência, o romance ficciona a vida do
pai: infância, aventuras amorosas, paixão, casamento, adultério, a guerra,
escravo dos japoneses, a Linha («desmontada e vendida à peça» no fim do conflito), o Japão submerso em poeira
radioactiva, os americanos, libertação e regresso à Tasmânia. Uma epopeia
admirável.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito
da crítica a A Senda Estreita para o Norte Profundo, de Richard
Flanagan, na revista Sábado, 23/4/15]
30.4.15
A chegar às livrarias: Mansfield Park, de Jane Austen (trad. José Miguel Silva)
Mansfield
Park foi escrito em
Chawton, no Hampshire, entre Fevereiro de 1811 e Junho de 1813. O livro seria
publicado em 1814 em três volumes.
No essencial,
é um romance de costumes saído da relação entre duas famílias da elite rural
inglesa.
«Mansfield Park é um
conto de fadas, mas afinal de contas todos os romances são, em certo sentido,
contos de fadas. À primeira vista, a forma e o assunto de Jane Austen podem
parecer antiquados, afectados, irreais. Mas isso é uma ilusão a que um mau
leitor sucumbe. O bom leitor está consciente de que a demanda da vida real, das
pessoas reais e por aí fora é um processo sem sentido quando falamos de livros.
Num livro, a realidade de uma pessoa, ou de um objecto, ou de uma
circunstância, depende exclusivamente do mundo desse livro específico. Um autor
original inventa sempre um mundo original, e se uma personagem ou uma acção
cabe no padrão desse mundo, então sentimos o agradável choque da verdade artística,
por mais improváveis que a pessoa ou a coisa possam parecer se transferidas
para aquilo que os críticos literários, pobres escrevinhadores, chamam “vida
real”. Não existe essa coisa da vida real para um escritor de génio: deve ele
próprio criá-la e depois criar as consequências.»
[Vladimir
Nabokov, Aulas de Literatura]
29.4.15
A chegar às livrarias: Viagens de Tom Sawyer, de Mark Twain
«Imaginam que Tom se satisfez com todas estas aventuras?
Refiro-me às aventuras que tivemos no rio e o tempo que levámos a libertar o
negro Jim, além do tiro que Tom apanhou na perna. Mas não, não se satisfez. O
único resultado de tudo isso foi despertar-lhe o apetite de novas façanhas. Bem
veem, quando nós três viemos rio acima em triunfo — digamos assim — de volta
daquela grande viagem, quando a aldeia nos recebeu com discursos e um cortejo
de archotes acesos, quando os vivas e os gritos de toda a gente fizeram de nós
heróis, Tom Sawyer realizou assim um dos seus sonhos.»
28.4.15
Sobre Mirleos, de João Miguel Fernandes Jorge
«O título é explicado numa nota inicial: “Mirleos, palavra
composta de dois elementos latinos: mirus, com o sentido de maravilhoso
ou surpreendente, e letum, que significa ruína. Admiráveis ruínas será
um dos seus sentidos. Em Coimbra, Mirleos correspondeu ao antigo fórum romano,
espaço onde se reconstruiu em 1087 a Igreja de São João (…). Sobre todas estas
ruínas (…) está hoje o Museu Nacional de Machado de Castro.” Esta sequência de poemas
é assim como que uma continuação ilustrada de Museu das Janelas Verdes
(2002), talvez o mais importante diálogo português entre as artes plásticas e a
poesia desde as Metamorfoses (1963) de Jorge de Sena.» [Pedro Mexia, Expresso,
E, 25/4/2015]
27.4.15
Sobre A Senda Estreita para o Norte Profundo, de Richard Flanagan
«O homem no amor e na guerra e o paradoxo da sobrevivência sem
heroísmo são os grandes temas do romance que valeu a Richard Flanagan o Man
Booker Prize (…)
A Senda Estreita para o Norte Profundo, o livro vencedor
do último Man Booker Prize, é o sexto romance do australiano Richard Flanagan —
conhecido sobretudo pelo romance O Livro dos Peixes de Gould. Demorou 12
anos a escrever, teve cinco versões, e é o resultado de uma luta pessoal com o
trauma: a do escritor perante o horror de um campo de prisioneiros de guerra de
que o pai foi sobrevivente.
Richard Flanagan (Tasmânia, 1961) nasceu 16 anos depois da Segunda
Guerra Mundial. Nunca combateu, mas cresceu com o sofrimento do pai e o trauma
passou a ser comum, embora experimentado de formas distintas. A declaração de
Dorrigo Evans, o protagonista, assume neste contexto um carácter bastante
autobiográfico: “Sou parte de tudo o que conheci.”»
[Isabel Lucas, Público, ípsilon, 24/4/2015]
24.4.15
Hanif Kureishi entrevistado pelo ípsilon
Isabel Lucas
entrevistou Hanif Kureishi a propósito do lançamento na Relógio D’Água de O
Buda dos Subúrbios, o seu primeiro livro, e de A Última Palavra, ao
mais recente. (Em breve sairá também Intimidade, em nova tradução de Inês Dias.)
«“Gosto da ideia
de que as coisas sejam arriscadas, sujas; gosto de explorar o sentimento de
vergonha associado à imaginação pornográfica, de questionar a virtude, do ver o
quão selvagem é a nossa imaginação.” As palavras chegam numa voz rouca e há um
barulho que se assemelha ao de pedras de gelo, primeiro num balde e depois num
vidro, o som de um gole de bebida na boca, uma breve pausa antes de dizer que
talvez tenha mesmo dito que uma coisa para ser boa tem de ser um pouco pornográfica.
Fala ao telefone desde Londres, onde vive na zona oeste de uma cidade que tem
levado para os seus romances, contos, ensaios, peças de teatro, argumentos de
cinema. A Inglaterra na sua diversidade étnica e cultural, nos contrastes entre
subúrbio e a metrópole, nos que vivem à margem, os rebeldes pelo que arriscam e
não pelo “modo pop” em que a rebeldia se transformou. “Ser rebelde é saber que
se tem muito a perder em defesa de uma ideia, de uma atitude. Hoje até nisso há
vazio.”»
22.4.15
Relógio D’Água comemora o Dia Mundial do Livro
Para celebrar esta data, 23
de Abril, oferecemos aos leitores uma promoção de 30 % de desconto em dez
títulos do nosso catálogo nas compras através do nosso sítio:
– O Amor de Uma Boa
Mulher, de Alice Munro
– Rei, Dama, Valete,
de Vladimir Nabokov
– Pnin, de Vladimir
Nabokov
– O Grande Gatsby,
de F. Scott Fitzgerald
– O Monte dos Vendavais,
de Emily Brontë
– As Partículas
Elementares, de Michel Houellebecq
– É assim Que A Perdes, de
Junot Díaz
– Os Irmãos Karamázov,
de Fiódor Dostoievski
– O Jogador, de
Fiódor Dostoievski
– A Morte de Ivan
Iliitch, de Lev Tolstói
A promoção é válida de 23
a 30 de Abril de 2015.
21.4.15
Relógio D’Água edita autobiografia de Oliver Sacks
A autobiografia de Oliver Sacks, On
the Move, vai ser traduzida e publicada pela Relógio D’Água.
«Quando estava no colégio interno, para onde fora enviado em menino
durante a guerra, tinha uma sensação de prisão e de impotência, e ansiava por
movimento e poder, movimentos fáceis e poderes sobre-humanos. Gozei-os,
brevemente, ao sonhar que voava e, de um modo diferente, quando montava a
cavalo na aldeia perto da escola. Adorava o poder e a flexibilidade do meu
cavalo, e ainda consigo recordar o movimento suave e alegre, o seu calor e o
doce cheiro a feno.
Acima de tudo, adorava motocicletas. O meu pai tivera uma antes da
guerra, uma Scott Flying Squirrel com motor arrefecido a água e um escape
estridente, e eu também queria uma mota poderosa. Para mim, as imagens de
motas, aviões e cavalos uniam-se, como as imagens de motociclistas, cowboys e
pilotos, que eu imaginava em frágil mas jubiloso controlo das suas poderosas
montadas. A minha imaginação de menino era estimulada por westerns e filmes de
heróicos combates aéreos, a ver os pilotos arriscarem as vidas em Hurricanes e
Spitfires protegidos por grossos blusões de aviador, como os motociclistas
pelos seus blusões de cabedal e capacetes.
Quando voltei a Londres em 1943, um rapaz de 10 anos, gostava de ficar
no assento da janela da sala da frente a ver e a tentar identificar as motos
que passavam a acelerar (depois da guerra, quando era mais fácil arranjar
gasolina, tornaram-se muito mais comuns). Conseguia identificar pelo menos uma
dezena de marcas — AJS,
Triumph, BSA, Norton, Matchless, Vincent, Velocette, Ariel, e Sunbeam, e também
motos estrangeiras raras, como BMW e Indian.»
É este o começo da obra, que será também, provavelmente, a última de
Oliver Sacks dada a grave doença que anunciou ter.
20.4.15
A chegar às livrarias: A Conquista da Felicidade, de Bertrand Russell
Bertrand Russell apresenta em A
Conquista da Felicidade uma proposta, livre de julgamentos morais, para a
conquista de uma vida feliz.
Depois de enumerar as causas da infelicidade que nos ameaçam na sociedade moderna, Russell aponta os caminhos para contornar os
perigos do cansaço e do egocentrismo. Ao mesmo tempo, encoraja o leitor a
seguir o caminho do seu natural «gosto de viver», através da diversificação de
interesses e das relações interpessoais.
«A Conquista da Felicidade é uma fascinante cápsula do tempo,
uma mistura que inclui observações eternas que são tão claras para nós hoje
como foram para os primeiros leitores, e problemas e atitudes antiquados que
pelos padrões da atualidade são ofensivos quando não são engraçados. Uma boa
maneira de ler este livro é considerá-lo um telescópio temporal que nos permite
ver quão longe chegámos. O próprio Russell merece algum crédito por mudar a
nossa imaginação moral das ortodoxias obsoletas para um lugar melhor, mas aqui
encontramos uma viagem em curso, pois ele está ainda absorto em preconceitos
que lhe toldam a visão. Talvez a conclusão moral a tirar deste confronto seja
que provavelmente devemos esperar que os nossos netos se sintam tão incomodados
com algumas das nossas atitudes como nós nos sentimos com algumas de Russell.»
[Da Introdução de Daniel C. Dennett]
17.4.15
O regresso de José Cardoso Pires
Até meados de Junho, a Relógio D’Água vai editar quatro obras de José
Cardoso Pires, contribuindo assim para o regresso às livrarias de um dos mais
importantes prosadores portugueses do século xx.
Os livros reproduzem as últimas edições revistas pelo autor e têm novos
prefácios. A Balada da Praia dos Cães será apresentada por António Lobo
Antunes, O Anjo Ancorado por Mário de Carvalho e O Delfim por
Gonçalo M. Tavares (De Profundis, Valsa Lenta mantém o prefácio inicial
de João Lobo Antunes).
José Cardoso Pires é um dos grandes contistas e romancistas portugueses
do século xx, ao lado de Aquilino
Ribeiro, Agustina Bessa-Luís, Vergílio Ferreira e José Saramago.
Nas suas obras anteriores a Abril de 1974, e para usar as palavras de
Antonio Tabucchi, contou «como nenhum outro escritor português soube contar (…)
a infelicidade e a solidão», «a solidão do indivíduo, mas também a de uma
sociedade, de um país inteiro».
Em Os Caminheiros e Outros Contos (1949) e nas suas outras obras
iniciais surgidas no pós-guerra, José Cardoso Pires foi um dos raros escritores
portugueses que integrou as influências de Hemingway, Steinbeck, John dos
Passos e Faulkner num universo próprio. Embora a sua obra se insira nas
melhores tradições do realismo, nunca se deixou limitar pelas baias do
neo-realismo, como mostra Mário Dionísio no extenso prefácio que escreveu para O
Anjo Ancorado.
A sua obra foi também estudada de modo sistemático por críticos como
Alexandre Pinheiro Torres, Maria Lúcia Lepecki e Óscar Lopes.
A partir do romance O Delfim (1968), Cardoso Pires afirmou-se como
um dos grandes prosadores portugueses, um dos que melhor soube trabalhar a
nossa língua, como sublinha Mário de Carvalho em Quem disser o contrário é
porque tem razão. A obra final de Cardoso Pires, De Profundis, Valsa
Lenta (1997), narrativa de um seu AVC, revela também que ele foi um desses
escritores capaz de permanecer escritor em todos os momentos da sua vida.
Dois dos seus romances foram adaptados ao cinema, Balada da Praia dos
Cães, por José Fonseca e Costa, e O Delfim, por Fernando Lopes, com
argumento de Vasco Pulido Valente.
Em Outubro próximo, mês em que o autor de O Delfim faria 90 anos,
será promovida uma iniciativa destinada a reunir todos que desejem celebrar a
vida e obra de Cardoso Pires.
16.4.15
A chegar às livrarias: Doce Pássaro da Juventude e Outras Peças, de Tennessee Williams
Solidão,
tensão sexual e a necessidade de afeto marcam estas quatro peças de Tennessee
Williams, em que as suas personagens combatem os demónios interiores e o mundo
contemporâneo.
Em Doce
Pássaro da Juventude, o desnorteado Chance Wayne regressa à sua cidade com
uma atriz de cinema envelhecida, em busca da rapariga por quem se apaixonara na
juventude.
Em A Noite
da Iguana, um grupo de pessoas, entre elas um perturbado ex-reverendo, são
obrigadas a conviver num
hotel mexicano isolado durante uma noite repleta de acontecimentos.
Em O Zoo
de Vidro, uma mulher amargurada pretende a todo o custo casar a filha,
Laura, que sofre de um defeito físico e se refugia na sua coleção de animais de
vidro.
Vieux
Carré é uma
peça sobre a educação do
artista, uma educação solitária e muitas vezes desesperante, entre a entrega ou
a recusa, mas sobretudo sobre aprender a ver, ouvir, sentir e descobrir que «os
escritores são espiões sem vergonha», que pagam caro pelo seu conhecimento e
são incapazes de esquecer.
«A novidade
revolucionária de O Zoo de Vidro está na sua ascensão poética, mas foi a
sua complexa estrutura dramática que permitiu que a peça se tornasse um cântico
poético.» [Arthur Miller]
«Em A
Noite da Iguana Williams escreve no auge da sua forma.» [The New York
Times]
Apresentação de Mirleos de João Miguel Fernandes Jorge
Mirleos,
de João Miguel Fernandes Jorge, editado na Relógio D’Água, vai ser apresentado
no Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, no próximo dia 18 de Abril,
sábado, às 18h00.
O livro de
poesia, que aborda diversas obras de arte presentes no museu, será apresentada
por Adília Alarcão e pelo crítico Hugo Pinto Santos. Alguns poemas serão lidos
por dois actores, diante de várias esculturas ao longo do percurso que termina
em A Última Ceia, de Hodart.
14.4.15
Expresso escolhe os 50 melhores livros de sempre
Seis jornalistas
do Expresso escolhem aqueles que, em sua opinião, são os 50 melhores
livros de sempre numa edição que reúne também as
escolhas sobre filmes, discos, obras de arte e séries de TV.
Nos «Livros que
toda a gente deve ler», e referindo apenas títulos publicados na Relógio
D’Água, Clara Ferreira Alves selecciona Macbeth, de William Shakespeare,
Madame Bovary, de Gustave Flaubert, e O Monte dos Vendavais, de
Emily Brontë.
Pedro Mexia
destaca O Ofício de Viver, de Cesare Pavese, e escolhe também Retrato
de Uma Senhora, de Henry James, e Antologia Poética, de
Federico García Lorca.
Henrique Monteiro
destaca Ensaios, de Montaigne, e selecciona ainda Crime e Castigo,
de Fiódor Dostoievski, e O Vermelho e o Negro, de Stendhal.
Ana Cristina
Leonardo destaca Debaixo do Vulcão, de Malcolm Lowry, e escolhe Ulisses,
de James Joyce.
Luísa
Mellid-Franco selecciona As Ondas, de Virginia Woolf, e Em Busca do
Tempo Perdido, de Marcel Proust.
José Mário Silva
escolhe Moby Dick, de Herman Melville.
Com 14 obras
escolhidas, a Relógio D’Água é a editora que contribui com maior número de
títulos para esta selecção do Expresso. Mas há ainda outras obras de que
publicámos traduções (ou, no caso de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis, edições), que não são certamente inferiores às escolhidas; é
o caso de Guerra e Paz, de Lev Tolstoi (tradução de António Pescada), de
Coração de Trevas, de Joseph Conrad (trad. de Margarida Periquito), Lolita,
de Vladimir Nabokov (trad. de Margarida Vale de Gato), O Grande Gatsby,
de F. Scott Fitzgerald (trad. de Ana Luísa Faria), Terra sem Vida, de T.
S. Eliot (trad. de Gualter Cunha), e Dom Quixote, de Miguel de Cervantes
(trad. de José Bento).
Se adicionarmos
estes títulos, temos que 21 dos 50 livros escolhidos pelo Expresso fazem
parte do catálogo da Relógio D’Água, o que só abona a favor do gosto dos
referidos críticos.
10.4.15
Mirleos de João Miguel Fernandes Jorge Apresentado em Coimbra
Mirleos,
de João Miguel Fernandes Jorge, editado na Relógio D’Água, vai ser apresentado
no Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, no próximo dia 18 de Abril,
sábado, às 18h00.
O livro de
poesia, que aborda diversas obras de arte presentes no museu, será apresentada
por Adília Alarcão e pelo crítico Hugo Pinto Santos. Alguns poemas serão lidos
por dois actores, diante de várias esculturas ao longo do percurso que termina
em A Última Ceia, de Hodart.
Os 90 anos de O Grande Gatsby
O Grande
Gatsby, de F. Scott
Fitzgerald, foi publicado pela primeira vez em 10 de Abril de 1925.
Em 1933,
Gertrude Stein predizia à revista Time que o autor norte-americano
«seria lido quando muitos dos seus famosos contemporâneos tiverem sido
esquecidos».
Hoje a
Relógio D’Água tem no catálogo várias obras de F. Scott Fitzgerald: Sonhos
de Inverno e Outros Contos, Este Lado do Paraíso, O Último
Magnate, Belos e Malditos, Terna É a Noite, O Grande
Gatsby e The Crack-Up e Outros Escritos.
9.4.15
A chegar às livrarias: Carta a Um Refém, de Antoine de Saint-Exupéry (trad. de Júlia Ferreira e José Cláudio)
«Quando, em dezembro de 1940,
atravessei Portugal de passagem para os Estados Unidos, Lisboa surgiu-me como
uma espécie de paraíso luminoso e triste. Falava-se então muito de uma invasão
iminente, e Portugal apegava-se à ilusão da sua felicidade. Lisboa, que
organizara a mais encantadora exposição que já se vira no mundo, sorria com um
sorriso um tanto pálido, semelhante ao daquelas mães que, não tendo notícias de
um filho que está na guerra, se esforçam por o salvar através da sua confiança:
“O meu filho está vivo, porque eu estou a sorrir…”, “Vejam como estou feliz,
tranquila e bem iluminada…”, assim dizia Lisboa. O continente inteiro pesava
sobre Portugal como uma montanha selvagem cheia de tribos predatórias; Lisboa
em festa desafiava a Europa: “Como poderão tomar-me por alvo quando tenho tanto
cuidado em não me esconder! Quando eu sou tão vulnerável!…”»
Sobre Um Diário de Preces, de Flannery O’Connor
«A
escritora norte-americana Flannery O’Connor (Savannah, Geórgia, 1925-64)
manteve o “diário de preces”, que deu origem a este livro, na Universidade de
Iowa, onde ingressou em 1946 e onde frequentaria o Iowa Writers’ Workshop. O
motivo principal do diário, agora editado pela Relógio D’Água com tradução de
Paulo Faria e prefácio de Pedro Mexia, são as aspirações literárias da jovem
Flannery, à época com 21 anos. A mundanidade do seu motivo desperta em Flannery
uma forma do pudor da qual as preces são ou a penitência, ou o testemunho.
Reservadas
as devidas distâncias, as preces de Flannery são análogas a epístolas de um
aspirante a um escritor honorável que não chega a responder-lhe. Perante tal
figura, Flannery envergonha-se do ridículo de desejar vir a ser alguém. O
ridículo não parece estar no conteúdo da aspiração, uma vez que desejar ser escritora
pode revelar-se a forma que lhe coube de fazer da sua vocação um instrumento de
Deus, radicando, pelo contrário, na mesquinhez inerente a qualquer súplica.
Reduzidos a preces e a escrever, não nos podemos eximir de, no decurso das
nossas súplicas, incorrermos nas falhas de que elas aspiram ser a purga.»
[Djaimilia Pereira de Almeida, Observador, 29-3-2015]
8.4.15
A chegar às livrarias: Sensibilidade e Bom Senso, de Jane Austen (trad. Paulo Faria)
Sensibilidade e Bom Senso é o primeiro romance escrito por Jane Austen (se
excluirmos o epistolar e juvenil Lady
Susan).
Para a sensível Elinor Dashwood e
a sua impetuosa e romântica irmã, Marianne, a perspectiva de casarem com os
homens que amam parece remota.
Num mundo organizado por
interesses e pelo dinheiro, as irmãs Dashwoods parecem condenadas pela ausência
de relações pessoais e de fortuna.
Marianne apaixona-se pelo
encantador e inconstante Mr. Willoughby. Em contraste, Elinor enfrenta com
estoicismo as notícias de que o seu amado Edward Ferrars está prometido a outra
mulher. Através das suas diferentes experiências amorosas, as duas irmãs são
levadas a concluir que a melhor solução está na conjunção entre razão e
sentimento.
«Jane Austen foi uma inovadora
feroz, e as suas inovações estavam praticamente realizadas quando ela tinha
vinte e quatro anos. Isto diz-nos algo sobre a combinação vaga de esforço e instinto presente na sua vida literária. (…)
As heroínas
de Austen não mudam no sentido moderno do termo porque, na verdade, não descobrem coisas sobre
si mesmas. Elas
descobrem novidades cognitivas, procuram o que é correcto. À medida que o
romance avança, levantam-se alguns véus e removem-se alguns obstáculos, para
que a heroína possa ver o mundo mais nitidamente.» [James Wood,
A Herança Perdida]
Sobre Tratado sobre a Tolerância, de Voltaire
No programa
Livro do Dia de 30 de Março de 2015, na TSF, Carlos Vaz Marques falou sobre Tratado
sobre a Tolerância, de Voltaire.
O programa
pode ser ouvido aqui.
7.4.15
Sobre Da Natureza das Coisas, de Lucrécio
«De Rerum
Natura é um combate contra o medo da morte e o poder excessivo dos deuses:
“Ó tu, que primeiro foste capaz de erguer / tão clara luz em meio a tão grandes
trevas, / iluminando as coisas boas da vida, / a ti eu sigo, ó glória do povo
grego, e na peugada / dos teus passos coloco firmemente os meus, / menos como
quem quer rivalizar do que por amor, pois o meu desejo é imitar-te.” A sua
natureza de poema didático, apresentando o epicurismo (Epicuro é a sua fonte
direta, o seu deus terreno), discorrendo sobre os fenómenos naturais e a
finitude das coisas, faz desta tradução de Luís Manuel Gaspar Cerqueira uma
pérola do meio do ruído e da ignorância.» [Ler, Março de 2015]
6.4.15
Sobre Não Posso nem Quero, de Lydia Davis
Na Ler de Março, José Mário Silva escreve sobre Lydia Davis,
uma das suas autoras de referência.
«Nunca sabemos o que esperar, quando chegamos a uma página de Lydia.
Em Não Posso nem Quero, como nos livros anteriores, há de tudo:
histórias reversíveis, ideias subliminares, situações um pouco embaraçosas,
bastante embaraçosas ou muitíssimo embaraçosas; um texto que simula a linguagem
do spam eletrónico; toda a sorte de mulheres solitárias, seja diante de
um peixe no restaurante, ou a querer guardar a bagagem num cacifo durante uma
viagem no estrangeiro, ou aflitas com as contingências de um voo atribulado que
pode bem ser o último. Há também inventários, entre os quais um que enumera as
estratégias para ler “o mais depressa possível” números antigos do Times
Literary Supplement, outro que é uma divertida coleção de queixumes (“…
Sentaram-nos demasiado perto da cozinha. Há uma fila enorme no balcão das
encomendas. Tenho frio enquanto espero no carro. O punho da minha camisola está
húmido. A pressão do duche é fraca. Tenho fome…”), outro que estabelece o
historial de uma gata (com todas as suas características e idiossincrasias), e
ainda um outro que inventa obituários banais de gente banal, deixando para trás
feitos banais. (…) Quando se pensa em Lydia Davis, pensa-se em minimalismo,
audácia experimental, ficções não-lineares. Ou seja, numa sabotagem sistemática
dos esquemas habituais das histórias com princípio, meio e fim. O que não quer
dizer que a escritora não domine igualmente as formas narrativas tradicionais.
(…) Diga-se, a propósito, que esta escrita pode parecer fácil de traduzir, mas
não é. (…) Forçoso se torna por isso louvar, na edição da Relógio D’Água, o
excelente trabalho de Inês Dias (…).»
Sobre A Morte do Pai, de Karl Ove Knausgård
A Ler de Março de
2015 publica uma entrevista de Isabel Lucas a Karl Ove Knausgård, a propósito de
A Morte do Pai, o primeiro dos seis volumes da obra A Minha Luta.
«A voz soa grave, o sotaque
como o de um alemão. Se há impaciência ou irritação por estar mais uma vez a
falar com um jornalista sobre A Minha Luta não se nota. Depois de cada
pergunta há uma pausa. O autor não quer parecer um autómato, com as mesmas
respostas a perguntas que se resumem a uma: porquê e como tudo aquilo
aconteceu. “Teimosia e ingenuidade, luta contra um tempo que me tornava velho e
incapaz. Ou era aquilo ou não. Estava disposto a hipotecar a minha vida:
casamento, filhos, amigos… Era a minha grande prova, eu ser capaz de fazer algo
maior do que eu na literatura, e fui na vertigem, meio autista meio
inconsciente, como alguém drogado. Só acordei desse torpor depois, quando todos
falavam do que eu tinha feito. E isso foi brutal. Penso muitas vezes que se
soubesse que era assim não teria avançado. Queria isolar-me outra vez, mas era
impossível. Tenho de seguir. (…) Karl Ove Knausgård, 46 anos, não sabe quantas
vezes já falou sobre a “loucura” que foi escrever A Minha Luta, um
projeto tão pessoal que é quase antiliterário. Não é bem ficção, é sobre o que
lhe aconteceu ao longo da vida. Não é realismo, não é hiper-realismo. Há
factos, há a reflexão sobre eles, há uma tentativa de reconstrução do eu através
do modo como a mente pode funcionar. Com traições e emoções. Sem concessão a
conveniências sociais, políticas, amorossas. A ficção entra onde a memória não é
capaz de chegar, no irrecuperável, ou na forma como essa memória intervém para
mudar o passado à medida do presente. A ficção entra também no modo como
necessariamente manipula os factos pessoais para construir essa narrativa
íntima. “Não é algo apenas factual, apesar de os factos lá contidos serem
reais. Há um trabalho de reconstrução de ambientes, de diálogos, de sensações,
de deambulação para pensamentos. O acaso e o imponderável, o poder do que já não
é previsível. Como na vida. É aí que o real toca a imaginação e se pode chamar
ficção ao que prefiro designar como memória ficcionada ou uma mentira
muito realista”, diz Karl Ove Knausgård.»
2.4.15
Sobre A Senda Estreita para o Norte Profundo, de Richard Flanagan
«Deu a este livro 12 anos da sua vida. Confessou que se não
fosse o Man Booker Prize com que lhe foi retribuído o empenho teria sido
forçado a deixar a escrita e a empregar-se para pagar as contas. Neste romance
deixa o virtuosismo efabulatório que fez de O Livro dos Peixes de Gould
uma obra de fôlego genial, animada de um espírito aventureiro e poético apesar
de tudo se passar nas margens de uma sórdida distopia. Desta vez confia as suas
capacidades a um apuro realista para falar de milhares de prisioneiros de
guerra forçados ao trabalho escravo pelos japoneses nas selvas da Indochina
durante a Segunda Guerra Mundial. Há aí tanta coisa interessante para ler,
leiam que vos faz bem. Já este não faz bem nenhum, é demasiado bom, e duro como
muito poucos.» [Diogo Vaz Pinto, jornal i, Março de 2015]
1.4.15
A chegar às livrarias: Pippi das Meias Altas, de Astrid Lindgren (trad. Alexandre Pastor)
Astrid Lindgren escreveu Pippi
das Meias Altas no inverno de 1941, quando a filha de sete anos adoeceu e
lhe pediu que contasse uma história.
Pippi, imaginativa, rebelde e nada convencional, vive numa casa
acompanhada de um cavalo e um macaco. Isso não admira, pois é órfã de mãe e o
seu pai é um pirata e rei dos congoleses. Além disso, tem uma força invulgar.
E, claro, usa meias acima dos joelhos, o que explica o seu nome. Os
seus companheiros de aventuras são Tommy e Annika.
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