Até meados de Junho, a Relógio D’Água vai editar quatro obras de José
Cardoso Pires, contribuindo assim para o regresso às livrarias de um dos mais
importantes prosadores portugueses do século xx.
Os livros reproduzem as últimas edições revistas pelo autor e têm novos
prefácios. A Balada da Praia dos Cães será apresentada por António Lobo
Antunes, O Anjo Ancorado por Mário de Carvalho e O Delfim por
Gonçalo M. Tavares (De Profundis, Valsa Lenta mantém o prefácio inicial
de João Lobo Antunes).
José Cardoso Pires é um dos grandes contistas e romancistas portugueses
do século xx, ao lado de Aquilino
Ribeiro, Agustina Bessa-Luís, Vergílio Ferreira e José Saramago.
Nas suas obras anteriores a Abril de 1974, e para usar as palavras de
Antonio Tabucchi, contou «como nenhum outro escritor português soube contar (…)
a infelicidade e a solidão», «a solidão do indivíduo, mas também a de uma
sociedade, de um país inteiro».
Em Os Caminheiros e Outros Contos (1949) e nas suas outras obras
iniciais surgidas no pós-guerra, José Cardoso Pires foi um dos raros escritores
portugueses que integrou as influências de Hemingway, Steinbeck, John dos
Passos e Faulkner num universo próprio. Embora a sua obra se insira nas
melhores tradições do realismo, nunca se deixou limitar pelas baias do
neo-realismo, como mostra Mário Dionísio no extenso prefácio que escreveu para O
Anjo Ancorado.
A sua obra foi também estudada de modo sistemático por críticos como
Alexandre Pinheiro Torres, Maria Lúcia Lepecki e Óscar Lopes.
A partir do romance O Delfim (1968), Cardoso Pires afirmou-se como
um dos grandes prosadores portugueses, um dos que melhor soube trabalhar a
nossa língua, como sublinha Mário de Carvalho em Quem disser o contrário é
porque tem razão. A obra final de Cardoso Pires, De Profundis, Valsa
Lenta (1997), narrativa de um seu AVC, revela também que ele foi um desses
escritores capaz de permanecer escritor em todos os momentos da sua vida.
Dois dos seus romances foram adaptados ao cinema, Balada da Praia dos
Cães, por José Fonseca e Costa, e O Delfim, por Fernando Lopes, com
argumento de Vasco Pulido Valente.
Em Outubro próximo, mês em que o autor de O Delfim faria 90 anos,
será promovida uma iniciativa destinada a reunir todos que desejem celebrar a
vida e obra de Cardoso Pires.
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