«Não é mais possível dar crédito a todas as fábulas que se fizeram sobre a pouca preocupação de Pessanha com os seus poemas e com a publicação dos mesmos. Mas também não se pode ignorar que ele pouco se ocupou da publicação da Clepsydra, e que a sua responsabilidade nela é quase nula.
Talvez não fosse preciso, mas lembremos ainda uma vez as condições em que o livro foi publicado: Pessanha deixou em Lisboa apenas uma pequena colecção de versos autógrafos reproduzidos «de memória» a que se juntaram textos outros de vária procedência para compor o volume, pois, segundo Castro Osório, o poeta nunca enviou os que teria prometido enviar. Tampouco se sabe que textos seriam esses que enviaria: se a versão definitiva dos que transcrevera ou se outros poemas, de que não se recordava por inteiro em 1916. Além disso, ao que tudo indica Camilo Pessanha nunca discutiu epistolarmente a edição e seguramente não viu provas — sendo-lhe enviados alguns exemplares do livro pronto […].
A edição de 1920, portanto, não tem exactamente o mesmo estatuto de um qualquer texto publicado em vida de um escritor, no sentido de ser a lição autorizada e a expressão da vontade de quem o escreveu. Pelo contrário, sabemos que, pelo menos quanto à ordenação de alguns poemas, a Clepsydra de 1920 não era fiel à vontade do poeta, expressa nas indicações de conjunto e sequência presentes nos autógrafos.» [Da Introdução de Paulo Franchetti]
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