29.5.20

Os Autores Respondem: Hélia Correia (cont.)


«Uma crise não muda as civilizações»

— Pensa que a actual epidemia vai alterar as relações individuais e suscitar novos temas ensaísticos e literários?

«Uma crise não muda as civilizações. O peso da inércia é superior. Só muito sangue e muita turbação provocam a mudança absoluta. E, ainda assim, a matéria social, o edifício construído há milhares de anos volta a impor a sua forma, a ordenar-se segundo os velhos cânones. As novidades, se provêm da ganância, que é muito inteligente, não são novas. São apenas mais vistosas. A globalização repete o sonho do domínio imperial sob um certo aparato de comércio. As tecnologias deram subtileza a uma escravidão que não era subtil.
A pandemia fez estremecer, mostrou um pouco os bons recursos do progresso, mostrou também aquilo que já se sabe, que antes do mais está a sobrevivência do animal humano com as crias. Vimos açambarcar, mas isso foi só um primeiro impulso preventivo. Pois veremos matar, se necessário. E, se for necessário, mataremos. No meio disto, há lugar para heroísmos, discretos, no segredo hospitalar. Os governantes pedem à ciência licença para salvar a economia e a ciência não sabe o que dizer.
E quanto à literatura: sofreremos uma invasão de escritos radicados nas experiências pessoais, mal transformadas em sequências de capítulos. São os já conhecidos relatos “da vidinha” mergulhados agora em nata filosófica. Mas quanto à literatura: sei de um nome capaz de deitar mão de imediato à complexidade do momento e fazer uma obra grandiosa. Não é o Houellebecq, de quem não gosto, nem o Ian McEwan de quem gosto às vezes.  Não é McCarthy, de quem gosto muito. É português e chama-se Gonçalo M. Tavares.
Mais tarde, o pó assentará e então teremos romances e ensaios e poemas que abordarão o assunto com perícia, bom gosto, inteligência, perfeição. Demos-lhes tempo, se acaso tempo houver.»

Adoecer e outras obras de Hélia Correia estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/helia-correia/


28.5.20

Os Autores Respondem: Hélia Correia


Vamos publicar nos próximos dias as respostas dadas pela escritora Hélia Correia às três perguntas que fizemos a alguns dos autores que editamos.

«Andam uns ares de fim de tempo»
— Que leituras está a fazer? São diferentes das habituais?

«Bem podia eu fazer uma lista de livros que me deixasse aqui bem-vista: mentiria. Faria como alguém que convida para casa e depois dá indicações de modo a que o suposto visitante se extravie. Um livro a ler é uma intimidade. A lista publicada está na sala. A leitura que aguarda está no quarto. Eu sempre forneci nomes de livros, porque não me importava de mentir. Mas, hoje, já não acho graça a isso. Andam uns ares de fim de tempo por aqui e claro que se impõe a rectidão. Não me parece que os festins da peste, desesperados, belos e insensatos, sejam de novo convocados. Somos gente já científica e higienizada. O saber deve dar-nos sisudez. Por isso, falarei com honestidade, com a verdade dos solenes dias: eu não leio quase nada. Um pouco de Huysmans em boas traduções. Até isto é diferente. Não costumo ler traduções das línguas que conheço.
Para compensar a falta que me faz a presença do Eduardo Lourenço, do José Gil e do João Barrento, passo pelos livros deles, fragmentando-os. Não equivale a estar com eles, mas consola.
Ando, pois, a ler pouco. De repente, a quadrícula das horas, dos dias, das semanas distorceu-se. O equilíbrio entre os trabalhos da sobrevivência e as grandes liberdades do espírito, entre as pequenas raivas e os grandes sentimentos, desfez-se. E tacteamos no ar escuro. 
Respiramos, cheiramos, tocamos e pisamos a matéria viscosa dos miasmas. Requer-se o absoluto isolamento, estamos sem rosto e usamos uma segunda pele de plástico, sem poros. Toda a nossa atenção desceu, tornou-se prática, conta os dois metros, metro e meio, de distância. O agente da morte é tão pequeno, indetectável, tão sem culpa, que não nos dá pretexto para recriminações, não nos deixa acusar judeus ou bruxas.
Os livros estão cheios de acções e consequências, de acasos trágicos, de arrependimentos, de moribundos com as suas maldições.  Estão cheios de grandezas e de malevolência. Nesta realidade não há nada. Não há cenários e não há palavras.  Não pude visitar a Maria de Sousa, nem mandar-lhe um poema, nem falar-lhe de música. Tão-pouco pude revoltar-me, pois não há um desejo de ferir, não há tiranos. Ela sabia. Antes de adoecer, escreveu-me: "O vírus não é um inimigo. Ninguém aloja em casa um inimigo."
O livro a ler, a existir, seria feito só com as negativas: ninguém, não. Nesse livro, nem trevas haveria.
Posso evocar os meus três livros sobre a peste. Os dos meus três autores, Sófocles, Defoe, Artaud. Dispenso os outros. Artaud sabia tudo, sabia o que os humanos não costumam saber. O Diário de Defoe é escrito como um testemunho fidelíssimo e dado ao pormenor. Porém, sabemos que ele era muito novo quando a peste de Londres fez a sua terrível "visitation" e que no seu relato se organizam as memórias de um tio. Trata-se, assim, de uma obra de ficção tão saturada de real que nos sujamos, nos nauseamos ao passar junto a cadáveres que havia já cinquenta anos lá não estavam. E sempre, sempre, Sófocles. É a peste o motor da tragédia do Rei Édipo. É a peste que leva à arrogância e, por isso, ao desastre. Foi a peste, contemporânea da escritura desse texto, que conduziu Atenas à derrota e matou Péricles e Aspasia e os melhores de um pequeno universo irrepetível.  Os belíssimos estásimos do coro em Édipo aliam o lamento e a lição. Ambas as coisas nos são estranhas hoje.»
Um Bailarino na Batalha e outras obras de Hélia Correia estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/helia-correia/




27.5.20

A chegar às livrarias: «Noites Brancas», de Fiódor Dostoievski (trad. de António Pescada)

As noites brancas são as do início do verão que se observam em latitudes como as de São Petersburgo e em que quase não escurece. São noites que não se distinguem dos dias, uma espécie de sonhos a imitar a vida.
Foi por isso que Dostoievski usou como subtítulo desta sua obra «Recordações de Um Sonhador». Talvez não tivesse sido possível a Dostoievski imaginar um narrador como o de Noites Brancas se não tivesse lido as obras de Dickens, Balzac e Eugène Sue. É uma narrativa na linha de outras obras do autor, como «Crime e Castigo», «O Adolescente» e «Humilhados e Ofendidos».
 O sonhador de «Noites Brancas» acaba por se perder da vida real, por se afastar do que interessa aos outros, mergulhando na tragédia solitária, como sucede a outras personagens de Dostoievski.


Disponível em: https://relogiodagua.pt/produto/noites-brancas/

26.5.20

A chegar às livrarias: A Pandemia Que Abalou o Mundo, de Slavoj Žižek (trad. de João Moita)






«Nenhum coronavírus nos pode tirar isto. Há, pois, esperança de que o distanciamento físico venha inclusivamente a reforçar a intensidade do elo que nos liga aos outros. Só agora, que tenho de evitar muitos daqueles que me são próximos, é que sinto plenamente a sua presença, a importância que têm para mim.
Aqui chegados, já estou a ouvir uma gargalhada cínica: está bem, talvez experienciemos esses momentos de proximidade espiritual, mas como é que isso nos vai ajudar a lidar com a catástrofe atual? Tiraremos daí alguma lição?»

[Da Introdução]

 Disponível em: https://relogiodagua.pt


24.5.20

Sobre Marca de Água, de Joseph Brodsky




Em Marca de Água, Joseph Brodsky apresenta-nos um gracioso, inteligente e variado retrato de Veneza.
Observando os mais diversos aspetos da cidade, os canais, as ruas, a arquitetura, as pessoas e a gastronomia, Brodsky capta a magnificência, a fragilidade e a beleza da cidade.
Ao mesmo tempo, desfilam as próprias memórias que Brodsky tem de Veneza, que foi a sua morada de muitos invernos, dos seus amigos, inimigos e amantes. O livro reflete, com enorme força poética, sobre o modo como a passagem do tempo afeta Veneza, alterando a relação entre a água e a terra, a luz e a escuridão, a vida e a morte.

Marca de Água (trad. Ana Luísa Faria) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/marca-de-agua-sobre-veneza/

23.5.20

Sobre O Regresso de Mary Poppins, de P. L. Travers




Puxada das nuvens pela corda de um papagaio, Mary Poppins está de volta. Com ela, as crianças da família Banks conhecem o Rei do Castelo e o Grande Marmelo, visitam o mundo de pernas para o ar do Senhor Doavesso e da sua noiva, a Mna. Tartelete, e passam uma intensa tarde no parque, suspensos num conjunto de balões.

«Mary Poppins nunca consegue distinguir o mundo real do da fantasia. E o mesmo acontece ao leitor. Essa é uma das características da grande fantasia.» [The New York Times]

O Regresso de Mary Poppins (Helena Briga Nogueira) e Mary Poppins (José Miguel Silva) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/p-l-travers/

Sobre Robinson Crusoe, de Daniel Defoe




Escrito quando tinha sessenta anos, Robinson Crusoe foi o primeiro romance de Daniel Defoe. Produto de uma imaginação poderosa, tornou-se um sucesso imediato e mantém-se como uma das obras mais importantes e controversas da literatura inglesa. Robinson Crusoe é a história das viagens e aventuras de um mercador, do seu naufrágio e da sua vida solitária numa ilha. Baseado na vida de Alexander Selkirk, é uma obra fascinante pelas suas descrições de Crusoe, o modo engenhoso e imaginativo como criava e usava utensílios e como conhece e se relaciona com Sexta-Feira. Como é evidente, a imagem que dá dos povos da região e do próprio Sexta-Feira é marcada pelos preconceitos do seu tempo. Mas a obra transcende largamente o horizonte da sua época. Robinson Crusoe é, como escreveu Defoe, uma narrativa ao mesmo tempo alegórica e histórica, uma abordagem do modo como um homem, que dedicado ao comércio, consegue sobreviver, graças ao engenho, numa altura em que bens e dinheiro de nada lhe servem. E como enfrenta a solidão recorrendo aos trabalhos e à imaginação.

Robinson Crusoe (trad. Miguel Serras Pereira) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/robinson-crusoe-2/

Sobre Para lá das Palavras, de Carl Safina




«Um novo grupo de golfinhos, onde inúmeras crias nadavam ao lado das mães, emergiu ao longo da nossa embarcação, saltando e chapinhando, chamando por nós de forma misteriosa com o seu assobio característico.
Queria saber o que eles estavam a sentir, e porque nos parecem seres tão atraentes, tão… próximos. Mas desta vez permiti-me apresentar-lhes a pergunta proibida: “Quem são vocês?”»
Durante décadas de observação de campo, Carl Safina fez importantes descobertas sobre o cérebro dos animais. Agora o autor oferece-nos uma visão íntima do seu comportamento, desafiando os preconceitos que teimam em separar o comportamento humano do animal.
Neste livro o leitor irá viajar até ao Parque Nacional de Amboseli, situado em plena paisagem protegida do Quénia, onde poderá observar como as famílias de elefantes sobrevivem à caça furtiva e às secas; irá depois ao Parque Nacional de Yellowstone observar o modo como os lobos se organizam após a morte de uma alcateia; visitará finalmente as águas cristalinas do noroeste do Pacífico para observar a fascinante e silenciosa sociedade das baleias assassinas.

Para lá das Palavras é uma análise sobre as personalidades únicas dos animais, desvendadas através de histórias de alegria, tristeza, ciúme e amor animal. Um livro que nos ensina que as semelhanças entre a consciência humana e animal deveriam ser motivo mais do que suficiente para reavaliarmos o modo como interagimos com os animais.

«Para lá das Palavras é um livro que terá um impacto enorme em muitos leitores, pelo modo como impulsiona a nossa relação com os animais para um plano mais elevado… A par de A Origem das Espécies de Darwin, e O Gene Egoísta de Dawkins, Para lá das Palavras é um marco essencial para entendermos o nosso lugar na natureza. Tem, de facto, potencial para alterar o modo como nos relacionamos com o mundo natural.»
[The New York Review of Books]

Para lá das Palavras está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/para-la-das-palavras/

22.5.20

Sobre Gonçalo M. Tavares




«Alguns dos textos têm apenas uma linha e oferecem sentidos inesperados. Muitas vezes os textos transformam-se em verdadeiros aforismos e também em silogismos.» [Eddie Morales Piña, 14/4/20, Texto completo em https://www.espacioregional.cl/2020/04/14/enciclopedia-de-gonzalo-m-tavares-por-eddie-morales-pina/

Enciclopédia, os cinco volumes de Breves Notas e outras obras de Gonçalo M. Tavares estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/goncalo-m-tavares/

Sobre «A Balada da Vida e da Morte do Alferes Christoph Rilke e Outros Contos», de Rainer Maria Rilke




«Cavalgar, cavalgar, cavalgar, todo o dia, toda a noite, todo o dia.
Cavalgar, cavalgar, cavalgar.
E o ânimo está tão cansado e é tão grande a saudade. Já se não avistam os montes, mal se vê uma árvore. Nada ousa erguer-se. Estranhas cabanas encolhem-se sedentas à beira de poços pantanosos. Nem uma torre em parte alguma. E sempre a mesma paisagem. Dois olhos são de mais. Só à noite por vezes julgamos conhecer o caminho. Talvez estejamos durante a noite a refazer o trecho de caminho que, debaixo deste sol estrangeiro, a custo conquistámos. Pode ser. O sol é pesado, como entre nós no pino do Verão. Mas foi no Verão que nos despedimos. Os vestidos das mulheres brilhavam longamente por entre o verde. E há já muito que cavalgamos. Deve, pois, ser Outono. Pelo menos lá, onde mulheres tristes sabem de nós.» [p. 26]

«A Balada da Vida e da Morte do Alferes Christoph Rilke e Outros Contos» (trad. Maria João Costa Pereira) e outras obras de Rainer Maria Rilke estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/rainer-maria-rilke/

Sobre Porquê Este Mundo, de Benjamin Moser




«Porquê Este Mundo» relançou nos EUA e em muitos outros países o interesse pela obra da autora de «Perto do Coração Selvagem».
A biografia levou Benjamin Moser a investigar a vida de Clarice em três continentes, consultar manuscritos inéditos e realizar dezenas de entrevistas. Pôde assim mostrar que a obra de Lispector tinha relações estreitas com a sua agitada vida, a história do século xx e as tradições judaicas da família.
Nascida em 1920, numa Ucrânia devastada pela Primeira Guerra Mundial e a Revolução Bolchevique, com a família forçada à emigração pelos pogroms que violentaram a mãe e arruinaram o pai, Clarice Lispector tornou-se no Brasil uma mulher cujos talento literário, beleza e originalidade intrigaram muitos escritores e artistas.
Acompanhando Lispector desde Tchechelnik até ao Recife, depois ao Rio de Janeiro e mais tarde, como esposa de diplomata, a Nápoles, Berna e Washington, até ao regresso definitivo ao Rio de Janeiro, esta biografia mostra como Clarice transformara as suas lutas de mulher numa arte de carácter universal.

«Uma biografia digna do seu grandioso tema […] Uma das escritoras mais misteriosas do século xx é finalmente revelada com as suas cores vibrantes.» [Orhan Pamuk]

«Viva, ardente e intelectualmente rigorosa.» [The New York Times Book Review]

«Com uma pesquisa meticulosa […] Bem escrito e notável […] Moser é impressionante.» [New York Review of Books]

«Porquê Este Mundo — Uma Biografia de Clarice Lispector» de Benjamin Moser e obras de Clarice Lispector estão disponíveis em ww.relogiodagua.pt

Comemorou-se ontem o aniversário de Pippi das Meias Altas




O aniversário de Pippi das Meias Altas celebra-se a 21 de Maio por ser também o dia de aniversário da filha de Astrid Lindgren, Karin, que inventou o nome da personagem.
Os três livros de Astrid Lindgren editados pela Relógio D’Água estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/astrid-lindgren/

21.5.20

Sobre O Declínio da Mentira e A Alma do Homem e o Socialismo, de Oscar Wilde




O Declínio da Mentira, de 1889, era o texto preferido de Wilde e uma brilhante crítica contra a arte realista e o seu «monstruoso culto dos factos». 
Em A Alma do Homem e o Socialismo, texto publicado em 1891, Oscar Wilde apresenta as suas particulares concepções de uma sociedade em que a pobreza resulta do funcionamento do capitalismo e não pode ser resolvida com a caridade e o altruísmo. Para Wilde, o desenvolvimento tecnológico permitirá ao homem trabalhar menos tempo e cultivar a sua personalidade. Mas o que mais lhe interessa no socialismo seria a sua capacidade de desenvolver o individualismo que se exprimiria através da alegria e da arte, numa espécie de helenismo renovado.

«Onde o génio de Oscar Wilde se manifesta com mais poder é em A Importância de Ser Earnest e em dois magníficos ensaios, A Alma do Homem e o Socialismo e O Declínio da Mentira.» [Harold Bloom, Génio]

«Ao ler e reler Wilde, ao longo dos anos, noto um facto que os seus panegiristas não parecem ter sequer suspeitado: o facto comprovável e elementar de que Wilde quase sempre tem razão. A Alma do Homem e o Socialismo não só é eloquente: é também justo.» [Jorge Luis Borges, Sobre Oscar Wilde]

Esta e outras obras de Oscar Wilde estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/oscar-wilde/

Livros de Caroline Criado Perez e Shoshana Zuboff na shortlist do Orwell Prize





O Orwell Prize, atribuído pela Orwell Foundation, pretende reconhecer os livros que melhor vão ao encontro da intenção de George Orwell de «transformar escrita política em arte».
A Relógio D’Água vai publicar dois dos livros finalistas na categoria de escrita política: Mulheres Invisíveis, de Caroline Criado Perez, e A Era do Capitalismo de Vigilância, de Shoshana Zuboff.
O vencedor será conhecido dia 25 de Junho, dia de aniversário de George Orwell.

Várias obras de George Orwell estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/george-orwell/

De Residência na Terra, de Pablo Neruda




«CAVALO DOS SONHOS

Desnecessário, vendo-me nos espelhos,
com um gosto a semanas, biógrafos, papéis,
do coração arranco o capitão do inferno,
estabeleço cláusulas indefinidamente tristes.

Absorvo ilusões, erro de ponto em ponto,
converso com os alfaiates em seus ninhos:
amiúde, eles, com voz fatal e fria,
cantam e fazem fugir os malefícios.

Um extenso país no céu existe
com os supersticiosos tapetes do arco-íris
e as vegetações crepusculares:
para lá me dirijo, não sem certa fadiga,
pisando terra mexida de sepulcros recentes,
sonho entre essas plantas de legumes confusos.

Passo por documentos desfrutados, entre origens,
vestido como um ser original e abatido:
amo o mel usado do respeito,
o doce catecismo entre cujas folhas
dormem violetas envelhecidas, esvaídas,
e as vassouras, comovedoras de auxílio,
na sua aparência há, sem dúvida, desgosto e certeza. 
Destruo a rosa que assobia e a ansiedade raptora:
quebro extremos queridos: e, ainda mais,
aguardo o tempo uniforme, sem medida:
deprime-me um sabor que tenho na alma.
Que dia aconteceu! Que espessa luz de leite,
compacta, digital, me favorece!
Ouvi relinchar seu cavalo vermelho,
nu, sem ferraduras e radiante.
Com ele atravesso sobre igrejas,
galopo nos quartéis desertos de soldados
e um exército impuro me persegue,
Os seus olhos de eucalipto roubam sombra,
o seu corpo de sino galopa e vai batendo.

Preciso de um relâmpago de fulgor persistente,
de um parente festivo que assuma a minha herança.» [pp. 33 e 35]

Residência na Terra (trad. José Bento) e outras obras de Pablo Neruda estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/pablo-neruda/

Sobre A Rapariga dos Olhos de Ouro, de Honoré de Balzac




«O longo prefácio de Balzac é um inventário dantesco da imoralidade parisiense. A cidade é governada por dois poderes, “o ouro e o prazer”, imagens que se fundem na rapariga dos olhos de ouro. Quando conhece De Marsay num jardim, Paquita Valdès fica pasmada, facto que o jovem De Marsay atribui ao magnetismo animal das afinidades electivas. (…)
O final de A Rapariga dos Olhos de Ouro antecipa um momento clássico do cinema (…) semelhante à famosa cena de Psycho, o filme de Alfred Hitchcock (1960).» [Camille Paglia, Sexual Personae]

A Rapariga dos Olhos de Ouro e outras obras de Honoré de Balzac estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/honore-de-balzac/

Sobre Os Sonâmbulos, de Hermann Broch




«A nostalgia de uma totalidade e um sentido perdidos permeia toda a obra de Broch, numa combinação ambígua entre a lucidez da análise, nomeadamente a análise das modernas sociedades de massas, e o carácter problemático de uma utopia vagamente messiânica. Regressemos à interrogação obsessivamente formulada por Broch em toda a sua obra, tanto literária como ensaística: num mundo sem ética, onde está afinal a possibilidade de uma relação ética com o mundo?» [Do Prefácio]

«O tema deste vasto romance não nos é ocultado. Broch tem o cuidado de pôr em destaque os pensamentos teóricos que de outro modo procuraríamos no interior das suas histórias. Os títulos já dizem tudo: Pasenow ou o romantismo, 1888; Esch ou a anarquia, 1903; Huguenau ou o realismo, 1918; e, acima destes três nomes, a palavra nocturna que aqui nem sequer é uma imagem, mas um diagnós­tico: Os Sonâmbulos.» [Maurice Blanchot]

Os Sonâmbulos e A Morte de Virgílio estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/hermann-broch/

20.5.20

Sobre Vidas Escritas, de Javier Marías




Javier Marías apresenta-nos vinte e seis breves retratos de grandes escritores, que são um convite à leitura das suas obras.
Entre os escolhidos estão William Faulkner, Joseph Conrad, Isak Dinesen, James Joyce, Robert Louis Stevenson, Arthur Conan Doyle, Oscar Wilde, Ivan Turgueniev, Thomas Mann, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, Rainer Maria Rilke, Vladimir Nabokov, Madame du Deffand, Rimbaud, Henry James e Laurence Sterne.
Todos eles são tratados por Marías com admiração, afecto, ironia e distanciamento.
O volume é completado com retratos de «seis mulheres fugitivas».

«É difícil contermo-nos perante o encanto destes breves retratos, estranhos e astutamente irónicos. Um livro encantador.» [Michael Dirda, The Washington Post]

«Ao ler estes textos, cai-se insólita e inesperadamente numa sensação de êxtase.» [The Washington Times]

«Marías é um escritor demasiado hábil para se lançar em qualquer coisa como uma entediante teoria da biografia. […] Para Marías, os grandes escritores não são enigmas por resolver, mas paradoxos para saborear.» [Christopher Benfey, The New York Times Book Review]

«Tenho o pressentimento de que Vidas Escritas, de Javier Marías, será considerado um texto de referência na história da biografia.» [Carl Rollyson, The New York Sun]

Vidas Escritas (trad. Salvato Teles de Menezes e Francisco Vale) e outras obras de Javier Marías estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/produto/vidas-escritas/

Sobre Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento, de Alice Munro




Nesta coletânea de contos (um deles esteve na origem do filme Ódio Amor), Alice Munro alcança novas fronteiras, criando narrativas que se entrelaçam e ramificam como memórias, habitadas por personagens complexas e contraditórias, tal como as pessoas que fazem parte do nosso dia a dia.
Uma teimosa e persistente governanta abandona os hábitos pelos quais sempre se regeu depois de ouvir a piada de uma adolescente. Uma estudante universitária visita a sua tia, acabando por descobrir de forma acidental um segredo que a faz repensar a vida. Um incorrigível galanteador vê a sua vida virada do avesso quando decide colocar a sua mulher numa casa de repouso para a terceira idade. Uma jovem paciente que sofre de cancro descobre uma súbita e inesperada ponte para uma nova vida. Uma mulher recorda uma tarde de sexo intenso com um desconhecido, apercebendo-se de como essa memória a transformou e manteve viva.
Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento representa Alice Munro no seu melhor, observadora, meticulosa e serenamente lúcida.

Esta e outras obras de Alice Munro estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/alice-munro/

Sobre Um Holograma para o Rei, de Dave Eggers




Numa cidade em crescimento na Arábia Saudita, longe de uma América cansada e ameaçada pela recessão, Alan Clay, um empresário, faz uma última tentativa para evitar a execução de uma hipoteca, pagar as propinas da universidade da filha e conferir significado à sua vida. Em Um Holograma para o Rei, Dave Eggers leva-nos numa viagem pelo mundo e mostra-nos a luta de um homem para conseguir manter a família unida.
O livro foi agora adaptado ao cinema por Tom Tykwer (Sense8, Cloud Atlas), dando Tom Hanks vida a Alan Clay.

«Uma história cómica mas profundamente tocante sobre a luta de um homem. Um retrato atual e claro dos nossos tempos.»
[The New York Times]

«Um romance fascinante.»
[The New Yorker]

«Um Holograma para o Rei é uma conquista incrível na já impressionante carreira de Eggers. Uma leitura essencial.»
[San Francisco Chronicle]

«(…) Atraente, bem estruturada e muito triste… Uma história verdadeiramente humana e inovadora.»
[The New York Times Book Review]

«Uma obra-prima beckettiana… O melhor livro escrito até hoje por uma figura proeminente das letras americanas.»
[The Telegraph]

Um Holograma para o Rei e O Círculo estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/dave-eggers/

Sobre Poemas, de Mário de Sá-Carneiro




«A poesia de Mário de Sá-Carneiro, sobretudo nalguns poemas de Dispersão, possui um fulgor, uma força e um dinamismo únicos na lírica portuguesa contemporânea. Pode-se dizer que na sua obra há poemas que nascem de uma impulsão arrebatadora que domina inteiramente a consciência e o corpo, e para a qual a imaginação e a linguagem encontram imediatamente a síntese viva e fulgurante da realidade poética. Essa impulsão pode ser tão intensa e instantânea que se volve vertigem, delírio ou álcool (palavras-chave da poesia do autor de Indícios de Oiro) ou esvai-se, após o seu súbito surgir, ou então obscurece a consciência do sujeito: «Mas a vitória fulva esvai-se logo… / E cinzas, cinzas só, em vez de fogo…», «É só de mim que ando delirante — / Manhã tão forte que me anoiteceu.» [Do Prefácio de António Ramos Rosa]

Esta e outras obras de Mário de Sá-Carneiro estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/mario-de-sa-carneiro/

19.5.20

Sobre As Ilhas dos Pinheiros, de Marion Poschamnn




Gilbert Silvester, professor associado e investigador no campo da pogonologia, no âmbito de um projeto universitário financiado com fundos externos, está em choque. Na noite passada sonhou que a sua mulher o anda a enganar. Num absurdo ato irrefletido, decide deixá-la, apanha o primeiro voo intercontinental disponível e viaja até ao Japão, para conseguir ganhar distanciamento. Aí chegado, toma contacto com as descrições das viagens do poeta clássico Bashō e passa então a ter um objetivo: à semelhança dos antigos monges itinerantes, também ele quer agora ver a Lua sobre as ilhas dos pinheiros. Ao empreender o percurso tradicional seguido nessas peregrinações, pensa distrair-se com a observação da natureza e assim resolver a agitação que internamente o perturba. Antes sequer de começar, depara-se com um estudante, Yosa, cuja leitura de viagem é The Complete Manual of Suicide

Um romance de magistral desenvoltura: profundo, repleto de humor, cativante, comovente. No Japão, terra do chá, misturam-se a luz e a sombra, o superego freudiano e os sombrios deuses do xintoísmo. E, uma vez mais, coloca-se a velha questão: não passará a vida, no fim de contas, de um sonho?

«Uma obra-prima.»   [Alexander Cammann, Die Zeit]

«Um romance de crepitante inteligência.» [Paul Jandl, Neue Zürcher Zeitung]

«Uma prosa abissalmente jovial, impecavelmente bela.» [Katharina Granzin, die tageszeitung]

As Ilhas dos Pinheiros (trad. Paulo Rêgo) está disponível em https://relogiodagua.pt/autor/marion-poschmann/

Sobre Leopardo Negro, Lobo Vermelho, de Marlon James




Mito, fantasia e história misturam-se nesta história de um mercenário em busca de uma criança desaparecida.
O Batedor tornou-se famoso pelas suas habilidades de caçador.
Contratado para encontrar um rapaz desaparecido, quebra a regra de caçar sozinho quando se apercebe de que o melhor modo de encontrar o rapaz é juntar-se a um grupo: uma mistura de personagens incomuns, repletas de segredos, e em que se inclui o Leopardo, um homem-animal que tem a capacidade de se metamorfosear entre ambos.
À medida que o Batedor segue o cheiro do rapaz, o grupo depara-se com inúmeras criaturas que pretendem matá-los. E, enquanto luta pela sobrevivência, começa a questionar-se: quem será esse rapaz? Porque está desaparecido há tanto tempo e porque tantas pessoas tentam que não seja encontrado? E talvez mais importante: quem está a mentir e quem diz a verdade?
Inspirando-se na história e mitologia africanas e na sua imaginação, Marlon James escreveu uma aventura envolvente, de personagens inesquecíveis que nos fazem questionar os limites da verdade, do poder e do excesso de ambição.

“O primeiro volume da prometida trilogia é uma fábula, uma reimaginação de África, com ecos inevitáveis de Tolkien, George R. R. Martin e Black Panther. Mas é ao mesmo tempo altamente original, com uma linguagem poderosa e uma imaginação abrangente. Marlon James é um escritor que tem de ser lido.” [Salman Rushdie, TIME]

“Um mundo de fantasia africano, nos tons de Bosch, García Márquez e da Marvel.” [The New York Times]

Os direitos de adaptação a televisão foram adquiridos pela companhia de produção de Michael B. Jordan, actor de filmes como Black Panther e Creed.

Leopardo Negro, Lobo Vermelho e Breve História de Sete Assassinatos (traduções de José Miguel Silva) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/marlon-james/

A propósito do desaparecimento de Agatha Christie





«O episódio continua a ser fascinante. Em 1977 Kathleen Tynan escreveu um romance, “Agatha”, sobre o incidente; foi adaptado a filme, protagonizado por Vanessa Redgrave. Em 2008, um episódio de Dr. Who especulava sobre o desaparecimento da escritora. E, mais recentemente, um telefilme britânico, “Agatha e a Verdade do Assassínio”, propunha uma nova teoria: Christie desapareceu para participar na investigação de um homicídio.» [Tina Jordan, The New York Times, 11/6/2019. Texto completo aqui. ]


Em 2020, Ana Teresa Pereira escreveu O Atelier de Noite, que se debruça o desaparecimento de Agatha Christie, durante quase duas semanas, que ainda hoje permanecem envoltas em mistério. Num outro conto da mesma obra, Ana Teresa Pereira fala-nos do desaparecimento de uma outra mulher.

O Atelier de Noite e outros livros de Ana Teresa Pereira estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/ana-teresa-pereira/

Sobre A Luz da Guerra, de Michael Ondaatje




Londres, 1945. A capital inglesa convalesce da guerra. Nathaniel, um adolescente de catorze anos, e Rachel, a sua irmã mais velha, são abandonados pelos pais, que saem do país em trabalho, deixando-os à guarda do misterioso Traça e de outros, «que podiam muito bem ser criminosos».
Nathaniel irá ajudar o Flecheiro nas suas atividades ilegais, participando, em recantos furtivos do Tamisa, no transbordo de galgos vindos de França para alimentar o negócio das corridas de cães clandestinas. Com Agnes, despertará para o amor, nos encontros iniciáticos de ambos em casas desocupadas.
Para Rachel, a nova vida será muito mais traumática.
Mas o excêntrico grupo que lhes frequenta a casa será aquilo que pretende fazer crer que é? E, mais importante do que isso, o que foi feito dos seus pais e, sobretudo, da mãe? Serão autênticas as razões que deu para partir? Que segredos esconde o seu passado?
Anos mais tarde, um Nathaniel já adulto começa a encaixar as peças de um puzzle, que fará alguma luz sobre a atroz realidade.

«O nosso livro do ano — e talvez de toda a carreira de Ondaatje.» [Daily Telegraph]

«Uma ficção tão rica, bela e melancólica como a própria vida, escrita com a linguagem visionária da memória.» [Observer]

«Um romance com um fulgor sombrio.» [The Times]

«A Luz da Guerra é uma obra-prima... Um thriller com a sedução de um conto de fadas sombrio.» [The Washington Post]

Este e outros livros de Michael Ondaatje estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/michael-ondaatje/

18.5.20

Sobre Pequenas Misérias da Vida Conjugal, de Honoré de Balzac




Balzac revela-se aqui um divertido observador da intimidade dos casais. 
No essencial, apresenta-nos dois tipos humanos. De um lado, Adolphe, um burguês de desesperante aridez mental; do outro, Caroline, reduzida à dependência. Em conjunto, os dois jovens esposos vão percorrer o caminho que leva das promessas de felicidade às desilusões e mesmo às misérias do casamento.
Como muitas vezes acontece, o casal vai viver as diferentes fases da experiência da incompreensão mútua. O resultado é um quadro ao mesmo tempo grave e pleno de humor, onde Balzac mostra o seu talento para entender a psicologia, o amor-próprio e os conflitos das personagens.

Pequenas Misérias da Vida Conjugal (tradução de Natália Nunes) e outras obras de Honoré de Balzac estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/honore-de-balzac/

Entrevista de Byung-Chul Han



A propósito da edição mexicana de O Desaparecimento dos Rituais, em  que Byung-Chul Han afirma que a conversão da produção e do rendimento em valores absolutos está a desritualizar progressivamente a sociedade e diz crer que a violência que o ser humano exerce contra a natureza se está a voltar contra ele com mais força, o autor deu uma entrevista ao suplemento Babelia, do El País. A entrevista pode ser lida aqui: https://elpais.com/cultura/2020/05/15/babelia/1589532672_574169.html

O Desaparecimento dos Rituais terá edição portuguesa pela Relógio D’Água. Outras obras de Byung-Chul Han já editadas em Portugal estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/byung-chul-han/

Os livros de Michael Cunningham




Na secção By the Book, no The New York Times, Michael Cunningham conta que o último grande livro que leu foi Lincoln no Bardo, de George Saunders, e fala de um dos livros que leu recentemente pela primeira vez, A Montanha Mágica, de Thomas Mann, revela que um dos seus livros preferidos de que ninguém ouviu falar é O Falcão Peregrino, de Glenway Wescott, e nomeia Ocean Vuong como um dos escritores contemporâneos que mais admira.
Todas as respostas de Michael Cunningham estão disponíveis aqui: https://www.nytimes.com/2020/04/30/books/review/michael-cunningham-by-the-book-interview.html

Na Terra Somos brevemente Magníficos, de Ocean Vuong, e A Montanha Mágica, de Thomas Mann, serão em breve editados pela Relógio D’Água.
Lincoln no Bardo, de George Saunders, e obras de Thomas Mann e de Glenway Wescott estão disponíveis em www.relogiodagua.pt

Sobre A Conquista da Felicidade, de Bertrand Russell




Bertrand Russell apresenta em A Conquista da Felicidade uma proposta, livre de julgamentos morais, para a conquista de uma vida feliz.
Depois de enumerar as causas da infelicidade que nos ameaçam na sociedade moderna, Russell aponta os caminhos para contornar os perigos do cansaço e do egocentrismo. Ao mesmo tempo, encoraja o leitor a seguir o caminho do seu natural «gosto de viver», através da diversificação de interesses e das relações interpessoais.

«A Conquista da Felicidade é uma fascinante cápsula do tempo, uma mistura que inclui observações eternas que são tão claras para nós hoje como foram para os primeiros leitores, e problemas e atitudes antiquados que pelos padrões da atualidade são ofensivos quando não são engraçados. Uma boa maneira de ler este livro é considerá-lo um telescópio temporal que nos permite ver quão longe chegámos. O próprio Russell merece algum crédito por mudar a nossa imaginação moral das ortodoxias obsoletas para um lugar melhor, mas aqui encontramos uma viagem em curso, pois ele está ainda absorto em preconceitos que lhe toldam a visão. Talvez a conclusão moral a tirar deste confronto seja que provavelmente devemos esperar que os nossos netos se sintam tão incomodados com algumas das nossas atitudes como nós nos sentimos com algumas de Russell.» [Da Introdução de Daniel C. Dennett]

A Conquista da Felicidade e História da Filosofia Ocidental estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/bertrand-russell/