29.3.19

Sobre Viagens, de Virginia Woolf




Em companhia dos irmãos, de amigos, e mais tarde com o marido Leonard, Virginia Woolf viajou da adolescência até quase ao fim da vida.
Conheceu Espanha, que veio a considerar um país magnífico, apesar do invariável céu azul. Passou por Lisboa e Porto. Visitou por diversas vezes a Grécia. Perdeu-se pelas ruelas de Constantinopla e sentiu-se fascinada pelas suas principais mesquitas. Em Itália, deu particular atenção a Veneza, Florença e Siena. Na Alemanha, o centro da sua atenção foi Bayreuth. Em meados dos anos 30, visitou a França e deslocou-se à Holanda.

Mas viajar nunca foi para ela uma descrição de lugares, referenciados com anotações brilhantes. Como escreveu Jorge Vaz de Carvalho, na Introdução: «Nunca abusa no gosto pelo detalhe pitoresco ou prelecção erudita. Percebemos como a escritora evita obsessivamente os estilos de guia turístico ou de reportagem, bem como o pretexto dos monumentos e das paisagens para a revelação confessional ou reflexões de natureza histórica ou política. Trata-se, nas suas próprias palavras, de mostrar “todos os traços da passagem de uma mente pelo mundo”.»

28.3.19

Sobre Dá-Me a Tua Mão, de Megan Abbott




Pedro Lamares leu um excerto de Dá-Me a Tua Mão, de Megan Abbott, no programa Literatura Aqui de 19 de Março (aos 21 minutos). O programa pode ser visto aqui https://tinyurl.com/yy28nsjw

Kit Owens tinha ambições modestas. Até ao momento em que a misteriosa Diane Fleming se inscreveu na mesma escola e chegou à sua aula de Química. A partir daí, o brilhantismo académico de Diane estimulou Kit, e as duas desenvolveram uma amizade fora do comum. Mas essa amizade durou apenas até ao momento em que Diane partilhou um segredo que alterou tudo.

Mais de uma década depois, quando julgava ter esquecido Diane, Kit começa a concretizar os sonhos científicos que a amiga despertara nela. Mas o passado persegue-a, quando tem conhecimento de que Diane é a competidora principal para um lugar que ambas pretendem.

Raul Brandão em Lisboa




No próximo dia 5 de Abril, às 17:30, será colocada na fachada da casa onde Raul Brandão morreu uma placa de homenagem, na Rua de São Domingos à Lapa, n.º 44, em Lisboa.
No mesmo dia, às 18:30, na York House, será lançado Raul Brandão e Lisboa, de Vasco Rosa.

De Raul Brandão, a Relógio D’Água publicou Memórias (Tomos I, II e III), A Farsa, História dum Palhaço / A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore, El-Rei Junot, Vida e Morte de Gomes Freire, Os Pescadores e Húmus.

Gulliver na Culturgest






A Culturgest apresenta um espectáculo de teatro de Tiago Cadete em que «Gulliver é uma espécie de VJ, uma inteligência artificial que vem do futuro e que conta a sua história através do grande arquivo de documentos, imagens e sons encontrados na internet sobre as interpretações do livro de Jonathan Swift, As Viagens de Gulliver.» Mais informações aqui https://www.culturgest.pt/pt/programacao/tiago-cadete-gulliver/

27.3.19

Sobre Entretenimento e Paixão na História do Ocidente, de Byung-Chul Han (trad. Miguel Serras Pereira)




Disponível aqui www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias

O entretenimento, a distração e a intranscendência afirmam-se nos mais diversos âmbitos da sociedade ocidental, alterando a compreensão do mundo. “A totalização do entretenimento tem como consequência um mundo hedonista.”
Os valores que se lhe opõem são os da paixão, próprios das culturas cristãs, em que tradicionalmente se enaltece o trabalho, o esforço, o sofrimento e a seriedade. A arte relacionada com esses valores é a que integra o sofrimento e o combate entre o bem e o mal.
Perante esta oposição, parece impossível qualquer reconciliação.

Mas, como mostra Byung-Chul Han, o jogo e a paixão talvez não sejam tão antagónicos como poderiam parecer. Para o provar, o filósofo germano-coreano toma como referência Kant, Hegel, Nietzsche, Heidegger, Luhmann e Rauschenberg, e analisa as formas de entretenimento surgidas ao longo da história, evidenciando a importância do ócio nos nossos sistemas sociais.

Sobre O Vermelho e o Negro, de Stendhal




«Julien Sorel nada sabe de si próprio; só é capaz de sentir as paixões depois de as simular e tem um inegável talento para a hipocrisia. E, no entanto, Julien mantém o nosso interesse e, mais do que isso, fascina-nos, não somos capazes de sentir antipatia por ele.» [Harold Bloom, O Futuro da Imaginação]


«Stendhal faz com que o leitor se sinta orgulhoso de ser seu leitor.» [Paul Valéry]

Sobre Hannah Arendt




«O conceito de Banalidade do Mal em Hannah Arendt» é o tema do próximo grupo de leitura da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, que decorrerá nos próximos dias 2, 4 e 10 de Abril, no Palácio Fronteira, em Lisboa. Mais informação aqui: https://www.facebook.com/events/1663735447261339/

Sobre Doce Pássaro da Juventude e Outras Peças, de Tennessee Williams




Solidão, tensão sexual e a necessidade de afeto marcam estas quatro peças de Tennessee Williams, em que as suas personagens combatem os demónios interiores e o mundo contemporâneo.
Em Doce Pássaro da Juventude, o desnorteado Chance Wayne regressa à sua cidade com uma atriz de cinema envelhecida, em busca da rapariga por quem se apaixonara na juventude.
Em A Noite da Iguana, um grupo de pessoas, entre elas um perturbado ex-reverendo, são obrigadas a conviver num hotel mexicano isolado durante uma noite repleta de acontecimentos.
Em O Zoo de Vidro, uma mulher amargurada pretende a todo o custo casar a filha, Laura, que sofre de um defeito físico e se refugia na sua coleção de animais de vidro.
Vieux Carré é uma peça sobre a educação do artista, uma educação solitária e muitas vezes desesperante, entre a entrega ou a recusa, mas sobretudo sobre aprender a ver, ouvir, sentir e descobrir que «os escritores são espiões sem vergonha», que pagam caro pelo seu conhecimento e são incapazes de esquecer.

«A novidade revolucionária de O Zoo de Vidro está na sua ascensão poética, mas foi a sua complexa estrutura dramática que permitiu que a peça se tornasse um cântico poético.» [Arthur Miller]


«Em A Noite da Iguana Williams escreve no auge da sua forma.» [The New York Times]

26.3.19

Humor e arte de mãos dadas – concurso de colagens à Szymborska




Wisława Szymborska, vencedora do Prémio Nobel da Literatura de 1996, é uma autora mundialmente aclamada pela sua poesia em que, numa linguagem ligeiramente irónica, contesta a realidade. No entanto, nem todos sabem que, quando não escrevia poesia, criava colagens. No âmbito das celebrações dos 40 anos do leitorado da língua polaca na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Embaixada da República da Polónia convida à participação no concurso de colagens ao estilo de Wisława Szymborska. O autor da melhor obra será premiado com um bilhete aéreo para Cracóvia, a cidade de Szymborska.



Mais informação sobre o concurso aqui.




De Wisława Szymborska a Relógio D’Água publicou dois livros: Instante e Paisagem com Grão de Areia.

Cristina Carvalho participa no 14.º Encontro com Professores Escritores




No próximo dia 28 de Março, pelas 14:00, Cristina Carvalho estará presente no 14.º Encontro com Professores Escritores, no Anfiteatro da Escola Superior de Educação de Setúbal.

O mais recente livro da autora é A Saga de Selma Lagerlöf, editado pela Relógio D’Água.

Sobre Um Diário de Preces, de Flannery O'Connor




«Gostava de escrever uma prece bonita.»
Esta frase foi escrita por Flannery O’Connor durante a sua juventude, neste diário profundamente espiritual, recentemente descoberto entre os objetos que deixou na Georgia.
«Há em volta de mim um vasto mundo sensível que eu deveria ser capaz de usar como instrumento em Teu louvor.»
Escrito entre 1946 e 1947, enquanto O’Connor estudava longe de casa na Universidade de Iowa, Um Diário de Preces é um portal raro de acesso à vida íntima da escritora. Não apenas revela a relação singular de O’Connor com o divino, como nos mostra a forte ligação entre o seu desejo de escrita e o seu enternecimento por Deus.
«Tenho de escrever que irei tornar-me artista. Não no sentido da fancaria estética, mas no sentido do engenho estético: caso contrário, sentirei a minha solidão constantemente […]. Não quero sentir-me solitária toda a vida, mas as pessoas, ao recordarem-nos de Deus, apenas acentuam a nossa solidão. Meu bom Deus, por favor, ajuda-me a tornar-me uma artista, por favor, faz que isso me aproxime de Ti.»
O’Connor não podia ser mais explícita em relação à sua ambição literária: «Por favor, ajuda-me, meu bom Deus, a ser uma boa escritora e a conseguir que me aceitem mais textos para publicação», escreveu.
Segundo W. A. Sessions, que conhecia O’Connor, não foi uma coincidência que a autora tenha começado a escrever as histórias que formaram o seu primeiro romance, Sangue Sábio, durante os anos em que escreveu estas meditações singulares e profundamente imaginativas.

25.3.19

Sobre A Poesia como Arte Insurgente, de Lawrence Ferlinghetti




Lawrence Ferlinghetti é, aos 100 anos, o único sobrevivente da Beat Generation, de que foi um dos impulsionadores, ao lado de Jack Kerouac e Allen Ginsberg.
A Poesia como Arte Insurgente é o testemunho de uma geração para quem a poesia era sinónimo de subversão.

Em louvor de Manuel Graça Dias




Morreu ontem à noite o arquitecto Manuel Graça Dias, um dos mais talentosos da sua geração e um dos que melhor escrevia sobre os temas da sua profissão. Em termos pessoais, distinguia-se pela amabilidade, o sentido de humor, o entusiasmo da conversa e a elegância dos gestos e atitudes.




Na editora Relógio D’Água publicou ao longo dos anos várias obras, com destaque para Ao Volante pela Cidade (dez entrevistas de arquitectura) (1999), O Homem Que Gostava de Cidades (2001), 30 Exemplos (2004), Manual das Cidades (2006) e Ao Volante pela Cidade — Paulo Mendes da Rocha (2014).



Actualmente tínhamos com ele dois projectos de edição, um de conversas entre Siza Vieira e os seus alunos e outro que pretende recolher os desenhos de Fernando Távora.
Manuel Graça Dias nasceu em Lisboa, em 1953.
Foi assistente da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (entre 1985 e 1996) e professor convidado da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (desde 1997), do departamento de arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa (desde 1998), bem como da Facoltá di Architettura do Politecnico di Milano (desde 1999). 



Viveu e trabalhou em Lisboa, onde criou, em 1990, o atelier Contemporânea, com Egas José Vieira. A casa que recuperou em 1979, na Graça, em Lisboa, em associação com António Marques Miguel, recebeu a Menção Honrosa Valmor (1983); obteve ainda o 1.º lugar no concurso para o Pavilhão de Portugal na Expo’92, Sevilha (1989), bem como no concurso para a construção da nova sede da Associação dos Arquitectos Portugueses/Banhos de S. Paulo, em Lisboa (1991), ambos em associação com Egas José Vieira.
Escreveu variadíssimos artigos de crítica e divulgação de arquitectura em jornais e revistas da especialidade (desde 1978), participou em vasto número de conferências, quer em Portugal quer no estrangeiro; foi autor de um programa quinzenal (Ver Artes/Arquitectura) na RTP2 (1992/1996) e colaborador da TSF com programas regulares de divulgação de arquitectura (1995/1999), tendo sido director do Jornal Arquitectos, órgão da Ordem dos Arquitectos Portugueses, e Presidente da Secção Portuguesa da AICA (2009/2012).
Manuel Graça Dias tem trabalhos construídos em Lisboa (Lu.Ca), Porto, Chaves (Escola de Música, Artes e Ofícios), Vila Real, Almada (Teatro Municipal), Guimarães, Macau e Sevilha que foram objecto de publicação na imprensa especializada e mostrados (desde 1978) em exposições colectivas ou individuais. O Teatro Azul (Almada), projecto em colaboração com Egas José Vieira e Gonçalo Afonso Dias, foi nomeado para o Prémio Secil 2007, o Prémio Mies van der Rohe 2007 e para o Prémio Aga Khan 2008/2010.



Manuel Graça Dias recebeu ainda, com Egas José Vieira, o prémio AICA/Ministério da Cultura (arquitectura), relativo a 1999, pelo conjunto da obra construída. Em 2006 foi agraciado com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Desaparece assim um arquitecto que gostava de cidades, amava a arquitectura e ainda mais a vida.

Francisco Vale

22.3.19

Sobre A Chama, de Leonard Cohen




«Leonard Cohen deixou-nos há cerca de dois anos, e seria fácil e banal dizer que, no entanto, vive nos seus poemas e canções. Não vive. Foi um mortal com uma missão, e cumpriu-a eximiamente: nunca se lamentar casualmente. O seu corpo deixou-nos, mas deixou-nos um notável corpo de trabalho, e não só. Legou-nos um arquétipo de dignidade e humildade, de sabedoria e espiritualidade. Um dicionário para o espírito, para viver a sublime beleza da escuridão, da melancolia e da tristeza, mas também a do amor e do prazer. Um guia de símbolos, de poemas e de canções para enfrentar a dureza da vida com honestidade e elegância. A Chama é o último sopro desse espírito, e vive. Cohen, lamentavelmente, não. Mas, em face dessa grande e inevitável derrota, manteve-se sempre, conforme se propôs, nos mais estritos limites da dignidade e da beleza, e deixou-nos A Chama como prova. A centelha moribunda é forte.» [David Calão, Comunidade Cultura e Arte, 20/3/2019. Texto completo aqui. ]

Sobre O Pangolim e Outros Poemas, de Marianne Moore




«Graças a Rui Knopfli, descobri Marianne Moore (1887-1972) há perto de cinquenta anos. Agora, Margarida Vale de Gato acrescentou O Pangolim e Outros Poemas à língua portuguesa. Antologia bilingue, a tradutora ilumina a poesia daquela que considera ser «a mais persistente e porventura mais notável voz feminina» do modernismo americano. O gosto pelas aulas de biologia e histologia reflectiu-se no universo imagético, fundindo realidades díspares. Por exemplo, ornitologia, baseball e crustáceos: «caranguejos como lírios / verdes e submarinos / fungos, roçam como juncos.» A consagração chegou em 1951, quando Collected Poems recebeu os três prémios literários de maior prestígio nos Estados Unidos: o Pulitzer, o Bollingen e o National Book Award. Imprescindível.» [Eduardo Pitta no blogue Da Literatura e na revista Sábado, 21/3/2019]

Sobre Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg




«A italiana Natalia Ginzburg (1916-1991), que andava desaparecida das livrarias portuguesas, regressa com Léxico Familiar, obra-chave desta autora que quis que lêssemos a história da sua família como um romance. O livro acompanha os anos da ascensão do fascismo italiano, as leis raciais de Mussolini e a Segunda Guerra Mundial. Os Levi são judeus, Natalia é a mais nova de cinco irmãos. Por sua casa, em Turim, passaram os amigos, intelectuais e poetas, entre eles Pavese. A escrita seca recupera os fulgores da adolescência, as ignomínias da guerra, os combates ideológicos, as dúvidas (América ou Palestina?), em suma, a vida como ela foi.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura e na revista Sábado, 21/3/2019]

21.3.19

À venda na Feira do Livro de Poesia de Campo de Ourique, em Lisboa





«Mensagem — o único livro de poesia em língua portuguesa dado a público por Fernando Pessoa — foi impresso em Outubro de 1934. Dividido em três partes (“Brasão”, “Mar Português” e “O Encoberto”), este livro, que esteve para se chamar “Portugal”, incorpora 44 poemas, alguns dos quais já anteriormente publicados em jornais e revistas. (…) Mensagem — uma colectânea identificável com o sinal, necessariamente aleatório, de um nacionalismo místico, esotérico e profetista — pode também deixar visionada, por acrescento, a projecção de um “reino de alma humana continuamente sendo e continuamente ansiosa de mais ser”.» [Agostinho da Silva in Um Fernando Pessoa]

Exposição dedicada a vida e obra de Agustina Bessa-Luís no Porto





Até 14 de Junho estará patente, nos Claustros da Biblioteca Pública Municipal do Porto, com livre acesso, a Exposição AGUSTINA BESSA-LUÍS: vida e obra, comissariada por Inês Pedrosa e João Botelho e gentilmente cedida à DMC pelo Instituto Camões- Instituto da Cooperação e da Língua, IP. 

(imagem retirada do site da Câmara Municipal do Porto)

Em simultâneo com o Programa Ciclo Agustina, que decorre mensalmente com sessões literárias sobre a autora de A Sibila, esta exposição reúne um original conjunto digital de documentos, fotos, livros e manuscritos que evocam a vida e a obra da autora, extremamente fértil, contando com mais de meia centena de títulos, entre romances, novelas, peças de teatro, guiões de cinema, biografias, ensaios e livros infantis.


20.3.19

Sobre O Susto, de Agustina Bessa-Luís




«Para falar de Agustina, é indispensável falar da singularidade do seu universo romanesco e dos escassos dez anos que medeiam entre “O Susto” e a sua estreia enquanto autora de ficção narrativa. Trata-se de um roman à clef, o primeiro mas não o último da sua bibliografia. Voltará a fazê-lo, por exemplo três décadas mais tarde, em “Ordens Menores”. Se neste caso José Maria Midões, o protagonista, adere como uma luva à personalidade e aos traços de carácter de Teixeira de Pascoaes (1877-1952), no segundo será Natan que decalcará José Régio, 17 anos após o seu desaparecimento. Teixeira de Pascoaes, que se autointitulava “poeta natural e bacharel à força”, empresta a José Maria a sua força telúrica e, na suspeição que lhe merecem os seres que observa e descreve, a começar por ele próprio, adivinha-se ser indiscutível para Agustina que, mais do que Camilo Castelo Branco, era o poeta o seu requerido precursor.» [Luísa Mellid-Franco, Expresso, E, 16/3/2019]

Gonçalo M. Tavares participa no festival literário Kosmopolis de Barcelona




O festival, que decorre no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, abre com uma primeira ronda gratuita para o público, no dia 20, durante a qual o sociólogo e historiador norte-americano Richard Sennett e o arquiteto catalão e curador da área de arquitetura de Serralves Carles Muro vão conversar sobre as transições do capitalismo.
No mesmo dia, dois grandes nomes da literatura contemporânea distintos na estética e na proposta literária, o português Gonçalo M. Tavares e o espanhol Enrique Vila-Matas, vão dialogar sobre aquilo que têm em comum: "Rastreiam as pegadas do desaparecimento e da dissolução do tempo”.
Um dos mais esperados "Diálogos K" é o que reúne o escritor britânico Julian Barnes e a jornalista Anna Guitart em torno de uma conversa sobre "O significado de uma história".

O autor canadiano de banda desenhada Simon Roy, o escritor e jornalista argentino Rodrigo Fresán, escritor norte-americano Dave Eggers, o cineasta espanhol Ray Loriga, a autora marroquina Najat El Hachmi, e a escritora sul-coreana, galardoada em 2016 com o Prémio Man Booker Internacional, são outros dos intervenientes esperados nos "Diálogos K”. [A partir da notícia da LUSA no site do DN, 15/3/2019]

Sobre Fernão de Magalhães, de Stefan Zweig




«Comecei a pensar nas primeiras viagens dos conquistadores dos mares, evoquei-os em íntima visão; senti profunda vergonha da minha impaciência. Despertado este sentimento, nunca mais me abandonou durante a travessia, e nem por um momento pude libertar-me da obsessão destes heróis. Comecei a desejar saber mais alguma coisa da vida daqueles que primeiro ousaram travar combate com os elementos; necessitava de ler a narrativa das primeiras viagens pelos mares desconhecidos, essas narrativas que tanto alvoroçavam já a minha fantasia de adolescente. Dirigi-me à biblioteca do navio e tomei, ao acaso, uns volumes. Entre todos os vultos, um se ergueu mais dominador, e aprendi a admirar o feito de quem, segundo o meu parecer, realizou o que de mais grandioso existe na história do descobrimento da terra: Fernão de Magalhães — aquele que partiu de Sevilha, com cinco minúsculos barcos, para dar a volta ao mundo. É talvez a mais extraordinária odisseia na história da humanidade, esta expedição de 265 homens decididos, dos quais só regressaram 18 no navio desmantelado, mas trazendo içada no mastro a bandeira da máxima vitória.» [Da Introdução]

Sobre Pierrette seguido de O Padre de Tours, de Honoré de Balzac




«O estado celibatário — escreve Balzac — é um estado contrário à sociedade.» O celibato gera a solidão, a frustração, a raiva. Pierrette, um dos dramas mais pungentes da Comédia Humana, mostra-nos como a estupidez e a avareza humana levam à morte de uma criança.
O Padre de Tours apresenta-nos dois géneros de seres nos quais os venenos do celibato se desenvolvem: a solteirona e o padre. Notável documento político sobre o poder da Igreja na Restauração, O Padre de Tours ilustra, ao mesmo tempo, a afirmação balzaquiana segundo a qual as existências mais obscuras encerram tanto a violência como as tragédias históricas.

19.3.19

Sobre A Rapariga dos Olhos de Ouro, de Honoré de Balzac




«O longo prefácio de Balzac é um inventário dantesco da imoralidade parisiense. A cidade é governada por dois poderes, “o ouro e o prazer”, imagens que se fundem na rapariga dos olhos de ouro. Quando conhece De Marsay num jardim, Paquita Valdès fica pasmada, facto que o jovem De Marsay atribui ao magnetismo animal das afinidades electivas. (…)
O final de A Rapariga dos Olhos de Ouro antecipa um momento clássico do cinema (…) semelhante à famosa cena de Psycho, o filme de Alfred Hitchcock (1960).» [Camille Paglia, Sexual Personae]

Djaimilia Pereira de Almeida e José Bento vencem Prémios da Fundação Inês de Castro 2018




Djaimilia Pereira de Almeida venceu o Prémio Literário Fundação Inês de Castro 2018, com o livro Luanda, Lisboa, Paraíso, o seu mais recente romance, editado pela Companhia das Letras.
O prémio Tributo de Consagração foi por unanimidade para o tradutor e poeta José Bento. A cerimónia decorrerá no dia 30 de Março em Coimbra.
O prémio foi atribuído por maioria do júri, presidido por José Carlos Seabra Pereira e composto por Mário Cláudio, Isabel Pires de Lima, Pedro Mexia e António Carlos Cortez. A cerimónia de entrega decorrerá no dia 30 de Março, no Hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra.
Quanto ao prémio Tributo de Consagração — que visa distinguir a carreira de um autor — foi atribuído por unanimidade o tradutor e poeta José Bento, divulgador da cultura hispânica em Portugal, que traduziu autores como Miguel Unamuno, Juan Ramón Jiménez, Ortega y Gasset, Jorge Luis Borges, María Zambrano, Octavio Paz ou Federico García Lorca.
Luanda, Lisboa, Paraíso é o segundo romance de Djaimilia Pereira de Almeida, depois da sua estreia literária em 2015 com Esse cabelo, romance que valeu logo na altura à escritora “um lugar no panorama dos novos autores de língua portuguesa, recebendo o Prémio Novos em 2016 — categoria Literatura”, destacam os promotores do prémio.
Em Abril sairá na Relógio D’Água Pintado com o Pé, de Djaimilia Pereira de Almeida, que reúne crónicas e ensaios.
Luanda, Lisboa, Paraíso conta a história de Cartola de Sousa, parteiro num hospital em Luanda, e Aquiles, seu filho de 14 anos, nascido com um calcanhar defeituoso, que viajam para Lisboa, nos anos 1980, para que o rapaz possa ser submetido às operações e tratamentos médicos que resolveriam o seu problema no pé.

José Bento é também autor de vários livros de poesia, como Alguns Motetos ou Sítios, editados pela Assírio & Alvim.
Ao longo dos anos, o Prémio Literário Fundação Inês de Castro tem distinguido autores e obras como Pedro Tamen (2007), José Tolentino Mendonça (2009), Hélia Correia (2010), Gonçalo M. Tavares (2011), Mário de Carvalho (2013), Rui Lage (2016) ou a poeta Rosa Oliveira, vencedora do galardão em 2017.


[A partir da notícia da LUSA no site do Público, 19/3/2019]

Sobre Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg




«Lugares, factos e pessoas são, neste livro, reais. Não inventei nada, e sempre que, na esteira do meu velho costume de romancista, inventava, sentia‑me imediatamente impelida a destruir quanto inventara.» [Natalia Ginzburg, na Advertência em «Léxico Familiar»]

18.3.19

Sobre Coisas Que não Quero Saber, de Deborah Levy




«Título e subtítulo são, neste livro, uma conjugação explosiva, matéria capaz de deixar o leitor em meditação, durante largas horas. De um lado, Coisas Que não Quero Saber; do outro, Uma Resposta ao Ensaio de George Orwell “Porque Escrevo”, de 1946. Numa ponta, a negação e a emoção; na outra, a afirmação e a racionalidade. A tensão, na verdade, nunca se resolve, e nesse jogo de forças reside a atração deste primeiro volume da autobiografia de Deborah Levy.
Porque Escrevo, de George Orwell, é um texto clássico que afirma, com uma enorme clareza, o que move um escritor. Das certezas precoces ao posicionamento ideológico, há pouco espaço para a dúvida. Apesar de um duelo interior, travado entre os 17 e 24 anos, época em que quis afastar a “vocação”, no percurso de Orwell há, sobretudo, conflitos exteriores, os que marcaram o século XX e que ele convocou para os seus livros. Em Levy, a expressão Porque Escrevo reclama forçosamente um ponto de interrogação. Perto dos 55 anos, no meio de uma crise pessoal de contornos difusos, exigiu também uma resposta.» [Luís Ricardo Duarte, Visão, 6/1/2019]

Sobre O Sagrado e o Profano, de Mircea Eliade




O Sagrado e o Profano, de Mircea Eliade, ocupa-se da forma como o homem religioso se esforça por se manter num universo sagrado e da diferença entre a sua experiência de vida e a do homem privado de sentimentos religiosos, daquele que vive ou deseja viver num mundo dessacralizado.
Para a consciência moderna, a alimentação ou a sexualidade não são mais do que fenómenos orgânicos, qualquer que seja o número de tabus que os rodeia. Mas, para o primitivo e para algumas populações atuais, um tal ato é, ou pode tornar-se, um «sacramento», quer dizer, uma comunhão com o sagrado.

O sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo da sua história. Estes modos não interessam apenas à história das religiões ou à sociologia. Em última instância, os modos de ser sagrado e profano dependem das diferentes posições que o homem ocupa no cosmos.

15.3.19

Sobre O Susto, de Agustina Bessa-Luís




Carlos Vaz Marques falou sobre «O Susto», de Agustina Bessa-Luís, no programa Livro do Dia de 13 de Março na TSF. O programa pode ser ouvido aqui: https://www.tsf.pt/programa/o-livro-do-dia/emissao/o-susto-de-agustina-bessa-luis-10673728.html?autoplay=true

Um Bailarino na Batalha na Hoje Macau




«“Um Bailarino na Batalha”, de Hélia Correia, não parece um poema, mas é-o, em certa medida. Percorro definições de poesia que o atestem, que isto da teoria literária pouco diferente será da água benta, cada qual toma de quanta quer e como lhe convém. Benzo-me, com uns salpicos abençoados por Valèry, para dizer ao que venho. Se bem não faz, também não prejudica: “A poesia é o desenvolvimento de uma exclamação”. E por aqui se comprova o lirismo de Hélia Correia, ainda que numa novela que não descuida todas as categorias da narrativa: os vários tempos e ritmos a atravessar a temporalidade ficcional que manipula, por sua vez, os cordéis da acção, as personagens, o espaço e o narrador a um canto, afadigado, gerindo pontos de vista. Tudo isto ao serviço de uma inquietação aguda, de uma exclamação crescente: espécie de ponto luminoso que se acende, brilha até à sua intensidade máxima, quase cegando, e que depois se apaga. A luz fere, desaparece, fugaz, mas o golpe de luz permitiu ver, mesmo por breves instantes, uma imagem que persiste como emoção exclamativa, um brado que se ouve, apesar de embutido na garganta. Meu tão certo secretário, já que cá viestes, dando-vos a esta maçada, permiti-me continuar, que as metáforas são como as cerejas…» [Rita Taborda Duarte, Hoje Macau, 11/3/2019. Texto completo em https://hojemacau.com.mo/2019/03/11/o-desenvolvimento-de-uma-exclamacao/ ]

14.3.19

Sobre A Mulher de Trinta Anos, de Honoré de Balzac




Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: A Mulher de Trinta Anos, de Honoré de Balzac (trad. Dóris Graça Dias)

A Mulher de Trinta Anos foi publicado em 1832 e, tal como outros romances de La Comédie humaine, evidencia a atualidade da obra de Balzac.
Quem afinal é essa mulher de trinta anos, nascida na primeira metade do século xix em França?
Submetida à obrigação do casamento, atravessa um momento decisivo da vida, pois é então que pode conhecer a liberdade, o que para o caso significa ter um amante, ligação que a sociedade pune.
Balzac denuncia a condição das mulheres casadas com homens de quem só descobrem os defeitos a meio das suas vidas. O autor constata o fracasso do casamento de amor e, com os filhos nascidos sem amor, a frustração da maternidade.
Mas esta história, onde a sexualidade desempenha um papel importante, não se confina às relações conjugais e amorosas, cruzando-se com episódios aventurosos e reivindicações políticas e sociais.
Contrariando uma visão que prevaleceu até há pouco, Balzac defende que a mulher tem o direito de amar e ser amada em qualquer idade, mesmo fora do casamento, e de ser reconhecida pela sociedade pelo que é e não apenas como esposa e mãe.

De Honoré de Balzac a Relógio D’Água tem publicados A Rapariga dos Olhos de Ouro, Pierrette seguido de O Padre de Tours e Sarrasine.

Sobre Húmus, de Raul Brandão




Húmus, de Raul Brandão, foi um acontecimento insólito na vida literária portuguesa, como um desses rochedos que, sem razão aparente, surgem no meio de uma planície.
Publicada em 1917, e refundida em posteriores edições, a obra não tem relação com a dos autores da Geração de 90 nem com as dos escritores estrangeiros seus contemporâneos, como Romain Rolland, Pirandello e Gorki. As únicas semelhanças poderão ser com a de Dostoievski e a que Kafka ia escrevendo.
O próprio Raul Brandão situou nas suas Memórias o tempo em que o Húmus se inscreve: «A nossa época é horrível porque já não cremos — e não cremos ainda. O passado desapareceu, de futuro nem alicerces existem. E aqui estamos nós sem tecto, entre ruínas, à espera…»
Maria João Reynaud definiu na edição das Obras Completas de Raul Brandão o contributo do autor de Húmus: «Se a arte de Raul Brandão surge muitas vezes na fronteira da vida com a literatura, é porque ele concebeu a função do escritor em termos autenticamente modernos, isto é, em íntima conexão com uma atitude intelectual que a cada momento reivindica o livre exercício do espírito contra todas as formas de degradação dos valores humanos e contra todos os dogmas.»

No centenário do nascimento de Iris Murdoch




No ano em que se comemora a 15 de Julho o centenário do nascimento de Iris Murdoch, a obra da escritora irlandesa adquire renovada importância, sendo objecto de diversas reedições.
Num mundo dominado pela ciência, os seus romances, desde o inicial Sob a Rede, de 1954, até ao último, Jackson’s Dilemma (1995), afirmaram a importância da literatura.
Iris Murdoch nasceu em Dublin, na Irlanda, numa família protestante, mas cresceu e viveu em Londres. 
No final da década de 1930, começou a estudar Filosofia e Línguas Clássicas em Oxford, ao lado de uma brilhante geração de filósofas, como Philippa Foot, Mary Beatrice Midgley ou Elizabeth Anscombe.
Estudou Grego com Eduard Fraenkel, o que lhe permitiu aprofundar o seu conhecimento da obra de Platão, cujas concepções influenciaram toda a sua obra (outras referências foram Kant, Simone Weil e Wittgenstein).
Casou em 1956 com o crítico literário John Bayley, com quem viveu até morrer em 1999. O seu amante, Elias Canetti, inspirou muitas das suas personagens masculinas.
Iris Murdoch começou por escrever ensaios de filosofia, sendo a autora da primeira monografia britânica de Jean-Paul Sartre.
Mas, como afirmaria em entrevista, «a literatura faz muitas coisas, a filosofia só uma».
Vários sos seus romances podem ser considerados como partindo de um gesto em que a autora lançou personagens no meio das casas, das ruas e dos parques londrinos e os deixou à solta, acompanhando as suas vidas, dúvidas, vocações e amores.
Escreveu 25 romances, sendo classificada muitas vezes na década de 70 como a mulher mais brilhante de Inglaterra. Reivindicou a importância da espiritualidade em relação à religião e a narrativa como espaço dramático de averiguação moral.
Recusou o modernismo de Joyce, inspirando-se na tradição do romance clássico de Dostoievski e Tolstoi, Eliot e Proust, que inovou. Mas Shakespeare e o teatro atravessaram toda a sua obra, a começar no que é talvez o seu mais importante romance, O Mar, o Mar.
Na Relógio D’Água tem publicados A Máquina do Amor Sagrado e Profano, O Mar, o Mar, O Bom Aprendiz, Um Homem Acidental, O Príncipe Negro, Uma Cabeça Decepada, Sob a Rede, O Sino e O Sonho de Bruno.