25.3.19

Em louvor de Manuel Graça Dias




Morreu ontem à noite o arquitecto Manuel Graça Dias, um dos mais talentosos da sua geração e um dos que melhor escrevia sobre os temas da sua profissão. Em termos pessoais, distinguia-se pela amabilidade, o sentido de humor, o entusiasmo da conversa e a elegância dos gestos e atitudes.




Na editora Relógio D’Água publicou ao longo dos anos várias obras, com destaque para Ao Volante pela Cidade (dez entrevistas de arquitectura) (1999), O Homem Que Gostava de Cidades (2001), 30 Exemplos (2004), Manual das Cidades (2006) e Ao Volante pela Cidade — Paulo Mendes da Rocha (2014).



Actualmente tínhamos com ele dois projectos de edição, um de conversas entre Siza Vieira e os seus alunos e outro que pretende recolher os desenhos de Fernando Távora.
Manuel Graça Dias nasceu em Lisboa, em 1953.
Foi assistente da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (entre 1985 e 1996) e professor convidado da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (desde 1997), do departamento de arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa (desde 1998), bem como da Facoltá di Architettura do Politecnico di Milano (desde 1999). 



Viveu e trabalhou em Lisboa, onde criou, em 1990, o atelier Contemporânea, com Egas José Vieira. A casa que recuperou em 1979, na Graça, em Lisboa, em associação com António Marques Miguel, recebeu a Menção Honrosa Valmor (1983); obteve ainda o 1.º lugar no concurso para o Pavilhão de Portugal na Expo’92, Sevilha (1989), bem como no concurso para a construção da nova sede da Associação dos Arquitectos Portugueses/Banhos de S. Paulo, em Lisboa (1991), ambos em associação com Egas José Vieira.
Escreveu variadíssimos artigos de crítica e divulgação de arquitectura em jornais e revistas da especialidade (desde 1978), participou em vasto número de conferências, quer em Portugal quer no estrangeiro; foi autor de um programa quinzenal (Ver Artes/Arquitectura) na RTP2 (1992/1996) e colaborador da TSF com programas regulares de divulgação de arquitectura (1995/1999), tendo sido director do Jornal Arquitectos, órgão da Ordem dos Arquitectos Portugueses, e Presidente da Secção Portuguesa da AICA (2009/2012).
Manuel Graça Dias tem trabalhos construídos em Lisboa (Lu.Ca), Porto, Chaves (Escola de Música, Artes e Ofícios), Vila Real, Almada (Teatro Municipal), Guimarães, Macau e Sevilha que foram objecto de publicação na imprensa especializada e mostrados (desde 1978) em exposições colectivas ou individuais. O Teatro Azul (Almada), projecto em colaboração com Egas José Vieira e Gonçalo Afonso Dias, foi nomeado para o Prémio Secil 2007, o Prémio Mies van der Rohe 2007 e para o Prémio Aga Khan 2008/2010.



Manuel Graça Dias recebeu ainda, com Egas José Vieira, o prémio AICA/Ministério da Cultura (arquitectura), relativo a 1999, pelo conjunto da obra construída. Em 2006 foi agraciado com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Desaparece assim um arquitecto que gostava de cidades, amava a arquitectura e ainda mais a vida.

Francisco Vale

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