30.10.18

Hélia Correia entrevistada por Maria Leonor Nunes, no JL, a propósito do seu último romance, Um Bailarino na Batalha





«É a sobrevivência do humano que atravessa o seu último livro, Um Bailarino na Batalha, edição Relógio D’Água. Sem tempo, nem geografia, é uma ficção poética, “coreográfica”, em que perpassa o que está a acontecer no mundo contemporâneo, as migrações, os refugiados, os que fogem das guerras, das secas, da fome, os que a Europa não quer. Uma travessia do deserto e uma demanda da Humanidade, hoje como noutros tempos. 
(…)
— Do romance?
— Sim. Senti que queria escrever um poema sobre o que anda a acontecer.

— Porquê um poema?
— Porque só na linguagem poética consigo dar eco ao que me preocupa. E pensei que iria escrever e dar o nome Um Bailarino na Batalha a esse livro.

— E sentiu que o título se ajustava ao poema?
— Adaptava-se. O nome vem de Nietzsche e tenho uma imagem muito forte da aflição dos cavalos na batalha. E dos homens, por contaminação, do mesmo pânico, da mesma incompreensão. Mas não usei este livro apenas para resolver o problema. Desde o início, pensei que o ia amar. Com essa espécie de luz comecei a escrever um texto poético, embora tenha narrativa e personagens.

— Em toda a sua ficção há uma linguagem poética.
— Sim, na minha prosa, a frase obedece também à música e a esse motor poético. De resto, este é um livro muito coreográfico. A dança é sempre muito forte no meu imaginário.

— A começar pela capa…
— Foi o João Barrento que traduziu a epígrafe para mim. E a capa é uma felicidade. Queria muito que fosse esta, com um bailarino de quem gosto muito,. Akram Khan.

— A sua companhia vem de novo a Portugal, em breve…
— Com In the Mind of Igor, não com a coreografia que aparece na capa do meu livro, da última vez que esteve em palco. Estreou na Grécia e chama-se Xenos, Xenofobia. Não é sobre estes problemas dos nossos estrangeiros, mas inspirado em problemas coloniais na Índia, porque ele é do Bangladeshe. Mas esse é o nome da dança e o espírito do livro. E Akram Khan é absolutamente um bailarino na batalha.» [JL, 24/10/2018]

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