23.5.16

Sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen (trad. Ana Maria Chaves)




«Esta segunda parte do livro, sobre as casas e sobre o tempo, é de longe a mais poética e modernista, justificando os habituais paralelos entre Elizabeth Bowen e a sua amiga Virginia Woolf. Os gestos equívocos, as manobras de fuga e as desconversas são uma constante. Max, que não é um anglófono nativo, explica: “Aquilo que digo estaria muitas vezes certo se eu quisesse dizer outra coisa.”
O amor entre Karen e Max é um amor renitente mas ansioso, vive de uma calma desesperada, de enganos e segredos, de actos que uma vez concretizados pertencem não ao passado mas ao futuro, de expectativas destruídas e destrutivas: “É isto o que o amor tem de pior, este fingimento involuntário – alguém a sorrir e a sair sem dizer para onde, ou uma carta que chega, é lida na nossa presença e pousada sem explicações, ou: ‘Não, infelizmente esta noite não posso’, dito ao telefone – pois o que uma pessoa desencadeia sem saber a outra não pode remediar sem os onde? quem? porquê? Que a ambas sossegam.” Leopold não tem ainda idade para compreender a ambição social, a endogamia, a inveja, o casamento como comodismo, os triângulos amorosos, mas sabe alguma coisa sobre a crueldade das mães, sobre encontros não concretizados, sabe sobretudo que “nada poderia macular o que não tinha acontecido”, e por isso a sua invenção é uma invesigação moral.» [Pedro Mexia, Expresso, E, 21/5/2016]

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