«Na Ode Marítima, exterior e
interior são separados pela mesma “Distância” que vai do poeta no cais deserto
ao navio que ele vê ao longe. É a distância entre a sensação e a coisa, entre a
sensação como realidade interior e o paquete como realidade exterior. Ora, esta
distância liga-se a uma sensação “primitiva”, como diz Pessoa, sensação que
desempenha um papel essencial em toda a sua poesia: a sensação de mistério. Na Ode
Marítima, o mistério é significado por toda a distância, tudo o que se
separa, todo o movimento que cria uma separação. Se analisar sensações
consiste, assim, em extrair delas o que contêm, exteriorizando-o,tornando-o significável
por palavras — então, analisar a sensação de mistério equivale a reduzir essa
distância que suscita o mistério. E, com efeito, todo o poema pode ser encarado
nesta perspectiva: como vencer a Distância, ou seja, todas as distâncias de
todas as naturezas que surgem, uma após outra (entre o paquete e o cais, entre
eu-agora e eu-outrora, entre um cais e O Cais, etc.);
mas também, e porque é esse o verdadeiro fundamento de toda a distância — como
fazer desaparecer a oposição entre os dois pólos da sensação, o interior e o
exterior.» [Do Posfácio de José Gil]
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