No ípsilon
de 30 de agosto, é publicada a reportagem que Paulo Faria e o fotógrafo Peter
Josyph fizeram em terras ligadas a Cormac McCarthy. Mais precisamente na região
do Texas, que tem sido o cenário dos seus livros desde Meridiano de Sangue.
«Em 1979,
Cormac McCarthy publicou Suttree, encerrando com brilho ímpar a primeira
fase da sua obra, a dos Apalaches, e mudou-se para o Texas, onde encetou uma
segunda etapa criativa, cujo primeiro fruto foi o fragoroso Meridiano de
Sangue, de 1985, a que se seguiu Belos Cavalos, menos sanguinolento
porque seria impossível sê-lo mais. Em 2012, em Knoxville, no Tennessee,
perguntei a Jim Long, amigo de infância e juventude de Cormac McCarthy, dos
tempos em que este ainda se chamava Charlie, se Cormac alguma vez manifestara o
género de desinteresse apaixonado pelo Sudoeste americano que justificasse uma
mudança tão súbita e tão radical na sua vida e na sua obra. E Jim, já
visivelmente enfraquecido pela doença que o viria a ceifar poucos meses depois,
quebrou o silêncio que era a sua marca, o silêncio arredio dos que só falam do
que sabem e respeitam muito o valor das palavras, para me dizer que não, nunca
ouvira Cormac ansiar pelo Oeste Americano. E depois rematou: “Acho que foi a escrita
dele que o levou até lá.”
Nesta
resposta clarividente vi o farol que deveria guiar-me numa visita ao Texas, em
demanda da matriz, da ossatura que Cormac McCarthy terá reconhecido de imediato
como sua, instalando-se aqui como quem regressa a casa.»
No mesmo
número do ípsilon, António Guerreiro escreve sobre Armadilha, de
Rui Nunes, e Helena Vasconcelos sobre A Verdadeira Vida de Sebastian Knight,
de Vladimir Nabokov.
A propósito
do último texto publicado de Rui Nunes, António Guerreiro afirma: «Na obra de
Rui Nunes, que já conta com mais de 20 livros, Armadilha é um
texto-limite, um ponto extremo a que só chega a fúria da escrita quando o seu
obsessivo foco de atracção é a parte maldita. É certo que, se os bons
senitmentos não produzem boa literatura, a aproximação ao mal e à morte
comporta riscos simétricos e é sempre uma aposta demasiado elevada. Mas a
escrita de Rui Nunes está à altura do desafio com que se confronta.» [ípsilon, 30
de Agosto 2013]
Sobre A
Verdadeira Vida de Sebastian Knight, primeiro romance em língua inglesa de
Vladimir Nabokov, Helena Vasconcelos escreve: «É caso para perguntar: onde quer
chegar Nabokov com esta intensa e labiríntica narrativa? É óbvio que não se
limita a contar uma história e avança para a arquitectura de todo um edifício
de teoria literária, num desafio arrojado à sua própria capacidade de pensar,
sentir e levar a cabo os seus complicados exercícios mentais numa língua que
não era a sua, mostrando o jogo e colocando as cartas na mesa num tom
desafiador e mordaz: irmãos, duplos, comboios, vagabundagens, mulheres
misteriosas de pele translúcida, veias a palpitar eroticamente, heróis
byronianos, burgueses entediantes, histórias dentro de histórias, são algumas
das ferramentas que usará — e das quais abusará — no seu ofício, culminando
nessa obra-prima que é Lolita.» [ípsilon, 30 de Agosto 2013]
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