30.11.12

A chegar às livrarias: A Travessia, segundo volume da Trilogia da Fronteira, de Cormac McCarthy





A Travessia tem por cenário os ranchos do Sul dos EUA durante os anos que antecederam a II Guerra Mundial e narra as aventuras de Billy Parham, de dezasseis anos, e do seu irmão mais novo, Boyd.
Fascinado por uma ardilosa loba que tem atacado a propriedade da família, Billy captura o animal. Mas, ao invés de o matar, parte em busca da sua origem — as montanhas do México — com o intuito de o devolver ao seu ambiente natural.
No regresso, Billy depara-se com um mundo irreversivelmente mudado. A perda da sua inocência tem um preço e, mais uma vez, o horizonte brilha com a sua desoladora beleza e cruel promessa.


«McCarthy escreve prosa tão límpida como uma bala que atravessa o ar, constrói contos tão poderosos como irresistíveis. São histórias sobre pessoas tão reais como as terras que habitam, tão perturbantes como os rituais de que fazem parte.»
[Daily Telegraph]

«Os admiradores de Belos Cavalos quase não precisam de ser encorajados... McCarthy fala-nos no tom entusiasmante e apocalíptico de um profeta do Antigo Testamento.»
[Sunday Telegraph]

Também nas livrarias



(edição cartonada)


«Anna Karénina morre no mundo do romance; mas cada vez que lemos o livro ela ressuscita, e mesmo depois de o termos acabado adquire outra vida na nossa recordação. Em cada personagem literária existe algo da Fénix imortal. Através das vidas perduráveis das suas personagens, a própria existência de Tolstoi teve a sua eternidade.» [George Steiner, Tolstoi ou Dostoievski]

A chegar às livrarias



(edição brochada)


«E chegamos agora à verdadeira questão moral que Tolstoi queria fazer passar: o Amor não pode ser unicamente carnal porque deste modo é egoísta, e ser egoísta é destruir em vez de criar. O Amor é, então, pecaminoso. E de modo a tornar este assunto tão artisticamente distinto quanto possível, Tolstoi, numa vaga de extraordinária imaginação, descreve, em nítido contraste, dois amores: o amor carnal do casal Anna-Vronski (lutando por entre as suas emoções sensuais, mas fiéis e espiritualmente puras) e, do outro lado, o autêntico Amor cristão, como Tolstoi o quis chamar, do casal Kiti-Lévin, com os bens de natureza sensual ainda presentes, mas equilibrados, e em harmonia numa atmosfera de responsabilidade, carinho, verdade e alegria familiar.» [Do Posfácio de Vladimir Nabokov]

29.11.12

Dalton Trevisan recebe Prémio Portugal Telecom na categoria Conto



 

Dalton Trevisan, o escritor brasileiro que recebeu o Prémio Camões 2012, concorreu este ano ao Prémio Portugal Telecom com o livro de contos O Anão e a Ninfeta e foi o vencedor na categoria de conto e de crónica.
No início de Dezembro, a Relógio D’Água publica as suas obras Novelas nada Exemplares, O Vampiro de Curitiba e o romance A Polaquinha.
O escritor, que não se deixa fotografar desde os anos 60 e vive isolado em Curitiba, não esteve no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, mas enviou a representante da sua editora.
Valter Hugo Mãe recebeu o mesmo prémio na categoria Romance e Nuno Ramos na de Poesia.

De James para Nora





«Não mostres as minhas cartas a ninguém, querida. É para ti que as escrevo.»
 
[?25 de Outubro de 1909]


28.11.12

Sobre Debaixo do Vulcão, de Malcolm Lowry





«Claramente um dos mais originais e criativos romances do nosso tempo.»
[Alfred Kazin]

27.11.12

A Mulher Que Matou os Peixes, de Clarice Lispector




Quase toda a gente tem ou já teve um animal de estimação. Mas nem todos prestam atenção aos bichinhos que têm em casa, que não são exatamente de estimação, como as baratas, as lagartixas, as moscas e os mosquitos, por exemplo, que não estão à venda nas lojas. Esta é uma história contada por uma mulher que ama todos os bichos, mas que, por acidente, matou dois peixinhos vermelhos. Entre os animais de que ela mais gosta estão: a lagartixa; o vira-lata Dilermando; Jack, o cachorro americano; um pequeno macaco muito irrequieto; uma macaquinha linda que usa brincos e colar e se chama Lisete; e tantos outros animais dos seus amigos. No final do livro, vamos saber se podemos perdoar-lhe ou não por ter matado os peixes.

 

26.11.12

Apresentação de Nos Trópicos sem Le Corbusier



 

O livro da arquitecta Ana Vaz Milheiro, Nos Trópicos sem Le Corbusier — Arquitectura luso-africana no Estado Novo, será apresentado dia 29 de Novembro pelas 17h15 no Auditório 2 do Palácio dos Condes de Redondo, Rua de Santa Marta, n.º 56, em Lisboa.
A apresentação será feita pelos arquitectos Mônica Junqueira de Camargo e Walter Rossa, autor do prefácio.
Ana Vaz Milheiro é também autora de A Minha Casa É Um Avião, publicado pela Relógio D’Água em 2007.

Agendas 2013




 

Esta agenda celebra os escritores contemporâneos não portugueses.
Fá-lo através de fragmentos de obras e biografias de James Joyce, Clarice Lispector, Don DeLillo, Boris Vian, Iris Murdoch, Jack Kerouac, Alice Munro, Evelyn Waugh, Cormac McCarthy, Yukio Mishima, Vladimir Nabokov, Dalton Trevisan e Tomas Tranströmer.
Os textos escolhidos são acompanhados de fotografias e outras ilustrações que procuram descrever o trajecto de vida dos autores e recriar a época em que vivem ou viveram.

23.11.12

Sobre Ada ou Ardor, de Vladimir Nabokov





«Na Cornell University, Vladimir Nabokov começava a primeira aula a dizer: “Os grandes romances são, acima de tudo, contos de fadas… a literatura não conta a verdade, mas inventa-a.” Ada, o 15.º romance de Nabokov, é um grande conto de fadas, uma originalíssima obra da imaginação. Publicado duas semanas depois do seu septuagésimo aniversário, prova que rivaliza com Kafka, Proust e Joyce, esses anteriores mestres de ímpares universos de ficção.» [Alfred Appel, Jr., New York Times, 04-05-1969]

22.11.12

Falar de Clarice Lispector a 10 de Dezembro



 

Hélia Correia, Maria Filomena Molder e Carlos Mendes de Sousa vão apresentar a obra de Clarice Lispector, no dia 10 de Dezembro, às 18h30, na Fnac Chiado.
Esta iniciativa é parte da comemoração internacional da obra da autora de Perto do Coração Selvagem, que, sob a designação de “Hora Clarice”, se realiza a 10 de Dezembro em vários países.
Além deste debate, a Relógio D’Água, que vem publicando a obra de Clarice Lispector, irá editar no início de Dezembro o romance Um Sopro de Vida (Pulsações), o último que a autora escreveu, e um dos seus textos infanto-juvenis, A Mulher Que Matou os Peixes.
Em 2013 continuaremos a publicar Clarice Lispector: os artigos jornalísticos reunidos em Só para Mulheres e Correio Feminino e as obras infanto-juvenis, O Mistério do Coelho Pensante, Quase de Verdade, Como Nasceram as Estrelas.


«Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.»

Clarice Lispector, Um Sopro de Vida (Pulsações)

21.11.12

Sobre A Viagem do Beagle, de Charles Darwin






A Viagem do Beagle, de Charles Darwin, foi Livro do Dia no programa de Carlos Vaz Marques na TSF em 22 de Outubro. O programa pode ser ouvido aqui.

20.11.12

Num Lugar Solitário, de Ana Teresa Pereira





«Tom intuiu que ela tinha horror da proximidade, de qualquer espécie de proximidade.
Olhou para as belas pernas sem meias, levemente bronzeadas. Teve vontade de tocar-lhes. Ela vestia de azul. Uma blusa azul-clara, uma saia estreita, azul-escura.
“Por que te escondes?”, pensou.
— Você não sabe o que isso é, doutora.
— O quê?
— Aproximar-se. Tocar.
— Não?
— Você limita-se a sugar. Quando me arranca qualquer coisa de mais íntimo, fecha os olhos e volta a abri-los, como um animal satisfeito.
— Dr. Hannibal, The Cannibal. Hannibal Lecter — murmurou ela. — Eu também vi The Silence of the Lambs.
Ele sentiu vontade de rir mas conteve-se. Queria feri-la, arranhá-la, pelo menos.
— E você acha que vive a vida intensamente?»

Num Lugar Solitário é um dos primeiros livros de Ana Teresa Pereira, publicado em 1996. Foi reescrito pela autora para esta edição.

Sobre Os Cães e os Lobos, de Irène Némirovsky





«Némirovsky era incapaz de escrever menos do que um romance arrebatador. Tem um talento irresistível para criar personagens e incidentes que tornam impossível interromper a leitura desta narrativa, assim como de outras que escreveu. A busca de Ben pela riqueza, a história de amor de Ada e Harry, o extáctico final (…), são Némirovsky a brilhar ao máximo. Há intensos retratos de judeus — mães de família e banqueiros — e delicados acontecimentos marcados pela sua melhor e mais emocionante escrita.» [Carmen Callil, The Guardian, 10-10-2009]

19.11.12

Vladimir Nabokov na Relógio D'Água





Escrito numa prosa irrequieta, fluente e mágica, este romance acompanha Ada desde o seu primeiro encontro na infância com Van Veen em Ardis Hall — a mansão campestre do tio deste, numa luminosa América de sonho. São décadas de êxtase em que atravessam continentes, se separam e reúnem, até compreenderem a estranha verdade da sua singular relação.
Ada ou Ardor é o mais nabokoviano romance de Nabokov.
A imaginação do autor não se exprime apenas no amor de Ada e Van, a irmã e o irmão. O fio narrativo dessa paixão é acompanhado de falsas citações, títulos erróneos, digressões sobre o tempo e ajustes de contas culturais.

«Ada é o livro pelo qual eu gostaria de ser lembrado depois da minha morte.» [Vladimir Nabokov]


 

Em 1927, Nabokov dava grandes passeios solitários pelos bosques da ilha de Rugen. Foi então que lhe surgiu o enredo de um romance que reuniria marido, mulher e amante numa praia do Báltico.
Franz instala-se em Berlim em casa do tio Dreyer para trabalhar nos seus armazéns. Mas Martha, a esposa do tio, decide seduzi-lo, acabando por o envolver num projecto de assassínio que conhece um desenlace imprevisto.
Rei, Dama, Valete é, segundo o autor afirma no prólogo à edição inglesa de 1967, um tributo a Flaubert. Mas as referências à bíblica mulher de Putifar ou a Lady Macbeth são evidentes.


«De todos os meus romances, esta fera rutilante é a mais alegre. A expatriação, a pobreza, a nostalgia não influenciaram a sua composição refinada e exultante. Concebida nas areias costeiras da baía da Pomerânia no Verão de 1927, construída ao longo do Inverno seguinte, em Berlim, e concluída no Verão de 1928, foi publicada nos começos de Outubro pela editora russa emigrada Slovo, com o título Korol’, Dama, Valet. Era o meu segundo romance russo. Eu tinha vinte e oito anos.» [Do Prólogo de Vladimir Nabokov]

16.11.12

A chegar às livrarias



 

«Ela afasta os lençóis. O seu rosto tornara-se um pouco mais escuro, adquirira um tom esverdeado. Há qualquer coisa nela de malsão, de não humano. Para Mateus, as cicatrizes daquele corpo já não se assemelham a cortes sarados mas a sinais de nascença ou a marcas de sangue dos antepassados. Estranha-lhe os olhos sem qualquer brilho, sem movimento, os ombros descaídos que formam duas grandes covas junto às omoplatas, uma ruga medonha por baixo do seio como se o coração tivesse sido arrancado por ali. Salomé senta-se na cama e tapa o sexo com as mãos. Despiu-se durante a noite sem que ele desse por isso. Sentira-a mexer e agitar o corpo, a sonhar, mas teve receio de a apertar contra si, de a acordar, de denunciar a sua excitação. Agora, ali, nua, descalça, quieta, a olhar para o chão, é a imagem de uma criança estremunhada à espera de que o pai a venha buscar para lhe dar banho. Enrola-a numa toalha. Pega nela ao colo e parece-lhe que não encontra músculos nem ossos. É um corpo jovem, mas desgastado, com uma pele transparente como se fosse feita de vidro. Arde no seu interior uma beleza sombria que não provém de matéria alguma. Sem carne, sem qualquer sangue. Há ali um princípio de corrosão, alguém lhe terá injectado um veneno que ainda não produziu efeito.»

Sobre Um Apartamento em Atenas, de Glenway Wescott





Na Time Out Lisboa de 14 de Novembro, Hugo Pinto Santos escreve sobre Um Apartamento em Atenas, de Glenway Wescott: «(…) apesar do cenário ateniense, não há aqui a grandiloquência da tragédia. Pelo contrário: a concisão, no plano expressivo e estrutural, leva esta obra de Wescott numa direcção totalmente distinta.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a família Helianos vê-se a braços com novos bárbaros – os Nazis. Com exemplar destreza, Wescott centra no apartamento do título o núcleo altamente instável deste drama. Nele se fixam os feixes da intriga: um oficial que requisita o domicílio da família e exige a sua servidão – com a humilhação e angústia daí resultantes –, as sequelas letais na textura quebradiça da família, o desfecho sinistro de contornos tudo menos óbvios.

A tensão forma-se num crescendo sabiamente gerido.»

15.11.12

Alice na Fundação Calouste Gulbenkian



 

Está patente na Fundação Calouste Gulbenkian, até 10 de Fevereiro de 2013, uma exposição que parte da obra As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, intitulada «Um Chá para Alice», que «reúne as ilustrações originais de algumas das mais aclamadas versões contemporâneas deste conto intemporal, numa sugestiva diversidade de estilos, abordagens, sensibilidades, escolas e técnicas de ilustração.

Estão representados alguns dos melhores ilustradores para a infância contemporâneos como Lisbeth Zwerger (Áustria), Dusan Kallay (Eslováquia), Anthony Browne (GB), Chiara Carrer (Itália), Anne Herbauts (Bélgica), Nicole Claveloux (França) e Teresa Lima (Portugal).»

14.11.12

Sobre Infância, Adolescência e Juventude, de Lev Tolstói






No programa Livro do Dia da TSF, em 26 de Setembro, Carlos Vaz Marques falou sobre Infância, Adolescência e Juventude, de Lev Tolstói:

«Na verdade, este não é um livro, são três. E sendo uma obra de ficção é também uma obra autobiográfica. (…) Infância, Adolescência e Juventude conta, na primeira pessoa, os primeiros anos da vida de Nicolas Petrovich — Nikólenka, como é tratado pelos mais próximos —, uma personagem que tem muito de auto-retrato. O sentimento de perda está no centro da vida desta criança, tal como esteve também na de Lev Tolstói: o autor de Guerra e Paz perdeu a mãe antes dos dois anos e o pai aos oito. Nikólenka tenta entender o mundo à sua volta e nem sempre o consegue. O mundo interior dele é feito de dúvidas e de ansiedades e o desajustamento entre ele e o mundo dá-nos um belo retrato das dores do crescimento.»
O programa pode ser escutado aqui.

12.11.12

Sobre Novelas Eróticas, de Manuel Teixeira-Gomes





No programa Livro do Dia na TSF, em 4 de Outubro, Carlos Vaz Marques falou de Novelas Eróticas, de Manuel Teixeira-Gomes: «A maior parte dos textos contidos neste volume intitulado Novelas Eróticas foi escrito no exílio, na Argélia, onde viria a morrer. O título do livro não é inteiramente exato: nem todos estes textos são exatamente novelas, alguns são contos, mais breves do que aquilo que costuma considerar-se uma novela. Mas em todos eles se destaca um escritor elegante e um estilista com um grande domínio dos recursos da língua portuguesa.» O programa pode ser ouvido aqui.

A Relógio D'Água no Atual de 10 de Novembro de 2012





No suplemento Atual do Expresso de 10 de Novembro, Pedro Mexia escreve sobre Contos, de Luigi Pirandello: «Podemos destacar, nesta selecção, um punhado de obras-primas. Em “Iguais”, dois amigos inseparáveis, solteirões, acabam por casar com duas amigas inseparáveis, de maneira a continuarem a fazer a vida juntos; mas as mulheres encantam-se dos cunhados, de tal modo que o cruzamento de afectos e de melindres se torna vertiginoso. Em “Uma Casaca Apertada”, há uma boda adiada sob um falso pretexto (um óbito inesperado), e o padrinho da noiva denuncia a hipocrisia da família da noiva e tenta que a cerimónia prossiga; mas só ganha coragem para isso porque é um homem gordo, que vestiu um casaco apertado, e que não pode mais sentir-se constrangido. Em “Laranjas da Sicília”, um rapaz financiou os estudos da noiva, que se tornou cantora lírica em Nápoles; porém, uma vez habituada a rendas, sedas, luxos, mundanidades e gargalhadas, ela não quer saber mais do moço, reduzido a um vago conhecido que lhe traz fruta da província. O conto “O Defunto” parece uma ficção gótica: um indivíduo recém-casado com uma viúva percebe que a sua viagem de núpcias é uma imitação, a papel químico, das primeiras núpcias da mulher; e nem quando decide vingar-se consegue escapar ao fantasma do outro homem. Estes temas obsessivos, amores contrariados, convenções sociais, partidas do destino, a assombração dos mortos, juntam-se em “A Primeira Noite”, que parece Poe.»
 
No suplemento Atual do Expresso de 10 de Novembro de 2012, Ana Cristina Leonardo escreve sobre Contos Escolhidos, de Carson McCullers: «Epifania: eis a palavra certa. E quem tenha dúvidas de que a arte do conto se escreve com maiúsculas que leia esta seleção de doze títulos… e se converta. Carson McCullers (1917-1967) publicou relativamente pouco e escreveu maravilhosamente bem. Contos Escolhidos espanta-nos de imediato com “Wunderkind”, publicado tinha a autora 19 anos.»

9.11.12

Declaração de voto de Manuel Gusmão para o Grande Prémio de Romance e Novela da APE





«[...] O seu universo é marcado pelo desdobramento da representação literária e artística, ou pelo que podemos descrever como os desdobramentos e a dinâmica de uma mimese generalizada que não se preocupa em desdobrar apenas o que as duas equipas (de um jogo) vão fazer com as imagens do mundo; antes põem em exibição os desdobramentos e as dinâmicas com que a máquina da mimese generalizada ao exprimir-se retoma como campo de jogos ou espaço específico das artes performativas.

Por isso, tal como acontece recorrentemente em outras ficções de Ana Teresa Pereira, em O Lago, as personagens são actores e encenadores ou realizadores. Ou ainda uma casa, ou uma floresta ou um lago, ou tão só um adereço, uma peça de roupa podem ser personagens e, por isso, podem ser também oportunidades de desdobramento que envolvem e incluem a história de vida ou o destino da «pessoa» de um actor que é personagem deste texto. E não é um dos menores encantos deste livro (e da obra) de Ana Teresa Pereira que esses desdobramentos, que podem acontecer a qualquer coisa, sejam menos acontecimentos psicológicos do que efeitos materiais e fantásticos do mimetismo generalizado do mundo, em favor do qual a obra de Ana Teresa Pereira conspira.»

Nos Trópicos sem Le Corbusier, de Ana Vaz Milheiro





«Um prefácio é uma lente montada sobre um livro segundo uma determinada perspetiva. (…) Quando o livro é uma coleção de textos a questão agudiza-se (…). A não ser que constituam um corpo coerente e tenham sido organizados com princípio(s) claro(s). É esse o caso do Nos Trópicos sem Le Corbusier, coletânea com um título sugestivo, expressão clara do conteúdo (…). Se o título (que é também o do último texto) define o tempo, o subtítulo (Arquitectura luso-africana no Estado Novo) diz-nos, aqui equivocamente, qual é o espaço. Revela-nos ainda mais: qual é o contexto sociopolítico, histórico.

Há outras teses neste conjunto de textos. (…) Gosto da forma como se insinuam através de contextualizações mais aprofundadas do que tem sido comum na historiografia especializada nesta temática e cronologia. Note-se, por exemplo, como emergem as diferenças, que por certo agora a autora estará a desenvolver, entre os contextos e resultados da produção arquitetónica na Guiné, Angola e Moçambique.» [Do prefácio de Walter Rossa]

Sobre Contos Escolhidos, de Carson McCullers





Na revista Ler de Novembro, José Guardado Moreira escreve sobre Contos Escolhidos, de Carson McCullers: «Com escolha pessoal e tradução da escritora Ana Teresa Pereira (…), reúne uma dúzia de histórias da autora de algumas das mais discretas obras-primas que são das mais intensamente verdadeiras e pessoais da literatura norte-americana do século passado. (…) Os personagens destas histórias insinuadas pelo vento, quase contadas em surdina, avançam em terreno inseguro, tão instável quanto as suas vidas incertas, buscando um momento que tarda.»

8.11.12

David Golder, de Irène Némirovsky





Doente e abandonado pelos seus, David Golder, um temível homem das finanças, parece destinado a aceitar a ruína.
Mas o amor que tem pela sua filha Joyce, uma jovem frívola e gastadora, sobre a qual não tem qualquer ilusão, leva-o de novo ao campo de batalha.
David Golder decide reconstruir o seu império e prepara-se para o último combate, reunindo o que lhe resta da feroz energia do passado.
Publicado em 1929, este foi o primeiro romance de uma jovem escritora de origem russa de insólita maturidade.

6.11.12

Pela Estrada Fora no grande ecrã



 

A revista Ler anunciou no seu blogue a antestreia em exclusivo de On the Road, a adaptação cinematográfica da obra de Jack Kerouac, realizada por Walter Salles, no Festival LER 25 Anos/25 Filmes.

O filme conta com as participações de Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Sam Riley e Kristen Stewart e será exibido no Cinema São Jorge, em Lisboa, no dia 4 de Dezembro.

A Relógio D’Água publicou duas edições de Pela Estrada Fora. A primeira é a edição tal como foi publicada em 1957. A segunda, Pela Estrada Fora — O Rolo Original, em tradução de Margarida Vale de Gato, transcreve o rolo em que a obra foi originalmente dactilografada.

5.11.12

Manuel Gusmão sobre Ana Teresa Pereira





«Para o poeta e ensaísta Manuel Gusmão, este prémio, ao mesmo tempo que valoriza a qualidade deste romance em particular, é também o reconhecimento da importância “da obra de Ana Teresa Pereira como um todo”. Gusmão lembra que a autora vem publicando, desde o final dos anos 80, “quase um livro por ano”, e salienta o seu “universo muito pessoal, marcado pelos sucessivos ‘desdobramentos das suas personagens’” e por um constante “jogo com o teatro e com o cinema”. Em O Lago, diz Gusmão, o habitual clima de mistério dos livros de Ana Teresa Pereira “adensa-se até à inquietação e à ameaça”.» [Luís Miguel Queirós, Público, 25 de Outubro de 2012]

António Guerreiro sobre Ana Teresa Pereira





No suplemento Atual do Expresso de 3 de Novembro, António Guerreiro escreve sobre Ana Teresa Pereira, a quem foi recentemente atribuído o Grande Prémio de Romance e Novela da APE: «Numa altura em que assistimos à proliferação e ao triunfo desenfreado de um tipo de romance que já deixou de ser um género literário para se tornar um mero género editorial — um tipo de romance que parece saído das oficinas de “escrita criativa”, com os seus truques pindéricos e os seus números de prestidigitação —, as narrativas desta escritora situam-se noutro lado: do lado de um mundo interior obsessivo, inquietante, que não procura fazer piruetas para ir entretendo os leitores (acrecente-se, aliás, que a pessoa da autora também nunca foi vista a fazer piruetas e a oferecer os seus préstimos para animar a vida mundano-literária). E, talvez por essa dimensão obsessiva, pelo valor da reiteração e da insistência em lugares e personagens, o universo literário de Ana Teresa Pereira ganha uma maior consistência, e torna-se mais interessante, se o acompanharmos no seu percurso, de livro para livro.»

2.11.12

A chegar às livrarias



Antoinette tem catorze anos e deseja participar, mesmo que apenas por instantes, no baile que os seus pais, os Kampf, organizaram para ostentar a sua recém-adquirida riqueza. Mas a mãe decide não permitir a presença da filha, cujo corpo e maneiras a envergonham.
Desesperada, Antoinette vai vingar-se de um modo tão radical como inesperado.
O Baile, um romance de iniciação sobre a adolescência e os seus tormentos, foi um dos primeiros livros escritos por Irène Némirovsky, prematuramente morta em Auschwitz em 1942.
Surgida em 1930, a novela, inspirada nas difíceis relações entre a autora e a sua mãe, confirmou uma grande escritora, capaz de descrever a crueldade adolescente, ao mesmo tempo natural e premeditada, marcada pelo humor e pela ternura.

A Relógio D'Água no ípsilon de 2 de Novembro de 2012





No ípsilon de 2 de Novembro de 2012, Helena Vasconcelos escreve sobre Dublinenses, de James Joyce: «Até hoje, os contos de Dublinenses continuam a emitir o seu fascínio magnético, graças à perfeição do ritmo, à cadência modulada das palavras, aos sentimentos e aos sobressaltos que evocam, às belas imagens que só o génio observador de Joyce poderia criar. Apenas Tchékhov e, mais tarde, Raymond Carver conseguiram igualar a mestria de Joyce na sua construção de um universo tão rico, de uma acção tão dinâmica e de tão vastas e verdadeiras emoções, tudo contido numa moldura narrativa exígua mas que transcende todas as limitações.»

 

No mesmo suplemento, Maria da Conceição Caleiro escreve sobre Os Cães e os Lobos, de Irène Némirovsky: «Némirovsky escreve com intensidade e tensão, deixando o leitor sem fôlego. O crescendo só subitamente se suspende por ser já desmedido. Um dos trechos mais veementes do livro é a percepção de um pogrom no gueto por duas crianças que estão a ouvir, deitadas, sem ver: “Isto são vidros que estão a partir. Não estás a ouvir os estilhaços a cair? Olha, agora são pedras atiradas às paredes e à porta de ferro da loja. Agora são pessoas a rir. Porquê? E agora são só soldados a cantar.”»