30.1.22

Sobre O Sul, seguido de Bene, de Adelaida García Morales

 



«Amanhã, assim que fizer dia, irei visitar a tua campa, pai. Disseram‐me que entre as suas fendas a erva cresce bravia e que sobre ela nunca brilham flores apanhadas de fresco. Ninguém te visita. A mamã foi‐se embora para a terra e tu não tinhas amigos. Diziam que eras tão esquisito... Mas, por mim, nunca te achei nada de estranho. Pensava nessa altura que tu eras um mágico e que os mágicos eram sempre grandes solitários. Talvez por isso é que escolheste aquela casa a dois quilómetros da cidade, perdida no campo, sem qualquer vizinhança. Era grande de mais para nós, embora assim a tia Delia, tua irmã, pudesse vir de vez em quando passar uns tempos. Tu não gostavas muito dela: em compensação, eu adorava‐a. Tínhamos também lugar para a Agustina, a criada, e para Josefa, que odiavas. Ainda a vejo tal como chegou à nossa casa, vestida de preto, com uma saia muito comprida, até aos tornozelos, e aquele véu negro que lhe cobria os cabelos riçados.» [p. 11]


O volume inclui duas novelas, a primeira das quais, O Sul, deu origem a um filme realizado por Víctor Erice.

Tanto O Sul como Bene se caracterizam por um magnetismo narrativo baseado na especial capacidade de Adelaida García Morales para envolver numa aura de mistério a ausência de personagens masculinas ausentes.

Movendo-se no território da pureza amoral da adolescência, as narrativas percorrem caminhos pouco habituais na ficção espanhola.

Como escreveu Ángel Fernández-Santos, «O Sul é uma das narrativas de amor mais originais na sua poderosa simplicidade».


O Sul seguido de Bene (trad. Hélia Correia) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-sul-seguido-de-bene/

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