30.1.22

De As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll

 



«Alice começava a aborrecer-se imenso de estar sentada à beira-rio com a irmã, sem nada para fazer: espreitara uma ou duas vezes para o livro que a irmã lia, mas não tinha gravuras nem diálogos. «E de que serve um livro», pensou Alice, «se não tem gravuras nem diálogos?»

Por isso cogitava de si para si (com certa dificuldade, porque o dia quente a fazia sentir estúpida e sonolenta), se havia de dar-se ao trabalho de levantar-se e colher margaridas pelo prazer de fazer com elas um colar de flores. Foi então que, de repente, um Coelho Branco com olhos cor-de-rosa passou a correr ao pé dela.

Não era coisa muito extraordinária; nem Alice pensou que fosse assim muito inusitado ouvir o Coelho dizendo:

— Credo! Credo! Vou chegar atrasadíssimo!

(Quando mais tarde pensou nisso, ocorreu-lhe que devia ter ficado espantada, mas naquela altura pareceu-lhe tudo bastante natural.) Porém, quando o Coelho deu em puxar um relógio do bolso do colete, e olhou para ele e desatou a correr, Alice levantou-se imediatamente, porque lhe passou na ideia que nunca antes tinha visto um coelho com um bolso de colete, nem um relógio que tirasse de lá, e, ardendo de curiosidade, correu pelos campos atrás dele, mesmo a tempo de o ver enfiar-se por uma enorme toca debaixo de uma sebe.

Num instante, Alice enfiou-se também atrás dele, sem pensar sequer como diabo é que havia de sair outra vez.»


Alice no País das Maravilhas e Alice do Outro Lado do Espelho (trad. Margarida Vale de Gato) e outras obras de Lewis Carroll estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/lewis-carroll/

Sem comentários:

Enviar um comentário