A Relógio D’Água perguntou a alguns dos autores que publica que leituras estão a fazer e se são diferentes das habituais, que consequências poderá ter a actual pandemia nas relações individuais e na criação ensaística e literária, e ainda as suas consequências na ecologia e na política internacionais.
Publicamos em seguida essas respostas.
«— Para já, não alterei as leituras com a situação. Estou sempre a ler muitos livros ao mesmo tempo, numa confusão completa. Estou a ler, por exemplo, Tempo de Mágicos de Wolfram Eilenberger sobre Wittgenstein, Cassirer, Walter Benjamin e Heidegger. Uma biografia e análise da obra destas quatro referências daquela que Eilenberger considera a grande década da filosofia: 1919-1929. Contos e Diários de Isaac Bábel. Poesia, romance, etc., o livro Estâncias de Agamben. Comecei também os ensaios de H. G Cancela, A Humanidade dos Monstros.
— Sim. O que está a acontecer é um corte. Algumas coisas vão ser suspensas e mais tarde voltarão. Mas algo de novo vai certamente aparecer. Comecei a escrever o Diário no Expresso precisamente em resposta ao que está a acontecer, à turbulência. Mas, por coincidência estranha, estava há muitos anos em redor deste tema da peste.
— Talvez algo mude nas rotinas individuais. O deslocamento excessivo provavelmente será colocado em causa, e esta loucura de muitos virem de sítios diferentes, todos os dias, para fazerem algo que poderiam fazer sem deslocação, e tudo o que isso implica. Em termos políticos, não tenho dúvidas de que as epidemias deste tipo são anúncios de um centralismo que, em alguns casos, não vai ser abandonado mesmo depois do fim desta catástrofe. E em certos casos, e países, os cidadãos vão perder algumas liberdades que talvez demorem muito tempo a recuperar. Vamos ver.»
Atlas do Corpo e da Imaginação e outras obras de Gonçalo M. Tavares estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/goncalo-m-tavares/
Obras de Isaac Bábel e H. G. Cancela estão disponíveis em https://relogiodagua.pt
Fotografia do autor por Gonçalo Rosa da Silva.
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